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O alumínio e as conseqüências de seus efeitos no corpo humano

3 A ALBRAS COMO RESULTADO DECORRENTE DA EXPANSÃO DE

4.1 Elementos técnicos para a análise dos casos a serem relatados

4.1.4 O alumínio e as conseqüências de seus efeitos no corpo humano

De acordo com os estudos de Santos (2003), o alumínio pode ser absorvido, principalmente, pela via inalatória, embora haja outras possibilidades que ainda estão sendo determinadas pelos cientistas. A inalação do alumínio tem sido percebida significativamente em estudos ocupacionais. Diz Santos (2003, p. 18) que:

Após um dia de exposição (jornada de trabalho de oito horas) a concentração média de alumínio de 2,4mg/m³, os níveis urinários de três voluntários rapidamente aumentam (14-41 mg/L) em relação à determinação antes da exposição (25 trabalhadores expostos durante 0,3-21 anos a concentrações em torno de 1,5 mg/m³ de alumínio) forneceu medidas

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urinárias em torno de 82 mg/L comparadas com as medidas de 29mg/L determinadas após um período de 16-37 dias livres de exposição.

Com relação à presença de alumínio nos pulmões, Azevedo (2003, p. 18) verificou que:

Uma série de estudos em animais revelou a presença de alumínio nos pulmões após a inalação. Após a exposição aguda (quatro horas) de ratos a flocos de alumínio nas concentração de 10, 100, 200 0u 1000 mg/m³, foram observados aumentos nos percentuais de neutrófilos polimorfonucleares infiltrados nos pulmões para as concentrações acima de 10 mg/m³.

A exposição ocupacional ao alumínio é responsável pelo desenvolvimento de efeitos deletérios no sistema respiratório e no sistema nervoso central. Os efeitos no trato respiratório podem causar:

[...] uma espécie de fibrose pulmonar, causada principalmente pela exposição a pós muito finos contendo alumínio. Esta doença foi há muito tempo associada à silicose, e a presença de outras substâncias existentes no processo industrial, como óleos e solventes, contribuiu para a intensificação do quadro clínico, caracterizado por: tosse, restrição ventilatória medianaa, dispnéia e tuberculose. Estes efeitos, porém, não podem ser atribuídos somente ao alumínio. Além de gases e vapores, a presença de sílica e de outros metais no ambiente de trabalho deve ser considerada (Santos, 2003).

Ressalta-se que o processo de produção do alumínio na ALBRAS é um processo complexo que envolve outras substâncias. Como dito alhures envolve essencialmente alumina com subprodutos ou resíduos de substâncias que a produziram para se agregar a uma nova composição de produtos, tais como coque, piche, criolita e fluoreto de alumínio em altíssima temperatura. Pela presença de vapores e gases no ambiente torna-se possível imaginar contato com as substâncias envolvidas no processo de produção dos lingotes pela via inalatória. Um dos indícios de que há poeiras suspensas no ambiente da indústria é a obrigatoriedade do uso de máscaras para a proteção do sistema respiratório. Resta saber se as máscaras que foram distribuídas aos ex-funcionários eram eficientes o suficiente para protegê-los da toxidade do ambiente.

Com relação aos efeitos do alumínio no sistema nervoso central, Santos (2003, p. 23) destaca que:

Estudos conduzidos com soldadores, mineradores, enfim pessoas potencialmente expostas ao alumínio em seus ambientes de trabalho,

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revelaram sintomas neuropsiquiátricos, como redução da agilidade da resposta motora, redução na resposta cognitiva, redução nas reações complexas e alterações oculomotoras.

Há um relato de um caso de um homem exposto a pós de alumínio ultrafinos, durante 13,5 anos na região central de uma indústria de alumínio, que veio a falecer após ser acometido por uma por uma encefalopatia progressiva muito rapidamente. Exames posteriores revelaram que em seu cérebro existiam elevadas concentrações de alumínio.

As descrições dos estudos apresentados pelos peritos no assunto permitem identificar que o exercício das atividades ocupacionais que expõe os indivíduos ao contato com o alumínio e outras substâncias tóxicas, deve ser controlado vigorosamente, tanto pelas empresas quanto pelos órgãos estatais que forem responsáveis pela fiscalização do ambiente de trabalho.

A alteração do sistema nervoso central, como identificado pelos peritos em toxicologia, pode desencadear reações que comprometem a saúde do ser humano. Está comprovado que em áreas com grande concentração de substâncias tóxicas, tais como, indústrias que trabalham com alumínio, podem comprometer a saúde de trabalhadores que ficam intensamente expostos a determinadas quantidades de substâncias tóxicas no ambiente de trabalho.

Desta maneira, é preciso que haja medições constantes dos níveis de exposição das substâncias em exposição. Deve existir um monitoramento por instituições que estejam independentes das interferências e dos interesses das indústrias. Isto não significa que os dados de análise do ambiente realizados por técnicos contratados pela empresa devam ser desconsiderados. Todos os dados podem ser aproveitados para serem confrontados no caso de existirem eventuais dúvidas de controle nas áreas de produção e exposição de substâncias tóxicas aos trabalhadores.

