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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.1 REVESTIMENTOS DE ARGAMASSAS 1 Introdução

2.1.4.1 No estado fresco a) Consistência

Segundo Cincotto et al. (1995) é a propriedade pela qual a argamassa no estado fresco tende a resistir à deformação. Diversos autores classificam as argamassas, segundo a consistência, em secas (a pasta preenche os vazios entre os grãos), plásticas (a pasta forma uma fina película e atua como lubrificante na superfície dos grãos dos agregados) e fluidas (os grãos ficam imersos na pasta). A consistência é diretamente determinada pelo conteúdo de água, sendo influenciada pelos seguintes fatores: relação água/aglomerante, relação aglomerante/areia, granulometria da areia, natureza e qualidade do aglomerante.

Na avaliação da consistência da argamassa é utilizada tradicionalmente no Brasil a mesa de consistência (flow table) apresentada pela NBR 7215 (ABNT, 1997) e são realizados procedimentos de ensaio para determinação do índice de consistência prescrito pela NBR 13276 (ABNT, 2005). Entretanto, apesar da grande utilização, este ensaio é muito criticado, pois vários são os pesquisadores que argumentam que a mesa não tem sensibilidade para medir a reologia da argamassa.

Existem outros métodos utilizados para avaliar a consistência: o método da penetração do cone preconizado pela norma ASTM C780 (2009); o método vane test (ensaio de palheta); ensaio de dropping ball prescrito pela norma BS 4551 (BSI, 2005), e mais recentemente, vem sendo empregado o método squeeze-flow, devido, principalmente, à grande sensibilidade às variações do comportamento reológico da argamassa.

b) Trabalhabilidade

Esta propriedade, que se relaciona principalmente à consistência, na prática significa facilidade de manuseio. Uma argamassa é dita

trabalhável, de um modo geral, quando ela distribui-se facilmente ao ser assentada, não gruda na colher do pedreiro quando está sendo aplicada, não segrega ao ser transportada, não endurece em contato com superfícies absortivas e permanece plástica por tempo suficiente até que a operação seja finalizada.

O documento MR-3 (RILEM, 1982) descreve trabalhabilidade das argamassas como sendo uma propriedade complexa, resultante da conjunção de diversas outras propriedades, tais como consistência, plasticidade, retenção de água, coesão, endurecimento sob sucção e tixotropia.

A plasticidade é influenciada pelo teor de ar incorporado, características e proporcionamentos dos materiais constituintes da argamassa e pelo processo de mistura.

A avaliação da trabalhabilidade das argamassas através de ensaios é uma tarefa muito difícil, pois ela depende, além das características dos materiais constituintes da argamassa, também da habilidade do oficial que está executando o serviço e de diversas propriedades do substrato, além da técnica de aplicação.

c) Coesão e Tixotropia

A coesão, segundo Cincotto et al. (1995), refere-se às forças físicas de atração existentes entre as partículas sólidas da argamassa no estado fresco e às ligações químicas da pasta aglomerante. Ainda, segundo os autores, a influência da cal sobre a consistência e a trabalhabilidade das argamassas provém das condições de coesão interna que a mesma proporciona, em função da diminuição da tensão superficial da pasta aglomerante e da adesão ao agregado.

A tixotropia é a propriedade pela qual um material sofre transformações isotérmicas e reversíveis do estado sólido para o estado gel (SELMO, 1989).

d) Retenção de água

A retenção de água é a capacidade da argamassa no estado fresco de manter sua consistência ou trabalhabilidade quando sujeita a situações que provocam principalmente a perda de água por evaporação e sucção do substrato.

A retenção de água é uma propriedade importante da argamassa, pois a água deve permaneceu em seu interior o tempo necessário de

modo a permitir a hidratação do cimento e manter a plasticidade da argamassa até o momento de sua aplicação.

Vários fatores influenciam na capacidade de retenção de água da argamassa, sendo a cal considerada como um dos principais devido a sua elevada área específica. O aumento da capacidade de retenção de água também pode ser obtido com a utilização de aditivos incorporadores de ar, pois segundo Hanzic e Ilic (2003) as microbolhas de ar desconectam os poros e impedem a percolação da água.

e) Densidade de massa e ar incorporado

A densidade de massa no estado fresco é definida como sendo a razão entre a massa de argamassa que ocupa um recipiente e o volume do mesmo. A norma NBR 13278 (ABNT, 2005) que prescreve o ensaio, determinada que o recipiente deve ser cilíndrico de aproximadamente 400 cm3 com a densidade de massa, que inclui os vazios impermeáveis, expressa em kg/m3. A densidade de massa é muito utilizada para determinar o rendimento da argamassa no estado fresco e influencia significativamente diversas propriedades no estado fresco e endurecido. Esta propriedade é também utilizada para calcular a quantidade de ar incorporado1 ou de ar aprisionado2 no interior da argamassa, também prescrita pela NBR 13278 (ABNT, 2005), que compara a densidade de massa da argamassa obtida teoricamente, que não incluem vazios, com a densidade de massa medida.

O teor de ar incorporado em argamassas de revestimento deve ser criteriosamente analisado, pois além de modificar propriedades como plasticidade e trabalhabilidade, facilitando a aplicação da argamassa, também afeta diversas propriedades no estado endurecido. Alves (2002) e Antunes (2005), em suas pesquisas, comprovaram a redução da resistência de aderência à tração com aumento do teor de ar incorporado em argamassas de revestimentos, que atribuem à redução dos pontos de contato da argamassa com o substrato devido, principalmente, à presença das bolhas de ar nesta interface. Silva et al. (2009) verificaram que, além da redução das resistências mecânicas em argamassas de

1

A incorporação de ar em argamassas de revestimento é um processo muito utilizado principalmente em argamassas industrializadas com utilização de aditivos tensoativos que introduzem nas argamassas vazios em forma de microbolhas de ar estáveis (ALVES, 2002).

2

Ar aprisionado é o vazio no interior da argamassa no estado fresco devido ao inadequado adensamento durante a aplicação e/ou devido ao processo de mistura.

cimento e areia, o ar incorporado reduz sensivelmente a permeabilidade e o módulo de elasticidade.

Não existe consenso entre os pesquisadores quanto o teor de ar incorporado ideal para as argamassas de revestimentos. A norma ASTM C270 (1999) da American Society of Testing and Materials recomenda teores de ar incorporado entre 12% e 18% para argamassas de revestimento. Alves (2002) recomenda mínimo de 14% e máximo de 20% de ar incorporado para argamassas de revestimento, sendo os mesmos limites recomendado pela BS 4887 (BSI, 1986) da British

Standard Institution. O mesmo autor cita que BENINGFIELD (1988)

em um estudo do Instituto de Desenvolvimento de Pesquisa em Alvenaria de Melbourne, ocorrido em 1977, estabelecia que o teor de ar incorporado para as argamassas não deveria nunca exceder 20% e, preferencialmente, não ultrapassar 15%.

2.1.4.2 No estado endurecido