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A NOVA GEOGRAFIA ECONÔMICA E OS DETERMINANTES LOCACIONAIS DA INDÚSTRIA

3 TEORIA DOS DETERMINANTES LOCACIONAIS

3.2 A NOVA GEOGRAFIA ECONÔMICA E OS DETERMINANTES LOCACIONAIS DA INDÚSTRIA

A Nova Geografia Econômica surgiu no início da década de 1990 e emergiu a partir das idéias pioneiras de Marshall, na qual se destacam os autores Paul Krugman, Masahisa Fujita e Anthony Venables, dentre outros. Esses autores criticam as teorias que norteiam as economias regional e urbana, argumentando que estas apresentam limitações e problemas teóricos consideráveis (RUIZ, 2003), a exemplo das teorias expostas nas seções anteriores deste capítulo.

Por exemplo, no que se refere ao modelo teórico de von Thünen – teoria das hierarquias urbanas – não há uma explicação plausível acerca das forças que levam à aglomeração. Além de se assumir a concentração da produção industrial em um único centro urbano, von Thünen desconsidera as relações dessa cidade (tamanho e estrutura) com as outras que a rodeiam (RUIZ, 2003). De maneira geral, Ruiz (2003) afirma que esses autores são categóricos quanto às teorias e os modelos de economia regional até então vigentes, afirmando que nenhum destes apresenta uma teoria geral que explique a micro-organização espacial dos agentes. Assim, não há nenhuma teoria consistente sobre a dispersão dos agentes no espaço. Em

decorrência disso, Krugman, Fujita e Venables (1999 apud RUIZ, 2003) acreditam que conseguiram sumarizar em uma teoria regional todos os modelos de economia urbana e regional tratados separadamente na literatura. Assim, o livro The Spatial Economics tem como objetivo central detalhar a lógica microeconômica que guia a organização da produção no espaço (RUIZ, 2003).

3.2.1 O modelo centro-periferia

Segundo Ruiz (2003), os autores de The Spatial Economics atribuem à recente onda de inovações teóricas - produzidas pelas teorias de retornos crescentes - ocorrida na década de 1990 a redescoberta das ligações entre a economia e a geografia. Assim, a primeira atingiu a organização industrial, a segunda atingiu as teorias do comércio internacional, a terceira modificou as teorias do crescimento econômico e a quarta onda de retornos crescentes na economia seria a NGE.

Santos (2010) afirma que a base da NGE é o modelo Centro-Periferia (CP), apresentado por Krugmam (1991 apud SANTOS, 2010), o qual apresenta os fundamentos da formação das economias de aglomeração. Esse modelo se baseia na interação da procura, dos rendimentos crescentes e dos custos de transporte, culminando em processos cumulativos que tendem à concentração espacial da indústria, originando-se um pólo industrializado e uma periferia agrícola (MARQUES, 2012).

Ruiz (2003) aponta dois conjuntos de regras que compõe a base teórica deste modelo: o primeiro se refere à definição da curva de demanda, definindo como os consumidores alocam a renda; o segundo à definição da curva de oferta, referindo-se a como as firmas determinam o nível de produção e os preços. Aplicando-se isso à economia regional, o que se tem são consumidores e firmas dispersos no espaço, tendo que arcar com os custos de importação ou exportação. Neste caso, ambos procuram “maximizar rendas e minimizar gastos tomando em consideração a localização dos demais agentes, ou seja, procuram otimizar sua localização na rede de economias regionais” (RUIZ, 2003). O autor explica que, conforme os tradicionais modelos microeconômicos neoclássicos, no modelo centro periferia ofertas e demandas regionais são determinadas simultaneamente, sendo baseado em firmas que produzem e maximizam seus lucros levando em consideração a elasticidade da demanda.

Para que haja esse equilíbrio instantâneo entre oferta e demanda, o modelo parte dos seguinte pressupostos: (i) todas as firmas são móveis; (ii) as tecnologias são homogêneas; (iii) não há nenhuma aparente economia externa à firma (economias de aglomeração de Marshall); (iv) os trabalhadores (consumidores) migram livremente e estão sempre em busca de melhores salários reais (RUIZ, 2003). Assim, “como as firmas estão sempre em equilíbrio, somente quando todos os salários reais estão igualados o sistema se encontra em equilíbrio. Logo, o ajuste do mercado de trabalho (as migrações) é o que dirige a reorganização espacial da produção” (RUIZ, 2003).

