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Notas e apontamentos pertinentes aos processos de patrimonialização: considerações

Em breves consultas a alguns exemplares de almanaques e dicionários da língua portuguesa, podemos verificar que há uma considerável recorrência em definir literalmente a palavra “Patrimônio” como herança paterna e/ou bens de família, numa clara associação ao contexto familiar, se buscarmos a etimologia da palavra, podemos inferir que isso se deve ao significado atribuído por suas origens greco-romana, pois, “patrimonium, se referia entre os antigos gregos e romanos a tudo o que pertencia ao pai, pater ou pater familias, pai de família” (FUNARI, 2006, p. 10).

É comum percebermos que, na constituição do patrimônio familiar, especialmente sobre os hábitos e costumes, aquilo que é elencado para se transmitir a seus sucessores é valorado como algo positivo, ao menos por quem está transmitindo, já do ponto de vista de quem o recebe, tal patrimônio só continuará a ter valor profícuo se assim desejarem, ainda que para tal, costumeiramente haja, de algum modo, um processo de doutrinamento. No entanto, ainda assim, é da vontade de quem recebe, determinado bem patrimonial, manter seu valor – sem pormenores – de outra forma, o que se apresenta como referencial de estima à um grupo familiar, em uma geração, tenderia a tocar a próxima geração de modo diferente, por vezes até de forma negativa ou nula. Portanto, em linhas gerais, observamos um entendimento bem dialogado e restrito ao seio dos grupos familiares sobre o referencial do patrimônio de cada família.

Nesse sentido, contribui a favor do processo de transmissão de bens e valores, a capacidade de pensar, própria do ser humano, bem como, sua biologia genética diferenciada, que para além de nos distinguir evolutivamente dos outros animais, nos dá o potencial único entre estes de interferir de maneira direta e racional no meio em que vivemos, ao passo que nos permite, também, organizarmo-nos em coletividade, criando, aprimorando ou modificando modelos de padrões comportamentais instituídos por e pelo grupo, o que nos outros animais são apenas geneticamente transportados, sem reflexão. Essa percepção, discutida por Eunice R. Durham (1984), mostra-se importante na medida em que ponderamos que a “Cultura”, tomando os sentidos sócio antropológicos desse termo, só pode ser descrita da forma que é, justamente porque os seres humanos têm a capacidade de refletir sobre determinados hábitos, costumes

e/ou tradições, possibilitando-nos transforma-los ou abandoná-los, se necessitarmos, em um curto intervalo de tempo.

Para tanto,

[os seres humanos] organizam suas condutas através de sistemas simbólicos que criam e transmitem sobre a forma de regras. Produz-se, assim, uma forma específica de adaptação e utilização do ambiente que envolve tanto a produção de conhecimentos como a de técnicas, isto é, comportamentos padronizados, que são apreendidos e transformados por cada geração. (Ibid., p. 26)

Essa capacidade “cultural” inerente a raça humana, lança sobre o patrimônio um elemento, que entendemos, bastante perturbador aos propósitos de preservação da história ou da cultura de determinado grupo social, ainda que sejamos cientes que o “patrimônio cultural” das políticas patrimoniais não tange concisamente tal entendimento, no entanto, pensamos que a intenção de atribuir à determinado item uma característica que valha o esforço de conservação cultural que toque uma maioria de indivíduos em um determinado contexto, não tende a obter o alcance pretendido, uma vez que os modos de saber fazer, as técnicas empregadas em construções, ou nos plantios e colheitas, entre tantos outros aspectos, são conhecimentos desenvolvidos no seio de uma geração e que, não necessariamente serão passados às próximas, ou por elas absorvidas, nem tampouco, invalida a hipótese de que de uma geração para outra novos elementos da cultura podem surgir se sobrepondo de maneira forte aos antigos, isso, pensando, ainda, que o legado patrimonial de características contemporâneas, não mais se limita ao grupo familiar, até mesmo por uma questão de sobrevivência dos grupos sociais, há que se difundir e permutar os conhecimentos desenvolvidos e, portanto, renová-los.

