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1. MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO NUMA ABORDAGEM

1.4. Novas necessidades ecológicas da comunidade internacional frente às mudanças

ambiente ecologicamente equilibrado

No Fórum Mundial de Ministros do Conselho Administrativo da ONU, realizado em Nairóbi, em 2012, em preparação para a Conferência RIO + 20, o PNUMA listou os 21 desafios ambientais a serem enfrentados no século XXI31. Esta lista, conforme o diretor do PNUMA, Achim Steiner, é relevante para a formulação de políticas ambientais e definição de prioridades científica para os anos seguintes, bem como para a trajetória do programa de trabalho futuro do PNUMA. (UNEP, 2012, p. IV)

As novas necessidades ecológicas (algumas um tanto antigas, porém ainda atuais) estão relacionadas com as questões emergentes acerca do desenvolvimento sustentável global,

31 21 Issues for the 21st Century: Results of the UNEP Foresight Process on Emerging Environmental Issues.

que são aquelas reconhecidas como de grande importância para a comunidade científica e que, todavia, não estão recebendo a atenção adequada pela política internacional. Para este trabalho, cabe destacar que no ranking de importância e emergência elencado pelo PNUMA (UNEP, TABLE 1: THE 21 EMERGING ISSUESTABLE, p. 4) os temas de Governança Global e Mudanças Climáticas encontram-se entre os dez primeiros, conforme se infere da Tabela 1, a seguir.

Item THE 21 EMERGING ISSUESTABLE Ranking

1- Questões transversais 2-

1 3- Alinhar Governança para os desafios da sustentabilidade global;

4- 1

2 5- Transformar as capacidades humanas para o século XXI: responder aos

desafios ambientais globais, rumo a uma Economia Verde;

2

3 6- Pontes Quebradas: Reconectar a ciências e a política;

7-

4

4 8- Catalisar mudanças rápidas e transformadoras no comportamento humano

em relação ao meio ambiente; 5

5 9- Novos conceitos para lidar com mudanças progressivas e limiares iminentes;

10- 18

6 Lidar com a migração causada por novos aspectos da mudança ambiental; 20

Questões de Alimentos, Biodiversidade e Terras

7 Garantir a segurança alimentar para 9 bilhões de pessoas; 3

8 Além da conservação: integrar biodiversidade nas agendas ambientais e

econômicas;

7

9 Reforçar a sustentabilidade urbana e resiliência; 11

10 Nova Corrida pela Terra: Responder às novas pressões nacionais e

internacionais

12

Questões das Águas Doces e Marinhas

11 Novas percepções sobre as interações entre terra e água: uma mudança no

paradigma do manejo ambiental; 6

12 Diminuir a degradação de águas interiores em países desenvolvidos; 15

13 Potencial colapso dos sistemas oceânicos requer governança integrada; 13

14 Ecossistemas costeiros: endereçar pressões crescentes com governança

adaptativa;

19

Questões das Mudanças Climáticas

15 Novos desafios para a mitigação e adaptação à mudança do clima: lidar com

possíveis consequências; 7

16 Atuar nas mudanças climática frente a frequência de eventos extremos; 16

17 Manejo do derretimento das geleiras; 21

Questões Energéticas, Tecnológicas e de Resíduos

18 Acelerar a implementação de energia renovável ambientalmente saudável; 7

19 Necessidade por uma nova abordagem para minimizar os riscos de novas

tecnologias e químicos;

10

20 Resolver a iminente escassez de minerais estratégicos e evitar o desperdício

21 As consequências ambientais do desmantelamento de reatores nucleares. 17

A importância do tema Governança Global 32para o desenvolvimento sustentável se dá pelo fato de que as ações isoladas dos Estados, bem como acordos multilaterais sobre proteção ambiental firmados no século XX não tiveram a eficácia necessária para conter a degradação ambiental, em especial do clima, devido ao seu caráter altamente transfronteiriço.

Evidencia-se, portanto, que o padrão sistêmico de Estados independentes, advindo do Tratado de Westphal, de 1648, já não tem a funcionalidade de outrora, que era eficiente para suprir demandas específicas daquele período histórico. Naquela época, havia a necessidade de um poder estimulante da cooperação entre grupos e indivíduos, que regulasse as relações de produção e defendesse a sociedade de possíveis agressores internos e externos. Esse padrão, todavia, se enfraquece com o processo de globalização, com o fim das disputas econômicas, ideológicas, militares, e se mostra obsoleto diante dos problemas ambientais apresentados e das novas necessidades ecológicas do planeta.

A figura 2 representa as dimensões ambientais, como no caso do clima, que não correspondem às divisões geopolíticas:

(Figura 2- Zonas Climáticas e correntes marítimas para além das fronteiras geopolíticas- disponível em <http://geoconceicao.blogspot.com.br/2010/04/oceanos-e-atmosfera.html>)

Assim, observa-se o crescimento e o destaque na agenda internacional da necessidade de um modelo de governança, que varie desde parcerias público-privados, até alianças com demais grupos da sociedade civil, como as ONGs - abordadas no capítulo

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seguinte - afirmando o papel de novos atores como auxiliares essenciais ao atores tradicionais das relações internacionais.

No mesmo diapasão, com base na lista do PNUMA (UNEP, 2012), as mudanças climáticas também são vistas como um dos grandes desafios a serem enfrentados neste século, principalmente no que concerne à adaptação do homem e mitigação dos efeitos, levando-se em consideração as incertezas científicas e os prognósticos catastróficos esperados para um futuro próximo.

Os novos desafios trazidos pelas alterações do clima são complexos, visto que os perigos representados pelo aquecimento global não são palpáveis, imediatos ou visíveis no decorrer da vida cotidiana. Ademais a gestão do clima abrange subtemas igualmente delicados, como o esgotamento dos recursos naturais e de fontes energéticas tradicionais, as novas tecnologias e impostos, políticas de adaptação e mitigação, negociações internacionais, mercado de carbono, e a nova geopolítica ocasionada pela alteração climática.

Cabe acrescentar que os efeitos das mudanças climáticas não sentidos de forma igualitária pelo globo. São as populações mais vulneráveis que mais sofrem com a degradação ambiental, por viverem à margem da sociedade, em zonas de risco, presenciando deslizamentos de terras e inundações. Outra questão que ganha destaque é a dos refugiados ambientais, que se deslocam devido a catástrofes ambientais e que ainda não encontram regulamentação no ordenamento jurídico internacional. Esses são alguns dos objetos de estudo da Justiça Ambiental, que também evidencia a emergência do trato da proteção do clima33.

Nesse contexto, e diante de outros os temas apontados pela lista do PNUMA, é incontroverso de que as ações humanas cada vez mais desafiam os limites do planeta e questões que anteriormente poderiam ser abordadas individualmente agora devem ser analisadas conjuntamente, dentro de uma nova perspectiva, mais abrangente e transversal. Para isso, faz-se necessária uma administração planetária dos recursos naturais e uma mudança de paradigma a fim de que reconheçamos que os humanos são partes integrantes da biosfera e dependem do funcionamento e do suporte das demais formas de vida para sobreviveram.

33

Sobre o assunto, interessante o artigo “As mudanças climáticas como uma questão de justiça ambiental: contribuições do direito da sustentabilidade para uma justiça climática”, publicado em 2008, nos Anais do 12º Congresso Internacional de Direito Ambiental. Autores: CAVEDON, VIEIRA & DIEHL. Disponível em: http://www.planetaverde.org/arquivos/biblioteca/arquivo_20140212143643_6469.pdf. Acesso em 19 nov. 2014