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“Normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual”,

Resolução 01/99; e “Normas de atuação para os psicólogos em relação ao preconceito e à discriminação racial”, Resolução n.º 18/2002.

A resolução CFP n.º 01/99 estabelece normas de atuação em relação a questão de sexo, gênero e sexualidade. Esta resolução parte do princípio que questões de gênero não se constituem em distúrbio, doença ou perversão. A resolução orienta que a prática profissional da(o) psicóloga(o) deve contribuir para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminação e es-tigmatização contra aquela(e)s que apresentam comportamento de práticas homoeróticas. A(o) psicóloga(o) ainda não deve exercer ações que favoreçam a patologização dos comportamentos ou prá-ticas homoeróprá-ticas (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 1999).

De acordo com Pereira (2019) no dispositivo de gênero e sexua-lidade, quanto maior o poder dos atores na rede e maior a quantidade de instituições, maior o número de classificações e categorizações controladores (ex.: tipos de perversões). Inversamente proporcional, quanto menor o poder, maior a opressão, surgindo a criação de tipos sociais que precisam mostrar sua existência (como as categorias LGB-TQI+). Ao implodir com as representações sociais do que é masculi-no e feminimasculi-no, em função do que requer cada modalidade, o esporte

coloca em xeque a própria condição do que é ser cada um diante das normas estabelecidas. Na estrutura esportiva, historicamente caracte-rizada pelo poder masculino, as mulheres são obrigadas a confirmar sua condição de mulheres, com testes de feminilidade que envolvem tipagem cromossômica e hormonal. Essa comprovação sempre foi necessária para as mulheres, pois aos homens, mesmo os homosse-xuais não é questionada sua condição de homem.

Pereira (2019) destaca que gênero no esporte é a maneira como as pessoas, diante das condições sociais, se identificam como sendo masculinos e femininos, muito embora expressão de gênero, identi-dade de gênero e orientação sexual não são condições dadas biolo-gicamente, pois foram construídas social e culturalmente. Quando se fala de identidade de gênero no esporte refere-se a como as pessoas formam sua relação íntima e pessoal entre o sexo que nascem e as marcações culturais que aprenderam e introjetaram. A relação direta entre um esporte considerado masculino ou feminino e sua associa-ção direta com expressão, desejo e sexualidade, tomada como natu-ral, pode gerar atos discriminatórios e preconceituosos, revelando os efeitos da diferenciação que quer reforçar o binarismo.

Seguindo esta linha de raciocínio, a resolução CFP 01/2018, es-tabelece normas de atuação para as psicólogas e os psicólogos em relação às pessoas transexuais e travestis. Segundo esta resolução é papel da(o) psicóloga(o) utilizar o seu conhecimento científico para construir uma reflexão voltada à eliminação da transfobia e do preconceito em relação as pessoas transexuais e travestis. Então o profissional não deve, no seu exercício profissional, colaborar com eventos ou serviços contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatória, bem como, utilizar de instrumentos ou técnicas que criam, mantem e reforçam o preconceito, estigma, estereótipos e discriminação em relação a esse grupo populacional (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA 2018a).

O universo trans (transgênero ou transsexual), segundo Perei-ra (2019) tPerei-raz consigo outros desafios que não estavam presentes nas demais categorias. Enquanto as marcações/suspeições eram de caráter apenas sociocultural, e não do âmbito biológico, basta-va conferir a dúvida com os dados objetivos recolhidos a partir dos

exames realizados. Mas, quando o que se altera é o corpo, visível e medido pelas normas já seculares do esporte, a biologia que parecia a solução se torna parte do problema. Transsexuais, assim como as mulheres que em outro momento da história foram excluídas e si-lenciadas, começaram a conquistar espaço e visibilidade dentro do esporte a partir da resistência e da inserção de atletas-trans em di-ferentes modalidades esportivas. A ideia de participação e inclusão, um valor olímpico, perdeu espaço para os avanços dos movimentos sociais. “Transexuais no contexto esportivo de alto rendimento so-frem preconceito pela mesma diferenciação que inferiorizou a mu-lher diante do homem pelos homens” (p. 60).

A participação de atletas transexuais em competições esporti-vas, amadoras e profissionais, em equipes masculinas, femininas e LGBTs, passou a ser discutida amplamente e episódios de precon-ceito e discriminação racial e de orientação sexual passaram a ser mais frequentes no meio esportivo. O esporte, por ser um fenômeno social, carrega os diferentes elementos sociais e subjetivos daqueles que com que se envolvem.

