• Nenhum resultado encontrado

Fórmula 1 Número de problemas de usabilidade encontrados / usuário

3.2 Navegação web

A navegação é a maneira como os usuários “percorrem” um meio digital. O termo navegação, definido por Ferreira (2004) como “ato ou efeito de conduzir com segurança uma embarcação de um ponto a outro na superfície da Terra”, é também empregado como o ato ou efeito de percorrer ou interagir com um hipertexto, por meio de comandos que estabelecem ligações entre tópicos relacionados ao hipertexto. O ato de navegar na web necessita de recursos de orientação como elos, índices, históricos e buscas que, em conjunto ou separadamente, formam a sequência em que os diversos documentos são consultados.

A qualidade da interação e as dificuldades causadas pelo uso de um site, somente são percebidas se houver uma navegação no sentido de usar, ou mesmo “viver”, a experiência de interação com o site. De uma forma geral, a navegação é o guia que todos os usuários usam no acesso a sites. Se a navegação estiver bem estruturada, serão garantidas a qualidade e a facilidade no acesso ao site. A navegação é o veículo que inicialmente expressa a qualidade percebida no uso do site. Ainda assim, segundo Kalbach (2009, p.22), existem alguns princípios de boa navegação para avaliar a qualidade da interface, tais como: equilíbrio entre o número de opções fornecidas, consistência, clareza e indicação em que parte do site o usuário está.

Conforme Kalbach (2009, p. 23), a navegação web é definida de três maneiras:

1) A teoria e a prática de como os usuários movem-se de site para site na web;

2) O processo de busca direcionada a objetivos e localização de informação interligada;

3) Todos os links, rótulos e outros elementos que fornecem acesso a sites e auxiliam as pessoas a orientar-se enquanto interagem com um dado site web.

Portanto, as definições de Kalbach (2009) trazem grande contribuição para compreender o importante papel da navegação para os usuários. A disponibilização de acesso e a orientação para que os usuários possam usar os sites são construídas no ato de usar o site, mas também é subjetiva e complementada pelas funções que a navegação deve exercer.

3.2.1 As funções da navegação

Os maiores críticos da navegação web não mostram tão somente os defeitos em sites não funcionais, mas afirmam também que a navegação deveria ser completamente eliminada dos sites. Cooper (2001) afirma que os sites desprovidos de arte, criados durante o início da web, eram, por necessidade, construídos usando apenas linguagem de programação simples, e eram forçados a dividir sua funcionalidade e conteúdo em um labirinto de páginas separadas. Isso tornou o esquema de navegação um componente inevitável de qualquer design de um site. É obvio que um esquema de navegação claro e visualmente agradável era melhor que um esquema obscuro e oculto. A partir disso, os web designers procuram deduzir, mesmo que algumas vezes incorretamente, o que os usuários querem quanto à navegação. Na verdade, os usuários estariam felizes se a navegação fosse uma atividade transparente, contudo, seria difícil imaginar um site sem a familiar navegação com a qual nos acostumamos.

Pode-se compreender melhor a necessidade de navegação, observando as funções que a navegação potencialmente possui, segundo identificadas por Kalbach (2009).

a) A navegação fornece acesso à informação; b) A navegação mostra a localização;

c) A navegação mostra o assunto de um site; d) A navegação reflete a marca;

e) A navegação afeta a credibilidade do site; f) A navegação interfere na rentabilidade.

Dentre essas funções da navegação, pode-se destacar as que têm um papel mais diretamente ligado à identificação de usabilidade nos sites de comércio eletrônico. Uma navegação que fornece acesso fácil à informação procurada é um

primeiro passo para transparecer ao usuário uma facilidade de uso do site, pois, “buscar” e “encontrar” fica mais evidente no uso do site. Uma segunda função da navegação, que é mostrar a localização, tem grande importância por acrescentar a noção de direção aos usuários menos experientes que sentem maior conforto e satisfação de uso em sites em que encontram com facilidade o “local” do site em que se está. Isto também está ligado a eficiência proposta pela usabilidade, pois a localização clara diminui a propensão a erros. Uma outra função da navegação está ligada diretamente a credibilidade do site que pode ser transmitida pela navegação. Uma navegação lenta, obscura ou difícil, está sujeito a moldar a experiência que os usuários podem ter da marca que está por trás da navegação. Portanto, essas funções iniciam o processo da construção da experiência do usuário com o uso do site através da navegação.

