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Nesse diapasão, dúvida não há quanto à impossibilidade da

5 POSICIONAMENTO DO ÓRGÃO FISCALIZADOR

20. Nesse diapasão, dúvida não há quanto à impossibilidade da

incidência compulsória das contribuições instituídas em Assembleia Geral ou em instrumento coletivo sobre aqueles trabalhadores não filiados ao ente sindical. Ratifica-se, assim, o

posicionamento esposado por esta CONJUR/MTE em manifestações anteriores.

(...)

(grifo nosso)

Percebemos que, o órgão fiscalizador também manteve o entendimento da impossibilidade de recolhimento das contribuições assistenciais e confederativas dos obreiros. Apesar desse posicionamento, aparentemente solidificado, em 2009, o ministro do trabalho, Carlos Lupi, emitiu a Ordem de Serviço n° 1, de 24 de março de 2009.

Ao invés de clarear, a ordem de serviço deixou mais nebulosa o assunto, de modo que impôs ao trabalhador a necessidade de oposição do empregado não sindicalizado. Além disso, apresentou prazo de 10 (dez) dias após ser informado pelo sindicato da cobrança.

Sem saber como agir, agentes de fiscalização pediram informações à Secretaria de Inspeção do Trabalho, que respondeu através da Nota Técnica n° 109/2009/DMSC/SIT. A nota técnica se fundamenta em três pontos principais. Primeiro no sentido de interpretar a ordem de serviço sem afastar a lei, ou seja, uma norma administrativa não pode prever algo diferente da lei.

O segundo ponto é a aplicação do art. 545 da CLT:

Art. 545 - Os empregadores ficam obrigados a descontar na folha de pagamento dos seus empregados, desde que por eles

devidamente autorizados, as contribuições devidas ao Sindicato,

quando por este notificados, salvo quanto à contribuição

sindical, cujo desconto independe dessas formalidades.

(Redação dada pelo Decreto-lei nº 925, de 10.10.1969) (grifo

nosso)

Baseado no artigo acima a NT prevê que “Tal autorização, como delimita o próprio dispositivo, constitui requisito formal (solene), razão pela qual entendemos que

deva ser feita necessariamente por escrito.” 11

.

Por último, a nota técnica destacou que o custeio das atividades sindicais é feito por todos os trabalhadores, filiados ou não aos sindicatos, através do imposto sindical.

Nesse contexto, temos que o órgão que fiscaliza o cumprimento das relações de trabalho, inclusive acordos e convenções coletivas, caminha na mesma via do poder judiciário no entendimento de que contribuições assistenciais e confederativas sejam descontadas apenas dos trabalhadores filiados.

O trabalhador, no exercício do seu direito de liberdade de escolha, que opta pela filiação, terá descontado do seu salário, mediante sua concordância formal, os valores previstos em normas coletivas a título de contribuições assistenciais e confederativas. Também arcará com o pagamento da mensalidade sindical, se previsto no estatuto da entidade sindical.

6 CONCLUSÃO

11 BRASIL. Secretaria de Inspeção do Trabalho. Nota Técnica n° 109/2009/DMSC/SIT. Arquivo

A importância dos sindicatos na estrutura de trabalho existente é indiscutível. Também não se discute a necessidade de fortalecimento desses sindicatos para que sejam fortes e atuantes, de modo a dar efetividade na sua ação.

Para isso é necessário um financiamento apropriado e suficiente para o desenvolvimento de suas atividades. O imposto sindical previsto no artigo 8° da CF é a principal forma de arrecadação dos sindicatos e tem por objetivo atender suas principais necessidades. É um imposto que atende uma coletividade de pessoas, independentemente de filiação, sobrepondo a individualidade do trabalhador.

Para as demais contribuições é necessário que o princípio da liberdade sindical seja atendido, de modo que, apenas os trabalhadores que queiram participar façam a sua contribuição. A intenção de diversos sindicatos de impor todas as contribuições para empregados não filiados, afronta de forma direta à liberdade de cada um.

A constituição federal cumpriu seu papel ao prever uma forma de custeio coletivo dos sindicatos. Se quisesse estender esse custeio com outras contribuições teria feito. Ao invés disso, enfatizou a liberdade de filiação e delegou à lei outras formas de custeio, de modo a não frear o crescimento sindical e propiciar o seu fortalecimento.

O trabalhador não pode se furtar de contribuir para o funcionamento sindical, uma vez que também é beneficiado com sua atuação, seja através de serviços prestados pelo sindicato, seja através dos acordos e convenções coletivas de trabalho. Por outro lado, o trabalhador tem o direito de decidir se amplia essa participação através de sua filiação. Sindicatos fortes que oferecem um leque grande de benefícios geralmente têm uma base de trabalhadores filiados bastante grande.

Se os trabalhadores, filiados ou não, fossem obrigados a contribuir com todas as contribuições, nem estaríamos falando em liberdade sindical. Também não faria diferença a formalização da filiação. Todos seriam filiados automaticamente uma vez que teriam que contribuir de forma compulsória. Se o objetivo fosse esse, a constituição não traria a liberdade sindical de forma expressa. Essa liberdade prevista no artigo 8° se coaduna com os direitos trabalhistas previstos nos artigos 5° e 7°, que dá à carta a característica de constituição cidadã.

É preciso que constituição seja respeitada uma vez que é a representação da vontade popular. Normas inferiores devem sempre respeitar a constituição e ser usada para por em prática os princípios destacados na carta magna. As normas coletivas criadas

por entidades sindicais devem total obediência à legislação em vigor e não podem extrapolar suas competências.

Uma vez que isso é feito, corre-se o risco de criar uma jurisprudência inferior de modo a enfraquecer direitos individuais dos trabalhadores, sobre tudo liberdades conquistadas ao longo da história nacional. A defesa das liberdades deve ser exercida por todos, sobretudo pelas entidades que representam os trabalhadores.

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