Segundo Santos (2010), o modelo CP apresenta três efeitos que culminam na geração de economias de aglomeração. O primeiro efeito é o ‘efeito de acesso ao mercado’, que se refere à tendência de firmas monopolísticas se localizarem próximas a grandes mercados e exportarem para mercados menores. O segundo é o ‘efeito custo de vida’, que relaciona a localização da firma com o custo de vida local, o qual é inversamente proporcional ao grau de aglomeração da região. Neste, os bens comercializados em regiões cuja atividade industrial é mais aglomerada são mais baratos em decorrência da diminuição dos custos de transportes, proporcionando um aumento de renda real dos consumidores. E o terceiro é o ‘efeito competição’, o qual demonstra haver a tendência de empresas monopolísticas se firmarem em mercados com menos concorrência (KRUGMAM, 1991; FUJITA et al., 1999; THISSE, 2022; BALDWIN et al., 2003 apud SANTOS, 2010).

Os dois primeiros efeitos representam forças centrípetas, cuja combinação com a migração interregional cria o potencial de causalidade circular (ou cumulativa). Assim, atua como uma força de acumulação e/ou aglomeração, sendo responsável pela elevação dos salários reais nessas regiões (SANTOS, 2010; RUIZ, 2003). Santos (2010) afirma que em contrapartida, o terceiro efeito – efeito competição – funciona como uma força dispersiva. De acordo com Ruiz (2003), a força centrífuga que apresenta especial desempenho no bloqueio da concentração especial é a agricultura, a qual configura um mercado periférico, competitivo e espacialmente fixo.

Ruiz (2003) afirma que os mercados periféricos são cruciais à dinâmica do modelo centro- periferia, pois os produtores agrícolas espacialmente dispersos dependem do fator terra à execução de sua atividade, impedindo a aglomeração dos mesmos. Esse fato torna esses

mercados periféricos exportadores do excedente produzido e importadores de produtos manufaturados. O oposto ocorre com a indústria: os produtos agrícolas são importados das regiões periféricas, sendo que à medida que estas se tornam mais distantes, maiores são os custos de transporte, culminando na redução dos salários reais nessas regiões industriais.8

O autor afirma que, na existência de grandes mercados periféricos e de custos de transporte elevados, é possível que firmas manufatureiras se instalem nessas regiões, substituindo importações. Ou seja, há um limite para a concentração da indústria em uma única região estabelecido por grandes mercados periféricos e produtos agrícolas com preços mais elevados. Assim, “qualquer modelo da NGE envolve uma tensão entre forças de aglomeração que tendem a concentrar consumidores e firmas dentro de uma mesma região e forças de dispersão que inibem esse processo” (SANTOS, 2010).

No que se refere à indústria de alimentos e bebidas, o primeiro efeito do modelo CP é verificado na realidade, pois o aumento da renda real dos estratos de renda mais baixos da população baiana auxiliou o desenvolvimento dessa indústria no estado. Uma vez que a maior parte dessa população encontra-se dispersa no território da Bahia, mudanças positivas no perfil distributivo da renda da mesma agem como atrativos à atividade industrial nas zonas periféricas, devido a elevada elasticidade-renda da demanda por alimentos dos estratos mais baixos de renda da população.

A indústria alimentícia tem o estímulo da mão-de-obra ser mais barata nessas localidades. Assim, pode-se dizer que o segundo efeito de aglomeração do modelo CP também se aplica à realidade da indústria alimentícia baiana, uma vez que o custo de vida nessas regiões é mais barato. Por fim, o terceiro efeito pode ser verificado na indústria de alimentos e bebidas baiana, quando se analisa a aglomeração espacial das unidades produtoras desses segmento ao longo do tempo. Conforme exposto no gráfico 2, verifica-se que entre 1990 e 2010, a quantidade de estabelecimentos dessa indústria cresceu significativamente entre as mesorregiões do estado da Bahia, não se restringindo à mesorregião Metropolitana de Salvador.

8 Ruiz (2003) explica a dinâmica do modelo centro-periferia com base em sua versão mais simples, em que há somente dois setores na economia: a agricultura, competitivo e espacialmente fixo, a industrial, monopolístico e móvel.

Assim, com base no levantamento teórico realizado, percebe-se uma expansão da indústria de alimentos e bebidas do estado da Bahia para as regiões periféricas. Isso é resultado de alguns fatores: (i) o estímulo fiscal do PROBAHIA, promovendo a interiorização e o desenvolvimento da indústria no estado; (ii) a menor concorrência que as empresas monopolísticas encontram nessas regiões; (iii) aumento da renda per capita da população dessas regiões, representando um estímulo à indústria alimentícia em decorrência da participação elevada dos gastos com alimentação na renda desse grupo.

Essas constatações corroboram com os efeitos do modelo CP e com a formação dos distritos industriais marshallianos. Na próxima seção é apresentada a metodologia de análise para verificar a distribuição espacial da indústria de alimentos e bebidas no estado da Bahia e no capítulo 5 as constatações levantadas acima são testadas empiricamente.

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