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NOVOS ENSAI OS NOVOS ATOS E OUTRAS CENAS

Ao iniciar este trabalho considerei a importância de analisar e avaliar a o fazer teatral no âmbito de um Programa de extensão da UFPA – o Multicampiartes: Criação e circulação das artes pelos campi da UFPA, a partir do desenvolvimento de uma prática educativa teatral.

O resultado deste estudo aponta que a Universidade Federal do Pará, mesmo enfrentando problemas de natureza geográfica própria do Estado e de estrutura logística (espaços adequados para as oficinas) , ao definir um projeto extensionista de natureza estética e cultural para as cidades nas quais tem campi, investiu no aprimoramento art ístico da população, ofereceu espaços de criação, experimentações estéticas, reconhecendo e valorizando o potencial dos artistas locais. Considero, assim, a ação multicampiartes como uma ação positiva da Universidade para a sociedade.

Destaco, como resultado da ação do Programa Multicampiartes, durante o período de 2004 até 2005: (a) os impactos na sociedade, verificando- se a contribuição do mesmo para que o conselho do campus da cidade de Soure, implantasse o curso de Educação Artística, habilitação em Música e de Turismo Regular, o amadurecimento e a organização política da classe artística das cidades, a formação pessoal e profissional, dos alunos, favorecendo o ingresso em cursos de graduação na Escola de Teatro e Dança da UFPA, em projetos das secretarias municipais de suas cidades e em escolas da cidade; (b) as implicações na metodologia de trabalho organizada pelos professores do programa, cuja característica principal foi a flexibilidade e a disponibilidade para o inesperado que permitia maior vinculação com a comunidade local e maior envolvimento na formação da proposta. Assim, a Universidade Federal do Pará, através desse evento, promoveu o desenvolvimento do conhecimento e preservou a cultura como compromisso social.

129 A ação multicampiartes provocou um impact o na sociedade porque teve uma grande demanda de inscritos nas oficinas o que revela a grande repercussão nas cidades, onde havia carência de investimentos na área cultural39

. Essa demanda se multiplicava, pois os familiares dos artistas e alunos das escolas públicas e o público em geral participavam do encerramento das oficinas. Segundo, a Universidade Federal do Pará marca, na região, uma política afirmativa, na área da extensão, que possibilita a definição de proj etos que valorizam a arte e a cultura local, no sentido de se estabelecer processos contínuos que contribuam com os saberes da sociedade onde ela está inserida. Por fim, essa política afirmativa da Universidade contribuiu com os saberes dos artistas de modo mais rápido e informal, aberto, burocraticamente flexível, de sistematização prát ica e funcional. Mesmo havendo os conflitos, estes foram dinamizadores de um processo novo que buscava um movimento entre os valores culturais e artísticos dos professores e o dos artistas do lugar, o qual provocava um alargamento no pressuposto de que todos somos produtores de saberes. Aquele que é do lugar (o artista) tem um conhecimento artístico individual que se retroalimenta com o conhecimento universal da arte. E, os professores aprendem a organizar práticas educativas onde estão presentes os conhecimentos artístico-estét ico, produzido durante o processo histórico humano, com a história pessoal e cultural dos artistas das cidades.

Assim, é importante enfatizar que essa proposta da Universidade Federal do Pará foi fundamental, por não ser conivente com a negação dos saberes artísticos locais, por integrar os artist as e fomentar sua organização em Associações. Entretanto, precisa de um investimento maior, com apoio das prefeituras e órgãos locais, pois seria ingenuidade supor que a Universidade, sozinha promova o acesso à arte e que somente ela tem este papel.

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Néder Charone, professor de artes plásticas, afirma que “ Em 1992,93, o Departamento de Artes implantou uma ação de interiorização de cursos de teatro, música e artes plásticas. Mas de lá para cá, não tivemos nenhuma outra atividade. O Multicampi Artes veio em muito boa hora” .

