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Tabela 5 – reuniones presidenciales de Colombia y Brasil 1998 –

4. A POLITIZAÇÃO E DESPOLITIZAÇÃO DO TRATADO DE 2009 PELO BRASIL

4.3. O ACORDO MILITAR ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS DE

Logo após o veto sobre o tratado sobre a alocação as bases militares na Colômbia para os EUA, o Brasil assinou um acordo de cooperação militar com os Estados Unidos, após 33 anos desde o último tratado bilateral do tipo entre os dois países. Para Hakin (2011/2012, p. 127), a assinatura de atos militares após o rechaço sobre o acordo colombiano-americano foi uma mensagem clara aos Estados Unidos. O Brasil, ao tomar tal decisão, mostra que não é contra a presença americana na sua área de influência desde que feita em seus moldes. Assim, fica tacitamente estabelecido que a presença dos Estados Unidos na América do Sul deveria seguir os princípios colocados pelo Brasil e ter consonância com os valores que o Brasil buscava estabelecer para o continente. É uma ação clara de um país com peso político fundamental para a região em exigir ser ouvido quando os assuntos de segurança tocam a sua área de influência.

O acordo foi imediatamente submetido à UNASUL, conforme fora estipulado na reunião de Quito em 27 de Novembro de 2009 para todos os acordos com países de fora da América do Sul, recebendo elogios dos representantes pro tempore da organização79. Uma nota do Itamaraty80 esclareceu que o acordo buscava abrir vias de diálogo entre os dois países 79 G1, 20/04/2010, disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/04/brasil-entrega-a-unasul-texto-de-ac ordo-militar-com-eua.html. 80

Tamaraty, 07/04/2010, disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/2010/04/07/bra sil-eua-acordo-sobre-cooperacao-em-defesa/?searchterm=.

e o estabelecimento de medidas que tratassem as partes como iguais e que fosse benéfico para ambas as partes. O comunicado também deixou claro que o acordo tinha uma cláusula de garantias aos vizinhos e a inviolabilidade territorial dos mesmos. O tratado também é bem mais simples que o estabelecido entre EUA e Colômbia, observando assuntos menos delicados ao continente e à soberania das partes. No artigo referente à cooperação, os assuntos tema do acordo parecem muito mais um ato de boa vontade entre as partes que um marco de novo momento nas relações binacionais (MRE, 2010):

Artigo 2 – Cooperação

A cooperação entre as Partes pode incluir: Visitas recíprocas de delegações de alto nível a entidades civis e militares;

Conversações entre funcionários e reuniões técnicas;

Reuniões entre as instituições de Defesa equivalentes;

Intercâmbio de instrutores e pessoal de treinamento, assim como de estudantes de instituições militares;

Participação em cursos teóricos e práticos de treinamento, orientações, seminários, conferências, mesas-redondas e simpósios organizados em entidades militares e civis com interesse na Defesa, de comum acordo entre as Partes;

Visitas de navios militares; Eventos culturais e desportivos;

Facilitação de iniciativas comerciais relacionadas à área de Defesa; e

Implementação e desenvolvimento de programas e projetos de aplicação de tecnologia de defesa, considerando a participação de entidades militares e civis estratégicas de cada Parte.

O artigo 4º estipula que as partes serão responsáveis cada uma por sua parte nos gastos com a cooperação, salvo se algum outro acordo específico estipule o contrário. Por isso, qualquer atividade relativa ao acordo será condicionada à disponibilidade de recursos das partes. Uma das partes do tratado em que os valores dos Estados Unidos e as razões que levaram a assinar o acordo com o Brasil ficam no artigo 5º, alínea 1, em que se afirma:

Os Agentes Executivos das Partes deverão facilitar a implementação do presente Acordo. O Agente Executivo do Brasil será o Ministério da Defesa; o Agente Executivo dos Estados Unidos será o Departamento de Defesa.

Este artigo representa uma garantia onde os presidentes e os departamentos de defesa deverão agir para a rápida internalização do acordo, o que demonstra a insatisfação do governo americano com o veto do tratado pelo Conselho de Estado e do Tribunal Superior colombiano. É factível que, mesmo continuando a cooperação bilateral, a falta de cooperação dos ministérios e da presidência colombiana para a execução do acordo frente a todos os obstáculos políticos que o país teve desde o anúncio no tratado desagradou aos EUA, que buscavam a continuidade de suas ações militares na América do Sul. No artigo 7º, alínea 2, novamente a cooperação é tida como uma instância superior ao tratado, ao afirmar que “A denúncia deste Acordo não afetará os programas e atividades em

curso no âmbito do presente Acordo, salvo se acordado em contrário pelas Partes”.

Ambos os Estados precisavam deixar claro que suas posições e seu discurso para a América do Sul não tinha se alterado com a assinatura do tratado no continente, do lado do Brasil, e a renúncia a uma cooperação-chave para seus objetivos no continente, do lado americano. Assim, o acordo de 2010, apesar de demasiado vago, é um importante discurso das partes sobre a necessidade em serem notadas pelos demais Estados, em fazerem-se presente aos demais e em não serem aceitos que suas percepções sejam ignoradas. Mesmo que Brasil e Estados Unidos tenham diferentes percepções do valor estratégico e do valor da América do Sul, o momento de assinatura do tratado de 2010 é um símbolo do momento que ambos passavam. Apesar da visão brasileira contrária à presença americana na região, não há contradição entre o acordo e o discurso brasileiro sobre questões de segurança.

4.4. OBSERVAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

A maior influência brasileira na América do Sul fez possível que o continente caminhasse para entendimentos comuns regionais que resultaram na criação da UNASUL que, mais que facilitar a integração econômica, é um foro de debates entre os sul-americanos para debater problemas políticos de forma multilateral e, ao mesmo tempo, sem a intervenção de grandes potências mundiais. Ainda que as normas e os tipos de laços que os Estados criem sejam diferenciados, a criação da UNASUL é um passo importante no processo de integração do continente. Mesmo sendo um projeto brasileiro, a organização tem personalidade própria e conjuga diferentes posições, dando o mesmo espaço para todos os membros. Apesar de a questão das bases ter sido resolvida

internamente, a despolitização do tema na América do Sul ocorreu anteriormente, com as reuniões extraordinárias de chefes de Estado e de Ministros da Defesa, que se articularam para ampliar a troca de informações entre os países. A assinatura do tratado entre Brasil e EUA logo em seguida é um sutil recado que esses Estados não são rivais no continente e que querem ambos manter a sua presença na América do Sul. Esse tratado entre Brasil e Estados Unidos também mostra a força do Brasil no continente, pois não houve contestação organizada dos demais. A submissão do tratado brasileiro à aprovação da UNASUL também sinaliza que o país não permitirá ser excluído dos assuntos de segurança do continente, como a Colômbia fez ao anunciar o acordo apenas na sua fase final.