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Negação básica de autenticidade, effemimania e etiologia da transexualidade

Para Serano (2009), as crenças de que pessoas transgêneras sejam mentalmente confusas e doentes ou simplesmente incapazes de falarem por si mesmas acerca de suas próprias experiências estão na base das estratégias de invalidação da identidade trans. Estas crenças concebem as identidades de gênero, as expressões e as incorporações sexuais (sex

embodiments125) de pessoas trans como não igualmente merecedoras dos mesmos direitos ou consideração que são normalmente estendidos às pessoas cisgêneras, expressando o que Bettcher (2009) designa como negação básica de autenticidade126 (basic denial of authenticity). Jesus e Alves (2010, p. 6) qualificam a negação do “estatuto da feminilidade ou da ‘mulheridade’” a mulheres trans como uma forma de sexismo de base legal-biologizante.

A expressão mais comum de cissexismo ocorre quando a condição básica de gênero associada à identidade de gênero auto declarada é negada (SERANO, 2007, p. 8). Esta negação é justificada pela suposição de que a identidade de gênero de pessoas trans não é autêntica em virtude de não coincidir com a assignação de sexo ao nascimento. A negação de autenticidade também reside na associação unívoca entre a reivindicação do reconhecimento identitário transgênero e a necessidade de adequação ou assimilação às normas de gênero. Butler (2015, apud WILLIAMS) argumenta que o uso da teoria feminista sobre a construção social do gênero por autoras como Jeffreys e Raymond funciona como uma disputa sobre a “percepção das pessoas trans sobre sua realidade vivida” (“a trans person’s sense of their lived reality”), e portanto, como uma forma de negação de autenticidade.

A negação de autenticidade ou invalidação da identidade transgênera frequentemente se expressa pelas práticas de misgendering (KAPUSTA, 2016) - isto é, errar (tipicamente de forma proposital) os pronomes de tratamento, flexão gramatical de gênero e nomes ao se referir às pessoas trans. Kapusta (2016, p.504) entende a prática de misgendering como um tipo de agressão ou insulto cotidiano comum em diversos tipos de contextos de

125 Segundo Rodemeyer (2018) a noção de incorporação (embodiment) pode ser entendida de muitas maneiras,

mas se concentra especialmente no “sentimento sensorial de estar no seu próprio corpo que vai além dos “cinco sentidos” tradicionais, incluindo também a forma e movimento corporal (propriocepção), sentimentos internos (como tensão, excitação ou exaustão) e sentimentos superficiais na pele como uma interface entre o mundo e o eu”. A autora também concebe a incorporação (embodiment) como um “terreno específico da experiência”.

126 A questão da autenticidade das identidades de gênero e sexualidade é também pensada a partir da crítica da

lógica capitalista. Segundo Halberstam (2011, p. 95), esta lógica concebe a homossexualidade como inautêntica e irreal (unreal), incapaz de "amor verdadeiro e de estabelecer conexões apropriadas entre a sociabilidade, relacionalidade, família, sexo, desejo e consumo" e como uma subjetividade cuja habilidade em conectar as categorias de produção e reprodução se mostraria falha.

interação social que expressa, com intencionalidade ou não, uma mensagem de hostilidade contra pessoas trans. Jeffreys defende a prática do misgendering sob os seguintes argumentos:

Eu escolhi usar pronomes que indicam o sexo biológico por várias razões. A primeira é que o sexo biológico de pessoas transgêneras não muda e o uso do pronome de origem indica isso. Isso é politicamente importante, já que é útil para as feministas conhecerem o sexo biológico daqueles que afirmam ser mulheres e promoverem versões preconceituosas do que constitui a feminilidade. Além disso, o uso por homens de pronomes femininos esconde o privilégio masculino concedido a eles em virtude de terem sido colocados e criados na casta sexual masculina. Se os homens são abordados como “ela” todo esse privilégio, que afeta sua posição de fala e pode ser crucial na sua escolha em ser “mulher” em primeiro lugar, desaparece. Outra razão para a adesão aos pronomes que indicam biologia é que, como feminista, considero o pronome feminino como um honorífico, um termo que transmite respeito. O respeito é devido a mulheres serem membros de uma casta sexual que sobreviveu à subordinação e merecem ser tratadas com honra.127 (JEFFREYS, 2014a, p. 9)

