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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.3.1 Necessidades de informação, busca e utilização

A informação e o conhecimento se tornaram grandes recursos no desenvolvimento social, político, econômico, tecnológico e educacional de um indivíduo e/ou sociedade. Implica dizer que ter acesso à Informação é mais do que um direito, é o pleno exercício da cidadania. O ser humano, diariamente, possui algum tipo de necessidade informacional para realização de atividades relacionadas ao trabalho, estudo e/ou lazer, ou seja, ele adquire uma série de informações para sua formação e experiência.

A partir de 1980, surgiu um novo paradigma relacionado ao estudo da necessidade de informação, de acordo com Dervin e Nilan (1986), o usuário começou a ser considerado o ponto central de análise e não os sistemas de informação que ele usava. Portanto, os conceitos do tema “necessidade de informação” é um dos assuntos mais complexos da área de estudo de usuários, todavia, por meio da opinião de alguns autores espera-se elucidar o assunto.

Necessidade de informação pode ser entendida, segundo Cunha e Cavalcanti (2008, p. 258), como sendo [...]

[...] a informação necessária ao desempenho adequado das atividades de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. Estas atividades podem ser relacionadas com a resolução de problemas, tomada de decisão, pesquisa científica, produção agrícola e industrial, educação e cultura.

Nota-se que a necessidade de informação parte do pressuposto da carência de determinadas informações e/ou conhecimentos sobre um fenômeno, objeto, acontecimento, ação ou feito. Dervin e Nilan (1986, p. 17) reforçam dizendo que necessidade de informação é [...]

[...] quando a pessoa reconhece que existe algo errado em seu estado de conhecimento e deseja resolver essa anomalia, estado de conhecimento abaixo do necessário, estado de conhecimento insuficiente para lidar com incerteza, conflito e lacunas em uma área de estudo ou trabalho.

Ela pode ser vista como a ausência de informação suficiente sobre um determinado tema, fazendo com que o indivíduo realize uma pesquisa com o intuito de sanar as dificuldades relacionadas à educação, atualização pessoal, tomada de decisão e desempenho profissional. Um conceito interessante ditado por Miranda (2006, p. 112) é a de que a necessidade de informação “nasce do impulso de ordem cognitiva, conduzido pela existência de um dado contexto (um problema a resolver, um objetivo a atingir) e pela constatação de um estado de conhecimento insuficiente ou inadequado”. O indivíduo ao detectar uma necessidade de informação procurará identificar se a informação existe, onde pode buscá-la, se essa lhe satisfaz e, posteriormente, fazer uso dela (CHOO, 2006). Nesses parâmetros, os métodos de busca e levantamento das necessidades de informação se dividem em duas categorias principais: abordagem tradicional e alternativa.

A abordagem tradicional trata do estado de necessidade de algo que o pesquisador chama de informação, focado no que o sistema possui, não no que o usuário quer (DERVIN; NILAN, 1986). Conforme afirma Lira et al. (2008, p. 176), o objetivo da abordagem tradicional é “melhorar a resposta do sistema e de seus serviços, tendo como foco principal o sistema de informação. Considera a informação como externa, objetiva, alguma coisa que existe fora do indivíduo”. Nessa abordagem, ignora-se a ação pensante do ser humano e as distintas situações em que o indivíduo possa se encontrar em determinado momento.

Ao contrário da abordagem tradicional, a abordagem alternativa, também chamada de abordagem cognitiva, é centrada no usuário. De acordo com Lira et al. (2008, p. 176), a “abordagem cognitiva se insere no paradigma do usuário, que leva em consideração os sentimentos, a percepção, o modo como as pessoas aprendem, e também os aspectos do comportamento de busca e de uso da informação”. Para Miranda (2006, p. 100), essa nova abordagem estaria ganhando novos direcionamentos e apontando novas tendências, tais como:

•deveriam se tornar o foco central da operação de sistemas as necessidades dos usuário; •deveriam ser ajustados às necessidades

específicas do indivíduo, e não o contrário, os serviços de informação;

•deveria ser mudado o foco dos sistemas de informação dirigidos a tecnologias e conteúdos para os dirigidos aos usuários;

•deveria ser colocado o foco nos próprios usuários.

A abordagem cognitiva se baseia em entender como os usuários buscam a compreensão do que seria uma necessidade de informação, quais informações quer encontrar, o uso que fará delas e como um sistema de recuperação da informação pode ser

mais bem projetado para preencher as necessidades de informação levantadas. O que define as necessidades informacionais individuais, segundo Miranda (2006), é a forma com que as pessoas constroem sentido para o mundo que as cerca e resolvem os problemas na busca por um objetivo. A Figura 4 ilustra esta percepção.

Figura 4 – Dimensões e elementos das necessidades de informação individuais

Cada usuário possui comportamentos e reações diferentes, fazendo com que tenha a liberdade de escolher qual a fonte de pesquisa utilizará e qual uso dará à informação. Para Choo (2006, p. 102), “a busca da informação é o processo no qual o indivíduo engaja-se decididamente em busca de informações capazes de mudar seu estado de conhecimento”.

O processo de busca de informações, considerando uma mesma rede de informação, será realizado de maneira diferente por cada indivíduo, dependendo do conhecimento das fontes, das experiências anteriores e de outros comportamentos de busca atribuídos a esse processo.

Na sequência do comportamento informacional, agora acerca do uso da informação, Choo (2006, p. 107) afirma que,

o resultado do uso da informação é uma mudança no estado de conhecimento do indivíduo ou de sua capacidade de agir. Portanto, o uso da informação envolve a seleção e o processamento da informação, de modo a responder a uma pergunta, resolver um problema, tomar uma decisão, negociar uma posição ou entender uma situação.

Nos processos de busca e uso da informação, esses são partes de um processo que concebe os indivíduos como pessoas com necessidades cognitivas, afetivas e situacionais próprias (CHOO, 2006), e que operam dentro de esquemas que são partes de um ambiente com restrições socioculturais, políticas e econômicas. É preciso que o indivíduo seja o centro do fenômeno e considera-se a visão, necessidades, opiniões e problemas dele como elementos significantes e influentes que merecem investigação. Conforme Lira et al. (2008, p. 181),

A busca e o uso da informação fazem parte de uma atividade humana e social por meio da qual a informação pode tornar-se útil para o grupo ou para o indivíduo. O processo de busca e uso da informação é dinâmico e depende das condições em que o indivíduo ou o grupo a utiliza.

O fato é que as necessidades de informação modificam com o tempo e dependem de cada indivíduo que a busca e a utiliza, ou seja, os usuários possuem diferentes expectativas e características frente às necessidades, à busca e à utilização da informação.

Como se veem, as necessidades, os processos de busca e o uso da informação são mutáveis e variados dadas as características e as particularidades de cada indivíduo. Desta forma, a BU deve ser vista como centro de aprendizado, em que bibliotecários e auxiliares possam ser capacitadores, ou seja, oferecer cursos e oportunidades para que os usuários sejam competentes em informação.