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NEGATIVIDADE DA PROVA

No documento Apontamentos sobre a Prova de Meltzer-Lyon (páginas 140-143)

Das modalidades no escoamento da bílis escura

NEGATIVIDADE DA PROVA

A prova diz-se negativa quando a seguir à instilação não aparece bílis escura.

È necessário, antes de concluir pela ausência de bílis B, ter a certeza da situação regular da oliva e saber esperar o tempo suficiente para, numa sessão, concluir por essa ausência.

Se, após a primeira tentativa, decorrido o tempo conveniente, a amostra escura não surge e antes, a seguir à drenagem expon- tânea de alguma solução magnesiana de retorno, começa a efe- ctuar-se a saída da bílis C é de boa regra, algum tempo depois do escoamento desta última amostra, efectuar segunda instilação. Sucederá, por vezes, que duas excitações adicionadas sejam capa- zes de mobilizar o conteúdo da vesícula. Mas, mesmo que essa segunda não surta maior efeito do que a primeira, servirá ao menos de contra-prova. Dada a enorme importância das dedu- ções clínicas e as consequentes directrizes terapêuticas acarretadas pela negatividade da prova, aconselha-se, passados dias, repeti-la, para assim afastar o maior número de causas de erro.

Cumpre aqui dizer que, por vezes, a evolução clínica do padecimento trará a interpretação duma segunda prova positiva, opondo-se a uma primeira negativa. È disto exemplo o doente da observação ix e a interpretação deste caso particular terá que forragear-se num deslocamento intra-cavitário de cálculos.

Por outro lado parece haver afecções hepáticas propriamente ditas que, como diz DAMADE, não atingindo a vesícula originem uma prova negativa. Cita aquele autor um caso semelhante em que a intervenção cirúrgica identificou um abcesso de fígado sem lesões macroscópicas de colecistite. Tive ocasião de obser- var um caso que merece aqui referência. O doente M. M. L.

PROVA DE MELTZER-LYON 143

(Registo clínico n.° 1.613 —Operação n.° 737) portador dum volumoso abcesso de fígado, cuja sombra radiológica se estendia desde a quinta costela até altura da crista ilíaca, forneceu antes da intervenção uma prova negativa por duas vezes. Quinze dias após a operação, efectuada pelo Sr. Professor TEIXEIRA BASTOS,

quando, por virtude da evacuação lenta consecutiva, a massa hepá- tica fortemente se havia reduzido, efectuei uma segunda prova. E agora a instilação acarretou facilmente a bílis B num volume total de 40 c. c. sem modificações macroscópicas ou microscó- picas que incriminassem participação da vesícula. Claro que neste caso parece-me não se poder despresar o factor mecânico exercido pelo abcesso, que, em suas enormes proporções, certa- mente terá influído nas relações topográficas normais da vesícula.

Estes casos, que são excepção, postos de lado, vejamos o que significa uma prova de MELTZER-LYON negativa, quando corre-

ctamente efectuada e convenientemente comprovada.

A bílis B não chega ao duodeno porque, em esquema: ou o poder contractu da vesícula desapareceu ou há um obstáculo sério ao seu escoamento, ainda que as contracções existam.

A primeira hipótese será efectuada quando a cavidade da vesícula estiver cheia de cálculos ou quando as aderências peri- colecísticas impeçam a retracção das paredes, ou ainda quando estas, fortemente esclorosadas, tenham perdido por inflamação cró- nica a sua contractilidade própria.

A segunda verificar-se-há quando o canal cístico por padeci- mento próprio não tiver lumen de escoamento ou quando, por causas extrínsecas — cálculo encravado ou brida peritoneal — ela praticamente tenha desaparecido.

A veracidade destas hipóteses é atestada pelo grande número de constatações operatórias efectuadas por vários autores. Quero aqui, de passagem, citar um dos últimos trabalhos publicados, onde a este propósito se diz o seguinte:4

«Chez quarente trois malades l'épreuve de MELTZER-LYON fut

negative, ne donnant pas de bile vesiculaire, même après repeti- tions de l'épreuve. Chez une malade seulement, atteinte de pan- creatite, la vésicule était normale; toutes les autres, comme le prouve l'intervention, avaient des vésicules calculeuses avec obs- truction du cystique par calcul ou, plus fréquemment, par suite

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de lesions inflammatoires ou condures. Beaucoup présentaient un grand calcul dans le bulbe vésiculaire qui obstruait l'entrée du conduite. »

São, entretanto, numerosas as constatações similares e mais impressionantes são ainda os resultados, quando as observações puderam ser completadas com exames histológicos cuidadosos das paredes vesiculares. O aspecto macroscópico da vesícula não basta muitas vezes para lhe eleger um estado de higidez. Não raro quando, com uma prova negativa, se deparou um reser- vatório macroscopicamente são, o microscópico descobriu profun- das alterações na camada muscular: transformação esclerosa dando conta duma abolição notável da propriedade contràctil da fibra muscular.

Na minha pequena experiência conto alguns casos de nega- tividade da prova. O quadro clínico compadecia-se claramente com o resultado e naqueles em que se pôde levar a observação até à documentação radiológica, esta trouxe informes do mesmo sentido. Por um motivo ou por outro não consegui obter em nenhum a confirmação operatória, razão porque não trago aqui esta quota parte da minha observação. Os informes operatórios seriam neste passo étape necessária para a discussão e sem eles o relato clínico dos meus doentes em que a prova de MELTZER-

-LYON foi negativa, fica necessariamente incompleto.

Darei somente daqueles casos notícia sucinta:

— Cinco doentes da clínica particular (dois homens, três mulheres) com quadros clínicos de colecistite calculosa. — Dois doentes da clínica particular com quadros de cole-

cistite não calculosa: uma mulher, síndrome clínico e radiológico de periduodeno-colecistite surgindo como complicação de tiflo-colite crónica; um homem, com sín- drome de insuficiência vesicular, que começa a dese- nhar-se após duas crises de apendicite aguda e que melhora consideravelmente após a apendicectomia (apên- dice aderente, bosselado e com forte congestão) para meses depois se acentuar progressivamente.

— Uma doente internada na enfermaria n.° 8 (Registo clínico n.° 1.769) com quadro de apendículo-colecistite. Esta doente, uma vez vencida, por mercê do tratamento médico

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instituido no Serviço, a crise de agudeza que motivara a entrada, pede e de seu motu próprio exige alta. Sendo múltiplas as causas que podem responsabilizar-se pela ausência da bílis B, não deve de modo algum esta prova quando negativa pretender resolver diagnósticos. Uma só conclusão lhe é permitida: supressão da capacidade funcional da vesícula biliar.

E pequena não é esta conclusão, porque ela, quando bem medida, vai permitir, de acordo com a restante observação clínica e radiológica, responsabilizar os distúrbios do doente a padeci- mentos vesiculares, vai contribuir para esclarecer a etiologia e, o que não é menos importante, vem trazer uma ajuda de largo valor à orientação do tratamento.

No documento Apontamentos sobre a Prova de Meltzer-Lyon (páginas 140-143)

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