Não usarei as siglas comumente usadas MTF e FTM, ou seja, masculino para feminino e feminino para masculino para se referir a pessoas que transgeneram aqui, porque elas implicam que a mudança de sexo ocorre quando isso não é o caso. Usarei os termos "homens que transgeneram" e "mulheres que transgeneram" ou pessoas de corpo masculino e pessoas de corpo feminino para indicar que nenhuma modificação na biologia acontece.128 (JEFFREYS, 2014b, p. 43)

Segundo Hird (2002b, p. 338), uma das perspectivas teóricas e/ou retóricas de negação de autenticidade reside na noção de que a experiência fenomenológica do gênero deva estar alinhada coerentemente com a experiência da corporeidade. Pessoas trans são vistas, diante deste paradigma dualista de alinhamento, como desalinhadas: imitadoras (impersonators), cópias imperfeitas ou caricaturas de pessoas cis, assim como a identidade trans é vista como um erro, fraude, mentira ou ilusão em relação à cisgeneridade. Desta forma, qualquer juízo que uma pessoa trans faça de si mesma é interpretado, a princípio, com suspeita, pois a perspectiva transgênera a respeito das suas próprias experiências não conta para a definição normativa de corporeidade.

Serano (2007, 2013) afirma que a vasta diversidade de perspectivas, experiências e narrativas de pessoas transgêneras é invisibilizada ou silenciada pela grande mídia, o que

127 I have chosen to use pronouns that indicate the biological sex of the persons whose work is discussed here for

a number of reasons. The first is that the biological sex of transgender persons does not change and use of the pronoun of origin indicates this. This is politically important, since it is useful for feminists to know the biological sex of those who claim to be women and promote prejudicial versions of what constitutes womanhood. Also, use by men of feminine pronouns conceals the masculine privilege bestowed upon them by virtue of having been placed in and brought up in the male sex caste. If men are addressed as ‘she’, then all this privilege, which affects their speaking position and may be crucial to their choice to be ‘women’ in the first place, is disappeared. Another reason for adherence to pronouns that indicate biology is that, as a feminist, I consider the female pronoun to be an honorific, a term that conveys respect. Respect is due to women as members of a sex caste that have survived subordination and deserve to be addressed with honour. Men who transgender [sic] cannot occupy such a position

128 I shall not use the commonly used acronyms MTF and FTM, meaning male-to-female and female-to-male to

refer to persons who transgender here, because they imply that change of sex takes place when this is not the case. I shall use the terms ‘men who transgender’ and ‘women who transgender’ or male-bodied persons and female- bodied persons to indicate that no change in biology takes place.

produz o efeito de homogeneização. A autora afirma existir uma fascinação em relação à transexualidade, presente tanto na mídia tradicional como no feminismo, que é fruto do imaginário da imitação e falsidade de gênero. Namaste (2011, p. 58) cunha a expressão “imperativo autobiográfico” para designar uma forma recorrente pela qual as vozes de pessoas transgêneras são representadas na mídia hegemônica e em alguns trabalhos acadêmicos sobre gênero. Neste imperativo, as biografias, autobiografias e entrevistas de/com pessoas trans são usadas para satisfazer a curiosidade de pessoas cisgêneras a respeito da trajetória individual de vida de pessoas trans (como suas transformações corporais e relacionamentos interpessoais/familiares). Esta vontade por curiosidade, avalia criticamente Namaste, muitas vezes obstaculiza a compreensão de aspectos institucionais ou sistêmicos da opressão de gênero contra pessoas trans, pois centra-se excessivamente na narrativa individual. Neste funcionamento, a condição para que as vozes sejam ouvidas ou reconhecidas é a capacidade delas poderem responder às próprias questões previamente postas pelo pesquisador ou entrevistador cisgênero. A autora conclui que “o imperativo autobiográfico é uma progressão natural da relação social em que pessoas não-transexuais determinam quando e onde transexuais podem falar” (ibid., p. 61). Podemos concluir que o imperativo autobiográfico é uma das formas pelas quais as experiências e narrativas de pessoas trans são recorrentemente estereotipadas ou homogeneizadas.

