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3. REVISÃO LITERÁRIA

3.4 Necessidade de planejamento urbano

Para início de qualquer tipo de atividade a ser desenvolvida pelo ser humano o planejamento é um instrumento sempre bem-vindo e na maioria das situações por intermédio desse é possível traçar metas, evitar situações desagradáveis e ter um melhor aproveitamento do que está sendo trabalhado. Na gestão urbana não é diferente, com um planejamento urbano é possível indicar problemas e possíveis soluções para estes, ele ajuda na tomada de decisões do Poder público de forma mais assertiva o que colabora para um bem estar social, o principal responsável pela política urbana é o Poder Público Municipal sendo confiada essa tarefa pela Constituição Federal de 1988.

O desenvolvimento e a consolidação da pratica socioadministrativa configurada no planejamento urbano se valeriam dos avanços técnicos e científicos vistos como necessários ao diagnostico (saber) dos problemas urbanos e à proposição de soluções (ação). Dessa forma, o planejamento urbano seria um tipo de ação pública racional e, como tal, pressupõe novas rotinas, em substituição aos métodos empíricos tradicionais, como a definição de metas a partir do conhecimento sistemático dos fenômenos e a adoção de novos instrumentos de controle, como, por exemplo, o orçamento-programa e, com a Constituição Federal de 1988, o Plano Plurianual de Investimentos e a Lei de Diretrizes Orçamentárias. (VITTE, KEINERT, 2009 p 23)

O Planejamento sempre esteve presente nas atividades humanas, porém a forma mais técnica como conhecemos hoje, segundo Vitte e Keinert (2009), surgiu a partir de 1920 na ex- União Soviética e foi se expandindo logo depois para os países europeus, é interessante ser levado em conta que o planejamento urbano surgiu na possibilidade de ordenação do espaço e de proporcionar uma melhor qualidade de vida para a população que vivia de forma precária principalmente nas cidades que cresceram de forma desordenada devido ao êxodo rural no início da revolução industrial. Com isso o planejamento assume um poder socioadministrativo de mediação dos conflitos de problemas urbanos.

O planejamento urbano nas cidades européias, especialmente as inglesas, já no século XIX, foi proposto como alternativa pública de solução aos problemas urbanos decorrentes da industrialização e do crescimento demográfico, em particular aqueles relacionados à miséria, à poluição e a segregação socioespacial. (VITTE, KEINERT, 2009 p.20)

A produção do espaço é o tema central da política urbana e o Estado utiliza de mecanismos de regulamentação, através de medidas e procedimentos que normatizam o seu funcionamento emergindo na maioria das vezes do conflito de interesses envolvendo principalmente setores da economia. Para Vitte e Keinert (2009) um dos principais problemas enfrentados na lógica capitalista em relação ao planejamento é quem será beneficiado com os projetos desenvolvidos? Atenderá de fato aos anseios da sociedade de forma geral ou estará a serviço de algumas classes em detrimento da outra? De fato se pararmos para analisarmos ao nosso redor, observa-se que sempre próximo de bairros de classe média e alta, existe uma organização que favorece aos moradores que ali vivem um “mínimo” de dignidade, então parece pelo menos a primeira vista que os planejamentos nesses locais funcionam, desse modo logo fica a pergunta porque nos bairros pobres eles parecem que nunca saíram do papel.

Os momentos de produção do espaço geram centralidades diferenciadas em função do deslocamento do comercio, dos serviços e do lazer. Essas transformações decorrentes das funções dos lugares da cidade geram o que chamo de “centralidades móveis“ - movimentação no espaço metropolitano de centros geradores de fluxo assentadas nas novas formas de comércio e dos serviços modernos. Por sua vez a “gestão“ ao privilegiar determinadas áreas da cidade - abrindo avenidas, destruindo bairros, fechando ruas, impedindo usos e determinando outros - implode a

sociabilidade, desloca os habitantes, influencia a valorização/desvalorização dos bairros da cidade e acentua a desigualdade.(CARLOS, 2007 p 15).

Durante a história do planejamento urbano podemos identificar dois tipos de modalidades específicas de planejamento que são conhecidos como tecnocrático e participativo que tem características diferentes principalmente na tomada de decisões e do olhar sobre os problemas urbanos. (VITTE, KEINERT, 2009).

O planejamento tecnocrático é pautado principalmente nas posições dos técnicos e especialistas da área e tem como objetivo trazer uma ideia de cidade ideal fundada sobre o critério da funcionalidade urbana. Tem como concepção de vida urbana o fato de habitar, trabalhar, circular e cultivar ao corpo e trabalha também a separação dos usos urbanos e soluções padronizadas.

