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Ambiente Macroeconômico

Em novembro ficou claro a todos que a leitura do Banco Cen- tral realizada na virada do semestre foi correta. A economia bra- sileira, para surpresa praticamente geral, desacelerou fortemen- te ao longo do segundo semestre do ano. Os indicadores relati- vos à atividade econômica no segundo semestre mostraram isso de forma contundente. Mesmo com a inflação ainda dando mostras de que iria cair lentamente, todos apoiaram as deci- sões do Banco Central. Mesmo assim, o crescimento econômi- co brasileiro em 2011 ficaria substancialmente abaixo do previs- to inicialmente.

Economia em Desaceleração

Artigo publicado no jornal “Brasil Econômico” em 09/11/2011

As indicações mais recentes acerva da atividade econômica brasileira sinalizam para um desaquecimento na margem, sen- do que alguns setores estão sendo mais afetados nesse pro- cesso que outros.

Nesse contexto, a indústria brasileira parece ser um dos seg- mentos da economia que está sendo mais duramente afetado. A produção industrial brasileira sazonalmente ajustada em se- tembro, segundo o IBGE, registrou queda de 2,0% em relação ao mês anterior e caiu 1,6% em relação ao mesmo período de 2010. O resultado de setembro consolida um quadro de estag- nação na indústria, uma vez que nos dois meses anteriores a produção industrial registrou variação praticamente nula. Os maiores recuos foram concentrados nos segmentos produtores de bens de capital e de bens duráveis.

A desaceleração percebida em alguns setores, no entanto, não é uniforme para o conjunto da economia brasileira. Nesse senti- do, a taxa de desemprego permanece em patamar baixo e o ritmo dos aumentos salariais prossegue com reposição da infla- ção passada mais algum ganho real. As vendas em determina- dos setores de não duráveis têm permanecido aquecidas nos

últimos meses. Ainda assim, o comércio já começa a apostar em um Natal mais moderado em 2011, sem grandes explosões de vendas no final do ano.

A assimetria de desempenho dos setores da economia brasilei- ra no momento é curiosa, pois, em certo sentido, remonta a uma problemática mais geral nesse momento. Sob essa pers- pectiva, a desaceleração da atividade econômica global, sem dúvida, tem efeitos sobre a economia brasileira. Em outras pala- vras, é de se esperar que o fraco desempenho do resto do mun- do tenha desdobramentos sobre nossa economia. Ao mesmo tempo, a sobrevalorização do real em relação às demais moe- das afeta diretamente os setores produtores de bens comerciali- záveis com o exterior, em particular a indústria. Em função dis- so, esses setores tendem a sofrer mais que segmentos produto- res de bens não comercializáveis com o exterior.

O governo tem se mostrado sensível a isso e atuado em dife- rentes flancos. Sob essa perspectiva, o Banco Central já iniciou um processo de flexibilização da política monetária, tendo corta- do os juros nas últimas reuniões e sinalizando para a manuten- ção da trajetória da queda da taxa Selic mais adiante. Esse mo- vimento tem ocorrido a despeito do patamar de inflação ainda se manter elevado.

Do ponto de vista da indústria, a redução da taxa de juros atua em duas direções. A primeira remete ao fato de que diminui- ções na taxa Selic afetam em alguma medida as taxas de juros

na ponta do empréstimo. A queda das taxas de juros para finan- ciamento tendem a ter efeito positivo sobre o consumo, estimu- lando-o. Ao mesmo tempo, a diminuição da taxa básica de ju- ros reduz o diferencial de juros praticados domesticamente em relação ao resto do mundo. Com isso, a atratividade relativa de aplicações em renda fixa tende a cair. Isso significa que a dimi- nuição dos juros tende a diminuir o ingresso de dólares no País direcionados a aplicações no mercado financeiro. Com isso, as pressões para a apreciação do real frente ao dólar tendem a diminuir. Sob essas perspectiva, o ideal era que a cotação do dólar subisse ainda mais, o que estimularia a competitividade da indústria nacional.

