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No final da década de 1960, surgiram no âmbito da Linguística novas disciplinas, como a Pragmática, a Sociolinguística e a Etnografia da fala, as quais ressaltaram a relevância do contexto em suas análises e propuseram um novo olhar desse componente que envolve as interações.

A novidade está em se considerar o contexto como algo além do co-texto, ou seja, o ‘entorno’ do texto, isto é, não o considerando como somente aquilo que está linguisticamente expresso e nem com algo estático e pré-definido.

Hymes (1972) desenvolveu um esquema para explicar o contexto, compostos por componentes, cujas iniciais formam a palavra “speaking”, sendo eles: settings, participants, ends, act sequences, Keys, instrumentalities, norms, genres. Koch (2009) apresenta tal esquema traduzido da seguinte maneira:

 S – Situação: referente ao cenário e ao lugar.

 P – Participantes: falante e ouvinte.

 E – Fins, propósitos e resultados.

 A – Sequência de atos: forma da mensagem/forma do conteúdo.

 K – Código.

 I – Instrumentais: canal/formas de fala.

 N – Normas: normas de interação/ normas de interpretação.

 G – Gêneros.

Koch define tal esquema como uma matriz de traços etnográficos, pois propõe uma análise baseada no ‘contexto de situação’, expressão essa que segundo a autora foi proposta por Malinowski em 1923. Contudo, o autor não propôs um modelo acerca da definição e do papel do contexto na interpretação das relações de interação.

Segundo Hanks (2008, p. 74), “contexto é um conceito teórico, estritamente baseado em relações.” Seja entre os participantes, seja entre esses e a conjuntura que envolve o evento

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interativo. O autor afirma que faz uso de duas formas para explicar as especificidades referentes aos níveis de contexto, são elas a emergência e a incorporação.

Ainda segundo esse autor (2008, p. 75), “a emergência está associada ao chamado tempo real da produção do enunciado e da interação, e a incorporação descreve a situação dos enunciados em algum contexto mais amplo.” Ambas as dimensões se complementam visto que a linguagem constitui contextos e os contextos definem a linguagem.

Morato (2008) afirma que a emergência se refere aos aspectos linguísticos - discursivos que surgem no decorrer da interação, enquanto a incorporação é entendida como sendo relativa aos aspectos contextuais e pragmáticos envolvidos no processo interativo.

Na Sociolinguística Interacional, o contexto é entendido como resultado da negociação e da construção de sentidos no momento da interação que envolve tanto os aspectos linguísticos quanto os contextuais e pragmáticos. Segundo Duranti e Goodwin (1991, p. 2):

O termo significa coisas bastante diferentes em paradigmas alternativos de pesquisa e mesmo no interior das tradições particulares parece ser definido mais pela prática, pelo uso do contexto para trabalhar com problemas analíticos distintos do que por uma definição formal.

A noção de contexto é demasiado complexa por envolver aspectos situacionais, cognitivos, sociais, culturais e discursivos. Os autores ressaltam que o contexto seria como uma moldura que envolve o evento focal e fornece recursos para interpretá-lo, e que o evento focal e o contexto possuem uma relação de figura e fundo, na qual geralmente o evento focal é considerado como foco oficial da atenção dos participantes enquanto os elementos do contexto não são destacados.

Ainda segundo os autores, o texto e a fala são concomitantemente constituintes ou produtos do contexto e constituidores e produtores de seus contextos. Assim sendo, não é possível compreender texto e fala sem considerar o contexto em que se inserem.

Koch (2009) observa que, para esses autores, a análise contextual deve recobrir elementos como o cenário, o entorno sociocultural, a linguagem, os conhecimentos prévios, e a interatividade que compõe o processo representado pela relação de figura e fundo entre evento focal e contexto.

Por essa razão, Erickson e Schultz (2002) afirmam que é necessário que saibamos nos situar dentro do contexto para adequarmos nosso comportamento social a cada novo momento da interação, ou seja, o contexto é constantemente atualizado. Essa atualização é essencial para que os interagentes mantenham o envolvimento, o qual somente pode ser concebido como resultado do processo dialógico.

Em uma formulação mais recente, van Djik (2012, p. 157) afirma que “[...] os contextos não são algum tipo de situação social ou comunicativa, mas sim construções subjetivas ou definições das dimensões relevantes por parte dos participantes”, ou seja, a sua composição depende do modo como os interagentes avaliam a situação. O autor afirma que o contexto é elemento essencial para o entendimento tanto da conduta humana quanto dos textos e discursos por ela produzidos.

Ainda segundo van Djik (2012, p. 140): “Os seres humanos conseguem fazer-se entender porque assumem que seus destinatários compartilham sua gramática e seu léxico, além de conhecimentos socioculturais mais gerais, como parte do contexto do momento.” Apesar do importante papel da subjetividade na composição do contexto, o envolvimento somente se torna possível pelo conhecimento compartilhado entre os interagentes.

O autor ressalta que um conhecimento linguístico fragmentado leva a contextos deficientes, uma vez que o conhecimento da língua inclui a capacidade de empregá-la em situações sociais diversas. Não se deve, portanto, considerar apenas o sentido das palavras, mas também seu significado dentro de cada situação, visto que o significado de um enunciado pode ser diferente em cada evento especifico de produção. Acrescentamos que além do conhecimento linguístico, é necessário conhecer outras convenções sociais que compõem o contexto e são essenciais no processo interativo.

Na presente pesquisa adotamos o conceito de contexto proposto por Duranti e Goodwin (1991), visto que entendemos ser esse o mais adequado por abarcar de forma ampla, todos os aspectos que compõem e envolvem o que consideramos como contexto.

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