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CAPÍTULO 3 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1. Os Dados em Análise

3.1.2. O Acesso aos Cuidados de Enfermagem

Procedemos à análise da informação documentada pelos enfermeiros no momento da alta, incidindo sobre os dados relacionados com as questões da acessibilidade aos cuidados de enfermagem, nomadamente:

 Tempo de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem nos Cuidados de Saúde Primários após a alta Hospitalar1 (em dias e em dias úteis);

 Existência ou não de agendamento prévio de contacto de enfermagem2;

Considerámos que para a análise do “Tempo de resposta no acesso aos

cuidados de enfermagem” após a alta Hospitalar, deveríamos ter em atenção que os

Centros de Saúde não funcionam ao fim-de-semana, e que por isso faria sentido verificar esses tempos em função de dois critérios distintos:

 Do número total de dias entre a alta e o momento de contacto;  Do número total de dias úteis entre a alta e o momento de contacto.

Procedemos à análise descritiva dos dados, recorrendo às medidas de tendência central (média, moda e mediana) e de dispersão (desvio-padrão, variância e valores mínimo e máximo), que se encontram expressas na tabela seguinte:

1 Tempo de resposta dos enfermeiros a necessidades expressas ou a necessidades não expressas do cidadão após a alta

hospitalar, calculada pela diferença de tempo entre o momento (data/hora) do contacto de enfermagem nos cuidados de saúde primários e o momento (data/hora) da alta hospitalar.

2 Considerámos agendamento prévio de contacto de enfermagem quando o enfermeiro de família programa esse contacto

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TEMPO DE RESPOSTA NO ACESSO AOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM

Média Mediana Moda Desvio- Padrão

Var Min Max

TEMPO (EM DIAS) 11,47 4 2 17,21 296,32 1 89 TEMPO (EM DIASÚTEIS) 7,81 2 2 12,17 148,20 0 62 Tabela 1 – Estatística descritiva do tempo de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem

Como podemos verificar através da tabela anterior, ter em consideração para efeitos do cálculo do tempo, a diferença entre os dois momentos em termos de dias úteis ou consecutivos (incluindo os dias de fim-de-semana e/ou feriados), interfere no tempo de resposta de acesso aos cuidados no Centro de Saúde, com uma alteração no valor médio de aproximadamente 4 dias e da passagem de uma mediana de 2 para 4 dias.

Por uma questão de análise dos dados passaremos a referenciar os dias de tempo de resposta de acesso, como dias úteis. Neste sentido, e face aos casos em análise, constata-se que a média do tempo de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem corresponde a 7,8 dias, com uma Moda e Mediana de 2 dias. O Desvio padrão corresponde a um valor de +12,17 dias, o que traduz a uma amplitude significativa entre 0 e 62 dias.

A análise do quadro 6 apresenta um agrupamento dos dados para a variável “Tempo de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem” em classes correspondentes a períodos de tempo: 0 a 2 dias úteis, 3 a 5 dias úteis, 6 a 10 dias úteis, 10 a 20 dias úteis e mais de 20 dias úteis.

Quadro 6 – Tempo de resposta no acesso a cuidados de enfermagem

TEMPO DE DEMORA NO ACESSO fi %

0 a 2 dias úteis 119 52,6

3 a 5 dias úteis 35 15,5

6 a 10 dias úteis 37 16,4

10 a 20 dias úteis 7 3,1

mais de 20 dias úteis 28 12,4

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Este quadro permite-nos constatar que a maioria (52,6%) dos doentes tem (por necessidades ou não expressas) contacto de enfermagem nos dois primeiros dias úteis após a alta Hospitalar, e que em 84,5% dos doentes (191) o tempo de resposta máximo no acesso aos cuidados é de 10 dias úteis.

Se tivermos em consideração este grupo de 191 casos, que correspondem a um período máximo de contacto de 10 dias úteis, constatámos que o tempo de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem passa a ter um valor expressivo bastante diferente: média de 3,49, moda e mediana de 2, Desvio padrão de + 4,1 dias e uma variância de 17,08.

Quanto à “Existência ou não de agendamento prévio de contacto de

enfermagem” após a alta Hospitalar, tendo em consideração os critérios anteriormente

definidos constatou-se que apenas em 70 casos (31,0 %) se verificou esse agendamento prévio.

A análise dos dados permite-nos também verificar que dos casos em análise apenas 23 (10,2 %) não tiveram contacto médico. E que, na globalidade dos casos com contacto médico (203), 121 (59,6%) tiveram agendamento prévio do contacto médico. Quando comparámos a existência ou não de agendamento prévio de contacto para ambas as situações (doentes com contacto de enfermagem e médico) no total de casos (203), verificámos:

 Em 84 casos (41,4 %) não tiveram agendamento prévio de enfermagem, mas tiveram agendamento médico;

 Em 51 casos (25,1 %) não tiveram qualquer tipo de agendamento prévio (nem médico, nem de enfermagem).