Portanto, a “cultura” adquirida, transmitida e por vezes cultuada como patrimônio não está isenta de sofrer ocultações, oscilações e perdas do seu valor, uma vez que o grupo que a desenvolveu e os quais a utiliza podem, a qualquer tempo, desconsiderá-las. Tal qual explicita a reflexão de Antonio A. Arantes (2009):

Os grupos humanos [...] cultivam atividades, conhecimentos e modos de saber-fazer [...] essas realidades são inseparáveis dos meios sociais que as produzem, pois deles recebem sua seiva, vitalidade e razão de ser. Mas assim como são criadas, nutridas e aprimoradas, elas podem ser modificadas ou abandonadas no constante fluxo da vida coletiva, onde preservação e destruição são faces da mesma dinâmica pela qual as estruturas sociais se reproduzem e se transformam. (Ibid., p. 11)

Não obstante, reforça-se a ideia por meio da qual introduzimos a discussão, quando afirmamos que o patrimônio familiar é legado, de modo geral, em comum aceitação,

previamente estabelecida por regras sociais ou transposto gradativamente ao longo de uma duração e, a rigor, não se constitui objeto de legado aquilo que um grupo familiar não queira transmitir e que o mesmo não queira receber, portanto, há certa comunhão no entendimento do “bem”, seja ele material ou intangível, que como bem salientou Arantes (2009), pode ser modificado ou abandonado, como típica condição no contexto das dinâmicas culturais e sociais. Entretanto, o referencial de patrimônio ao qual queremos focar neste trabalho, não traz em si a condição de homogeneidade entre os atores que a ele são associados, essa que se faz presente na patrimonialidade familiar, nem há uma hierarquia estabelecida por princípios biológicos, referendada socialmente como se vê num grupo familiar, trata-se, pois, de grupos sociais distintos, e que por mais que estejam dispostos num mesmo espaço físico, têm suas diferentes formas de cultura, no pensar e no agir, já que desenvolveram suas próprias técnicas, adquiriram seus próprios conhecimentos, por suas bases culturais. Portanto, atribuir-lhes um patrimônio que busque os representar em uma coletividade, provavelmente, não irá tornar esse bem reconhecido, como tal, pelos diversos grupos inscritos numa cidade, pois os bens patrimoniais válidos, dos distintos grupos, dificilmente convergirão num ponto único, que possa expressar uma patrimonialidade compartilhada sem ausências ou excessos.

Dito isto, do ponto de vista sociocultural, pensar num objeto ou local que possa ser um “bem patrimonial de relevância e interesse universal” (UNESCO, 2007), é, em nosso entendimento, forjar algo insustentável e inexequível, pois, são bastante distintos os grupos sociais, especialmente se pensarmos em escala global, pois, um compartilhamento social de um bem cultural, de qualquer que seja a sociedade, exigiria um esforço de entendimento entre culturas jamais visto, especialmente pela complexidade das formações culturais e valores dos diferentes povos. Compartilhando da ideia de que estes “diversos grupos se apropriam de formas diferentes e desiguais da herança cultural” (CANCLINI, 2004, p. 194). Ainda assim, caso fosse notado um “bem “com tal compartilhamento, Antonio Arantes (2009) salienta que o juízo sobre este poderia ser prontamente relegado.

Porém, é precisamente num aspecto deste entendimento, que parece ser insuperável, que a ONU/UNESCO tem concebido a ideia de um patrimônio mundial, com uma filosofia subjacente que põe o patrimônio da humanidade como um elemento que firma a união das culturas entres distintos povos. Em nosso modo de entender, esta tarefa está sendo deturpada pelos usos que estão sendo feitos sobre esse tipo de patrimônio. Precisamente como estaremos discutindo aqui e em outras partes desse texto.

Mesmo de tal modo, diante de uma condição epistemológica quase que incontornável, os processos de patrimonialização vêm a longos anos se estendendo, em distintos eixos, em meio a diversos contextos sociais, remetendo suas origens à criação dos Estados nacionais no século XIX, apesar de que, já no século XV a igreja passou a “proteger” edificações clássicas da Roma e da Grécia Antiga com o intuito de associar sua imagem aos clássicos, pois, de algum modo, pensava-se estimular através dos monumentos romanos um reencontro com os textos clássicos (CHOAY, 2001), verificando-se já nesse momento interesses de cunho, detidamente, políticos na promoção do patrimônio.

