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Notificação da Violência Doméstica sob a perspectiva de prevenção da

CAPÍTULO 5 ATUAÇÃO DO NUPAV – OLINDA MUNICIPIO SAUDÁVEL

5.1 EIXO TEMÁTICO: INFRA-ESTRUTURA E QUALIFICAÇÃO

5.2.3 Notificação da Violência Doméstica sob a perspectiva de prevenção da

Ao analisar o discurso dos entrevistados em relação à prevenção da violência urbana realizada pelo NUPAV, observou-se o surgimento de diversas subcategorias, cuja maioria se insere na perspectiva da prevenção da violência doméstica. Sendo assim, averiguou-se que a notificação da VD é compreendida, pelos entrevistados, de forma abrangente. Segue-se, assim, a primeira sub-categoria:

A) Desequilíbrios familiares fomentando a violência urbana

As relações básicas entre os familiares foram apontadas, por alguns entrevistados, como condutas estruturadoras da personalidade, do afeto e da convivência

social e comunitária dos indivíduos. A ruptura dessa dinâmica no relacionamento familiar, por meio de situações de abandono, humilhação ou bullying, são relatadas, por alguns entrevistados, como possibilidades fomentadoras da violência urbana, como pode ser verificado através dos trechos de entrevista abaixo:

‘' As relações básicas que se dão na família, elas são estruturadoras (...) de personalidade, de afeto, de convivência em grupo social e comunitária (...) O nascedouro da violência é a violência doméstica. A casa é o foco da prevenção, previna a doméstica que você não vai ter violência urbana. (...) Crianças que não sofrem violência em casa, elas não vão levar pra rua o comportamento da violência do agressor.’’ Entrevistado 5

‘’[apoio da família] quando os vínculos familiares forem fator de proteção, quando forem fator de risco (...) que muitas vezes a própria família já está adoecida e o usuário voltar pra aquela família, pra aquela casa, por exemplo, não seria algo muito interessante.’’ Entrevistado 1

O dimensionamento das conseqüências da VD no âmbito social é entendido, por alguns entrevistados, como desequilíbrios provenientes da base familiar, sendo essa a maior detentora do fomento da violência urbana, conforme pode ser verificado através do depoimento abaixo:

‘’Se a gente for ver que todo nascedouro está na família, e se a gente prevenir esse nascedouro, mais na frente não vai necessitar de abrigo, de cadeia. São coisas básicas. São pessoas que têm todo direito, o mais básico, negado.’’ Entrevistado 5

Lima et al. (2010) sinalizam as situações violentas que ocorrem nas escolas e em outros espaços coletivos como tendo sua origem no âmbito familiar, de onde se transmitem modelos violentos para os relacionamentos sociais, influenciando fortemente no desenvolvimento da violência urbana.

Compreende que a prática familiar de castigos corporais intensos adicionados a uma elevada tolerância dos pais a desvios de conduta e ao uso de ameaças psicológicas estejam relacionados ao incremento de problemas comportamentais entre jovens envolvidos em conflitos urbanos. Não somente distúrbios do comportamento incitam a prática de atos violentos, mas também o aumento da violência urbana deve-se a associação das características psicossociais dos indivíduos com os conflitos socioeconômicos e emocionais a que os jovens estão submetidos na atual conjuntura social (DOMENACH, 1981; MINAYO, 2007).

Acredita-se que a infância seja um período decisivo para o aprendizado de habilidades sociais, devido o contexto familiar ser o primeiro ambiente social da criança. Sob essa ótica, o envolvimento e desempenho dos pais, através de práticas disciplinares, são fundamentais para moldar e estabelecer relações educativas, que

efetivamente favoreçam o desenvolvimento comportamental dos filhos (BRASIL, 1990; LIMA et al., 2010). Dessa maneira, observa-se que o estado emocional instável de um jovem, decorrentes de um trauma sofrido no seio familiar, podem direcionar a sua resposta individual para um envolvimento futuro com atos violentos. Ainda na perspectiva das conseqüências da violência doméstica no âmbito social, segue-se a discussão da segunda sub-categoria:

B) CD de áudio: criatividade local conscientizando e informando

Verificou-se, durante a fase de coleta de dados, a existência de um cd de áudio, que contou com a participação de diversos parceiros para sua idealização, inclusive com o NUPAV. Observou-se que as letras de suas músicas são voltadas a conscientização e informação da população sobre a problemática da violência, em especial fazem uma relação da VD com a violência urbana.

Nesse material, as letras musicais apresentam um ritmo característico da cultura local para possibilitar o envolvimento da comunidade e promover uma possível conscientização dos comunitários, sendo assim composto por frevo, maracatu e ciranda. Essas melodias foram trabalhadas sob a perspectiva da prevenção da violência acontecida no lar, conseqüentemente visando-se alcançar um arrefecimento dos casos de violência urbana no município.