Em contra partida ao planejamento tecnocrático surge nos Estados Unidos por volta dos anos 1960, vários protestos contra os serviços executados pelo governo americano no pós guerra, com isso nasce o movimento do planejamento urbano participativo, que tendo uma visão heterogênea e diversificada referente ao uso do espaço urbano traz uma valorização da participação de entidades, incluindo também a população no debate, dando-lhes a oportunidade de participar nos processos de planejamentos onde de forma firme contestava as políticas ao atendimento da sociedade, principalmente as pessoas mais pobres. (VITTE, KEINERT, 2009). Uma das principais críticas promovidas pelo planejamento participativo era que as cidades deveriam ser planejadas como de fato são, levando em consideração a peculiaridades de cada lugar, não se importando apenas com a parte estética e sim com as necessidades da população, principalmente de famílias mais carentes. No cenário brasileiro é possível identificar na década de 1970 o processo de urbanização da favela Brás de Pina e também projetos de habitação a exemplo do programa João de Barro desenvolvido entre 1975 e 1984. (VITTE, KEINERT, 2009).

Para Arantes, Vainer, Maricato (2000) um fator que existe de forma muito forte é a ausência dos poderes públicos nas regiões periféricas, sem nenhuma ou pouca intervenção de políticas públicas acaba por criar aquilo que os autores citam como a cidade ilegal, lugares que não representam nenhum valor econômico aos investidores e que assim ficam à disposição da população de baixa renda que diante da situação precária de acesso a moradia no Brasil, ocupa espaços deixados à revelia pelos proprietários e constroem ali suas casas.

A ilegalidade dessas construções torna-se elemento importante do capitalismo cruel ao qual nossa sociedade está inserida, percebem-se também os danos causados ao meio ambiente e intensificação da segregação social que promove diversas mazelas sociais e diversas

precariedades aos moradores como, por exemplo, a falta de saneamento básico, riscos de construções nas encostas dos morros e o aumento da violência.

É fácil notar que os problemas que acompanham a maior parte das cidades brasileiras não está na falta dos programas e ferramentas de planejamento urbano, pois existem diversos dispositivos disponíveis aos gestores públicos para uma orientação nas tomadas de decisões. Os problemas se iniciam ou iniciaram na falta de execução dos planos aprovados e aptos a regulamentar e resolver essas demandas, o que dificulta ainda mais esses problemas se dá no fato de que estes surgem normalmente em áreas que estão abandonadas à própria sorte por seus governantes.

As áreas ambientalmente frágeis - beira de córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes, mangues, áreas alagáveis, fundos de vale - que, por essa condição, merecem legislação específica e não interessam ao mercado legal, são as que "sobram"para a moradia de grande parte da população. As conseqüências são muitas: poluição dos recursos hídricos e dos mananciais, banalização de mortes por desmoronamentos, enchentes e epidemias etc. (ARANTES, VAINER, MARICATO, 2000 p 163).

Em uma parte da cidade vemos uma preocupação acompanhada de várias normatizações em sua estruturação, no outro lado dessa mesma cidade observamos um crescimento sem orientação, preocupação ou qualquer forma de planejamento para um espaço de qualidade, como se a população que ali reside não tivesse direito a um programa governamental de qualidade. O capitalismo também exerce uma forte pressão sobre os políticos, fica claro que estes ao chegarem ao poder planejam as cidades para o atendimento dos detentores dos capitais de investimento.

A nível intra-urbano, o poder público escolhe para seus investimentos em bens e serviços coletivos, exatamente os lugares da cidade onde estão os segmentos populacionais de maior poder aquisitivo; ou que poderão ser vendidos e ocupados por estes segmentos pois é preciso valorizar as áreas. Os lugares da pobreza, os mais afastados, os mais densamente ocupados vão ficando no abandono.

Será que a cidade cresce desordenadamente, porque ela não está sob planejamento? Será que o Estado (subjugado pelas classes dominantes) é neutro ao planejar seus investimentos? (SPOSITO, 2000 p.74:75).

Podemos concluir que o planejamento tem uma grande importância na expansão das cidades, porém é notável que os projetos na maioria dos casos ou não saem das gavetas das repartições públicas ou são executados apenas em áreas nobres, que por intermédio dessas obras valoriza ainda mais esses locais e a população que mais precisa desses programas de habitação e infraestrutura fica abandonada pelo poder público, intensificando ainda mais os problemas urbanos.

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