Uma importante inspeção realizada na empresa ALBRAS resultou em um laudo técnico conclusivo que especifica em que condições a empresa desenvolve suas atividades de produção em ambiente interno e externo da fábrica. A fonte deste laudo teve o patrocínio do Ministério da Saúde com a Organização Pan-Americana de Saúde (OMS) que participa do projeto “Desenvolvimento de Tecnologias Assistenciais e Gerenciais para a Consolidação de Redes Regionalizadas e Hierarquizadas de Serviços”. As conclusões das análises foram produzidas pelo consultor Élio Lopes dos Santos em agosto de 2005, em documento com 35 páginas. Na análise técnica constam relevantes indícios de irregularidades que podem ter contribuído para as doenças desenvolvidas nos trabalhadores da ALBRAS. Transcreve-se a seguir apenas as conclusões do laudo:

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As principais fontes de emissão de poluentes (mistura de alumina com fluoreto e compostos orgânicos) da empresa ALBRAS são crônicas e caracterizadas por problemas de procedimentos e operações inadequadas e deficiência de manutenção, em especial dos próprios sistemas de ventilação local exaustora e equipamentos de controle de poluentes, o que ocorre primordialmente nos seguintes setores:

- Poço de recebimento de insumos básicos (piche e coque) embora provido de sistema de controle de poluentes (filtro de tecido), seu sistema de exaustão é ineficiente devido à falta de enclausuramento do poço de descarga, causando emissão de poluente (poeiras fugitivas) na atmosfera; - Forno de cozimento de coque – emissão de gases causada pelo refluxo das câmaras (deficiência de processo);

- Fornos de aquecimento – combustão incompleta da queima de óleo combustível para aquecimento dos fornos de cozimento de coque. (emissão de compostos orgânicos voláteis);

- Operações de manuseio, transferência e manutenção de eletrodos exaustos (emissão de material particulado, contaminados com fluoretos e orgânicos); - Operações de adição de insumos nas cubas e extração do alumínio por sucção para cadinhos (emissão de fumos de alumínio e fluoreto);

- Diversos pontos de vazamentos nas conexões dos sistemas de ventilação local exaustora e equipamento de controle de poluentes (emissão de alumina + fluoreto + orgânicos)

- Ausência de sistema de tratamento de efluentes líquidos específicos para remoção de fluoreto e compostos orgânicos. Ocorre arraste de poluentes adsorvidos à alumina para as galerias de águas pluviais, contaminando os corpos receptores hídricos da região. Há necessidade de uma caracterização de todos os parâmetros constante na Resolução CONAMA 357/05 e implantação de sistema de tratamento de efluentes líquidos.

- A empresa realiza diluição dos seus efluentes industriais, com águas pluviais e outras de melhor qualidade – infração ao artigo 30 da Resolução 357 (Ex-Resolução CONAMA 20/86) que explicita: “No controle das condições de lançamento, é vedada, para fins de diluição antes de seu lançamento, a mistura de efluentes com águas de melhor qualidade, tais como águas de abastecimento, do mar e de sistemas abertos de refrigeração sem circulação;

Convém frisar, que na empresa ALBRAS as principais fontes de poluição do ar são providas de sistema de ventilação local exaustora e equipamentos de controle de poluentes (filtros de tecido). Todavia, não existe uma vedação eficiente nas conexões dos sistemas de transporte e dos equipamentos de processo e controle de poluição que agravados por procedimentos de operação e manutenção desses sistemas espalham poluentes pela área interna da empresa. É regra geral a ressuspensão e o arraste pela ação dos ventos desses poluentes (poeiras fugitivas), atingindo o ambiente de trabalho e áreas externas da empresa, impondo riscos aos trabalhadores e à saúde da população.

Convém observar, que a indústria utiliza alumina nos seus sistemas de controle como elemento adsorvedor, incorporando aos particulados finos de alumina uma mistura de fluoreto e compostos orgânicos. A ação sinérgica

de poeiras contendo metais, partículas finas de alumínio em conjunto com outros agentes químicos aumenta o risco à saúde dos trabalhadores e da população exposta a esses poluentes [...] (Ministério da Saúde).

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Figura 09: Esquema que explica as causas dos problemas de adoecimento e acidentes de trabalho. Fonte: O

autor (2007).

A inspeção constatou uma série de irregularidades que são suficientes para perceber que existe uma provável hipótese: os trabalhadores da ALBRAS têm sido expostos às substâncias altamente tóxicas que comprometem a saúde física e mental dos funcionários. Sobre o uso da máscara, os trabalhadores foram perguntados sobre o uso e eficiência. Estes aspectos são tratados neste trabalho em capítulo referente à análise de dados.