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CAPÍTULO 1 – A ECONOMIA DO CEARÁ E A PRESENÇA DE

1.1 OS NEGOCIANTES PORTUGUESES, O COMÉRCIO DO

1.1.2 O Algodão e O Crescimento da Vila da Fortaleza no Período

Sendo Fortaleza, naquela altura, menor que as três principais vilas do interior, por que tão poucos homens doaram mais dinheiro? A nossa hipótese é que apesar de a capital não ser a maior vila, era a que naquele momento dava mais sinais de um incipiente enriquecimento, pois estava lucrando com a nova atividade econômica que havia se iniciado fazia pouco: o algodão! As vilas do Sertão tinham o seu tamanho e a sua importância ainda ligados à velha atividade das carnes e dos couros.

Assim, se Fortaleza por um lado era menor, por outro era nela que o capital estava circulando mais, em se tratando de Ceará, claro. Os negociantes que lá residiam, ao que parece, recém-estabelecidos, possuíam dinheiro disponível para o patrocínio dos correios, um serviço tão importante para a atividade mercantil, categorizado por Weber como “ serviço informativo.”109 Para Max Weber ,

A precondição indispensável para a formação, em tais termos, de um comércio atacadista, isto é, de um comércio atacadista de especulação, era a existência de uma organização suficiente de serviços informativos e uma organização suficiente do sistema de transportes.110

Os correios, principalmente naquela época, eram um serviço que, uma vez estabelecido, diminuiria os custos de transação, porque as informações de interesse circulariam com regularidade. O motivo de aqui reforçarmos a importância dos serviços

109 WEBER, Max. A Gênese do Capitalismo Moderno. Organização, apresentação e comentários: Jessé

de Souza. São Paulo. Ática, 2006. P 37

postais, nos inícios dos Oitocentos, igualmente se deve às análises de Weber. De acordo com este autor111, os jornais só passaram a exercer a divulgação de informações

especializadas sobre preços e ofertas de mercadorias no século XIX: naquele período, eles faziam isso na forma de listas públicas de preço.112 É necessário reforçar que o

objeto analisado por este autor foi o contexto central na economia ocidental, o que nos faz concluir que, no caso de uma zona periférica e pré-capitalista, como o Ceará oitocentista, esse fenômeno deu-se de maneira mais tardia, como de fato pensamos ter ocorrido. Por exemplo, o jornal O Comercial,113 o primeiro jornal voltado para os

interesses comerciais editado em Fortaleza, só começou a ser impresso em 1845, quase no meio do século. Em vista disso, os serviços postais eram tão cruciais para os atacadistas portugueses (e não portugueses) da praça de Fortaleza, em 1813, quanto para seus pares das praças da Europa do século XVIII.

É isto o que estamos tentando mostrar. Ou seja, os homens de negócio portugueses de Fortaleza, não estavam reunidos oficialmente debaixo de nenhuma sociedade, ainda, mas vemos que eles se uniam para encaminhar políticas que projetassem os seus negócios. Estas evidências sinalizam para a existência de um grupo organizado.

E é pelo volume de algodão exportado que, podemos ver o enorme crescimento dessa cultura na economia do Ceará, tendo como região de central destaque, Fortaleza, principal beneficiária desse movimento por ter sido o seu essencial

111 Ibid. P 37- 38

112 Ibid.

113 Sobre o jornal “O Commercial : Jornal dos Interesses Commerciaes, Agricolas e Industriaes” , nossa

principal fonte jornalística, era de impresso por Francisco Luis de Vasconcellos. Este jornal divulgava notícias de cunho governamental, bem como outras notícias e matérias nacionais e internacionais de cunho econômico. Para o período de 1854, ano de sua fundação até 1859 Não conseguimos encontrar editorial ou nome de editor. Já a partir do ano de 1860, o padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar era identificado como seu editor, e órgão passa a se identificar como , de interesses comerciais, agrícolas e político liberal conservador, e desse período em diante apresenta editoriais, em que as vezes troca farpas com o Jornal conservador Pedro II. Também nenhum estudo feito sobre este Jornal foi encontrado.

