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Capítulo V – Contributos do Projeto Curricular Integrado “A nossa «terra»” no

3. Necessidade de Autoestima

A relação entre a escola e a autoestima é reciproca, isto é, alunos com maior autoestima tem a tendência a ter melhor desempenho e sucesso escolar. Por outro lado, quando um aluno encontra satisfação na escola, quando as aulas são interessantes e quando sente que os seus professores se importam com ele, isto aumenta a sua autoestima e, como já foi referido anteriormente, isto tem efeitos positivos na sua motivação (Woolfolk, 2004).

Assim, reconhecendo o papel da escola e do professor na autoestima dos alunos procuramos ao longo do PCI: providenciar, sempre que possível, feedback positivo e construtivo; conhecer algo de único sobre cada aluno e tentar mencioná-lo e valorizá-lo; criar um ambiente psicologicamente seguro em que os alunos se sintam que podem expressar a sua opinião e que essa será tida em conta e valorizada; providenciar atividades que aumentam a autoestima e o sentimento de valor que os alunos têm sobre eles mesmos.

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De seguida, apresentamos apenas algumas atividades e estratégias do Projeto que demonstraram ter uma influência positiva e significativa na autoestima dos alunos.

3.1. Jogo de Revisão

Neste jogo de revisão pretendiamos explorar e rever todos os materiais estudados em torno do Projeto até esse ponto de exploração do mesmo. Pretendíamos desenvolver a autoestima dos alunos por meio de uma estratégia de trabalho em equipas e verificar se havia algum conceito ou conteúdo que não ficou claro para a turma. O jogo consiste num conjunto de 30 perguntas de escolha múltipla e de verdadeiro ou falso. Organizamos os alunos em grupos de quatro elementos e a cada elemento foi atribuído um número de 1 a 4. Em seguida foi-lhes fornecido o material necessário para iniciarem o jogo. Antes de iniciar o jogo fizemoe uma pergunta teste para verificar se todas as crianças compreenderam a orgânica do jogo.

Seguindo a mesma estrutura ao longo de todo o jogo, indicamos o tipo de pergunta (verdadeira ou falsa, escolha múltipla ou de preenchimento de lacunas), realizamos uma pergunta e depois foi-lhes dado tempo (anteriormente estipulado) para, em grupo, debateram a resposta. Quando se esgotava o tempo estipulado, indicávamos um número (de 1 a 4) para saber qual o elemento do grupo que responderia em nome do mesmo. Logo de seguida a cada uma das respostas fizemos o tratamento do pontos a partir de uma grelha colocada no quadro.

No fim do jogo orientamos uma reflexão e discussão em grande grupo sobre como decorreu a atividade e sobre o trabalho até ao momento desenvolvido ao longo do projeto: as aprendizagens conseguidas, o que mais têm gostado, etc.

Esta estratégia do jogo em equipas demonstrou ter muitas vantagens para o aumento da autoestima de alguns alunos desta turma, sendo que a turma tem alunos com capacidades de aprendizagens muito diversificados. Ao longo dos últimos meses, tivemos a oportunidade de trabalhar diariamente com três alunos específicos que estavam atrasados em relação à restante turma e diariamente verificávamos a frustração dos mesmos quando a turma estava a realizar uma tarefa que lhes interessava, mas essas crianças tinham que se dedicar a outras tarefas com conteúdos e propostas de atividades adaptadas às suas capacidades.

A Lara, uma das alunas em causa, tem muita vergonha de ler em frente da turma e tem muita pouco confiança para participar em debates ou responder a perguntas. Mas ao longo do

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jogo mostrou muito mais confiança e alegria em participar. Tivemos o cuidado de a colocar num grupo com um aluno que podia garantir um nível elevado de sucesso e que ia valorizar e respeitar a participação da Lara. O aumento da sua autoestima foi evidente no seu sorriso, enquanto debatia com os outros membros do grupo e ao ter várias oportunidades de responder de forma correta quando era chamada a responder pelo grupo.

Cabe ao professor observar a turma e reconhecer as necessidades pessoais e académicas dos alunos individualmente e, então, proporcionar atividades que vão ao encontro destas necessidades. Neste caso, era evidente a falta de autoestima da Lara. Segundo Elliot et al. (1996, p.128) é por volta do segundo ano do 1.º Ciclo que a perceção que as crianças têm delas mesmas coincide com a opinião daqueles que se encontram à sua volta e influenciam o contexto onde se movem, ou seja, com as classificações dos professores, os resultados de testes, as opiniões dos colegas, etc. A estratégia utilizada no “Jogo de Revisão” fez com que Lara e outros alunos tivessem a oportunidade de serem vistos como parte de uma equipa bem-sucedida e se sentirem integrados e valorizados, percebendo que o seu contributo também faz parte do sucesso desse grupo.

