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CAPÍTULO 2 Trabalho e Identidade Docente Conjuntura Histórica e limites da

2.3 A sustentação legal do processo de readaptação de professores:

2.3.1 O âmbito federal

O servidor público é o principal ator em se tratando de Administração pública e o termo utilizado para designá-lo, lato sensu, designa as pessoas físicas que, vinculadas profissionalmente ao Estado e aos órgãos da Administração Indireta, possuem vínculo empregatício e percebem remuneração paga pelos cofres públicos (BACHELI, 2008). Possuem também regimento de trabalho (que contêm direitos e obrigações) estabelecido em estatuto próprio, que conceitualmente, é ditado pelo artigo 37, II, da Constituição Federal (CF/1988), que consta:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; [..] (BRASIL, 1988).

O servidor público quando acometido de algum tipo de doença que o impeça de realizar as funções a ele estabelecidas quando assume o cargo público, ele é aposentado por invalidez ou é readaptado.

De maneira geral, o conceito de readaptação funcional no Estatuto do Funcionalismo Público, Lei nº 1040/92, refere-se à situação jurídica que envolve o trabalhador que não se encontra na capacidade laborativa plena para exercer as tarefas de seu cargo. Trata-se de uma pessoa que não está clinicamente apta para fazer o trabalho rotineiro, relacionado a sua função, mas também não é considerada, pela perícia médica, clinicamente inapta para receber uma licença prolongada ou se aposentar por invalidez.

Apesar de o termo poder ser empregado em vários contextos, no nosso caso significa que o professor que passa por uma junta médica na DDH e que é compelida a se readaptar, é porque não se encontra mais na condição de exercer atividades normais e cotidianas de docência.

Em termos gerais, a concessão desse tipo de "arranjo" laboral só acontece no serviço público e nas três esferas do poder, ou seja, nos âmbitos federal, estadual e municipal. Nunes, Brito e Athayde (2001) explicam que isso deve-se ao fato desta concessão tratar-se de um direito do servidor público estatutário, diferenciando-se da reabilitação dos demais trabalhadores (do setor privado) ligados ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

De qualquer maneira, a reinserção no trabalho, seja pela readaptação ou reabilitação, tem relevante representação para o trabalhador, já que seu afastamento por motivo de saúde ocasiona uma nova condição laboral, social e simbólica – a de readaptado – o que revela uma situação nova de vivenciar relações singulares sucedidas no próprio ambiente de trabalho, além de sentimentos de perda, frustração e fracasso.

Apesar disto, em se tratando de jurisprudência pátria e ao buscar informações na Constituição Federal de 1988, constatamos que não havia uma instituição legal da Readaptação funcional. O que de certo existia é que as Constituições brasileiras anteriores previam somente o "reaproveitamento" de funcionários em outras funções que não fossem as de origem dos cargos, como no caso dos magistrados:

Art. 6º Nas primeiras nomeações para a magistratura federal e para a dos Estados serão preferidos os Juízes de Direito e os Desembargadores de mais nota. Os que não forem admitidos na nova organização judiciária, e tiverem mais de trinta anos de exercício, serão aposentados com todos os seus vencimentos. Os que tiverem menos de trinta anos de exercício continuarão a

perceber seus ordenados, até que sejam aproveitados ou aposentados com ordenados correspondentes ao tempo de exercício. (Grifo meu) (BRASIL, 1891).

A Constituição de 1934 sinalizou, em seu no §2.º do artigo 158, a possibilidade do professor, no caso de extinção da cadeira, que o mesmo poderia ser aproveitado para outro cargo para o qual possuísse habilitação.

É vedada a dispensa do concurso de títulos e provas no provimento dos cargos do magistério oficial, bem como, em qualquer curso, a de provas escolares de habilitação, determinadas em lei ou regulamento.

[...]

§ 2º Aos professores nomeados por concurso para os institutos oficiais cabem as garantias de vitaliciedade e de inamovibilidade nos cargos, sem prejuízo do disposto no Título VII. Em casos de extinção da cadeira, será o professor aproveitado na regência de outra, em que se mostre habilitado (BRASIL, 1934).

Já no ano de 1946 funcionários que perderam cargos efetivos passaram por um processo chamado de "desacumulação ordenada", que determinou o reaproveitamento dos servidores com direito a remuneração. Assim sancionou a Constituição doutrinada pela Carta Magna de 1937:

Os funcionários que, conforme a legislação então vigente, acumulavam funções de magistério, técnicas ou científicas e que, pela desacumulação ordenada pela Carta de 10 de novembro de 1937 e Decreto-Lei nº 24 de 1º de dezembro do mesmo ano, perderam cargo efetivo, são nele considerados em disponibilidade remunerada até que sejam reaproveitados, sem direito aos vencimentos anteriores à data da promulgação deste Ato (BRASIL, 1937).