130 Portanto, é necessário que a Universidade dê continuidade a esse projeto artístico cultural de intervenção, discutindo novas ações envolvendo os artistas das cidades. Não se pode falar em transformação na relação sociedade e universidade se a Universidade chamar apenas para si a organização do Programa, centralizando-o e alicerçando as atividades em cursos disciplinares.

Ainda, uma segunda questão de reflexão, é necessário dialogar com a comunidade para além das oficinas. Possibilitar com que os artistas, em suas organizações (grupos, associações) coordenem novas ações nos municípios, instigando a pessoa do artista local a inaugurar a perspectiva de futuro formador em arte na sua própria comunidade. Em lugar de viabilizar apenas o ensinar nas oficinas, também é necessário incentivar os artistas a iniciar novos caminhos, de modo que eles próprios construam coloquem suas idéias em perspectivas no sistema de saber, de forma autônoma e partindo das suas condições. Caso contrário a Universidade desenvolve uma posição reflexiva sobre a experiência do Programa Multicampiartes sem produzir inteligibilidade, nem sentidos da classe artística local para uma nova ação, não invertendo o protagonismo da extensão para as comunidades. Essa minha convicção é fundamentada na concepção de que todo mundo pode ensinar e todo mundo pode aprender, tão bem explicitado pelo grande educador Paulo Freire no livro a Pedagogia do Oprimido e por Augusto Boal, o grande criador do Teatro do Oprimido.

Outro avanço na ação do Programa Multicampiartes, a metodologia de trabalho organizado pelos professores nas oficinas que se estruturou de forma flexível e aberta com a disponibilidade para o inesperado, sendo uma, entre muitas outras possíveis metodologias para se trabalhar com teatro, música, dança, artes plásticas e literatura, mas, essa teve vantagens. Essa metodologias permitiu com que nós, professores, interagíssemos com uma variedade de trabalhos art ísticos como o da artesã Nina Abreu e o do músico Cabinho, em Abaetetuba, o da Pajé Zeneida Lima que defende as tradições

131 culturais marajoaras, em Soure e a do Mestre Damasceno que desenvolve um trabalho cultural em Salvaterra - tem um grupo de boi-bumbá, contador de lendas, coordena um Pássaro Junino, e mesmo sendo cego escreve e dirige as peças, compõe, além de ser o melhor jogador de dominó do município- .Essa possibilidade de interação, criou condições para o estabelecimento de um diálogo com a comunidade local. Ela transpôs as fronteiras da Universidade para um universo social que também produz conhecimento, revelando solidariedades entre grandes art istas e pessoas comuns que vivem na região e que tinham vontade de participar do Programa Multicampiartes.

Assim, se estabelece uma união entre Universidade e Sociedade, transpondo as barreiras da Universidade como única detentora do saber e proporciona uma visão mais ampla de nossa própria experiência, mostrando- nos que a metodologia consegue colocar em foco artistas da arte popular.

Uma questão que este trabalho permitiu explorar e aprofundar foi uma metodologia que possibilitava restituir o direito à expressão do outro, criando uma prática educativa em que o aprendizado pode se dar de forma coletiva, preocupado em refletir sobre as ações de conflito humano, nas cidades, em situações cotidianas e que se encontrou, nesta metodologia, um espaço para se dialogar sobre elas.

Penso que o processo de estudo da minha dissertação, a partir do meu olhar sobre uma ação de extensão em artes da Universidade Federal do Pará, pode contribuir para novos ensaios, novos atos e outras cenas no estudo de metodologias que abrem caminhos éticos, estéticos e políticos. Para finalizar, assemelho minha metodologia com a postura do Mestre Dasmaceno, artista da cidade de Soure, que, apesar de não ver (no sentido biológico) consegue organizar uma metodologia onde o important e é dar voz ao art ista e que este parta de seus sentimentos e desej os. Ele, como eu, foi em busca de novas metodologias de trabalhar com a arte popular e assumiu uma responsabilidade com o outro.

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REFERÊNCI AS

BENJAMI N, Walter.

O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai