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2.3 DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

2.3.1 Noções de Desenvolvimento Institucional (DI) e Organizacional (DO)

O Desenvolvimento Institucional é tratado nesse estudo como tema central. Logo, torna-se imprescindível sua compreensão para que os objetivos declarados possam ser atingidos. Entretanto, como esclarece Caitano (2010), praticamente inexistem referências teóricas sobre o conceito de DI, de modo que essa pesquisa pode contribuir também para o fortalecimento conceitual do tema.

De acordo com a MDF Training & Consultancy 10 (2012), ao longo das últimas duas décadas, conceitos de desenvolvimento institucional, capacitação institucional, fortalecimento institucional e desenvolvimento organizacional têm se tornado cada vez mais recorrentes na gestão das organizações, especialmente por razões de sustentabilidade de projetos e das organizações como um todo, profissionalização gerencial e rápidas mudanças ambientais.

No entanto, é preciso atentar para diferenciações importantes quanto algumas definições, a fim de se evitarem mal-entendidos sobre as terminologias utilizadas. Em primeiro lugar, resgata- se o conceito de organização, que pode ser interpretada como um complexo de pessoas e/ou grupos que se esforçam para realizar objetivos conforme regras e procedimentos pré- estabelecidos, podendo ser formais ou não. Por outro lado, uma definição apropriada para instituição é a formulada por Uphoff (1986 apud MDF, 2012), que a entende como um complexo de normas e comportamentos que persistem ao longo do tempo, servindo a fins coletivamente valorizados. As instituições podem ser concretas, quando possuem uma estrutura organizacional que adquiriu certo grau de valor e com determinada durabilidade, como uma escola, um tribunal, uma igreja; podem, ainda, ser abstratas, como a Constituição, o casamento, e o sistema de mercado (MDF, 2012).

Embora pareça haver similaridade entre os termos, nem sempre uma organização é uma instituição, haja vista não ter necessariamente alcançado um nível de institucionalização, de durabilidade e de legitimação (UPHOFF, 1986 apud MDF, 2012). Desse modo, é possível afirmar que as concepções de Desenvolvimento Institucional (DI) e Desenvolvimento Organizacional (DO) não são análogas.

O DI pode ser definido como “a criação ou esforço de uma rede de organizações para gerar, alocar e utilizar efetivamente recursos humanos, materiais e financeiros para atingir objetivos específicos por meio de uma base sustentável”. A rede pode ser constituída por várias organizações e suas inter-relações de trabalho conjunto para o alcance dos objetivos. Entende-se, então, que o DI não se limita a uma única instituição, mas destina-se a uma incorporação maior, mais duradoura e sustentável de intervenções de desenvolvimento no ambiente no qual as organizações e instituições desempenham um papel (MDF, 2012, p. 04).

10 Agência internacional de treinamento e consultoria que atua na capacitação da gestão de organizações que contribuem para o

Nessa perspectiva, a ênfase do DI está no ambiente e refere-se ao posicionamento da organização no ambiente e à sustentabilidade das suas atividades (MDF, 2012). O ambiente institucional deve ser concebido como um ser vivente, de constantes alterações de problemas e oportunidades para solucioná-los ao longo do tempo. O DI não é um processo simples e linear, pelo contrário, é um processo de evolução e de longo prazo no qual os objetivos para a mudança institucional, as saídas, as atividades e os insumos necessários para alcançá-la são determinados conforme o processo avança (DFID, 2003). O conceito de DO, por sua vez, diz respeito à capacitação organizacional. Seu foco está no fornecimento e aperfeiçoamento de ferramentas para auxiliar o funcionamento das organizações. Procura inserir medidas para melhorar o desempenho de uma organização, podendo ser considerado como um pré-requisito para o DI (MDF, 2012).

Em Teoria Geral da Administração, em sentido restrito, o DO é fundamentalmente um desdobramento prático da Teoria Comportamentalista, e sua origem remete às análises sobre as mudanças no ambiente organizacional, ao aumento do tamanho das organizações e à crescente diversificação e gradativa complexidade da tecnologia moderna. Assim, o DO se refere a um processo planejado de modificações culturais e estruturais na organização, de tal maneira que esta possa adaptar-se melhor às novas conjunturas (CHIAVENATO, 1983).

Tanto o DI como o DO podem ser tratados como processos de mutação. Suas intervenções implicam mudanças às vezes pequenas, como ajustamentos de procedimentos atuais; ou alterações por vezes mais amplas, como a reestruturação da organização por inteiro (MDF, 2012). Mudança, neste caso, significa um processo necessário para a adaptação e sobrevivência organizacional em função de forças endógenas e exógenas que conferem condições de mutações constantes no ambiente geral que envolve a organização (CHIAVENATO, 1983).

Algumas possíveis questões que podem ser formuladas a partir das concepções de DI e DO são apresentadas no Quadro 5.

QUADRO 5 – Possíveis questões de DI e DO

QUESTÃO CENTRAL DEFINIÇÃO

Legitimidade Aceitação e encaixe da organização em seu ambiente.

Eficácia Medida em que os produtos e serviços atendem à missão.

Eficiência Utilização dos recursos de entrada em relação aos de saída.

Sustentabilidade Ser capaz de continuar suas principais atividades no longo prazo.

Flexibilidade Capacidade de uma organização de se adaptar a mudanças.

Segundo Pierson (2004), o conceito de DI é mais abrangente e tem especificidades em relação aos conceitos de mudança institucional e de escolha institucional. A mudança pode envolver alteração abrupta ou intempestiva. A escolha implica deliberação intencional e se origina, sobretudo, de uma concepção funcionalista que supõe serem as instituições resultados das escolhas estratégicas de atores racionais. Em contraponto, a noção de DI permite dar conta de mudanças que ultrapassam as ações individuais e apresentam uma temporalidade de mais longo prazo, levando em consideração a seqüência dos processos e as variações no ritmo das transformações, mais ou menos lentas e graduais.