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2 A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e a Norma Operacional

2.3 Novas diretrizes da Política Nacional de Assistência Social

Diante da Política Nacional de Assistência Social observa-se uma diretriz territorial, identificando onde estão os setores que vivem o processo de exclusão. Ao reconhecer as fortes pressões que estes processos de exclusão socioculturais geram sobre as famílias brasileiras, torna-se primordial que as ações da Assistência Social tenham a família como foco prioritário, com ações de forma continuada e não pontuais.

Desse modo, a importância de viabilizar condições para o desenvolvimento da vigilância social, que se responsabiliza pela identificação dos territórios de incidência de riscos no âmbito da cidade, do Estado, do País para que a assistência Social desenvolva política de prevenção e monitoramento dos riscos. Sobretudo porque é na territorialização8 que é operado o princípio da prevenção na política de assistência social, e para conhecer o território dispomos de informações e dados sócios econômico culturais, ou forma a orientar a ação preventiva.

A nova política de assistência social amplia e insere novos conceitos e diretrizes, resultado desta aproximação teórica, registra-se que o inciso I do art. 5º das diretrizes da PNAS (BRASIL, 2005), amplia a formulação especificando as atribuições de cada esfera de governo, bem como insere uma nova categoria, o da socioterritorialidade, baseadas na Constituição Federal de 1988 e na LOAS destacando-se a seguinte redação:

Descentralização político administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estaduais e municipais, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características socioterritoriais locais (2005, p. 32).

8 A territorialização refere-se à centralidade do território como fator determinante para a compreensão das

Portanto, a descentralização elege o município como esfera primordial, com o reconhecimento de seu poder de autonomia, considerando-se particularidades dos territórios, seus interesses e necessidades. Assim, a estratégia da territorialização exige dos diferentes agentes sociais que se encontram na gestão, viabilizando a proximidade da população e sua participação direta por meio dos conselhos, tornando-se, igualmente, um meio de controle das atividades assistenciais e fiscalização das finanças.

Nesse contexto, afirma-se que território corresponde: Como “espaço usado” (SANTOS, 2007), fruto de interações entre os homens, síntese de relações sociais; como possibilidade de superação da fragmentação das ações e serviços, organizados na lógica da territorialidade; como espaço onde se evidenciam as carências e necessidades sociais, mas também onde se forjam dialeticamente as resistências e as lutas coletivas (COUTOet al, 2010).

Assim, a operacionalização da política de assistência social em rede, com base no território, implica no tratamento da cidade e de seus territórios como base de organização do sistema de proteção social básica ou especial, próximo do cidadão, constituindo um dos caminhos para superar a fragmentação na prática dessa política. Neste sentido,

[...] o território merece ser considerado como um novo elemento nas políticas públicas, enquanto um sujeito catalisador de potências no processo de refundação do social, em que a cidadania mais do que nunca necessita ser reinventada por todos (KOGA, 2003, p. 259).

Conforme afirmação percebe-se a centralidade que o território passa a requerer diante das políticas de Assistência Social, onde se concretizam as manifestações da questão social e se criam os tensionamentos e as possibilidades para seu enfrentamento, representando um avanço potencialmente inovador, pois incorpora uma noção ampliada de território, para além da dimensão geográfica.

Portanto, esta ação consiste no investimento em uma das importantes definições emanadas da PNAS (BRASIL, 2005), a Vigilância Social, que se responsabiliza pela identificação dos territórios de incidência de riscos no âmbito da cidade, do estado, do Brasil para que a Assistência Social desenvolva política de prevenção e monitoramento de riscos.

Ainda, referente às diretrizes, observa-se que o acréscimo do inciso IV ao art. 5º, encontra-se articulado como um dos eixos estruturantes do SUAS – a matricialidadesociofamiliar, é outro aspecto a ser destacado ficando o novo inciso com a seguinte redação: “IV – centralidade na família para a concepção e implementação dos

benefícios, serviços, programas e projetos”, deslocando-se o foco da abordagem do indivíduo isolado para o núcleo familiar, entendendo-o como mediação fundamental na relação entre sujeitos e sociedade.

Nesse aspecto, trata-se de um tema polêmico (de que família está se falando?), os novos aspectos da família estão intrínseca e dialeticamente condicionados às transformações societárias contemporâneas, diante desse novo cenário as três dimensões clássicas de sua definição (sexualidade, procriação e convivência) já não têm relevância para os tempos atuais. Nesta perspectiva, estamos diante de uma família quando encontramos um conjunto de pessoas que se acham unido por laços consangüíneos, afetivos e, ou, de solidariedade, superando a referência de tempo e de lugar para a compreensão do conceito de família.

O reforço da abordagem familiar no contexto das políticas sociais, tendência que se observa não apenas na assistência social, requer, portanto, cuidados redobrados para que não se produzam regressões conservadoras no trato com as famílias, nem se ampliem ainda mais as pressões sobre as inúmeras responsabilizações que devem assumir, especialmente no caso das famílias pobres (BRASIL, 2008, p.59).

Embora reconhecessem a importância da família na vida social e, portanto, merecedora da proteção do Estado, esta proteção tem sido motivo de muitas discussões, pois a realidade nos dá sinais mais evidentes de processos de penalização e desproteção das famílias brasileiras. Resultante da teoria liberal que dissemina a desigualdade entre cidadãos, a igualdade de participação constituindo-se a grande contradição do liberalismo, as reformas do Estado em seus ordenamentos jurídicos, para atender a economia globalizada, atingindo diretamente as condições e relações de trabalho na esfera estatal.

Neste sentido, a formulação da política de Assistência Social é pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos indivíduos, independente de quem faz parte dessa família.

A inclusão da matricialidade familiar9 e da territorialização como bases do SUAS, ambas somam e potencializam a construção de novas perspectivas para se pensar o atendimento às proteções sociais de assistência social, avançando-se na direção da universalização enquanto política de seguridade social, de forma que o Estado atue enquanto:

9Matricialidadesociofamiliar se refere à centralidade da família como núcleo social fundamental para a

[...] partícipe, notadamente naquilo que só ele tem como prerrogativa, ou monopólio – a garantia de direitos. Isso significa desconsideração da chamada solidariedade informal e do apoio primário, próprios da família, mas sim, a consideração de que essas formas de proteção não devam ser irreais a ponto de lhes serem exigidas participações descabidas e impraticáveis (PEREIRA, 2004, p. 39)

Diante do exposto, percebe-se a primazia da responsabilidade do Estado, na condição de política de assistência social, sendo a família uma instituição central do sistema, sua matricialidade é garantida à medida que, na assistência social, com base em indicadores das necessidades familiares, desenvolvendo uma política de cunho universalista; a qual, para além da transferência de renda, em patamares aceitáveis, se desenvolva prioritariamente, em redes de proteção social, que suportem as tarefas cotidianas e valorizem a convivência familiar e comunitária.

Assim, ao absorver as demandas do agravamento das condições de vida e trabalho da população brasileira através de políticas compensatórias, como é o caso da Assistência Social, o Estado brasileiro encontra solo fértil no âmbito internacional, posto que o fundamento último dessa política não esteja diante da noção de equidade das agências internacionais (MOTA, MARANHÃO, SITCOVSKY, 2006, p. 169).

Em face dessa lógica compensatória, as políticas sociais tornam-se funcionais a lógica do capital e da continuidade das políticas econômicas excludentes, segregadoras e reprodutoras do agravamento da questão social. No entanto, analisaremos os objetivos da PNAS.