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Capítulo 2 – Farmácia hospitalar

VIII. Nutrição artificial

O processo de nutrição envolve ingestão, digestão, absorção e metabolização de macro (proteínas, glúcidos e lípidos) e micronutrientes (minerais, vitaminas e oligoelementos) em proporções que possibilitem o funcionamento e desenvolvimento adequado das estruturas celulares e subcelulares do organismo (16).

Os doentes devem receber sempre nutrição oral através de alimentos correntes. No entanto, em certos casos, sobretudo de doentes hospitalizados, é necessário recorrer a alternativas se o doente não quer, não pode, ou não consegue receber os nutrientes necessários através de dietas de alimentos correntes. Quando estes casos surgem, existem duas opções para a obtenção dos nutrientes necessários por nutrição artificial: nutrição por via entérica ou por via parentérica, dependendo cada opção da adequação do esquema nutritivo à situação clínica do doente. Deste modo, o doente deve ser monitorizado, clínica e laboratorialmente, de forma a ser possível a correção dos aportes de macro e micronutrientes (16).

Na FH do Hospital Sousa Martins não é efetuada a preparação da nutrição, sendo apenas efetuado o seu armazenamento e dispensa aos respetivos serviços. No período de estágio foi- me explicada a nutrição parentérica e entérica pela Dra. Célia Bidarra, pelo que, seguidamente vou descrever alguns dos conceitos abordados.

1. Nutrição entérica

Na nutrição entérica a administração da fórmula ou produto é feita por via oral, se for possível, ou diretamente no tubo digestivo através de sondas nasogástricas/entéricas, sendo este tipo de nutrição preferível em relação à nutrição parentérica pois é mais económica e por ser fisiológica, evitando complicações associadas como atrofia do intestino e infeções. (16) No entanto deve ter-se atenção à possibilidade de obstrução da sonda e à ocorrência de diarreia nos doentes com esta nutrição.

A nutrição entérica é constituída por macro e micronutrientes. Este tipo de nutrição pode ser administrado na forma de suplementos dietéticos orais (completos ou modulares) ou na forma de dietas entéricas, tais como dietas poliméricas, semi-elementares ou dietas modificadas específicas para determinadas doenças (hepática, renal) ou específicas para doenças metabólicas (16).

Em relação aos suplementos dietéticos orais foi-nos explicado que são incompletos sob o ponto de vista nutricional. Os suplementos dietéticos completos presentes no Hospital Sousa Martins são comercializados em diferentes sabores e são prescritos para doentes com função gastrointestinal conservada, podendo ser hipercalóricos, hiperproteicos ou ambos. Na FH também estavam disponíveis suplementos próprios para diabéticos, para doentes com úlceras de pressão e para crianças. Os suplementos dietéticos modulares não são passíveis de ser ingeridos como tal, pois são concentrados de macronutrientes servindo apenas para fortificar dietas de alimentos correntes (16). Podem encontrar-se na forma líquida ou pastosa, sendo esta última mais utilizada em doentes com problemas de deglutição como disfagia. Também está disponível na FH espessante alimentar que pode ser adicionado à sopa ou água em casos de doentes com problemas de deglutição.

Se o doente não conseguir deglutir, são administradas dietas entérica através de sondas. Estas dietas apresentam-se na sua maioria na forma líquida, sendo que algumas apresentam formulações pediátricas. A dieta entérica utilizada do Hospital Sousa Martins é neutra, sem adição de sabores. Algumas das dietas poliméricas existentes na FH são a dieta hiperproteica, isocalórica e hipercalória, sendo que a utilização destas dietas pressupõe a função intestinal normal ou quase normal. É importante referir que estas dietas não devem ser diluídas. As dietas modificadas, que correspondem a dietas às quais foram adicionados ou suprimidos nutrientes, por exemplo adicionada fibra ou retirada a sacarose, são mais adequadas para grupos específicos de doentes. Por fim, as dietas semi-elementares são utilizadas em doentes com má absorção grave, pois apresentam elevada proporção de macronutrientes na forma mais simples, como aminoácidos e triglicéridos de cadeia média em elevada proporção; a sua utilização é rara (16).

As dietas específicas de doenças como doença hepática ou renal são de benefício discutível ou não comprovado, exigindo terapêutica nutricional adequada com alimentos correntes. Por outro lado, as dietas para doenças metabólicas são indispensáveis, estando indicadas em

crianças, adolescentes ou adultos que não possam consumir determinados alimentos correntes; apresentam-se na forma de pó (16).

2. Nutrição parentérica

Em relação à nutrição parentérica existem formulações injetáveis de administração de nutrientes diretamente na circulação sanguínea do doente, podendo esta administração ser por via central (hiperosmolar) ou periférica (hipoosmolar – osmolaridade <850). Como referido anteriormente este tipo de nutrição pode originar infeções, alterações metabólicas ou atrofia intestinal, devendo ser administradas apenas se o tubo digestivo não for passível de utilização ou a absorção estiver reduzida a menos de 50% das suas capacidades (16).

Na FH do Hospital Sousa Martins têm-se bolsas tricompartimentais ou bicompartimentais produzidas pela indústria com diferentes composições em macro (glucose, aminoácidos, emulsões lipídicas) e micronutrientes (podem conter ou não eletrólitos). As primeiras são constituídas por glícidos, aminoácidos e lípidos e as segundas por apenas glícidos e aminoácidos, sendo que ambas podem ser aditivadas de micronutrientes, tais como eletrólitos, oligoelementos ou vitaminas, segundo regras rigorosas de estabilidade e assepsia. A adição de vitaminas tem de ter lugar sempre nas 24h prévias à sua administração. Estas bolsas são previamente preparadas pela indústria e, posteriormente, a mistura dos macronutrientes é feita por aplicação de força nos vários compartimentos. A preparação das bolsas e a sua aditivação, se necessário, não é efetuada na FH do Hospital Sousa Martins, sendo apenas efetuada pelos enfermeiros nos respetivos serviços.