Formações teóricas feministas foram as primeiras a analisarem as autobiografias de transexuais que começaram a proliferar nos anos 1960 e 1970 e, Segundo Hird (2002d, p. 583), naquele momento, as análises feministas destas autobiografias concluíam que a transexualidade se conformava aos estereótipos de gênero ao invés de desafiar as normas hegemônicas. Também segundo Namaste (2011, p. 56-58):

A exclusão das vozes transexuais da mídia precisa ser situada como um resultado que é mais do que preconceito ou desinteresse de parte de certos editores e jornalistas. Precisamos entender essas questões sistemicamente, que é dizer em relação a questões de poder e controle sobre o acesso à representação. (...) A partir do momento em que examinamos o grande volume de energias que as pessoas transexuais investiram em seus esforços para ganhar acesso à mídia, devemos entender simultaneamente que a exclusão institucional da autorepresentação ocorre de maneira ainda mais perniciosa.129

As representações hegemônicas a respeito da transexualidade possuem um impacto negativo na vida das pessoas trans porque elas enquadram a transexualidade nos termos dos

129 The exclusion of transsexual voices from the media needs to be situated as a result of more than prejudice or

desinterest on the part of certain editors or journalists. We need to understand such issues systematically, which is to say in relation to questions of power and control over acess to representation. (...) Once we examine the sheer volume of energies transsexuals have invested in their efforts to gain acess to the media, we must simultaneously understand that their institucional exclusion from self-representation occurs in the most pernicios manner.

interesses e suposições de pessoas cisgêneras (SERANO, 2007, p.7). Neste enquadramento, a possibilidade de não se associar a demanda por reconhecimento de uma identidade transfeminina a uma adesão a estereótipos rígidos de hiper-feminilidade nem chega a ser cogitada.

A visão de que a feminilidade seja uma construção ideológica em função da perpetuação inequívoca da dominação masculina agrava ainda mais a desconfiança de algumas feministas em relação às demandas de reconhecimento identitário de mulheres trans. Há uma tendência das teorias feministas, mais nitidamente nas correntes radicais, em interpretar a feminilidade como uma espécie de falsa consciência para as mulheres (SERANO, 2007, p. 110). Desta forma, a demanda por reconhecimento de traços ou características identitárias ligadas à feminilidade por sujeitos designados como homens ao nascer acaba sendo interpretada como algo do âmbito da irracionalidade. Se por um lado, como pontua Zoppi-Fontana, é a consciência intencional de escolher ser mulher que invalida a identidade das mulheres trans a partir das teorizações a respeito da socialização em teorias feministas trans-excludentes130, pelo outro, é a própria falta de consciência que pode ser vista como capaz de afetar a legitimidade de uma intencionalidade (que define, por sua vez, uma escolha).

A associação da transfeminilidade (expressão de características consideradas femininas por indivíduos designados como homens/meninos, assim como a identificação subjetiva feminina por pessoas e/ou mulheres trans e/ou homens/meninos) com a irracionalidade e/ou doença mental também se expressa na obsessão médica e psicológica de buscas de uma etiologia específica. Serano (2007, p. 42) designa esta obsessão como “effemimania”, e visa dar conta do que a autora entende ser uma deslegitimação específica à que identidades femininas e transgêneras estão expostas em virtude de um duplo padrão que marca a feminilidade enquanto relega a masculinidade à condição de neutralidade. Isto é, o enquadramento das diversas expressões de feminilidades transgêneras como carecedoras de uma “explicação” ou de autenticidade pode ser entendido como um sintoma ou manifestação das invalidações de identidade e de um duplo padrão que inferioriza a feminilidade e naturaliza, neutraliza e/ou superioriza a masculinidade. Esta obsessão, argumenta Serano, só se sustenta por meio da suposição de que a feminilidade seja intrinsecamente inferior à masculinidade, além de que a feminilidade expressa por homens ou sujeitos designados ao nascer como homens

(incluindo mulheres trans) seja de alguma forma mais artificial ou menos autêntica (ou mesmo natural) que aquela expressa por mulheres cisgêneras131.

