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4. ANÁLISE

4.4 A S UNIDADES CONSTRUÍDAS

4.4.1 Unidades construídas por sufixação

4.4.1.3 Nomes construídos com ite, ose, oma, ina e ão

Os nomes construídos recenseados na terminologia da Fisioterapia são formados com os seguintes sufixos: -ite (27 casos), -ose (25 casos), -oma (7 casos), -ina (4 casos) e -ão (1 caso). Esses sufixos recenseados (excluindo-se -ão) não são normalmente descritos nos tratados de Morfologia Derivacional do português, já que eles não fazem parte do paradigma afixal de nenhuma das regras estabelecidas na literatura consultada81, mas podemos postular que são sufixos que ocorrem prioritariamente em linguagens de especialidade. Correia (1999a, p. 54), ao descrever as características dos afixos derivacionais, refere-se aos casos de -ite e –

ose, defendendo que:

(...) o que acontece é que diacronicamente ocorreu uma lexicalização destas unidades, no sentido em que unidades infralexicais podem assumir o estatuto de unidades lexicais (com significado descritivo e referencial e às quais é possível atribuir uma categoria: substantivo no caso de –ite e de –ose).

Em suma, a autora propõe que esses sufixos se encontram num processo de

69 “transposição de categoria genérica”, ou já terão concluído essa transposição, passando de unidades infralexicais de significado instrucional (afixos) a unidades infralexicais de significado descritivo (Correia, 1999a, p, 54-5582). Um dos argumentos que podemos usar para defender essa hipótese é a dificuldade que encontramos ao delimitar a categoria das suas bases. Podemos afirmar o mesmo dos sufixos -oma e -ina.

De qualquer forma, apesar do que foi referido, para efeitos deste trabalho, trataremos essas unidades infralexicais como sufixos, embora essa questão mereça um maior aprofundamento no futuro. Passamos agora para a análise detalhada de cada sufixo.

O sufixo -ite é proveniente do gr. -ítes ou ítis e aparece em grande número nos nomes da Medicina, adquirindo os seus derivados respectivos o significado de “inflamação”83. Os nomes de base (Nbs) sobre os quais o sufixo opera, em sua maior parte, referem-se a partes do corpo, como artrite, que pode ser entendida como “inflamação da articulação (artr)”. Dessa maneira, a paráfrase composicional que abrange os casos formados com o sufixo -ite é “inflamação de Nb”.

Os Nbs que -ite seleciona podem tanto ser simples como compostos: há casos em que a base é formada por dois arqueoconstituintes (também denominando partes do corpo), como em osteomielite, significando “inflamação do osso (osteo) e da medula (miel)”. Os termos formados a partir desse sufixo são: artrite, artrocondrite, bronquite, bursite,

dermatite, discite, encefalite, encefalomielite, espondilite, flebite, linfangite, meningoencefalite, mielite, miosite, neurite, neuromielite, osteoartrite, osteomielite, pericardite, pioartrite, sacroiliíte, sinovite, tendinite, tenossinovite, tenovaginite, tromboflebite, vasculite.

O sufixo -ose é também muito empregado em áreas relacionadas à Medicina, formando diversos processos patológicos e de doenças. Decidimos utilizar a descrição do sufixo proposta pelo TLFi porque foi o local onde encontramos uma descrição mais detalhada do cognato francês de -ose, que é aplicável ao português. Apresentamos a seguir as bases que

-ose opera e os exemplos recenseados na terminologia da Fisioterapia:

a) a base designa o órgão ou a parte afetada pela doença: espondilose, artrose;

b) a base designa a manifestação do processo patológico: hidrartose, mucoviscidose,

osteoporose, hemartrose, esteatose, equimose, trombose, necrose, aterosclerose,

atetose;

c) a base designa a natureza/característica do processo patológico: cifose, cianose,

82 Informação reiterada em comunicação pessoal. 83 Informações retiradas do DENF.

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escoliose, anquilose, cifoescoliose, estenose, lordose.

Encontramos algumas unidades que não seguem esses padrões e que acabaram por trazer algumas dificuldades de classificação. Tratemos primeiro do seguinte termo:

aponeurose. Podemos depreender sua estrutura, entretanto, não se trata de processo patológico nem de doença. De acordo com o DH, trata-se de “uma membrana esbranquiçada, luzidia, fibrosa e resistente que envolve os músculos, terminado em certos casos, à guisa de tendão”. Não podemos considerá-la uma unidade complexa não construída pelo fato de existir outras unidades construídas com a base -aponeur-84, mas a relação entre a estrutura morfológica e o significado atestado não é por enquanto clara. Nesse caso, consideramos essa unidade uma exceção, mas ainda assim resolvemos classificá-la como uma unidade construída, derivada por sufixação.