Acredita-se que a percepção de famílias sobre a música possa revelar que esse dispositivo funcione como um recurso terapêutico do lar, visto que reflete no indivíduo a sua própria identidade, sendo uma forma de desvelar o sentido de si mesma e de sua singularidade. Pensa-se ainda que a música possa influenciar na modificação das sensações espirituais, sendo um recurso alternativo para a terapia de transtornos físicos e psíquicos por representar um suporte de apoio psico-emocional e espiritual (GOMES et al., 2007).

Com isso, percebeu-se que a criatividade local em desenvolver um CD de áudio representa uma estratégia relevante para a prevenção da VD e violência urbana no município de Olinda.

C) Recursos socioeconômicos escassos e violência doméstica

Observou-se na fala de alguns entrevistados que a trajetória da violência em uma família pode ser potencializada quando existe uma deficiência no suprimento de necessidade materiais e sociais, ou seja, quando fatores socioeconômicos estão associados. Isso pode ser verificado no depoimento abaixo:

‘’Porque ninguém nasce e sai pra rua matando como o menino do Realengo; aquilo teve uma trajetória de violência que ele sofreu (...) ele não nasceu e teve todas as suas necessidades materiais e afetadas supridas adequadamente (...) isso é um processo.’’ Entrevistado 5

Souza & Lima (2007: 1221) relatam que

fatores como o desemprego, a desestruturação familiar, o sentimento de frustração e uma busca desenfreada de padrões sociais apresentados como possíveis em um mundo de consumo se acirram principalmente nos grandes centros urbanos e contribuem para a delinqüência e a violência.

Compreende-se que alguns problemas existentes no seio familiar necessitam de intervenções na infra-estrutura da sociedade para que sejam sanados. Assim como determinados problemas estruturais e socioeconômicos estão presentes na origem dos problemas comunitários, familiares e escolares. Dessa forma, entende-se que os espaços familiares e sociais estão intimamente relacionados com a origem e resolutividade do fenômeno da violência (COHEN, 2007; SCHMALLER et al., 2008).

A complexidade que envolve o fenômeno da violência também requer dos profissionais de saúde uma atuação complexa, apontando assim para a discussão da quarta sub-categoria:

D) Profissionais qualificados interferem para além do ‘’contrato’’

A partir da análise das entrevistas, percebeu-se que a qualificação profissional constitui-se em uma possibilidade de mudança de condutas profissionais, proporcionando, por vezes, atuações que vão além de um ‘simples contrato’ profissional. Sendo assim, observou-se que umas das linhas de atuação do NUPAV encontra-se na qualificação profissional como uma estratégia para engajar pessoas no processo de enfretamento da VD e violência urbana no município, como pode ser observado nos trechos de entrevistas abaixo:

‘’Na verdade, a gente já vinha trabalhando e a gente não tinha assinado o contrato ainda, mas já estava ‘valendo’(...) estava indo para as capacitações.’’Entrevistado 4

‘’A gente transita muito (...) a gente trabalha muito mais na perspectiva do profissional de saúde.‘’ Entrevistado 9

‘’Que é que eu posso fazer pra mudar? (...) engajar as pessoas no processo de transformação, a começar por elas mesmas.’’ Entrevistado 8

‘’Essa motivação vem, de sempre está querendo ajudar; eu sei que eu posso, de uma forma ou de outra, chamar alguém com responsabilidade maior, pra me ajudar a resolver, eu vou procurar resolver; de uma forma ou de outra.’’ Entrevistado 12

A qualificação profissional certamente interfere na realização de notificações pelos profissionais de saúde das UBS do município, apontando para o NUPAV como um Núcleo que, indiretamente, está atuando na idealização de políticas públicas voltadas para prevenção da VD e, consequentemente, da violência urbana. O arrefecimento dessa última, por sua vez, interfere na configuração do trabalho de vários equipamentos sociais, sendo a confiabilidade dos dados coletados no nível local como uma importante medida para a formulação de políticas públicas e a construção de um município saudável (COHEN, 2007).

Acredita-se que a notificação da VD é um instrumento de gestão que permite realizar estudos comparativos e correlacionados entre a violência urbana e a doméstica, além de ser uma ação facilitadora ao planejamento de intervenções destinadas à saúde, educação e política social (LEWGOY et al., 2005).

Por fim, constatou-se que o estímulo da notificação da VD nas UBS, além de facilitar o planejamento de ações de prevenção de VD pela gestão, é considerado uma estratégia para a prevenção da violência urbana no município.

5.2.4 Ênfase na prevenção da violência doméstica em detrimento da prevenção de