3.2.2 A experiência de navegação

A experiência do usuário web é moldada fundamentalmente pelo papel que a navegação exerce sobre nosso uso da Internet. Ela provê acesso à informação de uma forma que melhora o entendimento, reflete a marca e colabora para a credibilidade geral de um site. Para Kalbach (2009), a navegação web e a habilidade de encontrar informação têm um impacto financeiro para as diversas partes interessadas de uma empresa.

O desenho e a estruturação da navegação são tarefas que não se resumem meramente a escolha de cores e formas, ou mesmo a escolha de uma imagem de fundo para a página inicial de um site. O designer de navegação deve coordenar os objetivos dos usuários com os objetivos de negócio de uma empresa. Considerando que a navegação deve ser um meio para atingir um fim, ela deve ser ao máximo funcional e ter usabilidade. Quando a navegação web funciona bem, ela é pouco notada. Para Krug (2008), a navegação é melhor quando nem mesmo é notada. Por exemplo, a figura 3 mostra a captura parcial de uma tela do site de uma agência de notícias. É o tipo de site que se encontra regularmente na web. A navegação está lá quando é preciso, e está fora do caminho quando não se precisa dela. Esta página ilustra algumas características típicas de navegação.

Figura 3 - Um exemplo de site. Fonte: REUTERS (2009).

Na figura 3, caso não haja um tópico específico a ser procurado, os olhos do usuário perambulam ao longo da página. De mais proeminente, identificam-se, primeiramente, a “logomarca” da página no canto superior esquerdo e o título do artigo. Talvez a imagem ou os banners ressaltados tenham chamado a atenção, mas provavelmente não se nota o link “versão na íntegra” abaixo da foto do artigo. Se o usuário estivesse procurando por esta função, entretanto, poderia tê-la encontrado facilmente.

Segundo Kalbach (2009), o usuário sem tomar conhecimento, cria um esquema para a página que está acessando, de forma a ajudá-lo a entender sua navegação e conteúdo. Antes mesmo de ler qualquer texto, o usuário cria uma imagem mental de como a página é montada em sua cabeça: onde estão as opções principais, onde está o texto e onde estão outras opções disponíveis. As pessoas fazem isto rápido e automaticamente.

Essa imagem mental criada no uso de sites também é citada por Krug (2008), que identifica três fatores sobre o uso da web no mundo real. Estes fatores permitem compreender como o usuário cria a imagem mental sobre um site.

a) O usuário não lê as páginas, apenas dá uma olhada nelas; b) O usuário não faz escolhas ideais, apenas escolhas suficientes;

c) O usuário não descobre como as coisas funcionam, apenas busca atingir seu objetivo.

Assim, a experiência de navegação depende do que o usuário forma em sua mente e, geralmente, é apenas uma fração do que está no site.

Para Kalbach (2009), as pessoas procuram rapidamente nas páginas por palavras que satisfazem suas necessidades de informação. Por esta razão, os rótulos e textos de navegação são críticos. Mais ainda, a organização e o agrupamento dos rótulos também comunicam informações valiosas e influenciam a experiência de navegação.

Quanto às escolhas que são feitas em uma navegação web, Krug (2008) destaca como as pessoas tomam decisões. Segundo esse autor, o usuário faz escolhas suficientes para atender suas necessidades, porque geralmente está com pressa, ou porque não há grande punição por decisões erradas na navegação. Uma suposição equivocada em um web site, geralmente significa apenas um ou dois cliques no botão “Voltar”.