Quando analisamos o momento de realização dos contactos médico e de enfermagem verificámos:

 Em 42 casos (18,6 %) o contacto médico realizou-se antes do contacto de enfermagem;

 Em 56 casos (24,8 %) o contacto médico realizou-se no mesmo dia do contacto de enfermagem;

 Em 105 casos (46,5%) o contacto médico realizou-se depois do contacto de enfermagem.

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Em relação à acessibilidade aos cuidados de saúde após a alta Hospitalar, os dados permitem-nos concluir que face à globalidade dos casos (203), a disponibilização de cuidados de enfermagem aparece em primeiro lugar para 105 casos (46,5%). Se a este número acrescentarmos os contactos que ocorreram em simultâneo com o contacto médico, verificamos que estes doentes tiveram maioritariamente (71,3 %) o acesso aos cuidados de enfermagem em primeiro lugar.

Posteriormente, procedemos à análise das diferenças observadas entre o

tempo de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem e tipo de acção das intervenções de enfermagem planeadas no momento da alta Hospitalar.

Para se investigar a existência de diferenças entre duas amostras independentes verificamos previamente o respeito pelos pressupostos para aplicação dos testes, ou seja, se as observações dentro de cada grupo tinham distribuição normal; se as observações eram independentes entre si; se as variâncias de cada grupo eram iguais entre si, ou seja se havia homocedasticidade (igualdade de variâncias).

Depois de se estudar a normalidade das variáveis, nestes grupos, estudaram-se as diferenças entre as médias, recorrendo ao teste de Mann Whitney, dado que as variáveis não respeitavam este requisito de distribuição normal. Este teste permite verificar qual o efeito de uma variável independente, de natureza qualitativa, numa variável dependente ou de resposta, cuja natureza é quantitativa. Pretendeu-se saber, se as diferenças das médias observadas entre para as variáveis mencionadas eram ou não estatisticamente significativas. Caso a diferença fosse significativa, pretendia-se saber, ainda, qual a tendência da variação (ou seja, entre que grupos existia essa diferença).

Perante os resultados obtidos da aplicação do teste não paramétrico (Mann- Whitney) verifica-se que existe diferença no tempo de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem e o tipo de acção das intervenções de enfermagem planeadas no momento da alta Hospitalar. Verificamos a existência de diferenças significativas para os tipos de acção “executar” e “observar”. Os doentes com intervenções do tipo “executar” e “observar” são os que têm os tempos médios de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem mais baixos, 5,35 e 6,48 respectivamente (Tabela 2).

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Tipo de acção Fontes de

variação n Média do tempo resposta Desvio- padrão Média de ranks Valor de U Valor de Z Valor de p Intervenções de enfermagem

do tipo de acção “Observar” Não

Sim 38 188 14,34 6,48 16.907 10.551 107,48 143.28 2,440 -3,110 0,002* Intervenções de enfermagem

do tipo de acção “Executar” Não

Sim 64 162 14,02 5,35 15,911 9,309 99,75 148,30 2,956 5,082 0,000* * p < 0,01

Tabela 2 – Análise das diferenças das médias entre o tipo de acção (observar e executar) e os tempos de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem (teste de Mann Whitney)

Prosseguimos com a análise das diferenças observadas entre o tempo de

resposta no acesso aos cuidados de enfermagem e o Centro de Saúde apoio. Para

se analisar a existência de diferenças entre grupos com mais de duas categorias recorreu-se ao teste Kruskal-Wallis, dado que as variáveis não respeitavam este requisito de distribuição normal. Os resultados permitiram verificar a não existência de diferenças estatisticamente significativas entre os centros de saúde (p > 0,05).

A caracterização destes dados é ilustrada através da tabela 3 e do diagrama de caixa de bigodes (Gráfico 1), os quais permitem sumariar e explorar os dados e analisar a sua distribuição. Centro de Saúde n Média do tempo resposta Desvio-

padrão Mínimo Máximo

CS Senhora da Hora 48 5,4 8,597 0 51

CS Leça da Palmeira 69 7,7 12,383 0 52

CS Matosinhos 53 8,45 13,507 0 62

CS S. Mamede de Infesta 56 9,38 13,156 0 54

Tabela 3 – Média, desvio padrão, mínimo e máximo para o tempo de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem por Centro de Saúde

A tabela 3 apresenta os valores médios e respectivos desvios padrão dos valores dos tempos de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem após a alta e os valores, máximo e mínimo, destes tempos por Centro de Saúde onde se verificaram os

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contactos. O diagrama de caixa de bigodes (Gráfico 1) ilustra a distribuição dos valores obtidos.

Gráfico 1 – Diagramas de caixa de bigodes dos tempos de resposta no acesso aos cuidados de enfermagem por Centro de Saúde

3.2. O IMPACTE DA MUDANÇA DOS SIE NA ACESSIBILIDADE AOS

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