porto de escoamento. Girão nos ajuda a ver a evolução do desempenho fortalezense como exportador de algodão:

“Em 1810, pelo porto de Fortaleza embarcavam 169.072 kg: pelo do Aracati, 138.750 e pelo do Acaraú, 87.885, num total de 395.707 kg. Nos anos de 1811,1812,1813,1814 e 1815 o porto da capital exportava respectivamente, 172.071kg, 152.550kg, 312.675kg, 316 705 e 245.895,...Em 1816, 1817,1818,1819 remeteu ainda o mesmo porto, também respectivamente,358.875 kg, 181.440kg, 462.960 kg e 636.360kg...” 114

Pode-se perceber claramente, pelos números acima levantados, que a produção que saía de Fortaleza se avolumou no decorrer do período joanino. Além desses dados, temos igualmente à nossa disposição a lista de importações e exportações do porto de Fortaleza, de 1821115. Nela existe uma relação pequena, porém valiosa, de

produtos de exportação, sendo que os gêneros que ali constavam eram o couro, os seus derivados e o algodão.

Os couros e as solas totalizavam um valor de 24:140$000, já as 21229 arrobas de algodão exportadas, somavam 127:377$000116. Este desempenho é

comprovado por meio da comparação com o valor obtido pelo antigo principal produto cearense, os couros, uma vez que no início dos Oitocentos, o algodão assumiu a posição mais relevante na produção de riquezas no Ceará.

Devemos complementar essas informações sobre as trocas comerciais, ressaltando que se recebia muitos produtos da Inglaterra, sobretudo, o ferro, os manufaturados de ferro e a pólvora. Pela análise desta mesma lista, também chegamos à

114 GIRÃO,1986. Op. cit p 151

115 ARANHA, Manoel Guedes. Opinião de Guedes Aranha sobre o Comércio da praça de Lisboa com o

porto de Fortaleza-1821. Fortaleza. Revista do Instituto histórico do Ceará, 1894. T 20. p. 141142

outra conclusão interessante: é que neste ano a importação de tecidos de algodão foi maior de Portugal do que da Inglaterra117.

O valor em compras de tecidos de algodão ingleses foi de 3: 915$300, enquanto que a importação de gêneros similares de origem lusitana totalizou o valor de 8:825$980. Além destes, a lista de importações aponta que o que vinha de Lisboa era em maior quantidade e variedade do que os importados da Inglaterra, inclusive no que tange aos manufaturados, tais como sapatos, metais brutos, armas chapéus, pólvora móveis etc...118 Tal desempenho mostra uma ligação muito forte com a produção

artesanal e manufatureira portuguesa.

Segundo Fernando Piteira Santos,119 desde o fim do século XVIII a região

da cidade do Porto tinha larga e variada produção artesanal e manufatureira, sendo a reexportação de produtos ingleses apenas uma parte da realidade econômica de Portugal com relação ao Brasil. A bem da verdade, este autor afirma que muito do que se mandava para o Brasil era português mesmo e, para ele, o comércio entre Brasil e a cidade do Porto só sofreu muito nos anos de 1808 até 1814. Depois deste intervalo, até o fim do quartel, o Porto teria voltado a exportar significativamente para o Brasil.120

Deste período em diante, foi impossível não associar a economia do Ceará e de Fortaleza com a cotonicultura. Ao menos até a crise desta cultura, nos anos de1980121, o algodão foi importante na região. Na época da guerra civil estadunidense, é

bom lembrar que no Ceará e nas outras províncias, houve um segundo boom, de tamanho maior que o primeiro, que foi de 1780 a 1840. Foi quando este produto se tornou uma espécie de ouro branco e deixou marcas, como a constituição de uma elite

117 Ibid 118 Ibid.

119 SANTOS, Fernando Piteira. Geografia e Economia da Revolução de 1820. Publicações Europa-

América. Lisboa, 1961. p 52- 55

120 Ibid.

121 LIMA, Átila de Menezes. Geografia da acumulação capitalista: o caso do algodão em

do algodão, que ensejou a acumulação de capital e a consequente transformação de Fortaleza .

1.2 A ESTRUTURAÇÃO DE FORTALEZA COMO PARTE DO PROCESSO DE

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