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CAPÍTULO III – INSUCESSO E ABANDONO ESCOLAR

7. O Abandono Escolar

O fenómeno do insucesso escolar atraiu mais cedo as atenções de investigadores, que o fenómeno de abandono escolar. No entanto, com o decorrer do tempo, os estudos que se foram realizando revelaram a urgência em encontrar os problemas que contribuem para a sua existência e atuar de forma a evitá-los. O abandono escolar, porque impede o desenvolvimento do País, constitui uma preocupação, uma emergência. Tem vindo a aumentar devido à massificação do ensino e alguns estudos realizados no ensino superior comprovam que se manifesta já neste nível de ensino e de forma também preocupante. Para Benavente (1994, p.30) “as elevadas taxas de abandono prejudicam a produtividade da Nação e representam um trágico desperdício de vidas jovens”. Na Europa, considera-se que “todo o atraso em que um país incorra no desenvolvimento dos conhecimentos dos jovens, futuros agentes de produção, coloca esse país numa situação muito delicada relativamente aos seus vizinhos e concorrentes” (Benavente, 1994, p.30).

7.2 Causas e Consequências do Abandono Escolar

Nos dias de hoje, a escola tem que dar resposta à diversidade de alunos que a frequentam, como consequência da exigência imposta pelo papel institucional que detém na sociedade atual. Cada aluno é um indivíduo por si só e a sua origem socioeconómica e cultural atua sobre a sua forma de ser e de estar. A organização escola deve estar apta para prevenir

__________________________________________________________________________________ O papel do Estado na Educação: Fatores de Sucesso e Insucesso escolar no Programa Integrado de Educação e Formação 39 situações de exclusão e de afastamento de todos os alunos, em especial aqueles que são provenientes de meios sociais mais problemáticos e que, na sua maioria, demonstram desinteresse escolar, comportamentos desadequados e agressividade dos quais tenderá a resultar em insucesso escolar.

Para Nóvoa (2005, p.17):

“Uma sociedade que se diz do conhecimento tem de criar redes e instituições que, para além da escola, se ocupem da formação, da cultura, da ciência, da arte, do desporto. Estou a pensar no que tenho designado de espaço público da educação, um espaço que integra a escola como um dos seus pólos principais, mas que é ocupado por uma diversidade de outras instâncias familiares e sociais.

Reinstituir a escola obriga-nos a imaginar novas modalidades de organização, formais e informais, num esforço lento e persistente de inovação (…)”.

O acesso à escola como um direito, a construção de escolas de segundo e terceiro ciclos mais perto das populações, incidindo nos concelhos (em sede), trouxe consigo a massificação e, como consequência, o insucesso escolar.

7.3 Programas de Combate ao Abandono Escolar

A escola, como organização provida de autonomia e capacidade de gestão, é o campo favorito para pôr em prática as ações de intervenção relacionadas com o combate à exclusão social e à promoção da igualdade de oportunidades. Embora já existam, em Portugal, algumas medidas educativas tendentes a combater a desistência da escola, estes últimos tempos têm sido abastados no que respeita à implementação de iniciativas de combate à exclusão escolar, muito por culpa da pressão da comunidade internacional, designadamente através da frequência de cursos de educação e formação.

__________________________________________________________________________________ O papel do Estado na Educação: Fatores de Sucesso e Insucesso escolar no Programa Integrado de Educação e Formação 40 7.3.1 Territórios Educativos de Intervenção Prioritária

Os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) foram criados pelo Despacho nº 147-B/ME/96 que nos diz que: “o processo educativo nas sociedades democráticas tem como finalidade o desenvolvimento e a formação de todos os cidadãos em condições de igualdade de oportunidades e no respeito pela diferença e autonomia de cada um.”

Tal linha de orientação encontra-se expressa nos princípios consagrados no Programa do Governo, importando, por isso, criar condições que permitam garantir da universalização a educação básica de qualidade e promover o sucesso educativo de todos os alunos e, muito particularmente, das crianças e dos jovens que hoje se encontram em situações de risco de exclusão social e escolar.”

Os TEIP visam a integração de escolas de três ciclos de escolaridade do ensino básico (incluindo o pré-escolar) numa determinada área geográfica social e economicamente desfavorecida, tendo como principal objetivo a promoção do sucesso escolar de todos os alunos que se encontram em situação de abandono escolar. As parcerias com a comunidade local são fundamentais para que esta medida tenha resultados concretos e, ao mesmo tempo, permitam criar o projeto educativo como um instrumento indispensável à organização e gestão da política educativa do território.

Inicialmente, a organização e implementação das TEIP vinha colidir com o modelo e estrutura organizacional dos agrupamentos verticais de escolas mas, em 2006, o Ministério da Educação relançou esta medida para o ano letivo de 2006-2007, adaptando os seus objetivos no âmbito do contexto socioeducativo. Foram selecionadas 32 escolas das áreas de Lisboa e Porto, onde se verificava uma maior exclusão social. Ficou a cargo de cada escola apresentar o seu projeto educativo, com as principais linhas de orientação pretendidas, à respetiva Direção Regional de Educação, que teve como função aprovar, acompanhar e avaliar o projeto.

