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NOVAS SOLUÇÕES

No documento Problemas que ningém quer (páginas 88-93)

ABRIGOS TEMPORÁRIOS PARA SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

4.5 NOVAS SOLUÇÕES

Várias soluções têm sido propostas para tentar colmatar problemas e melhorar a qualidade do abrigo. Muitas delas poderiam dar uma resposta mais adequada, no entanto, muitas não passam do protótipo. Isto deve-se ao incumprimento de alguns requisitos essenciais ou então pela falta de interesse imediato ou de lucro das empresas investidoras ou das organizações.

Apresenta-se algumas destas soluções inovadoras recentes, para se entender os seus conceitos, espacializações, métodos construtivos e custos finais.

SPHERE A sphere140 é um projecto arquitectónico elaborado por Felix Stark, baseado no

conceito de pátio romano. Os materiais podem ser reciclados caso assim o entendam, é constituído por um abrigo que pode conter até dezanove unidades, que originam um círculo, em que cada unidade terá uma dimensão de 3m de comprimento e 1,8m de pé direito. O centro desse círculo é um espaço de sociabilidade. Cada uma das unidades pode hospedar até três pessoas, sendo possível alterar para acomodar um maior número, quando é o caso de uma família. Os materiais empregados para o abrigo, consistem numa “pele” interior permeável ao vapor, uma “pele” exterior impermeável em lona resistente ao desgaste, varas estruturais em fibra de vidro e plástico. O custo de construção teoricamente é idêntico ao das tendas convencionais fornecidas pelo ACNUR. Nesta solução o espaço comum circular interior é interessante, mas poderá gerar situações de stress caso existam desentendimentos entre famílias ou pessoas vulneráveis. No entanto, para comunidades com laços de sociabilidade ou para organizações como a Cruz Vermelha está solução deverá funcionar.

Fig. 50 – (A e B) Proposta e execução de solução arquitectónica “sphere”. (Adaptado, disponível em; http://www.igreenspot.com/the-sphere-by-felix-stark/, consultado em 27 Maio 2016).

RE : BUILD A organização Pilosio Building Peace, juntamente com os arquitectos Pouya Khazaeli e Cameron Sinclair, criaram uma solução arquitectónica designada de RE : BUILD141,

em que o conceito está mais direccionado para um abrigo temporário de alta qualidade, que pode ser utilizado em diferentes usos, tais como, escolas, centros de saúde, habitação ou outros. A dimensão desta escola é de 16m x 16m e 2,30m de pé direito. O sistema construtivo é bastante eficiente, com malhas metálicas com diferentes espaçamentos, fixas a uma estrutura em tubos metálicos que posteriormente serão preenchidas com materiais locais como britas, granulados, areias ou terras, criando uma parede mais resistente e compacta. Na cobertura serão criados espaços verdes que termicamente funcionam melhor. O custo de construção para esta solução é um pouco mais elevado, cerca de 27.000 €.

140 The Sphere by Felix Stark. In IgreenSpot.. Disponível em: http://www.igreenspot.com/the-sphere-by-felix-stark/.

Consultado em 27 de Maio de 2016.

141These Schools for Refugee Children in Jordan are Built Using Scaffolding and Sand. In Archdaily. 27 Junho 2015.

Disponível em: http://www.archdaily.com/770749/escuelas-modulares-de-andamios-y-arena-permiten-educar-a-los- ninos-refugiados-en-jordania. Consultado em 27 de Maio de 2016.

Está solução ou alguma idêntica parece ser a melhor resposta, devido à utilização de materiais locais, sustentabilidade, custo/benefício, resistência e níveis de conforto.

Fig. 51 – (A e B) Solução arquitectónica “RE: BUILD”. Fotos: Pilosio Building Peace, 27 Julho 2015

(Adaptado, disponível em; http://www.archdaily.com/770749/escuelas-modulares-de-andamios-y-arena-permiten- educar-a-los-ninos-refugiados-en-jordania, consultado em 27 Maio 2016).

WEAVING A HOME A Weaving a Home142 é um projecto elaborado pela arquitecta/designer Abeer Seikaly,

baseado no conceito dos abrigos temporários das tribos nómadas. A sua dimensão é de 5,00m de diâmetro e 2,40m de pé direito, construído com membranas plásticas resistentes e tecidos, num modelo tridimensional tensegrity, que pode ser reutilizado. A solução é de simples montagem sobre um eixo central e incorpora um tanque de água, bateria eléctrica para ser abastecida por energia solar. A possibilidade de abertura e fechamento consoante a estação do ano, permitirá nas épocas de temperatura mais elevada uma ventilação do ar e nas épocas de temperatura mais baixa uma redução das perdas de calor. O custo ou estimativa para a execução da proposta não está publicado.