As outras unidades que apresentam o sufixo -ose mas que não se encaixam na classificação proposta são: sinartrose, sincondrose, sindesmose, sinfibrose, sinostose. Também não se trata de doenças ou processos patológicos, mas sim de diferentes tipos de articulações, conforme observamos nas definições a seguir:

sinartrose (DicFisio): articulação fibrosa, imóvel ou quase imóvel, formada por tecido

conjuntivo fibroso, também conhecido por ligamento sutural. Os principais tipos são: suturas, sincondroses e sindesmoses, sinfibrose e sinartródia.

sincondrose (DicFisio): articulação cartilaginosa, formada por hialina (cartilagem

translúcida, cristalina, branco-azulada) que antes da idade adulta transforma-se em osso. O exemplo mais típico é a sincondrose esfeno-occipital que pode ser visualizada na base do crânio.

sindesmose (DicFisio): articulação formada por ligamento (tecido conjuntivo fibroso

forte), que une superfícies ósseas relativamente afastadas. Os exemplos mais comuns são: sindesmose tíbio-fibular e sindesmose radio-ulnar.

sinostose (DMD): união entre ossos adjacentes ou partes de um único osso formadas por

material ósseo, como cartilagem de conexão ou tecido fibroso calcificados.

sinfibrose (DMD): sinartrose na qual a união das peças ósseas é garantida

exclusivamente pelo tecido conjuntivo.

Ao analisarmos essas unidades, notamos a presença do prefixo sin-, que de acordo com o DH, pode possuir a acepção de “ajuntamento, associação, reunião, simultaneidade”. Ao se juntar às bases condr, fibr, ost, adquire o significado de uma

71 articulação na qual a juntura é uma cartilagem, uma fibra e um osso, respectivamente. Entretanto, não conseguimos explicar completamente o funcionamento de -ose nessas unidades, já que o mesmo não é necessário para a interpretação semântica. Nesse caso, poderíamos estar diante de um integrador paradigmático85, mas essa interpretação mereceria um maior aprofundamento no futuro.

A respeito do sufixo -oma, podemos afirmar, de acordo com o TLFi, que se origina no grego, formando termos médicos que enumeram diversos tumores, processos patológicos ou doenças que se manifestam por um tumor. Tal como para o sufixo -ose, utilizamos a classificação proposta pelo TLFi para as bases selecionadas por -oma. Seguem os exemplos recenseados na terminologia da Fisioterapia:

a) a base designa um organismo ou a parte afetada: meningioma, neuroma;

b) a base designa o aspecto/natureza do processo patológico: granuloma, ateroma

sarcoma, hematoma, carcinoma.

O sufixo -ina é um sufixo muito produtivo em química e biologia e, de acordo com TLFi, os derivados designam um produto de origem animal ou uma substância produzida por um organismo vivo. As bases a que o sufixo se junta podem ser assim classificadas:

a) a base designa a origem da substância: mielina, miosina; b) a base designa o aspecto da substância: fibrina;

c) a base designa a função da substância: actina.86

Foi recenseado um único caso com o sufixo -ão, formando nomes “isocategoriais”, nas palavras de Rio-Torto (1994, p. 326). É formado a partir da RCP AUM  nomes aumentativos, parafraseáveis por “grande Nb”. O exemplo na terminologia da Fisioterapia é esporão, cuja definição é:

esporão (DMA): estrutura anatômica saliente numa cavidade ou num conduto que ela tende a dividir ou num tecido em que ela tende a penetrar.

Nesse termo, é possível depreender um significado derivado, que além de ser interpretado como “grande espora”, trata-se também de uma metáfora construída a partir da semelhança entre o objeto “espora” e a deformação que é formada nos pés.

85 Conforme apresentando na subseção 2.3.4.2.

86 O DCA apresenta a seguinte definição para a base act-: De act (como no lat. actus, 'movimento', e lat. actionis,

'ação') + -ina; do vocabulário científico internacional actin (ing.), aktin (al.) .]. A base é portanto interpretável, já que a substância é fundamental para a contração muscular.

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