Destarte, Choay (2001) sugere que no início do século XIX, na Itália, é possível observar uma relação cuidadosa entre preservação da história de uma nação e o patrimônio, pois, naquela altura, em que o iluminismo, em certa medida, influenciava as concepções da vida urbana, o rompimento com a arquitetura do passado era pujante e ameaçava os monumentos nacionais italianos. Segundo Choay (2001), somente na França, no final do século XIX, surgem as primeiras instituições voltadas à preservação do patrimônio com legislação especifica para tal fim, visando, primordialmente, a conservação de edificações danificadas no processo da Revolução Francesa, num enfoque sobre o patrimônio que embora de ordem manifesta sócio histórica, não podemos deixar de observar o seu caráter político-ideológico adjacente.

Desde então, a concepção de Patrimônio vem enfrentando diversos embates conceituais, em âmbito acadêmico, civil, institucional, mas, sobretudo, contando com a figura do estado, sistematicamente tutoreando seus caminhos e descaminhos, que, de tudo, tem resultado em adequações das noções patrimoniais para com as políticas oficiais de salvaguarda, reificadas nos “processos de patrimonialização”, num cenário de interesses que ressoa para além do contexto local, atingindo o âmbito global. Habitualmente as atuações do Estado e dos outros agentes que orbitam sobre e para o patrimônio, são cultivadas através do uso dos “bens” por distintas dimensões. Pensamos que podemos tratar de três dimensões totais, que servem como ponto de encontro para outras vertentes dimensionais que o patrimônio possa comportar, pois, como tais, podem tanger um espectro maior das faces da vida social. Seriam elas: a dimensão sociocultural (histórico-artística), a dimensão política e a dimensão econômica. Brevemente descrevemos aqui o modo como as pensamos.

Dimensão Sociocultural (histórico-artística): é a dimensão da concepção mais geral de um “bem” patrimonial, em que um determinado item adquire caráter de “bem”, tangível ou intangível, cultural ou natural, seja ele um objeto, monumento, edificação, rio, um modo de saber fazer, etc.; precisamente porque possui algum valor histórico e/ou artístico, que, em certa

medida, é compartilhado no âmbito de um grupo social, sociedade e/ou nação, e sua apropriação está relacionada com um caráter de identidade cultural, associado na mesma medida que evocado à memória e ao passado, o patrimônio, então, assume a posição de ser a ligação entre o presente e o passado, para um determinado grupo, ainda que saibamos, que nem sempre o que um grupo considera como um “bem” seja consagrado como patrimônio pelo Estado, ao menos até a consagração do patrimônio cultural imaterial14.

Dimensão Política: Nesta dimensão, da forma como pensamos, investir no patrimônio pelo uso do seu viés político se confunde com sua própria origem, e, então, com a mais primaria noção institucional de patrimônio, em que, para tanto, aciona-se um certo ponto da dimensão sócio histórica, de acordo com os interesses dos grupos que o fazem, em geral para reforçar e/ou demarcar algum entendimento deste grupo social sobre outros grupos. Pois, como nos dizem alguns autores, ao longo da história, o patrimônio vem sendo operado pelo Estado, em uma forma de compreensão única e exclusiva da cultura e da história, a serviço de interesses próprios de grupos estritos. Para Néstor Garcia Canclini (1997), “o patrimônio existe como força política do Estado na medida em que é teatralizado: em comemorações, monumentos e museus, [...] a história de todas as sociedades mostra os ritos como dispositivos para neutralizar a heterogeneidade, reproduzir autoritariamente a ordem e as diferenças sociais (p. 192); e, por fim, a

Dimensão Econômica: A mais recente dimensão do Patrimônio, pensando por um viés institucional, foi objeto de discussão e definição na Convenção Patrimonial de Quito – Equador, lá estabeleceu-se que “os monumentos de interesse arqueológico, histórico e artístico constituem também recursos econômicos, da mesma forma que os recursos naturais de um país” (p.4), logo, passives de exploração mercadológica, em que, para nós, um dos maiores problemas em se acionar essa dimensão do patrimônio, usando as palavras de Rogerio P. Leite (2007), está “na redução do valor cultural ao valor econômico, que poderia subsumir a natureza propriamente cultural [dimensão cultural] do patrimônio, resultando numa espécie de fetichização da cultura.” (p. 65).