7.3.2 Currículos Alternativos e Percursos Curriculares Alternativos

Os Currículos Alternativos surgiram em 1996, através do Despacho nº 22/SEEI/96, sendo mais uma medida educativa que emergiu em consequência da massificação da escola, tendo

__________________________________________________________________________________ O papel do Estado na Educação: Fatores de Sucesso e Insucesso escolar no Programa Integrado de Educação e Formação 41 em vista a possibilidade de criar mais oportunidades aos desfavorecidos. Eram destinados, essencialmente, aos alunos do ensino básico, com mais de 15 anos e que tivessem um historial de insucesso escolar repetido, problemas na integração da comunidade escolar, um alto risco de abandono e dificuldades condicionantes de aprendizagem. As turmas que se enquadram nestes Currículos não podem conter mais de 15 alunos e existe uma componente teórica e outra de formação vocacional de acordo com o interesse dos jovens.

Em 2006, o despacho que regulamenta os Currículos Alternativos é revogado pelo Despacho Normativo nº1/2006 do Ministério da Educação, e a medida apresenta-nos “ Percursos Curriculares Alternativos.

Verificamos algumas diferenças face à anterior legislação: o público-alvo são os alunos mais novos, tendo até quinze anos de idade, estando, também, em risco de exclusão escolar e tendo como objetivo a igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares. Pretende- se a prevenção numa fase mais precoce e não a correção dos problemas do abandono e insucesso escolares.

7.3.3 Iniciativas Novas Oportunidades

Seguindo numa ótica de estratégias de intervenção, surgiu em 2006 a iniciativa Novas Oportunidades direcionada a jovens e adultos que pretendiam aumentar o seu nível de escolarização e qualificação.

Numa primeira fase, esta iniciativa envolveu jovens que atingiram os quinze anos de idade e que ainda não tinham concluído o 9º ano (escolaridade obrigatória), possibilitando a frequência de Cursos de Educação e Formação (CEF), quem àqueles que não acabaram o ensino secundário ou não quiseram prosseguir os estudos. Pretende-se, com este eixo direcionado aos jovens, “(…) dar resposta aos baixos níveis de escolarização dos jovens através da diversificação das vias de educação e formação, pelo reforço do número de vagas de natureza profissionalizantes e da exigência em garantir melhores taxas de aproveitamento escolar (…) destaca-se o objetivo de inverter a tendência do aumento do número de jovens que não conclui o ensino secundário e, simultaneamente, a valorização das aprendizagens proporcionadas por este nível de ensino”. A estrutura destes cursos, que associa a teoria à

__________________________________________________________________________________ O papel do Estado na Educação: Fatores de Sucesso e Insucesso escolar no Programa Integrado de Educação e Formação 42 trabalho com uma qualificação adequada. Num outro eixo de intervenção, esta iniciativa tem como objetivo o aumento dos níveis de qualificação da população adulta, através de duas medidas: o Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) e a oferta de formação profissionalizante direcionada a adultos pouco escolarizados.

7.3.4 Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF)

O Programa Integrado de Educação e Formação, criado pelo Despacho Conjunto nº 882/99 do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho e da Solidariedade, tendo sido revisto e reformulado pelo Despacho Conjunto nº 948/2003 dos Ministérios da Educação e da Segurança Social e do Trabalho, publicado a 26 de setembro, Diário da República nº 223, II Série, tem como objetivo favorecer o cumprimento da escolaridade obrigatória a menores e a certificação escolar e profissional de menores a partir dos 15 anos, em situação de exploração de trabalho infantil e ainda beneficiar o cumprimento da escolaridade obrigatória associada a uma qualificação profissional a menores com idade igual ou superior a 16 anos que celebrem contratos de trabalho. A intervenção deste Programa tem vindo a ser alargada a jovens em abandono escolar ou em risco de abandono devido a diversas causas.

As turmas PIEF podem integrar jovens com o 1º ou o 2º Ciclo incompletos, sendo-lhes conferida no final, certificação escolar de 2º ciclo. Considerado uma medida de inclusão social, o Programa Integrado de Educação e Formação consubstancia-se através de Planos de Educação e Formação individualizados que integram uma componente de escolarização que favorece o cumprimento da escolaridade obrigatória, uma componente de formação para a ocupação e orientação vocacional, de acordo com os interesses e expectativas demonstradas durante a intervenção e uma componente de educação para a cidadania, com o desenvolvimento de atividades de interesse social, comunitário e de solidariedade, com o intuito de fomentar a integração social, com a mobilização de saberes relacionais e sociais. Para os jovens com idade igual ou superior a 16 anos, os Planos de Educação e Formação individualizados integram uma componente de escolarização, que favorece o cumprimento da escolaridade obrigatória e uma componente de formação em contexto de trabalho, de acordo com os interesses e expectativas evidenciadas por cada menor durante a intervenção.

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