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1.3 Aspectos gerais sobre geração termelétrica

1.3.2 No Brasil

Na primeira metade do século 20, a geração e distribuição de energia no Brasil foram concedidas a empresas privadas, a maioria estrangeira. Elas construíram um sistema de geração quase todo baseado em fontes hidroelétricas, disponíveis em abundância no país; implementaram uma malha de distribuição satisfatória e fizeram investimentos para ampliar o sistema à medida que o país crescia. No entanto, a partir da década de 40 o crescimento industrial e a urbanização fizeram a demanda por energia crescer muito e as empresas deixaram de atender as necessidades. Os períodos de racionamento eram freqüentes quando os níveis dos reservatórios estavam baixos. Diante da escassez de investimentos privados Getúlio Vargas iniciou a estatização do setor com a idealização da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e da usina de Paulo Afonso. O processo foi aprofundado com a criação de Furnas, a primeira usina hidrelétrica de grande porte do país (1.200 MW) foi criada no governo de Juscelino Kubitschek e em 1962 João Goulart cria a Eletrobrás que se tornou a controladora do sistema elétrico do país. Assim o Brasil chegou até meados da década de 1990 com um sistema de geração que atendia as suas necessidades onde a geração era quase toda baseada em hidroeletricidade, contando com grandes, médias e pequenas usinas. Sendo

Itaipu a maior delas com uma potência instalada de 14.000 MW. O quadro mudou na segunda metade da década de 1990 quando o setor foi privatizado e poucos investimentos foram feitos. O governo criou a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) em 2004, responsável pelo planejamento do setor. Em 2007 a EPE apresentou o Plano Nacional de Energia previsto para até o ano de 2030. A novidade em relação aos planos da Eletrobrás é que foi apresentado um plano com propostas para toda a matriz energética, considerando todas as fontes e aplicações. Neste plano a EPE indica que a opção de hidroeletricidade se tornará altamente escassa a partir do ano de 2020, sendo necessário diversificar a matriz energética com outras fontes, principalmente com fontes térmicas funcionando de forma contínua, na base do sistema, Resende & Hubneré (2007). Esta mesma indicação foi feita por Economia & Energia (2000) através da figura 5, que mostra a previsão do fator de capacidade das centrais termelétricas nacionais de serviço público.

Figura 5 – Projeção do fator de capacidade, ou carga, para a geração de eletricidade de centrais de serviço público, segundo Economia & Energia (2000).

Além da provável escassez a partir de 2020, a forte dependência brasileira sobre a hidroeletricidade tem o aspecto positivo ligado ao uso de energia renovável, porém deixa o país exposto à sazonalidade inerente à disponibilidade de água, o que causou diversos problemas no passado e um racionamento de energia elétrica no país em 2001. A solução para

este problema, segundo Hassuani et al. (2005), é a construção de uma capacidade hidrelétrica excedente ou o aumento da participação das termelétricas na matriz elétrica brasileiro, como enunciado anteriormente por Resende & Hubneré (2007), sendo também possível uma combinação de ambas as soluções. Porém, o licenciamento ambiental para novas centrais hidrelétricas tem sido uma etapa difícil e demorada, uma vez que a maior parte do potencial hídrico remanescente do país encontra-se na região norte, nos rios amazônicos. Devido a esta localização, um grande impacto ambiental é gerado pelo alagamento de áreas de floresta para a construção de reservatórios. Além disto, a distância dos grandes centros consumidores eleva os custos e as perdas relacionadas com a transmissão da energia gerada. Pelos motivos citado acima o governo brasileiro tem aprovado projetos para construção de termelétricas. Em 2008 existiam 19 usinas termelétricas em construção e 164 outorgadas, que somadas adicionarão aproximadamente 14 GW à capacidade instalada na rede elétrica brasileira de acordo com Análise Energia (2009). O total de usinas termelétricas em operação no Brasil no ano de 2008 era de 1041 unidades, Análise Energia (2009). As 15 usinas de maior capacidade instalada estão listadas na tabela 3.

Tabela 3 – Usinas termelétricas de maior potência instalada no Brasil, excluindo as nucleares, adaptado de Análise Energia (2009).

A figura 6 mostra a previsão de expansão da potencia elétrica instalada no Brasil prevista até o ano de 2010. Esta expansão se dará segundo uma matriz ainda predominantemente hidráulica, ver figura 7, porém com a participação de fontes térmicas cada vez maior. A parte clara da figura 6 indica a expansão projetada para os respectivos anos.

Figura 7 – Matriz elétrica nacional, MME (2007).

Atualmente as usinas termelétricas brasileiras, em conjunto, possuem uma capacidade instalada de 22.392 GW, e são responsáveis pela geração de 11,9% de toda energia elétrica consumida no Brasil (excluindo as centrais nucleares). O gás natural é o principal insumo energético das termelétricas brasileiras, representando 47% da potência instalada desse tipo de geração. No Brasil atualmente há um total de 85 usinas em operação utilizando este tipo de insumo. O gás natural é seguido pela biomassa, que representa 20% da potência térmica instalada nas usinas do Brasil. A geração através de biomassa compreende um total de 302 usinas operando em 2008, sendo que 252 destas usinas utilizam bagaço de cana-de-açúcar como insumo energético, Análise Energia (2009).

Embora esteja entre os combustíveis mais utilizados para geração termelétrica no Brasil, a biomassa, principalmente o bagaço de cana-de-açúcar, possui um processo de produção energética normalmente caracterizado pela queima de bagaço em uma caldeira para geração de vapor seguida pela geração de eletricidade através de uma turbina de contra-pressão, sendo a eficiência do ciclo de aproximadamente 20%, Zanetti et al. (2007). Este fato mostra que esta fonte energética pode ter sua capacidade de produção de eletricidade aumentada pelo simples

uso de tecnologias de conversão energética mais eficientes. A energia proveniente deste tipo de fonte pode ser comercializada de duas formas: ACR (Ambiente de Contratação Regulado) onde os leilões são promovidos pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) ou através do ACL (Ambiente de Contratação Livre) onde os agentes negociam livremente a compra e venda de energia através de contratos bilaterais. Porém, segundo Jardim (2007), os produtores deste tipo de energia ainda sofrem com a regulação nacional principalmente no que se refere aos custos relacionados à conexão à rede de transmissão, este custo muitas vezes inviabiliza a geração distribuída de eletricidade para a rede elétrica. Outro fator importante a ser considerado neste tipo de geração é a sazonalidade inerente ao plantio da biomassa, que acarreta baixos fatores de capacidade e muitas vezes inviabiliza os investimentos necessários para um aumento de eficiência do ciclo térmico. Este fatores têm impedido a entrada na rede de um potencial de 17.398 GWh/ano de energia proveniente da palha e bagaço da cana, Jardim (2007).

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