Visto dessa forma, vale notar, que é natural que a dimensão sociocultural tenha destaque nas políticas patrimoniais, em meio as dimensões políticas e econômicas do patrimônio. Afinal, a propositura pública primeira de qualquer que seja o processo de patrimonialização, continua a ser para um efeito de conservação e preservação sociocultural

(histórico-artística), de determinado valor relativamente compartilhado num dado grupo. Desse modo, é viável justificar o empenho e a aplicação de recursos de toda ordem na empreitada da patrimonialização, e, atualmente, pautando-se também fortemente, mas, ainda assim, de segunda ordem, num discurso do desenvolvimento econômico, em prol da sociedade, posicionamentos que temos visto que possibilitam inebriar os usos das dimensões política e econômica do patrimônio, para, de algum modo, beneficiar, os arranjos de agentes públicos e privados com interesses correlatos.

Tratando um pouco sobre as questões do uso político do patrimônio, Arantes expõe importante reflexão, que entendemos apontar para a necessidade de uma eleição patrimonial, com fundamentos distintos de como se dá:

[...] penso que a conservação de itens culturalmente e historicamente relevantes resulta de uma configuração mais complexa de forças sociais do que aquela que tem sido indicada pela literatura. A meu ver, a significação social desses bens não pode ser mecanicamente deduzida de estruturas macropolíticas, nem tampouco decodificada dos significados simbólicos que habitariam permanentemente tais estruturas. (ARANTES, 1997, p.277)

Um dos prejuízos que essa forma de escolha patrimonial, acarreta, repousa, como destaca Leite (2007),

Na predominância dos monumentos que reafirmam os poderes políticos, religiosos e militares [...] [excluindo] um conjunto diverso de minorias étnicas e culturais que demandam formas peculiares de inserção e pertencimento (Ibid., p. 51).

Portanto, nos parece manifesto que a salvaguarda do patrimônio configurando ícones oficiais que expressam o poderio e a influência de uma camada dominante da sociedade, o que aponta em direção a um uso detidamente político do patrimônio (CANCLINI, 1997), prejudicou e ainda tem prejudicado, sobremaneira, a indicação do que poderia se configurar, de modo mais legítimo, num “patrimônio nacional”, ou mesmo, pensando no âmbito global e trazendo para o cenário mais próximo, num suposto “patrimônio mundial”.

A partir de meados do século XX, observamos uma certa redefinição da postura institucional para com as políticas de patrimônio de uma forma global, intuída, em parte, pelas abordagens e discussões do modo de vida mental deste século, notadas nas proposições de conferenciais mundiais sobre a temática de entidades intergovernamentais e transnacionais surgidas nesse contexto, as quais, invariavelmente, lançaram diversas recomendações e

proposituras, especialmente através das “cartas patrimoniais”, consideradas inovadoras, embora de efeitos contundentemente discutíveis.

Algumas dessas inovações, reverberaram como importantes mudanças nas bases essenciais da noção de patrimônio, consequentemente nas dinâmicas patrimoniais, das quais destacamos: a compreensão de que um determinando objeto patrimonial não é um elemento isolado, mas, sim, que deve ser verificado como inserido num contexto social em que está circunscrito15, que, assim, dele não se dissocia, mas extrai e entrega características e aspectos que se retroalimentam, sob pena de se assim não for observado, constitui-se numa mutilação do patrimônio (Carta Patrimonial de Veneza, 1964), bem como o conceito de que há no patrimônio, para além de seu caráter clássico de portador de traços da história e de representante de originalidades artísticas de uma época, e da dimensão política, ainda que de forma velada, também, um espectro econômico, passível de ser explorado comercialmente (Carta Patrimonial de Quito, 1967), e, mais recentemente, a ideia de se forjar, com finalidades que estamos destacando aqui como humanitárias, um patrimônio de interesse e valor excepcional para toda humanidade (Carta Recomendação de Paris, 1972).

