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2. CAPÍTULO 1. ESTADO ATUAL DO CONHECIMENTO

2.4. Nutrientes na biomassa microbiana em sistemas de manejo do solo

2.4.2. Nitrogênio

nem sempre indicam condições desejáveis, uma vez que significam rápida liberação de nutrientes e, em longo prazo, perda de COT do solo.

Um outro parâmetro que pode ser determinado é o quociente metabólico (qCO2), que é considerado muito importante na avaliação dos efeitos das condições ambientais sobre a atividade microbiana do solo, sendo referido como taxa de respiração específica da biomassa (Anderson & Domsch, 1993). Este quociente é expresso em quantidade de CO2 liberado por quantidade de carbono da biomassa microbiana por certo tempo. Souza et al. (2006a), avaliando o efeito de sistema de uso e manejo do solo em um Latossolo Vermelho, encontraram diferenças significativas quanto ao qCO2 somente na área cultivada com sorgo sob plantio direto, apresentando alto valor de qCO2, com menores valores nas áreas de cerrado e pastagem. Vários são os relatos mostrando menores valores de quociente metabólico em sistema de plantio direto (Balota et al., 1998; Lima et al., 1994) o que não foi observado por Souza et al. (2006a). Os autores explicam que isto pode ter ocorrido devido à recente implantação do sistema de plantio direto, pois se sabe que, devido às condições edafoclimáticas do cerrado, é provável que o quociente metabólico venha a diminuir futuramente, com a adaptação da biomassa microbiana às condições do solo.

Com isso, o C-BM pode ser utilizado como um indicador das condições impostas pelo manejo, pois ele é muito sensível a este, sendo o primeiro a ser alterado. Desta forma, ele pode fornecer boas informações sobe o manejo adotado, indicando condições de perdas ou ganhos na qualidade do solo.

2.4.2. Nitrogênio

A BM, além de possuir quantidades significativas de C em suas células, é rica em N, comparativamente aos tecidos vegetais e seus resíduos no solo. O N da biomassa microbiana (N-BM) representa até 4% do N total do solo. Segundo Moreira & Siqueira (2006), a quantidade de N-BM varia de 40 a 496 kg ha-1, dependendo do ecossistema, sendo típico de 101 a 108 kg ha-1 de N. A liberação ou imobilização desses nutrientes (C e N) depende da dinâmica dos microrganismos, da quantidade e qualidade dos resíduos vegetais, da taxa de

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retorno e da eficiência de utilização de carbono pela microbiota (Baudoin et al., 2003). A biomassa microbiana responde rapidamente à adição de C e de N ao solo, determinando a decomposição da matéria orgânica e a mineralização ou a imobilização de nutrientes (Hatch et al., 2000). O rápido retorno de N no solo pelos microrganismos contribui no processo de mineralização e é considerado relevante para a manutenção de ecossistemas naturais (Puri & Ashman, 1998; Jenkinson et al., 2004). O manejo do solo também interfere na biomassa

microbiana, consequentemente, no N-BM. A imobilização do nitrogênio

aplicado na forma de fertilizante pela BM seria uma das maneiras de retê-lo na forma orgânica por determinado período (Jenkinson & Ladd, 1981) e, assim, conservá-lo no sistema solo-planta.

O crescimento microbiano é limitado, muitas vezes, pela escassez de nutrientes encontrados no solo, mas a adição de fontes de carbono ou de nitrogênio ao solo podem aumentar a biomassa e, com isso, imobilizá-los na sua constituição celular (Graham et al., 2002). Por sua vez, a adição de nitrogênio ao solo apresenta, em sistemas agrícolas e florestais, efeito neutro (Tiquia et al., 2002) de aumento (Silvan et al., 2003) e de diminuição (Erny et al., 2003) do N-BM. Tem-se observado aumento da acidez do solo causada pela adição dos fertilizantes nitrogenados e, algumas vezes, associado às mudanças no N-BM (Moore et al., 2000). Foram encontradas, também, associações entre o aumento do N-BM com a maior fertilidade do solo, causada pela adição de nitrogênio e o subseqüente retorno dos restos vegetais ao mesmo (Silvan et al., 2003). A disponibilidade de nutrientes e a produtividade de agroecossistemas dependem do tamanho e da atividade da BM, pois esta representa o carbono e o nitrogênio mais lábil do solo (Jenkinson & Ladd, 1981). O tempo necessário para que o N-BM seja liberado no ambiente é dez vezes maior do que o do material vegetal em decomposição. Assim, a determinação do N-BM é de grande importância para a quantificação da dinâmica do nitrogênio em agroecossistemas, pois controla a disponibilidade e as perdas de nitrogênio inorgânico do solo, principalmente em sistemas em que há fluxo de nitrogênio no solo (Schloter et al., 2003).

O que se tem observado é que ocorre correlação negativa entre o N da biomassa microbiana e o N da serapilheira, indicando que quanto maior for a taxa de decomposição, menor é o N acumulado na biomassa microbiana

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(Gama-Rodrigues et al., 1997), o que demonstra que a qualidade nutricional da serapilheira pode determinar a maior taxa de decomposição e, conseqüentemente, a imobilização de N pela biomassa microbiana. Além disso, se observa que a aplicação de doses elevadas de nitrogênio não promove a mineralização de nitrogênio, tampouco a imobilização na biomassa microbiana do solo (Corser et al., 2007), sendo isso independente da relação COT:N total da palhada na superfície.

O manejo do solo pode influenciar a população microbiana, em que a falta de uniformidade no manejo do solo durante vários anos pode acarretar flutuações na biomassa microbiana do solo, influenciada pela temperatura do solo e adição de resíduos vegetais (Patra et al., 1990). Isso evidencia que, em áreas não perturbadas, com manutenção de resíduos vegetais na superfície, há maior concentração de N microbiano (Hernández-Hernández & López-Hernández, 2002). De acordo com Gama-Rodrigues et al., (1997), em solos com baixa fertilidade, como na área sob cerrado nativo, a taxa de decomposição de matéria orgânica pode ser menor, levando à imobilização de N na biomassa microbiana e esta pode funcionar como reserva de N. A adição de N mineral ao solo ou mediante compostos orgânicos é relevante para disponibilizar nutrientes para as plantas. Por sua vez, a decomposição da matéria orgânica pode expressar valores diferentes e isto depende da qualidade do resíduo, da sua relação C:N, do tipo de argila e do manejo do solo (Rangeley & Knowles, 1988). O aumento da mobilização do N no solo resulta em decréscimo da sua capacidade de imobilização e conservação, levando a maiores perdas por lixiviação (Vargas & Scholles, 1998). A imobilização pela biomassa microbiana é temporária; na medida em que ocorre a morte dos microrganismos, há a mineralização desses microrganismos pelo restante da biomassa, liberando os nutrientes imobilizados. A biomassa microbiana é um componente importante do N potencialmente mineralizável. Portanto, quanto maior o conteúdo de N na biomassa microbiana, mais rápida será a sua reciclagem (Cochran et al., 1988; Anderson, 2003).