No que tange a questão racial, a Resolução CFP n.º 18/2002 estabelece normas de atuação para as(os) psicólogas(os) em rela-ção ao preconceito e à discriminarela-ção racial, sendo vedado a(o) psi-cóloga(o) toda ação que favoreça a discriminação ou preconceito de raça ou etnia. A(O) psicóloga(o), no seu exercício profissional, não deverá ser conivente, nem omisso, perante ao crime de racismo (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA 2002).

A despeito da ausência de substâncias objetivas, concretas e científicas que justifique a existência das “raças humanas” e suas hie-rarquias, ambas as teses operam na sociedade atual. Fanon (2008) e Mbembe (2017) entendem “raça” como um produto da imaginação humana, uma visão e uma forma de organização do mundo, base sobre a qual foram edificadas as noções de liberdade, democracia e de relações sócio institucionais. “Raça” e seu derivativo teórico e prático, o racismo, resistem ao tempo, ao politicamente correto e à própria lei. Isto se dá no esporte porque encontraram condições ideais de subsistência. Ferreira Jr. e Rubio (2019) discutem que di-fundido, espetacularizado e consumido em todo o mundo, o esporte

tornou-se um dos fenômenos que mais subsídios oferece à retórica da “justiça meritocrática”, que a despeito das condições sócio his-tóricas que marcam sociedades como o Brasil, reduz as desigualda-des a um resultado competitivo. A narrativa universalizante do espe-táculo esportivo é apresentado pelos meios de comunicação tende a disfarçar seu caráter ideológico, monetarista e imoral, reunindo milhões de entusiastas em torno da crença em sua “neutralidade política” e aparente “suspensão da realidade”. Como instrumento político, têm servido não só ao controle da circulação e coisificação dos corpos, mas à própria destruição da vida subjetiva dos seus prin-cipais alvos, os negros. Conforme se observa, no contexto esportivo brasileiro a “raça” orienta pelo menos quatro grandes processos, a saber: a exclusão deliberada, a integração subordinada, a humilha-ção pública e, por fim as novas formas de discriminahumilha-ção, mas tam-bém de resistência antirracista.

Para os autores o pensamento racial e o racismo são conside-rados não só mecanismo de interdição/exclusão, como também se constituem como mecanismo de integração subordinada do negro.

Presente no processo de constituição positiva da identidade nacional, a “raça” inaugurou o elogio ao negro, não como forma de reconhe-cimento de sua condição histórica e humana, mas como “forma de manutenção de hierarquias sociais oriundas do sistema escravocra-ta”. O racismo neste contexto se caracterizaria não como a negação da igualdade necessariamente, mas como a identificação de com-portamentos no interior das relações étnico-raciais como próprios de uma “raça” ou de “outra”. Neste contexto, “raça” passa a significar, dentre outras coisas, condutas, habilidades, defeitos e potencialida-des ditos “próprios de” um determinado grupo. Ferreira Jr e Rubio (2019) entendem que assim o negro se torna objeto de encanto e de especulações sobre qual seria seu lugar e em quais funções encon-traria posição de vantagem em relação ao branco na agora integra-dora sociedade brasileira. Note-se, entretanto, que os significados e características sociais atribuídas a negros e brancos sempre partem daqueles que detêm porção maior do poder na sociedade.

Fortemente ancorada ao mito da democracia

racial, a integração subordinada estabeleceu re-gras internas de sociabilidade por meio das quais as assimetrias sociais entre brancos e negros se mantinham intactas, ao mesmo tempo em que as práticas racistas cumpriam seu propósito, valen-do-se não da negação do racismo em si, mas da negação da existência do sujeito da ação racista.

Dentro deste domínio, a transgressão passa a ser de autoria daqueles que de alguma forma rom-pem com a “ordem”, ultrapassando a fronteira hierárquica (p. 191).

É importante ressaltar que estas resoluções não tratam ape-nas sobre a afirmação da não patologização da transexualidade e homossexualidade, e da luta contra o racismo, mas também orienta sobre a atuação da(o) psicóloga(o) diante destes cenários.

Ressaltamos mais uma vez que a(o) profissional Psicóloga(o), além dos atos de discriminação e ódio, não pode ser conivente com atos de violência.

A importância das Entidades Nacionais