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CAPÍTULO II – DA EDUCAÇÃO ETICO-HUMANISTA AO PROCESSO DE

1. Noções gerais de envelhecimento

Do ponto de vista científico, os autores definem de modo diferente o que se entende por envelhecimento, mas em geral, referem-se “a um processo que, devido ao avançar da idade, atinge toda a pessoa, bio-psico-socialmente considerada, isto é, todas as modificações morfo-fisiológicas e psicológicas, com repercussões sociais, como consequência do desgaste do tempo” (Robert, 1994, p. 31).

Não existe nenhuma medida confiável do envelhecimento. A maioria dos gerontologistas, como regra geral, toma a idade de 60 ou 65 anos como indicador do início da “velhice”. É aproximadamente nessa idade que se torna aparente o declínio em muitos processos físicos e psicológicos (que ocorrem ao longo da maior parte do período adulto da vida). Assim sendo:

(...) o envelhecimento consiste numa perda progressiva e irreversível da capacidade de adaptação do organismo às condições mutáveis do meio ambiente. Trata-se de um processo complexo, diferencial (específico de cada pessoa), contínuo (embora com tempos diferentes), inelutável e irreversível. (Ibidem)

Sendo consensual a ideia de que o envelhecimento é um fenómeno bio- psico-social de cariz individual, qualquer abordagem psicológica que a ele se faça terá de ser necessariamente multidisciplinar. “O envelhecimento humano nunca poderá ser descrito, explicado ou previso sem termos em consideração as dimensões biológica, psicológica e social que lhe estão inerentes” Birren, 1995, (cit. por Fonseca, 2006, p. 53). Assim, o funcionamento humano não pode ser entendido pela sua redução à dimensão biológica.

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Esses termos podem ser comparados aos conceitos semelhantes de “envelhecimento primário (mudanças corporais da idade) e envelhecimento secundário12 (mudanças que ocorrem com maior frequência, mas não são um acompanhamento necessário)” (Ibidem).

Desta forma, pode-se distinguir “entre envelhecimento primário (ou normal) e secundário (ou patológico) ” (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2006, p. 21).

Alguns autores acrescentam um terceiro termo o envelhecimento terciário, para se referir à rápida e acentuada deterioração física imediatamente anterior à morte. Seguindo a mesma linha de pensamento está Birren e Cunningham, (1985) ao reafirmarem que ao estudar o envelhecimento, há autores que sugerem:

(...) a divisão entre o envelhecimento primário, que seria o normal e sem doenças, o secundário, que se refere a um envelhecimento relacionado com a doença e o terciário, relativo a um período, mais ou menos longo, próximo da morte, em que havia uma deterioração, de aspectos geralmente considerados como não variando com a idade, para níveis anteriores de desempenho. (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2006, p. 21)

Sob o ponto de vista biológico, o envelhecimento deve ser encarado sempre relativamente às mudanças fisiológicas que ocorrem no corpo em diferentes indivíduos, podendo existir diferentes idades fisiológicas em indivíduos com a mesma idade cronológica (Rabin, 2000).

Embora seja controversa a idade de início do envelhecimento biológico, em geral, é aceite que “ocorre no final da segunda década de vida, calcula-se que após os 30 anos, dependendo dos órgãos, haja em média a perda de 1% de funcionalidade por ano” (Sousa, Figueiredo & Cerqueira; 2006, p. 23).

Todavia, “o envelhecimento afecta de modo desigual as funções dos tecidos, o declínio é mais rápido nos tecidos elásticos (aparelhos circulatório e respiratório e pele) e mais lento nos tecidos nervosos” (Ibidem).

Há no entanto, muitas causas sugeridas de declínio físico, que podem ser agrupadas sob os títulos mais amplos de “teorias do desgaste pelo uso, teorias citológicas e a teoria da soma descartável”13

(Ibidem).

12 - O envelhecimento primário indica o processo de diminuição orgânica e funcional, não

decorrente de acidente ou doença, mas que acontece, inevitavelmente, com o passar do tempo. - O envelhecimento secundário respeita os fatores que interferem no processo de envelhecimento normal, tais como o stress, traumatismo ou doença, suscetíveis de acelerar o processo de envelhecimento primário.

13 - Teorias de desgaste pelo uso referem-se a partes do corpo gradualmente “se desgastam” com

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Salthouse (1991) mostra-nos que as competências inteletuais mais afetadas pela idade são:

 A capacidade de interpretar informação não-verbal (tal como, gestos, expressões faciais…) e;

 A capacidade de dar respostas rápidas perante situações novas;  A aquisição de novos conceitos e a aplicação dos conceitos

existentes;

 A aptidão para organizar informações e concentrar-se;  Os raciocínios abstractos;

 As competências psicomotoras e as actividades perceptivas. Por outro lado, as capacidades menos afectadas pela idade são:

 A dimensão prática de resolução de problemas;  A capacidade de interpretar informação verbal;  A execução de tarefas familiares;

 O uso do conhecimento acumulado.

