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Nova geração, velhas performances: estratégias de manutenção do poder no executivo

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CAPÍTULO 2 “ISSO AQUI ERA UM LUGAR QUE NÃO EXISTIA NO MAPA”: O

2.4 Nova geração, velhas performances: estratégias de manutenção do poder no executivo

Um ano antes da campanha eleitoral de 2012, um blog local noticiava85:

Por enquanto, pelo que sabemos, são esses os nomes que estão figurando: atual prefeito, Beto Azevedo (PMDB); médico Pedrinho Cherene (PSC); radialista Barbosa Lemos ou o atual vice-prefeito, Frederico Barbosa Lemos, pai e filho (PR); Professor Marcelo Silva de Barra do Itabapoana (PT); advogado Cláudio Hering (PV) e Edson Correa Mansur (PTB).

No ano seguinte quando começou a corrida eleitoral, a opinião de dois moradores do município em resposta ao blog se confirmava: ―Não acredito que haverá uma disputa eleitoral com sete candidatos. Muitos acabam retirando suas candidaturas em troca de uma secretaria,

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de ser o candidato à vice. Quem viver verá‖; ―Sempre, desde que foi emancipada, a disputa eleitoral fica entre dois candidatos‖.

Sob o lema de ―Renovação Total‖ e ―São Francisco, uma família para todos‖, a disputa eleitoral daquele ano, longe de acenar para novidades trouxe à baila a ―velha‖ política de oposição entre as duas antigas famílias locais. A única novidade ou renovação dizia respeito à geração dos candidatos, pois os dois candidatos eram os filhos e herdeiros dos antigos adversários nos pleitos anteriores.

O candidato vitorioso neste pleito assumiu a prefeitura da cidade aos 34 anos, sendo, pois, considerado o prefeito mais jovem da região norte fluminense. No dia anterior a posse, o jornal Terceira Via publicou uma entrevista com o novo prefeito na sua página na internet. Na entrevista o político ressaltava, dentre outras coisas, o legado político do pai que havia lhe servido de aprendizado.

Três aspectos que compunha a representação daquele político foram destacados pela matéria na ocasião, o fato de ser jovem, ser médico e de pertencer à determinada família.

Aos 34 anos, o médico Pedro Jorge Cherene Junior, conhecido como Pedrinho Cherene, se tornou o prefeito mais novo da região norte fluminense. Somando 15.804 votos, ele venceu as eleições em São Francisco de Itabapoana em sua primeira disputa eleitoral para o cargo de chefe do executivo. Filho do ex-prefeito de São Francisco de Itabapoana, Pedro Cherene, que administrou o município entre 2001 e 2008, ele pode absorver muitos exemplos deixados pelo pai e que ele encara como um verdadeiro legado. Além de exercer a medicina, Pedrinho já atuou no município de São Francisco de Itabapoana como secretário de Saúde. Na política, foi candidato a deputado estadual, alcançando grande número de votos86.

Quando interrogado sobre ―os princípios de família que levaria para vida política‖, o prefeito respondeu: ―honestidade, respeito ao próximo e zelo com a coisa pública. Na condição de prefeito eleito de São Francisco, vivo com a minha população uma relação de carinho e de confiança recíproca, assim como aconteceu com Pedro Cherene‖.

Contradizendo o lema da coligação que o elegeu, Renovação Total, o prefeito eleito enfatizou o compromisso com o legado político familiar e a continuidade na forma de fazer política aprendida com o próprio pai, ex-prefeito da cidade por dois mandatos.

O zelo na manutenção deste legado foi um dos aspectos mais realçados por moradores do município quando abordavam a sua gestão. Durante as entrevistas realizadas no terceiro ano de seu mandato, a seriedade com que o prefeito tratava à atenção ao eleitorado, a sua educação excessiva no trato com as pessoas e o carinho especialmente com crianças e idosos

86 Citação extraída da matéria intitulada ―Entrevista: Pedrinho Cherene é o prefeito mais jovem do Norte Fluminense‖.

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era um dos aspectos que contavam positivamente a seu favor. ―O prefeito como pessoa é delicioso‖ revelou um dos entrevistados.

Embora ambos os candidatos ao pleito 2012 tivessem linhagem política, o carisma com a população e o compromisso de manter o legado familiar durante sua campanha eleitoral havia sido um diferencial para os eleitores, pois estes realmente demonstravam ter uma relação de confiança com o antigo ex-prefeito conhecido pela fidelidade ao eleitorado. Ao passo que o outro candidato tinha contra ele, a desconfiança por ser herdeiro de um político cuja fama era justamente o contrário.

Apesar disso a disputa foi bastante acirrada, pois ambos tinham a seu favor o apoio de pessoas chave de cada localidade, adquirido de antemão devido à herança familiar. Ou seja, ao iniciar a corrida eleitoral já possuíam uma ―torcida‖ e a adesão voluntária de pessoas cuja relação fora estabelecida antes mesmo que eles houvessem ―entrado‖ na política.

O nome de família se mostrou um recurso social poderoso conforme me explicou um funcionário público local, ao abordar a ascensão política do candidato da família Cherene: ―o nome, o sobrenome de uma pessoa ajuda muito. Ele teve muita confiança das pessoas. Não que a gestão dele seja igual ao do pai, porque é muito diferente‖.

Apesar da existência de aspectos que distingue os distintos políticos de uma mesma família, como a simpatia e o carisma, por exemplo, o fato de pertencer à determinado grupo familiar, sem dúvida, confere ao político alguma vantagem (ou desvantagem), pois de uma forma ou de outra terá sua performance política e/ou pessoal sempre comparada às principais qualidades do seu grupo político.

