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CAPÍTULO 2 REVISÃO DE LITERATURA

2.5 Novas tendências para a Educação a Distância, Sistemas de Bibliotecas e

A Educação constitui uma área de conhecimento que estuda os processos educacionais, no sentido de transmitir conhecimentos. A palavra possui uma pluralidade de sentidos, podendo ser entendida como “[…] tudo aquilo que pode ser feito para desenvolver o ser humano [...]”, como também, refere-se à capacidade de instruir e desenvolver competências e habilidades nos indivíduos (VIANNA, 2006, p. 130).

As práticas que permitem o ato educacional são distintas e estão relacionadas a quem ensina, além de possuírem relação com o contexto social e ideológico de cada época. Essas tendências específicas para educar constituem o corpus de conhecimento da Pedagogia, constituído por teorias e princípios adequados para fortalecer o ato educativo em uma determinada sociedade (SAVIANI, 2001).

Dentre as diversas teorias que permeiam a prática pedagógica, Saviani (2001) estabelece uma divisão genérica, considerando as teorias não críticas (Pedagogia Tradicional e Tecnicista), que determinam as relações sociais e são pautadas por métodos de ensino regulamentadores; e as teorias que sustentam a Escola Nova, em que o indivíduo é entendido como elemento muito particular, devendo a educação a ele se adequar, no intuito de ampliar as formas de ensinar e aprender. A partir dessas teorias, a educação contemporânea “[…] preocupa-se com a identificação dos elementos naturais e culturais necessários à constituição da humanidade em cada ser humano e à descoberta das formas adequadas ao atingimento desse objetivo” (SAVIANI, 2015, p. 293).

A proposta de uma educação pautada na liberdade do sujeito e na democracia, conforme defendido por Saviani (2001, 2015), é um terreno fértil para sustentar o surgimento de novas modalidades de educação, sobretudo àquelas que almejam a consolidação de uma sociedade mais inclusiva. Dentre essas modalidades educacionais, a EaD, mediada pelas TICs, se destaca, ganhando mais espaço e, por conseguinte “[…] atendendo às novas demandas educacionais com qualidade, flexibilidade e portas abertas para a construção do conhecimento” (GRANETTO; MOLIN; LUDOVICO, 2015, p. 141).

A EaD, portanto, é uma modalidade de educação pautada no método racionalizado de se produzir trabalho, cujo produto desse trabalho é a produção de

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conhecimento, a partir da interação entre um e outro agente, com mediação das tecnologias computacionais, permitindo que os estudos universitários possam ser estendidos a um grande número de pessoas, independente da distância geográfica (PETERS, 2001).

Uma das principais características do ensino universitário a distância diz respeito à possibilidade em concretizar o processo de ensino-aprendizagem independente do local físico em que estejam o aluno e o professor. Nesse contexto, são providos dois fundamentais elementos: a interação e a autonomia na produção do saber (RIBAS, 2010). Considerando a autonomia como um dos pontos fortes da EaD, Ribas (2010) compara a proposta dessa forma de educação, com a filosofia de Paulo Freire, concluindo que a interação, a liberdade, a participação e a conscientização são pressupostos presentes tanto no discurso freireano, quanto na EaD.

Freire apresenta em sua obra, a importância em se buscar uma educação democrática, cujos professores e alunos produzam conhecimentos de forma recíproca, dialógica e interativa, pautados no respeito e na autonomia.

Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos 25 anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências

estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade (FREIRE, 1996, p. 37, grifo nosso). A filosofia de Freire (1996) propõe um ensino que valoriza o papel do aluno e do professor, ambos considerados como agentes que produzem conhecimentos, haja vista garantir mudanças na realidade social. Portanto, segundo Terra et al. (2012), discursar sobre EaD é o mesmo que pensar na garantia do acesso universal ao conhecimento, o qual será utilizado na vida dos sujeitos como um insumo capaz de provocar melhorias na sociedade, onde os agentes estão inseridos, seja no âmbito social, profissional e/ou acadêmico.

Considera-se que, a partir dos recursos oferecidos pelas tecnologias e com a valorização dos princípios democráticos, tornou-se possível romper as barreiras que, durante muito tempo, permearam as instituições de ensino e pesquisa, gerando, assim, um monopólio do conhecimento e um acesso ao conhecimento produzido ligado, tão somente, às classes elitizadas (BURKE, 2003).

Esse monopólio, além de gerar exclusões sociais também inibiu a produção de conhecimento. À medida que os recursos tecnológicos são utilizados para levar educação a todas as partes das nações, é possível que novas relações sejam formadas, o que possibilita a ampliação de conhecimento e, como consequência desse processo, a formação de uma sociedade cada dia mais integrada, com garantia de direitos de todos na produção e no acesso ao conhecimento (BURKE, 2012).

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No âmbito específico da EaD, Terra et al. (2012, p. 84, grifo nosso) afirmam que:

através das atividades extraclasses e com a participação da comunidade, proporcionada pelos polos de ensino, pode-se levar à sociedade a oportunidade de estar adquirindo gradativamente novos conhecimentos, e por meio da troca de experiências individuais vai se formando uma rede

de conhecimentos, o que é imprescindível para a formação dos conceitos

de moralidade e cidadania.

A EaD promove diversas contribuições, sobretudo no que tange à ampliação de acesso ao conhecimento gerado a partir das práticas educativas. Também garante a construção de uma sociedade libertadora, rompendo desigualdades e instituindo o espírito democrático. Assim, ela também possui como ponto fundamental o desencadeamento de novas possibilidades de interação, ao expandir as redes de contato, de modo a eliminar as fronteiras geográficas e as limitações de tempo (MACHADO, 2015).