De qualquer forma, mesmo com essas ações por parte do BC, as perspectivas de crescimento do produto brasileiro em 2011 são mais modestas que as previstas inicialmente. Tudo indica que o PIB neste ano deverá crescer em torno de 3,0%. Para 2012, ainda resta saber os próximos passos da política monetá- ria e os desdobramentos do cada vez mais complicado cenário internacional.

Os Acertos da Política Monetária

Artigo publicado no jornal “Brasil Econômico” em 23/11/2011

Cada vez mais os indicadores relativos a inflação e à atividade econômica parecem estar sancionando o cenário delineado pelo Banco Central (BC) desde o início dos cortes da taxa bási- ca de juros - Selic - há alguns meses.

Vale lembrar que o BC surpreendeu o mercado e os economis- tas ao reverter o sentido da política monetária na penúltima reu- nião do Comitê de Política Monetária (Copom). Até então, o BC vinha elevando a meta da Selic em um compasso próximo ao da alta da inflação no período. Por conta disso, o Banco Cen- tral foi amplamente criticado em um movimento que, naquele momento, parecia insólito.

Preocupações de interferência política no processo de decisão dos juros por parte do BC formaram grande parte da tônica das críticas. A carência de elementos nessa direção fragilizam essa hipótese. Sob essa perspectiva, a critica relevante recai sobre o fato de que o BC não trabalhou adequadamente as expectati- vas naquele momento (como pressupõe um regime de metas para inflação) e surpreendeu a totalidade dos agentes com sua decisão.

De qualquer forma, os desdobramentos nos últimos meses su- gerem que o Banco Central atuou corretamente. A inflação do último trimestre parece, de fato, estar cedendo e a atividade econômica está mostrando sinais concretos de desaceleração. Desse ponto de vista, a atividade industrial tem desacelerado nos últimos meses e, mais recentemente, o emprego começou a dar mostras de perder forças. Tudo indica que as vendas de final de ano apresentarão um crescimento moderado em rela- ção ao ano anterior.

O governo tem se mostrado relativamente sensível a esse pro- cesso e o Banco Central realizou o desmonte das medidas de aperto implementadas no final do ano passado. Do ponto de vista dos juros, tudo indica que o BC continuará a cortar a meta da Selic nas próximas reuniões, permanecendo em linha com a estratégia definida há alguns meses.

Sob essa perspectiva, o Banco Central continuará a flexibilizar a política monetária mesmo com a inflação acumulada em 12 meses ainda permanecer muito próxima ao teto. Dada a exis- tência de algum grau de indexação da economia brasileira, isso significa que, se o cenário do BC de fato estiver correto, a con- vergência da inflação para o centro da meta deverá ser relativa- mente lenta. Esse processo é legitimo no contexto do regime de metas para inflação e reflete uma opção da autoridade mo- netária em tentar evitar um aprofundamento da desaceleração

da atividade econômica no Brasil e uma eventual recessão em 2012.

De qualquer forma, essa se mostra uma estratégia cada vez mais adequada para a economia brasileira em um contexto de economia global cada vez mais debilitada. Sob essa lógica, a crise do euro aumenta consideravelmente os riscos de uma nova recessão na Europa. Ao mesmo tempo, a economia norte americana segue claudicando em sua recuperação. Em outras palavras, as perspectivas para a economia global não são nada favoráveis nesse momento e os reflexos da desacelera- ção da economia mundial já começam a ser sentidos na econo- mia brasileira.

É importante mencionar, por fim, que o Brasil, diferentemente dos EUA e de boa parte da Europa, ainda tem grande espaço de manobra de política econômica, tanto monetária quanto fis- cal, para lidar com a diminuição do ritmo da atividade econômi- ca e evitar recessão na economia brasileira. Esse é um ativo para nossa economia nesse momento reconhecido internacio- nalmente.

No documento Economia Brasileira em Artigos (páginas 40-44)

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