Nesse sentido, o prefeito eleito para a gestão 2013/2016 entrou na competição eleitoral com alguma margem de vantagem sobre o outro candidato, pois além de ter herdado o ―bom nome‖ (as qualidades relacionadas à sua família) era médico, fato que ganhou grande destaque na época da campanha87.

No entanto, apesar de reunir as condições para ser um bom gestor na concepção local, nome, simpatia e formação em uma área tão castigada no município, conforme termo usado por um morador, no final do mandato parte da população reclamava da administração do referido prefeito. De modo particular os que se situavam na oposição, pois o acusavam de não solucionar os problemas sequer da sua área de atuação: a saúde. Questionando a sua suposta

87 Alguns outros membros da sua família também são identificados não só com a profissão como com a prestação de serviço na área de saúde e já ocuparam/ocupam vagas no legislativo municipal dentre outros cargos de confiança, como secretaria de saúde, direção do hospital municipal, etc. Alguns são citados por desenvolver

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negligência neste setor. E diante das avaliações negativas a seu governo até mesmo o fator idade passou a ser objeto para a desqualificação do político e motivo para rumores.

O prefeito devia fazer mais pela saúde, principalmente que o prefeito daqui é médico. A gente conhece ele como médico, né? Outro dia um rapaz disse: ―ele como médico podia ter uma sala em Ponto de Cacimbas [hospital municipal] para atender as pessoas sacrificadas‖. (Fonte: funcionário público, Gargaú, agosto 2016)

O prefeito número 1 aqui foi Barbosa, agora médico só pagando. E dizem que o prefeito atual é médico, mas pra mim não é médico, nem prefeito. Ele é um moleque, está aí para tomar cerveja, pra ser prefeito tem que ter garra. (Fonte: comerciante aposentado, Gargaú, agosto 2016)

O prefeito daqui dizem que dá consulta particular em Rio das Ostras, e o nosso lugar aqui precisando, poxa! É muito educado, mas para administração....(Fonte: comerciante, Retiro, agosto 2016)

Essas críticas ganhavam ainda mais contundência na medida em que eram relacionadas a um evento muito comentado por correligionários e oposição, o de que o referido político não haveria enfrentado sequer uma oposição na câmara dos vereadores durante o seu mandato. Algo que era dito hora como desconfiança, hora como acusação, exceto quando o entrevistado era um dos vereadores da gestão atual.

Hoje, vereador não visita isso aqui, eles moram em Travessão e Barra, mas não tem a quem recorrer. Hoje, eles recebem do prefeito para não pedir nada. Antes tudo o que eu solicitava deles eu era atendido. Eu entrei pobre na política e saí pobre, agora não! Querem sair milionários. (Fonte: ex-vereador, São Francisco, fevereiro 2015)

Eu deixei a secretaria porque não concordo com a forma de governar. Entrei no gabinete 3 vezes, a última foi para entregar o cargo. Liguei várias vezes e ele não atendeu. O político está muito desgastado aqui no município. A câmara está queimada, e eu quero ser um vereador ou prefeito para marcar história de meu município. (Fonte: ex-secretário municipal e político, São Francisco, fevereiro 2015) Hoje o prefeito paga R$ 30.000,00 para os vereadores votarem a favor dos projetos, quando o salario de um vereador é R$ 5.000,00. (Fonte: proprietário de comercio, representante de associação, São Francisco, setembro 2016)

Onde já se viu? Aqui hoje não tem oposição, os que se elegeram como oposição depois passaram a ser posição. (Fonte: ex vice-prefeito, ex-vereador aposentado, São Francisco, junho 2016)

A coligação do meu partido foi oposição ao prefeito, mas quando ele ganhou ele me chamou e me pediu o meu apoio. Aqui o prefeito está fazendo tudo para crescer (Fonte: vereador A, mandato atual, fevereiro 2015)

Independente da estratégia adotada pelo político, para angariar apoio necessário para administrar o município, parece que tem sido bastante bem sucedido neste empreendimento, pois quando as alianças para a nova corrida eleitoral foram definidas, a composição que apoiou a sua reeleição agregou 18 partidos na seguinte coligação ―O melhor para são

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Francisco‖ (PMDB / PP / PPS / PR / PRB / PSL / PTB / PEN / PPL / PRP / PV / PSC / PTN / PTC / PT do B / PC do B / PSDC / PRTB), ao passo que os outros candidatos contaram com as seguintes alianças: coligação ―Por Uma Nova São Francisco‖ (PSDB / PHS / PDT / PMB / SD / PT) e coligação ―A esperança de um povo‖ (DEM / REDE / PROS / PSB)88

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Além de contar com os antigos atributos pessoais e aqueles herdados com o nome de família, o prefeito conseguiu o apoio da maioria dos partidos políticos com representação no do município. E através de uma campanha com ênfase na simpatia (educação), participou da disputa eleitoral em 2016 tentando a reeleição.

O apelo à simpatia e a amizade tem sido um recurso discursivo bastante valorizado no idioma político local. E parece sintomático a campanha para a reeleição do prefeito da cidade ter vinculado esta ideia, como explicita os cartazes de campanha exposto no facebook e compartilhado por seus apoiadores através das redes sociais com a seguinte frase: ―Quem semeia cortesia, colhe amizade, e quem planta amabilidade, colhe amor‖.

Apesar de articular aparentemente as mesmas estratégias das últimas eleições da qual saiu vitorioso, o prefeito foi derrotado pela candidata da família Barbosa. De acordo com comentaristas locais, a insatisfação com os resultados de sua gestão no que se referia especialmente ao tema da saúde e a concorrência que recebeu de um vereador que havia sido aliado na eleição anterior, acabou por retirar votos importantes do prefeito e possibilitar que a adversária mais forte vencesse a eleição com uma pequena margem de votos.

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