A respeito da interação entre os agentes educacionais e a formação de redes de contato, percebe-se a geração de um novo espaço para troca de conhecimentos, o qual, diferentemente da escola, manifesta-se sem contato físico e possibilita trocas imediatas de informações.

Para Lévy (2009), o ciberespaço configura-se como o novo espaço que possibilita o encontro da sociedade, assim como são as praças e parques das cidades; assim como são as reuniões realizadas em uma organização; ou os debates em um congresso ou em sala de aula. Trata-se de uma nova realidade, pautada no virtual, cujas tecnologias possibilitam a interação universal, estando as pessoas em diferentes partes do mundo. Para Lévy (2009), o diferencial desse novo espaço é o fato de que rompe as limitações, permitindo a consolidação de interações espontâneas, descentralizadas e participativas.

No contexto da EaD, é possível considerar o ciberespaço como uma sala de aula que dilui as diferentes partes de um sistema educacional. Ela viabiliza uma mudança no espaço – da sala de aula tradicional, normalmente presente nos campi universitários - para a sala de aula não presencial, desenvolvida no ambiente web (BEHLING; CRUZ, 2007). Com o ciberespaço, os processos educativos “[…] integram-se às formas já existentes, buscando auxiliar na resolução de problemas [...]”. Com efeito, salienta-se que, nesse novo espaço, integrar não significa estabilizar-se; significa, antes de tudo, “[...] o advento de novas formas de promover testes dentro da sociedade, contribuindo e potencializando-a com mudanças contínuas” (BEHLING; CRUZ, 2007, p. 1).

O ciberespaço promove o encontro de indivíduos e organizações, com propósitos diferentes, permitindo a formação de grupos ou plataformas específicas, conforme a similaridade entre os objetivos dos envolvidos (LÉVY, 2009). Atrelado ao termo ciberespaço cunhado para designar o novo ambiente de encontro da sociedade moderna, o

Esse item aborda EaD no contexto brasileiro e universitário. Quantos polos existem? Acrescente mais dados sobre a EaD no contexto universitário brasileiro para isso que foi estruturado tal item/seção

Atendi do!

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filósofo também designa o termo cibercultura, a qual corresponde a um elemento abstrato, inerente às necessidades, desejos e hábitos da sociedade moderna, ao interagir-se com as tecnologias digitais (LÉVY, 2009).

A cibercultura corresponde ao conjunto de técnicas (sejam elas materiais quanto intelectuais), como também de fazeres, atividades e comportamentos pertencentes a um conjunto de redes interligadas pelas tecnologias digitais. A cibercultura é a cultura do digital, em que práticas sociais passam a ser realizadas na internet, o que remodela o pensamento, comportamento e os valores de pessoas e organizações (LÉVY, 2009).

Ao expor as diversas práticas que compõem a cibercultura, o autor demonstra as mudanças ocorridas nas instituições, destacando, dentre os segmentos sociais, a educação. Com enfoque na educação, Lévy (2009) questiona sobre os papéis desempenhados por alunos e professores inseridos na cibercultura, os métodos pedagógicos, os quais precisam ser redefinidos, e reforça que o processo educativo, mesmo sofrendo transformações, se amplia, tendo em vista expandir a produção e compartilhamento de saberes.

A cibercultura possibilita a aprendizagem permanente: distante, mas disponível; virtual, mas real. Surgem, então, novas relações com o saber, virtualizado e desmaterializado. A nova interação e socialização promovem a troca de informações e a construção coletiva de conhecimento. As novas tecnologias de informação e comunicação alteram o modo de ver e pensar o mundo, ou seja, nossos modelos mentais (SOFFNER; KIRSCH, 2014, p. 220).

Embora a cibercultura, mediante a difusão da EaD na sociedade, tem promovido novas possibilidades epistemológicas à práxis educativa, é necessário considerar que “[…] a simples disponibilidade destas tecnologias não garante sua utilização, assim como sua utilização não garante sucesso educativo [...]” (SOFFNER; KIRSCH, 2014, p. 221). A esse respeito, Lévy (2009) considera que o momento não é o de refutar os métodos tradicionais de ensino, mas pensar outras formas de conduzir o processo educativo, sem, contudo, comprometer sua qualidade.

O autor também menciona a necessidade de as alterações e a adesão ao ensino a distância acontecerem de forma consciente, seja por parte do sistema educacional, dos agentes envolvidos e dos órgãos governamentais voltados à Educação. Além disso, reforça o papel das instituições em fomentar recursos adequados, capacitação, dentre outros elementos que possibilitem a consolidação da prática educativa no ciberespaço.

Para Moore e Kearsley (2007, p. 1), é preciso identificar meios para gerenciar e administrar programas oferecidos no ambiente da web. O autor segue afirmando que “[...] à medida que instituições, e mesmos Estados e nações, tentam realizar [EaD], constatam ser necessário desenvolver novas políticas [...] criar instituições ou departamentos inteiramente novos ou fazer novas parcerias interinstitucionais”.

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Com efeito, a partir dos fundamentos teóricos apresentados acerca das novas tendências para a sociedade atual, como ciberespaço e cibercultura, depreende-se sobre o importante papel das instituições em proporcionar condições adequadas na oferta dos cursos a distância. Especificamente, quanto às universidades, é possível destacar a contribuição das unidades de informação, sobretudo as Bibliotecas Universitárias, em facilitar o desenvolvimento da prática educativa, por meio da EaD, em face dos contrastes e dúvidas existentes com o uso das tecnologias digitais e o acesso e uso da informação.