Além disto, a autora sugere que a natureza coercitiva que a feminilidade representa para as vivências de muitas mulheres cisgêneras pode ser projetada, interpretada e generalizada para vivências de mulheres transgêneras de uma forma potencialmente equivocada, pois a feminilidade, a partir da perspectiva de sujeitos designados como homens, se constitui como uma quebra de expectativas em relação às normas de gênero ao invés de implicar conformidade. A caracterização da transgeneridade, em especial das transfeminilidades, como ora uma expressão de uma prática sexual bizarra ou fetichista (ou masoquista, como qualifica Jeffreys) ora um transtorno mental (como o distúrbio dismórfico corporal) (ALLEN, 2013), é frequentemente mobilizada pelos discursos feministas trans-excludentes como formas de negar a autenticidade das identidades trans. A ideia de que mulheres trans deliberadamente se transformam em mulheres para instigar a sexualização masculina e os avanços sexuais talvez seja a suposição mais popular feita sobre mulheres trans (SERANO, 2007, p. 85). Jones (2014) assinala que uma concepção comum acerca de mulheres transexuais é de que elas sejam extremamente femininas, o que alimenta, por sua vez, a noção de que transexuais reforcem estereótipos de gênero ou ainda de que mulheres transexuais acreditem que para ser uma mulher seria necessário ser estereotipicamente feminina. Contudo, a autora se esforça em mostrar que esta representação de mulheres transexuais hiper-femininas, a despeito de sua relativa hegemonia nos meios de comunicação, não é capaz de abarcar todas as vivências e expressões de mulheres transexuais, tampouco é capaz de determinar uma suposta verdade a respeito das pessoas transexuais (em especial, de mulheres transexuais). Segundo Serano (2017, p. 115):

Eu posso entender porque alguém pode ser tentado a descrever os gêneros que são impostos pelos outros (por exemplo, feminilidade estereotipada ou masculinidade) como sendo “ruins”. O problema é que não há como saber se a identidade ou expressão de gênero de uma determinada pessoa é sincera ou coagida. Enquanto experimentamos nossos próprios gêneros e sexualidades em primeira mão e, portanto, somos capazes de separar nossas próprias inclinações intrínsecas das expectativas extrínsecas que os outros depositam em nós, somos incapazes de fazê-lo em nome de outras pessoas. Só podemos fazer suposições e palpites sobre a autenticidade da sexualidade ou do gênero de outra pessoa - e isso é sempre perigoso.

A busca por etiologias da transexualidade também é relacionada por Serano a perspectivas que buscam validar teorias que nem sempre dão conta das próprias perspectivas, interesses e experiências das pessoas trans.

131 Vale ressalvar que a própria expressão de feminilidade por mulheres cisgêneras também pode ser interpretada

como supostamente uma expressão de gênero mais artificial (ou menos autêntica) que as expressões de masculinidades ou sendo intrinsecamente artificial ou inferior às expressões masculinas.

