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Independentemente da matéria-prima e da rota tecnológica, para que um combustível possa ser comercializado em larga escala de forma a atender a demanda do mercado nacional

de combustível com especificação única, é de vital importância que a sua qualidade seja garantida, a fim de proporcionar características físicas e químicas uniformes em todos os pontos de abastecimento em qualquer parte do país, ainda que cada matéria-prima tenha suas próprias características. Por outro lado, a qualidade do combustível irá influir decisivamente em aspectos relevantes, do ponto de vista do distribuidor, do comerciante, do frentista operador da bomba, do consumidor final e, não menos importante, da própria sociedade (QUADROS, 2011).

Dentre esses aspectos, pode-se destacar: a possibilidade de corrosão em tanques de armazenamento; a toxicidade e segurança no seu manuseio; o desgaste de componentes do motor; o desempenho do motor e o seu consumo por quilometragem; e as emissões de poluentes para a atmosfera.

Como consequência, o controle deve se guiar por especificações rigorosas, seguindo normas e protocolos de verificação bem estabelecidos, os quais levem em conta as características relacionadas à qualidade da matéria-prima; as diferentes etapas de fabricação; o produto final; e suas condições de estocagem (DEMIRBAS, 2002).

As especificações para a comercialização de combustíveis automotivos em todo o território nacional e as exigências no tocante à qualidade do produto são estabelecidas através de Portarias e Resoluções da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e somente se satisfazerem as exigências deste órgão regulador poderá ser efetivamente vendido ao consumidor. No caso do biodiesel, é aplicada a Resolução ANP Nº 7, de 19/03/2008, a qual, através de regulamento técnico, estabelece a especificação do biodiesel que poderá ser adicionado ao óleo diesel.

As análises e ensaios realizados para a caracterização do biodiesel podem ser divididos em dois grupos (MITTELBACH, 1996):

a. Ensaios como viscosidade, ponto de fulgor e massa específica que são empregados para a caracterização físico-química do combustível e que, também, são aplicados ao óleo diesel mineral;

b. Análises que avaliam o grau de pureza do biodiesel e a presença de contaminantes. Para determinar as características e a qualidade do produto, diferentes ensaios devem ser realizados em laboratórios cadastrados e inspecionados pela ANP, de acordo com procedimentos e técnicas estabelecidas pelas normas brasileiras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como também pelas normas internacionais da American Society for Testing and Materials (ASTM), International Organization for Standardization (ISO) e do Comité Européen de Normalisation (CEN) (veja mais detalhes no Anexo B).

Após as análises, o biodiesel deve receber um certificado de qualidade, sem o qual não poderá ser comercializado. Deve-se considerar, contudo, que algumas dessas normas foram criadas para o biodiesel produzido nos Estados Unidos ou Europa, não refletindo necessariamente a realidade do produto desenvolvido e comercializado no Brasil.

Algumas características do biodiesel como, por exemplo, densidade, número de cetanos e teor de enxofre, dependem do tipo de matéria-prima usada e dos métodos de produção e purificação (MITTELBACH, 1996). Uma vez que, no Brasil, a produção do biodiesel é descentralizada e se podem usar diferentes matérias-primas e formas de produção e purificação, é importante o estabelecimento de normas e ensaios que se apliquem adequadamente a qualquer caso e sejam capazes de oferecer suporte a toda cadeia produtiva, desde a produção até a distribuição e venda para o consumidor final.

Cabe destacar que as especificações para o biodiesel não contemplam a determinação e os níveis máximos permitidos para diversos parâmetros, inorgânicos e orgânicos, potencialmente presentes em sua composição final, os quais podem exercer influência nas suas características finais, no seu tempo de estocagem, no desempenho em motores e nas suas emissões para a atmosfera.

Desse modo, deve-se considerar a possibilidade de validação e certificação de metodologias alternativas e/ou complementares as existentes, que sejam capazes de determinar com exatidão, precisão e sensibilidade adequada, tais parâmetros não regulamentados (QUADROS, 2011).

Esta especificação permitirá a identificação do óleo vegetal que levou à produção do biodiesel, assegurando o controle do mercado contra cartéis, monopólio de preços e possíveis utilizações inadequadas de políticas fiscais governamentais, que garantem incentivos aos agricultores que cultivem oleaginosas para a produção de biodiesel (ROCHA, 2008).

Nas Tabela 6 e 7 são apresentadas algumas especificações do biodiesel, de acordo com a resolução ANP Nº 14, de 11.5.2012 - DOU 18.5.2012.

Tabela 6 - Especificações do biodiesel.

