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notas para concluir: abrindo um novo plano de problematizações

Compreendemos que a experiência de uma leitura queer sobre Dzi Croquettes parece oferecer um refúgio, uma passagem que aponta para um modo novo de respirar, sobretudo a potência da afirmação, a partir da diferença entre o modelo imposto tributário da tradição e o da velha forma de ser enquadrado na utilidade econômica e docilidade política dos corpos na atualidade, controlados pelo discurso padronizado e hegemônico do que seja bom para a proteção da sociedade, que nós buscamos. Cercado pelo modelo binário heterossexista, buscamos uma forma, uma travessa, que nos possibilite, como pesquisadores, não cair no apego às identidades engessadas, que acalmam e adormecem pela ilusão da profundidade individualizante do sujeito moderno. A estética produzida nas práticas que realizam a vida

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como [obra de] arte desfaz qualquer possibilidade de aprofundamento em um sujeito de in- terioridade e o revela como aparência, perceptível no ato, evidenciando uma vontade de po- tência (Nietzsche, 1887/1988).

Finalmente, explicitamos práticas nas quais a experiência queer também é vista como uma viela para a afirmação da potência da vida - pela transformação, pela subversão e pelo que escapa aos territórios engessados sobre o corpo, o gênero e a sexualidade - a partir da perspectiva político-pedagógica de contestação presente em Dzi Croquettes. Cortes divisórios permanecem no contexto social, mas espaços de fuga têm ganhado cada vez mais expressão. Construímos nesta experimentação com os Dzi possibilidades de continuidade do debate que envolve as questões relacionadas aos modos de subjetivação, sem sugerir novos reper- tórios, mas estranhos e indóceis modos de vida na experiência das interpelações do que pode/ de quem pode se constituir enquanto humanx na cena contemporânea brasileira.

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referência fílmica

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Yawen Zhang1

Na Gao2

rEsumO

Neste estudo, que abrange dois filmes, Os verdes anos e mudar de vida, de Paulo Rocha, realizados na década de sessenta do Século XX, analisa-se as suas personagens femininas. Estes filmes incluem os estereótipos femininos existentes e as tentativas de fuga em relação a eles, e representam também a transição da sociedade do passado para o presente. Aliás, os dois filmes representam dois contextos socialmente distintos; um representa o mundo urbano; e o outro representa o mundo rural. Apesar disso, existem alguns pensamentos semelhantes sobre as personagens femininas. Em suma, o ponto comum desses filmes é a revelação da revolta das mulheres contra a sociedade patriarcal, e o pesado custo que tal acarreta para elas.

Palavras-ChavE

Novo Cinema; Paulo Rocha; Género; Personagens femininas;

introdução

Na década de sessenta do século vinte, Portugal estava sob a alçada do regime salazarista que instaurou a Política do espírito de António Ferro. Os filmes do Novo Cinema eram proibidos naquela época. Para o governo, apenas os filmes financiados pelo Estado Novo podiam passar com sucesso pela censura, pois representavam os ideais salazaristas e a “realidade” do povo português. Estes filmes do Estado Novo viveram sempre das falsas aparências com cenários harmoniosos onde nunca existiam problemas. No entanto, isso não correspondia à verdadeira vida do povo: o povo nesse tempo vivia miseravelmente com grande escassez de bens essen- ciais e difíceis condições de sobrevivência. Com o surgimento do Cinema Novo, as péssimas condições de vida e os conflitos inerentes passaram também a ser representados no cinema.

Em ambos os filmes, e na própria realidade, as mulheres são figuras frágeis e desfavore- cidas. Era-lhes difícil mudar o destino e o seu percurso de vida, dadas as condições reais com que se deparavam. Mesmo assim, algumas mulheres também lutam pelas mais básicas ne- cessidades da vida: o alimento, o respeito e amor que lhes faltavam. Para isso, às vezes, elas vão ter de lutar contra as doutrinas tradicionais impostas pela sociedade e pelo Estado Novo.

O filme mudar de vida (Paulo Rocha, 1966) apresenta uma história que se desenrola numa aldeia dos pescadores. O protagonista é um rapaz chamado Adelino, mas neste estudo focamos as mulheres à volta dele que são: a ex-namorada Júlia e a namorada Albertina. O outro filme Os verdes Anos (Paulo Rocha, 1963) apresenta uma relação amorosa que se de- senrola numa zona urbana, na cidade de Lisboa, entre os dois protagonistas: Júlio e Ilda. Neste filme, a patroa de Ilda, outra protagonista feminina, é a figura completamente diferente em comparação com Ilda. Dividem-se as personagens femininas em duas categorias: mulhe- res casadas e mulheres independentes. Começaremos pela análise da primeira categoria.

1Mestrado em Universidade de Aveiro. E-mail: evana.yawen@yahoo.com 2Mestrado em Universidade de Aveiro. E-mail: 516462642@qq.com

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