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Questionário

APÊNDICE 5 – PESQUISA BIBLIOGRÁFICA SOBRE OS CUIDADOS AO DOENTE INTOXICADO POR OF

2. Intoxicações por OF

2.6. Novas terapêuticas

Nos últimos anos, foram considerados novas terapias complementares e medicamentos para o tratamento da intoxicação por OF como bicarbonato de sódio, sulfato de magnésio, antioxidantespara prevenir danos neurológicos devido ao stress oxidativo (Banday et al., 2016), plasma fresco congelado e paraoxonases (Bajracharya et al., 2016), mas os resultados ainda não são conclusivos devido à falta de estudos de controlo randomizados (Bajracharya et al., 2016).

Sulfato de magnésio

O sulfato de magnésio é um inibidor da libertação de acetilcolina no sistema nervoso central e nas sinapses periféricas simpáticas e parassimpáticas. A administração de magnésio revelou-se benéfica, porque inibe os canais de cálcio nos terminais do nervo pré-sináptico que desencadeiam a libertação de acetilcolina e aumenta a hidrólise de alguns OF (Bajracharya et al., 2016) (Vijayakumar et al., 2017). Para além disso, diminui as arritmias associadas à atropina

(Vijayakumar et al., 2017) e reduz o risco de taquicardia ventricular nos doentes que apresentam taquicardia devido à estimulação nicotínica (Eddleston & Chowdhury, 2015).

Um estudo realizado demonstrou que a administração de 4 g de sulfato de magnésio a doentes com intoxicação por OF nas primeiras 24 h após admissão na unidade de cuidados intensivos reduziu a necessidade de atropina, a necessidade de intubação e diminui a duração do internamento na unidade de cuidados intensivos (Vijayakumar et al., 2017).

Clonidina

É um agonista do recetor adrenérgico α2 que reduz a síntese de acetilcolina e consequentemente a sua libertação nos terminais nervosos pré-sinápticos (Eddleston & Chowdhury, 2015) Estudos em animais mostram benefício do tratamento com clonidina, especialmente em combinação com atropina, mas os efeitos em seres humanos são desconhecidos (Bajracharya et al., 2016).

Bicarbonato de sódio

A alcalinização de sangue com bicarbonato de sódio tem sido recomendada desde há muitos anos por alguns investigadores (Eddleston & Chowdhury, 2015). O mecanismo exato dos possíveis benefícios é desconhecido, mas poderá incluir a melhoria da eliminação do OF através da hidrólise mediada pelo pH, um efeito direto sobre a função neuromuscular, ou da melhoraria da eficácia das oximas(Eddleston & Chowdhury, 2015). O risco de efeitos colaterais substanciais implica que sua adimistração só será possível numa unidade de cuidados de intensivos (Eddleston & Chowdhury, 2015). Estudos em animais revelaram que o aumento do pH sanguíneo reduziu a mortalidade por intoxicação por OF. No entanto, os estudos existentes em seres humanos que também revelaram ter bons resultados com o uso de bicarbonato de sódio não são suficientes para generalizar a sua utilização (Bajracharya et al., 2016).

Hemodialise

A remoção dos OF do sangue pode permitir a eficácia máxima de outras terapêuticas. No entanto, os papéis da hemodiálise e da hemofiltração ainda não estão claros, sendo necessário a realização de mais estudos (Eddleston et al., 2008).

N-acetilcisteína

A N-acetilcisteína pode ser utilizada com segurança como um adjuvante para o tratamento convencional de intoxicação OF, uma vez que não foram notificados efeitos adversos importantes com a sua utilização (El-Ebiary et al., 2016). A sua utilização pode reduzir a necessidade de atropina e, como tal, os efeitos adversos resultantes de grandes doses de atropina (Eddleston & Chowdhury, 2015)(El-Ebiary et al., 2016). No entanto, é necessária a realização de mais estudos para comprovar a sua eficácia (El-Ebiary et al., 2016)

Outras medidas importantes

A intoxicação por (OP) pode provocar distúrbios metabólicos que podem conduzir a hiperglicemia como resultado do stress oxidativo provocada pela inibição das acetilcolinesterases. Deste modo, a avaliação da glicémia no momento da admissão pode auxiliar na identificação da gravidade da intoxicação (Eddleston et al., 2008)(Panda et al., 2015).

Os cuidados de suporte também deve incluir a administração de fluidos (Eddleston et al., 2008).

O controlo de temperatura é importante, porque a atividade da butirolcolinesterase aumenta em cerca de 4% por cada aumento de temperatura de 1 ° C(Eddleston et al., 2008) (Bajracharya et al., 2016). Para além disso, se o doente desenvolver hipertermia devido a toxicidade da atropina, deve ser realizado arrefecimento externo para evitar paragem cardíaca induzida por hipertermia (Bajracharya et al., 2016).

2.7.Mortalidade

Os doentes com intoxicação por OF apresentam complicações associadas à mortalidade, como infeções secundárias, lesão miocárdica, disfunção hepática e renal e falência multiorgânica (Wu et al., 2016).

Apesar do tratamento existente, os OF causam toxicidade séria e frequentemente a morte (Acikalin et al., 2017). A mortalidade está relacionada com a síndrome colinérgica em fase aguda, a insuficiência respiratória, e a síndrome intermediária nos casos de início tardio (Acikalin et al., 2017). A insuficiência respiratória é principal causa de morte em intoxicação por OF, que pode resultar de mecanismos mediados central ou perifericamente, podendo ocorrer durante a crise colinérgica inicial ou logo após uma fase de recuperação aparente (El-

Ebiary et al., 2016). A morbilidade e a mortalidade da intoxicação por OF também poderão estar associadas a entubação endotraqueal tardia, complicações cardíacas, pneumonia por aspiração, hipotonia muscular e neuropatia (Sajid et al., 2017).

A existência de um protocolo de tratamento a nível hospitalar é a chave para diminuir a mortalidade por intoxicação por organofosforados (Bajracharya et al., 2016)

3.CONCLUSÃO

A intoxicação por OF, nomeadamente por produtos fitofarmacêuticos OF, mas cada vez mais por compostos OF usados como arma química, têm assumido grandes desafios na saúde a nível mundial, e é a intoxicação mais comum associada à mortalidade (Bajracharya et al., 2016). A atropina continua a ser a base do tratamento da intoxicação por OF e o benefício das oximas é cada vez mais questionado, cuja eficácia do tratamento depende da existência de cuidados intensivos eficientes (Bajracharya et al., 2016). Desde há várias décadas, nomeadamente desde 1955, que a associação da atropina e com oximas constitui o tratamento padrão da intoxicação por OF (Vijayakumar et al., 2017). No entanto, vários estudos demonstraram que o mesmo tem uma eficácia limitada em diferentes cenários de intoxicação por OF (Worek et al., 2016), e a intoxicação por OF mesmo com este tratamento continua a vitimar cerca de 200 mil pessoas por ano(Eddleston & Chowdhury, 2015). Desta forma, torna-se evidente a necessidade urgente de um tratamento eficaz a intoxicação por OF efetivamente. (Worek et al., 2016). Surgiram várias novas possíveis terapêuticas adjuvantes no tratamento da intoxicação por OF, cujo benefício deve ser mais investigado através da realização de novos estudos (Bajracharya et al., 2016).