A navegação é influenciada diretamente pela localização dos elementos de interface em sites. De um modo geral, diversos elementos compõem um sistema de navegação, e sua localização é função do profissional que desenvolve a apresentação visual do site. Segundo Memória (2006, p. 58), “a padronização das interfaces é um conceito básico dos mais importantes para quem projeta produtos para a internet”. Na web, as convenções e padrões são aceitos quando são amplamente adotados como solução de design de interface e, quando são adotadas pela maioria dos sites. A melhor solução quanto ao posicionamento dos elementos de interface está diretamente relacionada a conceitos de facilidade de aprendizado e memorização.

A experiência de navegação é delimitada pelo que o usuário visualiza no site e isto depende dos elementos que constituem o mesmo. Alguns elementos de interface, como a marca da empresa, o local da busca de informações dentro do site, o local onde a navegação é global e a área de conteúdo são encontrados em diferentes locais dentro de um sistema de navegação, mas certas convenções já são utilizadas e respeitadas em uma série de web sites. O quadro 2 mostra um resumo de alguns dos principais elementos da interface, sua localização mais comum e os

pesquisadores responsáveis pelas informações, segundo levantamento feito por Memória (2006).

Elementos de Interface Posicionamento Pesquisador Marca da empresa Canto superior esquerdo Nielsen, Adkinsson e Bernard

Busca Parte superior Nielsen, Adkinsson e Bernard

Navegação global Parte superior com links na horizontal Nielsen, Adkinsson e Krug

Navegação local Coluna da esquerda Nielsen, Adkinsson e Bernard

Caminho percorrido Parte superior, abaixo da marca da empresa

Adkinsson, Lida e Chaparro e Krug

Conteúdo global Área central Bernard

Navegação de rodapé Parte inferior Nielsen, Krug e Lynch e Horton

Quadro 2 - Convenções de posicionamento de elementos de interface. Fonte: Adaptado de Memória (2006, p. 59).

Dentre os elementos do quadro 2, o elemento “caminho percorrido” é o indicador que mostra o percurso desde o início de navegação até o ponto atual. É conhecido como marcação de migalhas de pão, em alusão a uma história infantil, na qual pedaços de pão são deixados pelo caminho para indicar o retorno ao ponto inicial. Esse é um elemento que não consta em todos os sites, mas que está em evidência pelo retorno trazido em percepção de localização dentro do site aos usuários.

A combinação das informações do quadro 2 pode indicar que exista então uma maneira de enquadrar e categorizar todas as interfaces de sites da web, mas, isto ainda é algo temeroso de ser afirmado, pois, como as aplicações para a internet são ricas em possibilidades de uso da crescente tecnologia, então, deve-se ter cuidado ao afirmar qual a melhor “configuração” de interface.

Contudo, a solução de localização dos elementos de uma interface adotada pela maioria dos sites parece ser a melhor solução, pois, conforme Memória (2006), “as soluções consagradas pela maioria diminuem as chances de dúvida e, consequentemente, de erro por parte das pessoas que estão utilizando o produto”.

Kalbach (2009) apresenta, através de um exemplo, uma definição rudimentar que, segundo sua visão, pode contemplar as aplicações de comércio eletrônico. A figura 4 mostra a definição proposta por Kalbach (2009). Alguns elementos são próprios de um site de comércio eletrônico, tais como a foto e as características do produto e a opção para adicionar o item ao carrinho de compras. Outros elementos de interface estão presentes neste exemplo, mas são indicados como elementos

opcionais, tais como a navegação de “zoom” de foto do produto e os produtos relacionados. O elemento de interface denominado de “utilitário” pode ser encontrado em forma de uma busca de informações dentro do site ou de opções de aumento de fonte ou impressão da página atual do site.

Figura 4 – Exemplo de localização de elementos de interface. Fonte: Kalbach (2009, p. 278).

Apesar da figura 4 ser uma representação simplificada de uma interface modelo de um site de comércio eletrônico, ela é essencial para este trabalho, pois traduz de maneira geral as interfaces que serão encontradas pelos respondentes da pesquisa.

Adotando o conteúdo até aqui apresentado, inicia-se o processo de aclarar os princípios que denotam uma boa navegação e, na sequência, os princípios que suportam o conceito de usabilidade em sites web.