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O adolescente e a família no contexto da medida

No documento ÂNGELA MARIA ROSAS CARDOSO (páginas 36-41)

3.5 A FAMÍLIA E O ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE USO DE

3.5.4 O adolescente e a família no contexto da medida

O ato infracional é definido pelo ECA (1990) como “crime ou contravenção penal, no qual os menores de 18 anos, sujeitos às medidas previstas nesta lei, são penalmente

inimputáveis” (BRASIL, 2008, p. 34). E, dessa forma, podem ser aplicadas as medidas socioeducativas e/ou protetivas visando sua ressocialização (BRASIL, 2008).

As medidas socioeducativas são dispostas no Artigo 112:

Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I- advertência; II- obrigação de reparar o dano; III- prestação de serviços à comunidade; IV- liberdade assistida; V- inserção em regime de semiliberdade; VI- internação em estabelecimento educacional; VII- qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. Parágrafo 1º- A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração (BRASIL, 2008, p. 35-36)

As medidas socioeducativas são aplicadas de acordo com a natureza da infração, as condições sociofamiliares e os programas e serviços estaduais, municipais ou regionais existentes. Elas abrangem, ao mesmo tempo, aspectos coercitivos ou punitivos e educativos. Essas medidas são aplicadas visando garantir que o adolescente seja responsabilizado pelos atos por ele praticados, mas também devem oferecer oportunidades de desenvolvimento pessoal e social e, assim, garantir a reinserção social, criando redes de apoio e envolvendo a família e a comunidade nesse processo (VOLPI, 2011).

A medida socioeducativa incluída no contexto deste estudo constitui o regime de semiliberdade. Esse regime deve possibilitar a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial, e também exige a escolarização e a profissionalização. Portanto, as Unidades de Atendimento em Semiliberdade devem se organizar para garantir que os objetivos dos adolescentes sejam efetivados, ao considerar as suas particularidades e as de seus familiares, o espaço sociocomunitário em que a unidade está inserida e as potencialidades de desenvolvimento do atendimento e das articulações institucionais.

As equipes das Unidades de semiliberdade devem articular e executar ações nas áreas de educação, saúde, assistência social, esporte, cultura e lazer, profissionalização e trabalho, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente e reitera a Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012, que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo-SINASE (BRASIL, 2012a).

O SINASE constitui-se de uma política pública destinada à inclusão do adolescente em conflito com a lei, que se correlaciona e demanda iniciativas dos diferentes campos das políticas públicas e sociais (BRASIL, 2006).

O Distrito Federal, como unidade da Federação que acumula as competências de estado e de município, é responsável pela execução das medidas socioeducativas de prestação

de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação; todas, hoje, sob responsabilidade da Secretaria de Estado da Criança, mais especificamente da Subsecretaria do Sistema Socioeducativo - SUBSIS. A SUBSIS avalia que todos os adolescentes vinculados ao Sistema Socioeducativo devem ser atendidos de modo integral e que seja garantido o acesso aos direitos e serviços sociais, preservando a incompletude institucional desse Sistema e, ao mesmo tempo, buscando construir e efetivar o Sistema de Garantia de Direitos, no qual as políticas setoriais interagem de forma harmônica com a política socioeducativa (http://www.crianca.df.gov.br/subsis/gesemi-gerencia-de-semiliberdade.html, acesso em: 10/08/2013).

O Estatuto da Criança e do Adolescente assume em suas disposições legais o princípio da incompletude, isto é, a concepção de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais para a organização das políticas de atenção à infância e juventude. O princípio de incompletude institucional exige que os programas socioeducativos tenham o envolvimento e a participação de políticas setoriais (políticas de educação, saúde, trabalho, cultura, esporte, segurança pública e justiça) para que possam responder às necessidades do adolescente. Esse princípio pressupõe uma rica inter-relação entre instituições, conselhos de direitos e tutelares e redes informais ou sociais (BRASIL, 2006).