E por fim, o estabelecimento da readaptação ocorreu formalmente a partir da Lei nº 3.780, especificamente para os servidores federais em 12 de julho de 1960 e preconizava:

Dispõe sobre a Classificação de Cargos do Serviço Civil do Poder Executivo, estabelece os vencimentos correspondentes e dá outras providências.

Art. 43. Será readaptado o funcionário que venha exercendo, ininterruptamente, e por prazo superior a 2 (dois) anos, atribuições diversas das pertinentes à classe em que fôr enquadrado, ou haja exercido estas atribuições, até 21 de agôsto de 1959, por mais de 5

(cinco) anos ininterruptos.

Parágrafo único. Ao funcionário fica assegurado o direito de optar pela situação decorrente do enquadramento, dentro do prazo de 180 dias.

Art. 44. Caberá a readaptação quando ficar expressamente comprovado que:

I - o desvio de função adveio e subsiste por necessidade absoluta do serviço.

II - dura, pelo menos, há dois anos, sem interrupção;

III - a atividade foi ou está sendo exercida de modo permanente; IV - as atribuições do cargo ocupado são perfeitamente diversas, e não, apenas, comparáveis ou afins, variando somente de responsabilidade e de grau;

V - o funcionário possui as necessárias aptidões e habilitações para o desempenho regular do novo cargo em que deva ser classificado. Art. 45. A readaptação será feita por decreto do Presidente da República, mediante transformação do cargo do funcionário, após pronunciamento da Comissão de Classificação de Cargos.

Parágrafo único, A readaptação não acarretará redução de vencimentos.

Art. 46. A readaptação produzirá efeitos a contar da data da publicação do decreto no Diário Oficial e não interromperá a contagem de tempo para perfazer o triênio.

Art. 47. Após a implantação do novo sistema de classificação, respeitadas as exceções previstas nesta lei, será responsabilizado o Chefe de Serviço, sob pena de demissão, ou destituição da função, que conferir a qualquer servidor atribuição diversa da pertinente à classe a que pertence. Em caso algum poderá tal fato acarretar a reclassificação do funcionário ou sua readaptação; determinará apenas a correção da irregularidade, mediante retôrno do funcionário às atribuições do seu cargo.

Art. 48. É facultado aos servidores públicos reclamar à Comissão de Classificação de Cargos, no prazo de cento e vinte (120) dias, contra sua classificação ou enquadramento, feitos em contrário ao determinado nesta lei.

Parágrafo único. Das decisões da Comissão de Classificação de Cargos, caberá recurso para o Presidente da República, no prazo de 90 (noventa) dias, contados da publicação das conclusões no Diário Oficial (BRASIL, 1960).

A partir da promulgação da Lei n° 8.112, de 11 de dezembro de 1990, baseada no artigo 39 da CF/1988 é que se regulamentaram as relações jurídicas estabelecidas entre servidores públicos estatutários e a Administração Pública Federal e para normatizar o serviço público do Distrito Federal criou-se a Lei n° 840, de 23 de dezembro de 2011, em que se conceitua, no artigo 277, a readaptação funcional.

A Lei nº 8.112/1990 regulamentou as relações jurídicas entre os servidores públicos estatutários e a Administração Pública Federal. Esta Lei foi editada a partir do que determinou o art. 39 da Constituição Federal de 1998 sobre a instituição de

um regime jurídico único que definisse direitos e deveres dos servidores. A Lei nº 840 regimenta o serviço público do Distrito Federal e neste dispositivo legal o artigo 277 assim conceitua a Readaptação Funcional:

Ao servidor efetivo que sofrer redução da capacidade laboral, comprovada em inspeção médica, devem ser proporcionadas atividades compatíveis com a limitação sofrida, respeitada a habilitação exigida no concurso público.

Parágrafo único. O servidor readaptado não sofre prejuízo em sua remuneração ou subsídio (BRASIL, 2011).

Isso quer dizer que o servidor público que se readapta está comprovadamente impedido de exercer completamente as funções do cargo, mas apresenta capacidade laborativa para exercer outras atividades compatíveis ou outra função dentro do órgão em que esteja vinculado.

No caso dos professores e especialistas readaptados existe na Seção V da Lei Complementar n° 769, o artigo 22, que ao se tratar da aposentadoria, esclarece:

Art. 22. O professor que comprove, exclusivamente, tempo de efetivo exercício nas funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, quando da aposentadoria prevista no art. 20, terá os requisitos de idade e de tempo de contribuição reduzidos em cinco anos.

Parágrafo único. São consideradas funções de magistério as exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de atividades educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e médio, em seus diversos níveis e modalidades, incluídas as exercidas por professores e especialistas em educação readaptados, bem como as definidas na Lei Federal nº 11.301, de 10 de maio de 2006 (BRASIL, 2008).

A ênfase dada a esta lei é que ela é válida para os profissionais especificados que desempenhem funções inerentes ao magistério.