O design, usos de tecnologias e novos métodos construtivos, são uma mais-valia nesta solução, contudo, como até ao momento ainda não passou do protótipo é difícil de constatar as vantagens na prática. Quando se desenha uma solução desta natureza deve-se ter em conta a possibilidade das pessoas poderem circular em pé dentro de todo o abrigo, o que não acontece nesta situação.

Fig. 52 – Proposta de projecto “Weaving a Home” (Adaptado, disponível em; http://www.abeerseikaly.com/weavinghome.php, consultado em 28 Maio 2016).

142Weaving a Home. In Abeer Seikaly. Disponível em: http://www.abeerseikaly.com/weavinghome.php. Consultado

CROSS HANDS TEAM O Cross Hands Team143 foi um projecto realizado pelas arquitectas, Ângela Pinto,

Carla Pereira e Joana Lacerda, fundamentado no conceito da “flexibilidade” tanto interior como exterior e na personalização pelos moradores dos próprios abrigos para que possam sentir que ”é o início de uma nova casa, de uma nova vida e tenham um espírito de pertença”.

No campo de refugiados está completado a criação de praças para a implementação de programas com distintos usos, como escolas, cantinas comunitárias, instalações sanitárias comunitárias, centros psicológicos, armazéns de ONG e mercados de troca. As instalações sanitárias, cozinha comunitárias, estufa, zona de lavadouros e lixos estão disponíveis para cada conjunto de dez abrigos.

Os abrigos familiares, hospedam três pessoas e foram criados para a adaptação a diferentes temperaturas entre as estações no Médio Oriente, contemplam espaços de estar e dormir, com uma dimensão de 7,5m x 3m, que poderá ampliar ou reduzir a área pelo método harmónio, e ter mais capacidade.

A “pele” exterior é composta por uma grelha que posteriormente será completada pelos habitantes, com materiais que conseguem alcançar no local, como latas, plantas, terras, garrafas e outros. Foi também considerada uma arca multifuncional, que servirá de arrumação, mesa ou banco. O custo para a construção deste abrigo familiar é de cerca de 670 €.

Esta proposta, do ponto de vista urbano e arquitectónico aponta soluções para algumas lacunas que existem actualmente e devem ser resolvidas nos campos de refugiados. Propõe usos que estão em défice e um maior envolvimento dos habitantes na habitação. O conceito flexibilidade permite a adaptação do espaço consoante as necessidades.

Fig. 53 – (A e B) Proposta urbana e arquitectónica da equipa “Cross Hands Team”, 30 Outubro 2014

(Adaptado, disponível em; http://p3.publico.pt/cultura/arquitectura/14251/arquitectas-portuguesas-desempregadas- querem-ajudar-refugiados-da-siria, consultado em 28 Maio 2016).

143 Arquitectas portuguesas desempregadas querem ajudar refugiados da Síria. In Jornal Público. 30 Outubro 2014.

Disponível em: http://p3.publico.pt/cultura/arquitectura/14251/arquitectas-portuguesas-desempregadas-querem- ajudar-refugiados-da-siria. Consultado em 28 de Maio de 2016.

4.6 SÍNTESE REFLEXIVA

Os abrigos temporários são uma questão complexa. Os abrigos convencionais, incluindo a solução IKEA Foundation, respondem a alguns objectivos, como protecção, segurança, e uma certa privacidade e dignidade, contudo, não respondem aos requisitos de orientação e identidade, que são da mesma relevância que os restantes. O abrigo deve contribuir para afastar as emoções de stress que as pessoas possam ter vivido e deve ajudar a visualizar um objectivo no seu horizonte; deve também promover a ponte com a sua cultura, forma, materialidade e espaço para que a pessoa possa adoptar aquele lugar como sendo seu. Neste sentido, os abrigos vernaculares são os que melhor correspondem a estes conceitos.

Os aspectos mais técnicos também requerem melhorias, como por exemplo alcançar uma melhor temperatura de conforto, através de energia solar passiva preferencialmente, uma vez que as condições térmicas e acústicas são extremamente reduzidas. A segurança contra fumos tóxicos e incêndios também deve ser acautelada pelos materiais e ventilações adequadas.

Outra questão é a sobrelotação do abrigo e por subsequência o espaço que cada pessoa ocupa: no handbook (UNHCR, 2007) é de 3,5 m2 a área mínima por pessoa,

mas na realidade talvez possamos apontar para aproximadamente um terço (1/3) desse valor. Se considerarmos que cada abrigo tem 20 m2 e existem em média oito

pessoas por abrigo, como apurado na Grécia, a área útil é de 2,5 m2 por cada

pessoa.

Finalizando este tema, as novas soluções, sugerem o que deverá ser melhorado, como é o caso do projecto RE: BUILD e o seu processo construtivo e materialidade, Weaving a Home com o seu design, usos de novas tecnologias e novos métodos construtivos, e o projecto Cross Hands Team com a proposta de autoconstrução na “pele” exterior e melhoramentos nos espaços públicos e equipamentos.

5º CAPÍTULO

No documento Problemas que ningém quer (páginas 88-93)