E nesse processo de implementação da proposta do atendimento ao adolescente no Sistema Socioeducativo, é reconhecida a responsabilidade solidária da família, da sociedade e do Estado na promoção e na defesa dos direitos de crianças e adolescentes:

Art. 4.º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude (BRASIL, 2008, p. 9-10).

Ressalta-se, nesse artigo, a co-responsabilidade de família, comunidade, sociedade em geral e poder público em assegurar, por meio de promoção e defesa, os direitos de crianças e adolescentes. Para cada um desses atores sociais existem atribuições distintas, porém, o trabalho de conscientização e responsabilização deve ser contínuo e recíproco, ou seja, família, comunidade, sociedade em geral e Estado não podem abdicar de interagir com os outros e de responsabilizar-se (BRASIL, 2006).

Na perspectiva de atenção à família, o regime de semiliberdade tem como objetivo resgatar e fortalecer os vínculos familiares e comunitários dos adolescentes, por meio da participação das famílias em atividades do programa e no momento em que os adolescentes passam os finais de semana em suas próprias casas junto a seus familiares e à sua comunidade. E, ainda, colaborar com a integração do adolescente e seus familiares por meio das redes comunitárias.

Os papéis atribuídos a esses atores sociais devem contribuir e agir de forma harmoniosa para que a sociedade e o Poder Público possam oferecer condições para que as famílias se organizem e sejam responsabilizadas pelo cuidado e acompanhamento de seus filhos adolescentes, evitando a negação de direitos, principalmente quando se encontram em situação de cumprimento de medida socioeducativa. Dessa forma, a família, a comunidade e a sociedade devem zelar para que o Estado cumpra com suas responsabilidades e, assim, fiscalizar e acompanhar o atendimento socioeducativo para que ele ofereça as condições de tratamento e seja uma prioridade (BRASIL, 2006).

Ao considerar o adolescente uma pessoa em situação peculiar de desenvolvimento, sujeito de direitos e responsabilidades, e como momento crucial do desenvolvimento humano, da constituição do sujeito em seu meio social e da construção de sua subjetividade, é essencial que sejam fornecidas condições sociais adequadas à consecução de todos os direitos a ele atribuídos.

No Brasil, em média, para cada 10 mil adolescentes entre 12 e 17 anos há 8,8 cumprindo medida de privação e restrição de liberdade. A maior proporção de internos em relação à população adolescente é no Distrito Federal, com 29,6 adolescentes para cada 10 mil (BRASIL, 2012b). Segundo o último Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei (BRASIL, 2011), o Distrito Federal vem apresentando aumento de adolescentes em cumprimento de medida, tanto com privação total quanto parcial de liberdade. De acordo com os dados apresentados nesse relatório, estão assim caracterizados o número de adolescentes em Unidades de Atendimento em Semiliberdade: 59 (2007), 59 (2008), 73 (2009) e 81 (2010). Representando, dentro da população total de adolescentes em unidades socioeducativas, 10,1%, 9,1 %, 12,1% e 10,7%, respectivamente.

Atualmente, existem três Unidades de Semiliberdade no Distrito Federal para atender os adolescentes sentenciados nessa medida, sendo elas: Unidade de Atendimento em Semiliberdade Taguatinga - UAST; Unidade de Atendimento em Semiliberdade do Gama - UASG; e Centro de Referência em Semiliberdade (Recanto das Emas) - CRESEM

(http://www.crianca.df.gov.br/subsis/gesemi-gerencia-de-semiliberdade.html), acesso em: 10/08/2013).

Porém, mesmo diante das propostas vigentes de apoio às famílias na superação ou diminuição das suas vulnerabilidades visando o desenvolvimento do adolescente, observa-se uma lacuna entre o que é estabelecido e a realidade vivenciada. A proposta de superação das dificuldades enfrentadas pelas famílias no sistema socioeducativo ainda se dá de forma muito fragmentada, uma vez que as famílias também não dispõem de redes de apoio para o enfrentamento das adversidades (GOMES; PEREIRA, 2005).

No documento ÂNGELA MARIA ROSAS CARDOSO (páginas 36-41)