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1.3 EVIDÊNCIAS NO CONTEXTO HISTÓRICO

1.3.5 Novas tecnologias da informação e comunicação

Quando o registro de pacientes deixou de ser centralizado nas mãos dos médicos, a- lém de ser uma tarefa que passou a ser compartilhada com outros atores, as tecnologias se prolife- raram para responder à nova demanda para organizar essas informações. Logo, formulários ne- cessitavam apenas de algumas palavras ou itens selecionados utilizando uma lista de termos pré- definidos. Estatísticos e profissionais que utilizariam os dados passaram a ter uma interface com médicos e outros “registradores”, até mesmo cobrando melhores práticas. A nomenclatura preci- sou ser padronizada para permitir comparações, gerando listas de abreviaturas, classificações como destacam Timmermans e Berg, (2003):

“O processo de padronização é dependente e provoca outros processos de pa- dronização: como círculos concêntricos de ondas movimentando-se para fora do lugar onde a pedra bateu na superfície da água, a padronização de procedimentos para manutenção de registros provocou a emergência de arquivos padrões, os quais por sua vez provocaram a emergência de armários padrões e procedimen- tos para armazenar pastas” (TIMMERMANS; BERG, 2003, p. 50, tradução nossa). Essa descrição nos dá uma dimensão do nível das mudanças e de como elas ressigni- ficaram não só funções, profissões, mas ambientes e recursos.

Para que os dados fossem comparáveis, desde a reformulação dos hospitais no início do século XX, foi preciso padronizar sistemas de informação, comunicação, tecnologias, inclusi- ve computacionais - como foram as iniciativas da Colaboração Cochrane de que tratamos na se-

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ção acima - de forma a reforçar o desenvolvimento da MBE. O crescimento desses processos e de dados de estudos aconteceu e continua se ampliado no mundo todo.

Como desdobramentos dessas mudanças, têm surgido publicações para difundir a proposta e os produtos da MBE. Na era da Internet, os produtos da MBE têm grande alcance em disseminação, como os periódicos: Evidence-Based Medicine, Clinical Practice Guidelines Up-

date, Best Evidence, Patient-Oriented Evidence that Matters (POEMs), Bandolier, Effectiveness Mattersm, The ACP Journal Club. Com frequência são publicados editoriais sobre a MBE em

periódicos tradicionais como British Medical Journal, Journal of American Medical Association,

Annals of Internal Medicine, New England Journal of Medicine. Até mesmo críticos da MBE têm

seu próprio periódico, o Journal of Evaluation in Clinical Practice. Livros médicos, de enferma- gem e até direcionados a outras áreas discutem a MBE (TIMMERMANS; BERG, 2003, p. 7).

Outra nova necessidade é a ampliação do acesso a essas publicações. No Brasil, o Ministério da Saúde vem adotando como política o uso de resultados de pesquisa científica para suas ações, mas a prática da MBE de modo geral é inicial no país (MINISTERIO DA SAUDE, 2009). Uma das ações do ministério é a participação desde 2004 na rede global para elaborar e implementar políticas baseadas em evidências no sistema nacional. A rede é denominada Eviden-

ce-Informed Policy Network (EVIPNet), coordenada pela OPAS, escritório da OMS para a região

das Américas (DECIT, 2009). No setor privado, é mais corrente a adoção e elaboração de evi- dências, acompanhando as referências internacionais na área.

Outra iniciativa é o Portal Saúde Baseada em Evidências (aplica- cao.periodicos.saude.gov.br) lançado em 22 de junho de 2012 pelo o Ministério da Saúde em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O portal é uma ferramenta para que profissionais de saúde tenham acesso gratuito a estudos de evidências para auxiliá-los no diagnóstico, tratamento e gestão da saúde. No momento do lançamento, o por- tal foi disponibilizado para profissionais através do número de registro em conselhos de classes (como registro no Conselho Regional de Medicina, Enfermagem ou entidades representativas como essas) e uma senha para acesso o portal. O investimento foi da ordem de R$ 10 milhões e a

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expectativa do Ministério é de que o portal chegue a 1,8 milhão de profissionais de saúde usuá- rios (BRASIL, 2012).

Além do portal do Ministério, há outros projetos no Brasil disponíveis para acesso de pesquisas de evidências e discussão dos temas ligados à MBE. São em acesso livre e gratuito, por exemplo, o Portal Cochrane em português (cochrane.bireme.br) e o Portal de Evidências (eviden- cias.bvsalud.org), que fazem parte da rede de portais “Biblioteca Virtual em Saúde”, mantidos pela Organização Pan-Americana da Saúde através da Bireme, em cooperação com o governo federal.

Também no Brasil, é uma iniciativa recente e o Registro Brasileiro de Ensaios Clíni- cos (ReBEC) (www.ensaiosclinicos.gov.br), resultado de cooperação entre o Ministério da Saú- de, a OPAS e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). A plataforma permite o acesso livre a re- gistros de estudos experimentais e não-experimentais realizados em seres humanos, estejam eles em andamento ou finalizados. A plataforma recebe registros de estudos feitos por pesquisadores brasileiros e estrangeiros. No Brasil, a resolução nº 36, de 27 de junho de 2012 da Agência Na- cional de Vigilância Sanitária (ANVISA) passou a exigir a apresentação de Registro no ReBEC dos estudos clínicos fases I, II, III e IV. A medida permite a visibilidade para estudos mesmo aqueles com resultados não esperados e que, portanto, podem não vir a ser publicados ou divul- gados amplamente. O sistema ReBEC faz parte de um grupo de 13 registros primários que inte- gram a Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos da Organização Mundial da Saúde (ICTRP – OMS). Assim, os registros feitos no Brasil entram na rede da OMS de registros de pesquisas com seres humanos, o que atende às exigências de revistas científicas internacionais e dos órgãos como o International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), correspon- dendo à demanda de integrar a disseminação das evidências.

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