Como transexual, sou inundada de atribuições que tentam explicar porque eu existo (seria um defeito genético? doença mental? hormônios que deram errado? criação errada?), e as pessoas frequentemente projetam (ou atribuem) segundas intenções em mim para explicar o porquê. Eu me identifico como mulher (para me assimilar na sociedade heterossexual? por razões sexuais? para me infiltrar em espaços exclusivamente femininos?). Em contrapartida, a cissexualidade e as identidades de gênero cissexuais nunca são questionadas ou tornadas suspeitas dessa maneira. Há uma série de vieses que influenciam as atribuições que as pessoas tendem a fazer.132

(SERANO, 2013, p. 3181)

Quando passei a aceitar a minha própria transexualidade, tornou-se óbvio para mim que a pergunta “Por que transexuais existem?” não é uma questão de pura curiosidade, mas sim um ato de não aceitação, pois ocorre invariavelmente a ausência da pergunta recíproca: “Por que os cissexuais existem?” A incessante busca para descobrir a causa da transexualidade é projetada para manter as identidades de gênero transexuais em um estado perpetuamente questionável, garantindo assim que as identidades de gênero cissexuais continuem a ser inquestionáveis.133 (SERANO, 2007, p. 66).

A etiologia134 da transexualidade se mostrou como uma questão a ser desvendada por inúmeras formações teóricas. Hansbury (2017, p.391) afirma que, frente à uma ansiedade impensável instigada pela transexualidade, a busca pela sua etiologia pode constituir uma defesa psíquica poderosa. Apesar de mais de um século de investigações médicas, biológicas, psicológicas e sociológicas, nenhuma causa clara, singular e incontestável da identidade transgênera foi encontrada (SERANO, 2013, p. 1702), isto é, nenhum fator genético, anatômico, hormonal, ambiental ou psicológico isolado foi encontrado como causa direta (e linear) de qualquer inclinação em relação à identidade de gênero (SERANO, 2007, p. 34). Serano (2013, p. 1702) também argumenta que o fato da variação de gênero e sexualidade ser frequentemente descrita como um conjunto complexo de inclinações inconscientes, inexplicáveis e persistentes, pode consistir em um indício de que a identidade de gênero e por consequência a identidade trans seja entendida como um fenômeno trans histórico e pancultural. Reed por outro lado relaciona especificamente este debate sobre as “origens” da transgeneridade com a problemática “nature vs nurture” e assinala se tratar de um obstáculo para o desenvolvimento da teoria feminista, pois além destes problemas revelarem a existência

132 As a transsexual, I am inundated with attributions that attempt to explain why I exist (was it a genetic defect?

mental illness? hormones gone awry? bad parenting?), and people regularly project (or attribute) ulterior motives onto me to explain why I identify as female (to assimilate into straight society? for sexual reasons? to infiltrate women-only spaces?). In stark contrast, cissexuality and cissexual gender identities are never questioned or rendered suspect in this way.

133 Once I accepted my own transsexuality, then it became obvious to me that the question “Why do transsexuals

exist?” is not a matter of pure curiosity, but rather an act of nonacceptance, as it invariably occurs in the absence of asking the reciprocal question: “Why do cissexuals exist?” The unceasing search to uncover the cause of transsexuality is designed to keep transsexual gender identities in a perpetually questionable state, thereby ensuring that cissexual gender identities continue to be unquestionable.

134 Hird (2002b, p. 340) lembra que uma das especulações mais frequente a respeito da etiologia da transexualidade

é de que ela seja um produto “inconsciente” da criação de filhos como se fossem do “sexo oposto”, assim como a maior ou menor presença das figuras materna ou paterna.

de uma “incapacidade do feminismo abordar as necessidades das pessoas que não se enquadram em uma divisão cissexista e binária do sexo e gênero”, também conduzem, no limite, a um “beco sem saída” (REED, 2012b). Reed entende que o desafio imposto por este obstáculo para o desenvolvimento da teoria feminista se manifesta na necessidade de se fazer uma “mudança muito decisiva em certos conceitos”.

Em virtude do transgenerismo [transgenderism] nas sociedades ocidentais ter sido conceituado como desviante, o foco quase exclusivo dos pesquisadores tem sido a etiologia. Ao procurar explicar o “por quê” do comportamento transgênero ser apresentado, a implicação para teoria e prática - às vezes implícita, geralmente explícita - é óbvia: a cultura dominante espera, de fato exige, uma ordem “natural” pela qual os indivíduos sejam facilmente identificáveis como membros de uma única categoria sexual.135 (TEWKSBURY, GAGNÉ, 1996).