Estas novas concepções foram sendo adotadas de modo encadeado, conferindo ao patrimônio um formato que mais se dispunha a servir interesses políticos e econômicos do que propriamente socioculturais. Reificado nas políticas de preservação do patrimônio, este novo formato tendeu para um aumento significativo sobre o número de edificações que podiam e deviam ser tombadas, basicamente em duas frentes. A primeira, ao se permitir submeter à salvaguarda o espaço em torno das edificações históricas, e, uma segunda, ao admitir como necessário o tombamento daquelas edificações mais simples, i.e., observando e ressaltando a arquitetura vernacular, que, vale observar, enquanto tal, foram aos poucos sendo subsumidas16.

No entanto, em nosso modo de entender, ambas foram e são recorridas com um forte empenho de atribuir valor econômico aos patrimônios, convertendo-os de uma instancia prementemente sociocultural, em objetos para o consumo cultural, como mais um item derivado da lógica de consumo da atual sociedade.

15 Trata-se, do que se designa como patrimônio por proximidade, ou patrimônio difuso, de objetos sem expressão monumental

e que decorre do reconhecimento experienciado: estruturas produtivas implantadas nos solos, marcações territoriais, fontes, tanques, marcos de propriedade, ou mesmo ainda, de marcos na terra que evidenciam a passagem do tempo e da natureza como são exemplo aglomerados de arvores que assinalam a passagem de uma linha de água ou trilhos pela passagem de gentes ao longo de diferentes épocas. (CANEIRA, 2014, p. 12)

16 Sobre isto recomendamos a leitura de ZUKIN, S. Paisagens Urbanas Pós-Modernas: mapeando cultura e poder. In: ARANTES,

Então, os agentes públicos e privados, centraram seus esforços sobre os conjuntos arquitetônicos e urbanísticos passíveis de sofrer a atribuição e a conversão referidas, num dado cenário de maior amplitude espacial, que, para o dito entendimento, em que não se discute aqui a sua validade epistêmica, é não menos histórico do que o das propriedades singulares, de caráter monumental e/ou artística-histórica, e que, portanto, mereceriam estar descritas sob a denominação de “Centro Histórico”17, ou mesmo “Cidade Histórica”, numa equação que se leva em consideração a dimensão espacial e a amplitude de seu caráter histórico.

Se considerarmos o estabelecimento de um cenário com base no que salientamos, auxiliado no que têm revelado distintas pesquisas, no campo da sociologia urbana, que tendem a pacificar nosso entendimento, podemos perceber que, não por acaso, este eixo marcou o início de uma abordagem turística do Patrimônio de um modo mais enfático em muitos países. Viu- se, a partir da década de 1970, um forte incremento dos processos de patrimonialização, recorrendo ao novo mote desse eixo de patrimonialização, para adaptar as novas políticas patrimoniais às necessidades econômicas de cada nação, dispondo uma abordagem patrimonial que teve e tem no turismo um intenso objetivo.

Nisso, entendemos que os processos de patrimonialização, a partir desta década, tiveram uma importante e decisiva virada em seu direcionamento, desligando-se de uma perspectiva que privilegiava as questões socioculturais (histórico-artística) do patrimônio, ainda que entrelaçada por questões de instâncias políticas, partindo em direção à uma perspectiva patrimonial ligada à interesses de ordem prementemente econômica, e então, como reflexo contíguo desse processo, observamos a busca, prioritária, dos agentes estatais, alavancada por investimentos e aportes financeiros de agentes privados, com interesses diversos do sociocultural, em tornar os bens patrimoniais de algum modo “acessíveis” para visitação do público, especialmente de turistas, através de reformas, restauros e melhorias no entorno da área que se quer explorar com fins mercadológicos, através dos conhecidos processos de gentrificação ou enobrecimento urbano (ZUKIN, 2000, 2000b; FORTUNA, 1997, 2002; LEITE, 2005, 2007; PEIXOTO, 2009; RUBINO, 2009; BARREIRA, 2007), animados no contexto de uma “sociedade de consumo”, em que se busca oferecer as singularidades culturais

17 “No que tange a parâmetros oficiais na definição de centros, em especial a definição e preservação do tecido histórico

urbano, destaca-se a Recomendação de Nairóbi – cunhada pela UNESCO em 1976. Tais conjuntos, segundo a Recomendação, podem ser sítios pré-históricos, cidades históricas, bairros urbanos antigos, aldeias e lugarejos, assim como conjuntos

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