CARACTERÍSTICA UNIDADE LIMITE MÉTODO

ABNT NBR ASTM D EN/ISO

Aspecto - LII (1) - - - Massa específica a 20 ºC kg/m³ 850 a 900 7148 14065 1298 4052 EN ISO 3675 EN ISO 12185 Viscosidade Cinemática a 40 ºC mm²/s 3,0 a 6,0 10441 445 EN ISO 3104

Teor de água, máx. mg/kg < 200 - 6304 EN ISO 12937 Contaminação Total, máx. mg/kg 24 - - EN ISO 12662 NBR 15995 Ponto de fulgor, mín.(2) ºC 100,0 14598 93 EN ISO 3679

Teor de éster, mín % massa 96,5 15764 - EN 14103 Resíduo de carbono, máx. (3) % massa 0,050 15586 4530 -

Cinzas sulfatadas, máx. % massa 0,020 6294 874 EN ISO 3987 Enxofre total, máx. mg/kg 10 15867 5453 EN ISO 20846

EN ISO 20884 Sódio + Potássio, máx. mg/kg 5 15554 15555 15553 15556 - EN 14108 EN 14109 EN 14538 Cálcio + Magnésio, máx. mg/kg 5 15553 15556 - EN 14538 Fósforo, máx. mg/kg 10 15553 4951 EN 14107 Corrosividade ao cobre, 3 h a 50 ºC, máx. - 1 14359 130 EN ISO 2160

Número Cetano (4) - Anotar - 613

6890 (5) EN ISO 5165 Ponto de entupimento de filtro a frio, máx. ºC Vide Tab. 7 (6) 14747 6371 EN 116

Índice de acidez, máx. mg KOH/g 0,50 14448 664 EN 14104 (7) Glicerol livre, máx. % massa 0,02 15341

(7)

15771 6584

(7) EN 14105 (7) EN 14106 (7) Glicerol total, máx. (8) % massa 0,25 15344

15908 6584 (7) EN 14105 (7) Monoacilglicerol, máx. % massa 0,80 15342(7) 15344 15908 6584 (7) EN 14105 (7)

Diacilglicerol, max. % massa 0,20

15342(7) 15344 15908 6584 (7) EN 14105 (7) Triacilglicerol, máx. % massa 0,20 15342(7) 15344 15908 6584 (7) EN 14105 (7)

Metanol e/ou Etanol, máx. % massa 0,20 15343 - EN 14110 (7) Índice de Iodo g/100g Anotar - - EN 14111 (7) Estabilidade à oxidação a 110ºC, mín. (9) H 6 - - EN 14112

EM 15751 (7)

Fonte: ANP (2012). Nota:

(1) Límpido e isento de impurezas, com anotação da temperatura de ensaio.

(2) Quando a análise de ponto de fulgor resultar em valor superior a 130 ºC, fica dispensada a análise de teor de metanol ou etanol. (3) O resíduo deve ser avaliado em 100 % da amostra.

(4) Estas características devem ser analisadas em conjunto com as demais constantes da tabela de especificação a cada trimestre civil. Os resultados devem ser enviados à ANP pelo Produtor de biodiesel, tomando uma amostra do biodiesel comercializado no trimestre e, em caso de neste período haver mudança de tipo de material graxo, o Produtor deverá analisar número de amostras correspondente ao número de tipos de materiais graxos utilizados.

(5) O método ASTM D6890 poderá ser utilizado como método alternativo para determinação do número de cetano. (6) Limites conforme Tabela 7. Para os estados não contemplados na tabela o ponto de entupimento a frio permanecerá 19 ºC. (7) Os métodos referenciados demandam validação para os materiais graxos não previstos no método e rota de produção etílica.

(8) Poderá ser determinado pelos métodos ABNT NBR 15908, ABNT NBR 15344, ASTM D6584 ou EN14105, sendo aplicável o limite de 0,25 % em massa. Para biodiesel oriundo de material graxo predominantemente láurico, deve ser utilizado método ABNT NBR 15908 ou ABNT NBR 15344, sendo aplicável o limite de 0,30 % em massa.

Tabela 7 - Temperatura máxima para o ponto de entupimento de filtro a frio, em função da região e do mês.

Unidades da Federação

Limite Máximo de Temperatura para Entupimento de Filtro a Frio (ºC)

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

SP - MG - MS 14 14 14 12 8 8 8 8 8 12 14 14

GO - DF - MT - ES - RJ 14 14 14 14 10 10 10 10 10 14 14 14

PR - SC - RS 14 14 14 10 5 5 5 5 5 10 14 14

Fonte: ANP (2012).

O segmento do biodiesel tem como órgãos reguladores, além da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) como já citada, as seguintes instituições (CHING; RODRIGUES, 2008):

CNPE – Conselho Nacional de Política Energética, um órgão de assessoramento do

presidente da República que tem como atribuição a formulação de políticas e diretrizes de energia;

MME – Ministério de Minas e Energia, com a responsabilidade pela execução da

política energética;

MDA – Ministério de Desenvolvimento Agrário, com a missão de conceder o Selo

Combustível Social;

MAPA – Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com a

responsabilidade pelo zoneamento agrícola.