Nesta linha que mostra os dois lados (positivo e negativo) do envelhecimento cognitivo, Schaie (1996) faz corresponder a velhice a uma fase de reintegração. Nesta altura, a atividade intelectual realiza-se, principalmente, se fizer sentido para a pessoa, isto é, o esforço intelectual só é ativado se tiver um propósito útil e compreensível.

No âmbito das alterações cognitivas tem-se privilegiado um dos fatores relevantes para a atividade intelectual: a memória. “A crença mais frequente sobre a memória indica que, com o envelhecimento, aumenta a dificuldade em recordar factos mais recentes e se mantém a capacidade de recordar factos do passado longínquo” (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2006, p. 23).

Contudo, alguns dados de pesquisa revelam contornos díspares: uns mostram que os mais velhos são mais eficientes em lembrar aspetos do passado longínquo; outros referem o contrário.

- Teorias citológicas referem-se ao corpo que envelhece por exposição a toxinas, incluindo produtos de refugo metabólico.

- Teoria da soma descartável, explica por que o envelhecimento pode ser uma boa estratégia em termos evolucionários para os genes de um indivíduo.

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Hayslip & Panek 1989 (cit. por Fonseca, 2006, p. 62) defendem o conceito de envelhecimento melhor compreendido como “um processo contínuo, não facilmente segmentado em estádios particulares e mutuamente exclusivos”.

Seguindo a mesma linha de pensamento, está Schroots &Yates 1999 (cit. por Fonseca 2006, p. 62) “ que preconizam uma ligação íntima e dinâmica entre envelhecimento e desenvolvimento”.

A verdade, é que, a forma como envelhecemos tem a ver com a forma como nos desenvolvemos, isto é, a senescência é uma função do meio físico e social em que o organismo se desenvolve e envelhece, o envelhecimento é a contrapartida do desenvolvimento (Birren & Cunningham, 1985).

Envelhecimento e desenvolvimento são, portanto, “conjuntos de fenómenos dinâmicos que evocam transformações do organismo de natureza biológica ou psicológica, em função do tempo” (Paúl, 1997, p. 10).

Esta ideia vem na linha daquilo que o próprio Birren já nos anos 60 defendera, ao apresentar uma teoria geral do envelhecimento baseada na ideia de que o envelhecimento seria a contrapartida do desenvolvimento.

Nesta mesma concepção de ideias está Birren & Schroots 1996 (cit. por Fonseca 2006, p. 63) ao defenderem que “o uso da imagem contrapartida pretende expressar a ideia de que desenvolvimento e envelhecimento são dois processos paralelos mas relacionados entre si, ou seja, duas faces de uma mesma trajectória de vida”.

Particularmente importante para esta visão foi a introdução, por Baltes do conceito de desenvolvimento como sendo “um balanço entre ganhos e perdas: “em todos os momentos do curso de vida humana, o desenvolvimento é uma expressão conjunta de aspectos de crescimento (ganhos) e declínio (perdas)” (1987, p. 616). Qualquer progressão desenvolvimental mostra ao mesmo tempo “o aparecimento de novas capacidades adaptativas e a perda de capacidades previamente existentes. Nenhuma mudança desenvolvimental durante o ciclo de vida comporta unicamente ganhos” (Ibidem).

Nesta óptica, o envelhecimento corresponderá “a uma crescente entropia ou desorganização dos sistemas, que sucede não apenas a partir de um determinado momento do ciclo de vida, mas logo desde o início da vida humana” (Ibidem).

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No entanto, Birren e Schroots acabam por reconhecer que nem as concepções de Baltes, nem as suas próprias ideias, explicam completamente os complexos fenómenos implicados no desenvolvimento e no envelhecimento, pois, como eles mesmos referem:

(...) não há diferenças essenciais entre os termos desenvolvimento, ganhos, e informação, por um lado, e os termos envelhecimento, perdas, e entropia, por outro lado (...) Ambos os processos podem ser concebidos como mudanças relacionadas com a idade durante o curso da vida humana. (1996, p.10)

Torna-se por isso, imprescindível, procurar antes de mais “compreender a natureza do envelhecimento para depois o poder explicar, tomando-o como um conjunto de “mudanças regulares” que se produzem nos indivíduos já durante a vida adulta” (Fonseca 2006, p. 65). Tal como tem vindo a ser demonstrado em estudos longitudinais sobre o envelhecimento.

Em geral, o envelhecimento “é o conjunto de processos, que o organismo sofre após a sua fase de desenvolvimento” (Oliveira 2008, p. 28). Todavia, o envelhecimento “não é sinónimo de velhice. Este último é o estado que caracteriza um grupo de determinada idade, o das pessoas com mais de sessenta anos” (Ibidem).

Kirkwood, 1998 (cit. por Oliveira, 2008, p. 7) refere ainda que, “o envelhecimento é um processo cujo resultado é óbvio mas cujo mecanismo permanece desconhecido”. Urge ao menos estudar teoricamente esta idade para melhor a compreender, respeitar e desejar também lá chegar.

Assim, propomos em seguida uma análise às várias teorias de envelhecimento que tentam explicar as várias formas de envelhecer.

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