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2 UM POUCO DA HISTÓRIA DO ENSINO MÉDICO-CIRÚRGICO NO BRASIL

2.5 Novas escolas médicas no Brasil, de 1970 a 1978

Estabelecendo comparações quantitativas para calcular as médias por ano de criação de escolas para o ensino médico no Brasil, por períodos, pode-se ver assim: em 141 anos, de 1808 a 1959, foram implementadas 27 instituições, média anual de 0,19; noutro período, de nove anos, de 1960 a 1969, foram criadas 35 escolas de medicina, média anual de 3,8; por fim, de 1970 a 1978, portanto, num período de oito anos, foram estabelecidas 13 instituições de ensino da medicina, compondo uma média de 1,6. Novamente fica demonstrada a exponencial expansão das escolas de medicina no período de 1960 a 1969 no Brasil.

O país inicia a década de 1970 com 62 cursos para formação de médicos, quase 60% do que havia na década anterior. A efervescência das discussões sobre o ensino médico continuaram a abordar em seu conjunto a Residência Médica, agora agravadas e estimuladas pelo crescimento desordenado das instituições de ensino médico e do comprometimento da qualidade do ensino oferecido.

É a partir de 1975 que começaram a se fazer sentir as consequências do crescimento explosivo do número de escolas médicas, ocorrido,principalmente na década anterior. Nem mesmo o esforço destinada a aperfeiçoar o currículo médico pela criação obrigatória do internato, conseguiu corrigir a perda de qualidade de grandes áreas do ensino da medicina no país. Em vista disso, grande número de médicos recém-formados, não se sentindo habilitados para o desempenho prático da profissão, passam a buscar na Residência Médica a complementação de sua formação (Lima-Gonçalves, 2002, p.72).

O internato médico, citado por Lima-Gonçalves, acima, é um recurso criado para intensificar o aprendizado prático dos alunos dos cursos para formação de médicos.

A preocupação em utilizar o treinamento em serviço como prática do ensino médico surgiu no modelo de formação durante a década de 1940, quando nossos currículos passaram a se espelhar no modelo americano de formação, que se contrapõe ao modelo europeu, mais embasado em conhecimentos teóricos do que na prática do trabalho. Desde a década de 1950, iniciaram-se os programas destinados à prática pré-profissional supervisionada no sexto ano, como complemento ao conteúdo predominantemente teórico das fases anteriores. Entretanto, o Internato Médico foi

oficializado apenas em 1969, quando se normatizou a obrigatoriedade de um período prático com características especiais no final de formação acadêmica dos cursos de graduação médica (Chaves & Grosseman, 2007, p. 212).

Embora, como já se afirmou neste estudo, que a criação de várias associações e agremiações com a finalidade de participar dessas discussões tem um caráter fiscalizador e de controle social, neste novo cenário dos anos de 1970, vê-se um momento de tensão em que, provavelmente, outros interesses tenham exercido peso significativo e impactos na educação médica brasileira. Inclusive,

A preocupação fundamental dos que se ocupam com a educação médica no Brasil reporta-se à qualidade dos programas de Residência Médica que vem sendo desenvolvidos em todo o Brasil. Já se disse que a Comissão Nacional de Residência Médica deseja reduzir a um mínimo os critérios utilizados pelas instituições que mantém atividades de Residência Médica na seleção dos candidatos a seus programas (Lima-Gonçalves, 2002, p.73).

TABELA 4 – Cronologia das Escolas Médicas Brasileiras (1970–1978)

______________________________________________________________________ Número Ano da Criação Nome da Instituição_______________ ___ 01 1970 Fundação Universidade de Paço Fundo/ RS

02 1970 Faculdades Unificadas Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ 03 1970 Pontifícia Un. Católica do Rio Grande do Sul – P. Alegre/RS 04 1970 Faculdade de Medicina de Catanduva/SP

05 1970 Universidade de Santo Amaro/SP

06 1970 Escola de Ciências Médicas de Alagoas –Maceió/AL 07 1971 Escola de Medicina Souza Marques – Rio de Janeiro/RJ 08 1971 Faculdade de Medicina de Barbacena/MG

09 1971 Universidade do Estado do Pará – Belém/PA 10 1971 Universidade de São Francisco – Bragança/SP 11 1976 Pontifícia Universidade Católica de Campinas/SP 12 1977 Universidade Iguaçu – Campus Nova Iguaçu/RJ 13 1978 Universidade Federal do Mato Grosso – Cuiabá/MT

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Elaborado pelo autor a partir dos dados contidos no Abertura de escolas de medicina no Brasil: Relatório de um cenário sombrio (2004)

A apresentação do movimento de implementação do ensino médico-cirúrgico no Brasil, incluindo a veiculação de saberes acerca de enfermidades e métodos de cura que tiveram lugar, sobretudo, no período de colonização portuguesa, o intercâmbio com africanos escravos e nativos é relevante quando se intenta perceber a gênese da educação médica numa região.

Fica destacado que o ensino médico institucionalizado não é a única via para o trânsito dos saberes sobre doenças e curas, o papel dos tratados de saúde trazidos pelos colonizadores e veiculados entre os letrados e, mesmo o pragmatismo desenvolvido por populares, escravos e outros personagens que transitavam na colônia portuguesa tornou-se um campo fértil para o experimentalismo no campo curativo e isso gera repercussões na formação da sociedade que tem, entre suas múltiplas necessidades, os cuidados com a saúde.

A descrição da cronologia das instituições escolares de ensino médico no Brasil permite visualizar os movimentos políticos nos vários contextos históricos e facilita a percepção do movimento feito em direção à construção de um sistema de atendimento às demandas de formação de profissionais médicos, às vezes movidas por interesses políticos e outras pelas circunstâncias que a própria sociedade cria ou vivencia.

Permite-se entrever nas exposições que este capítulo fez as representações que a educação médica pode concretizar, visto que lida, sobretudo, com as mazelas humanas que são as limitações de saúde e a precariedade que o estar no mundo faz experimentar.

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OS “APONTAMENTOS” DO MÉDICO LONGINO