Segundo Brophy "a norma vigente de" estarmos todos juntos, aprendendo e ajudando uns aos outros, "cria um alinhamento entre as ações necessárias para satisfazer as necessidades de autonomia, competência e relacionamento" que por sua vez contribuem para a motivação intrínseca do aluno (1998, p.139).

A presença de alunos com mais dificuldades faz parte da realidade de uma grande parte das salas de aula. Hoje em dia, a presença de alunos com necessidades educativas especiais na salas também será algo cada vez mais comum e, por isso, a realização de atividades que permitem a integração positiva destes alunos com o restante grupo, como ficou evidente com esta atividade, é fundamental. Cabe aos professores estruturarem as estratégias e as atividades que permitam conseguir atingir esses objetivos fundamentais da escolaridade básica.

3.2. A “árvore generosa” da turma

Esta atividade foi realizada na segunda fase do Projeto, orientada pela questão geradora “Como é a nossa freguesia?”. Para iniciar esta atividade começamos por fazer uma pré-leitura do livro “A Árvore Generosa" de Shel Silverstein, onde, juntamente com a turma, exploramos a capa, contracapa e a lombada. Orientamos um debate sobre o livro colocando perguntas como:

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Ao observar a capa do livro pode-se ter uma ideia sobre o tema do mesmo? Acham que uma árvore pode ser “generosa”

Em seguida, fizemos a leitura do livro, tendo como suporte uma versão digital do texto para que os alunos pudessem acompanhar a leitura. Após a leitura e para aprofundar a compreensão dos alunos sobre o conceito de generosidade, estabelecemos um diálogo sobre o que é ser generoso e como todos podem ser mais generosos. Entretanto, para consolidar alguns conhecimentos previamente trabalhados (partes constituintes de uma árvore e construção textual) foi-lhes fornecida uma ficha de leitura sobre o livro “A Árvore Generosa”, interligando algumas aprendizagens prévias com a leitura e interpretação do texto (Anexo 7).

Posteriormente, pedimos às crianças para pensarem em três pessoas que conheçam e que consideram, na sua opinião, serem generosas. Solicitamos de seguida que escrevessem em papéis recortados em forma de folhas de árvore, porque acham que as pessoas escolhidas são realmente generosas. À medida que os alunos acabavam de escrever nas folhas, foi-lhes pedido para partilharem com a turma as suas frases. De seguida, os alunos colocavam as folhas “generosas” na “árvore generosa da turma” (uma árvore feita em cartolina e colada num painel da sala).

A partir desta atividade e no decorrer do Projeto as crianças foram incentivadas a serem generosas umas com as outras. Assim, sempre que reconhecessem que alguém tivesse praticado um ato de generosidade dentro da sala ou no espaço da escola, os visados podiam escrever sobre esse momento de generosidade numa folha “generosa” e colarem-na na “árvore generosa da turma”.

Esta atividade, pensamos nós, aumenta a autoestima de ambas as pessoas envolvidas na situação. Tanto quem se predispõe a escrever uma folha “generosa”, como a criança envolvida nesse ato descrito são evidenciados pela nobreza do seu comportamento e pela capacidade de iniciativa. É de valorizar quem pratica a generosidade, mas é também de louvar quem admite esse ato de generosidade e toma a iniciativa de o divulgá-lo. Ainda é fundamental salientar que este tipo de interações dá um espaço de visibilidade e foca-se nas questões das interações positivas entre os membros da turma.

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Figura 8 – A árvore generosa da turma

“A autoestima é uma reação afetiva, uma avaliação de quem somos” (Woofolk, 1998) e a escola tem um papel fundamental no desenvolvimento de perceção do “eu” dos seus alunos, pois hoje em dia é o lugar onde muitas crianças passam a maior parte do seu tempo e desenvolvem as suas competências sociais. Mais uma vez cabe ao professor ter a capacidade de propor um conjunto de iniciativas que mobilizem a capacidade de as crianças demostrarem-se generosas e socialmente integradas num grupo de pertença onde se sentem bem consigo mesmo e com os pares.

Esta atividade fez com que as crianças procurassem ser mais simpáticas e generosas uns com os outros; fez com que valorizassem aquilo que os outros faziam por eles, reconhecendo as pequenas coisas que por norma passariam despercebidas e aliviou um pouco a clima egocêntrico que, às vezes, predomina em grupos de crianças nestas idades.