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O ano de 1932 e as primeiras agremiações partidárias na Bahia

A CORRIDA PELA RECONSTITUCIONALIZAÇÃO DO BRASIL NA BAHIA

3.1 O ano de 1932 e as primeiras agremiações partidárias na Bahia

Ainda que iniciadas na capital da Bahia, as rearticulações em torno da política partidária do ano de 1932 não ficaram restritas à cidade de Salvador. Tão logo foram pensadas houve mobilização para que chegassem ao interior do Estado, sobretudo porque na Bahia, nesse período, o peso dos eleitores rurais e as forças políticas regionais ainda definiam os resultados eleitorais.

O início do ano de 1932 foi marcado pela discussão em torno da reconstitucionalização em todo o país. Do Rio de Janeiro, a previsão que se tinha era que o alistamento fosse iniciado ainda em fevereiro para que se realizassem eleições em julho e a Constituinte se reunisse no dia 3 de outubro, data do aniversário do rompimento do movimento revolucionário. E como o alistamento estava previsto para fevereiro, João Mangabeira alertava ao irmão exilado que a hora de retornar ao Brasil estava se aproximando: “não há mais razão para você continuar fora daqui. Antes bem era justo que não quisesse se submeter a aborrecimentos de comissões de sindicâncias e bobagens. Mas agora tudo isto acabou”.1

A previsão de um pleito eleitoral ocorrer na metade daquele ano impulsionou a corrida para a organização partidária na Bahia. Como apontamos no capítulo anterior, Seabra e Sodré chegaram no dia 23 de dezembro de 1931. Simões Filho também já se encontrava no estado, e assim como Seabra visava mobilizar os antigos correligionários para o futuro pleito. Em carta enviada a Otávio Mangabeira, em 6 de janeiro de 1932 ele assegurou:

A situação em que encontrei a Bahia é de uma terra conquistada. O espetáculo das tropas invasoras, que, de esporas e faca de ponta, acamparam na velha metrópole do civilismo – que irrisão! – ocupando, desde o Palácio da Aclamação, até as escolas, terá tido um efeito que ainda perdurará. Não tome como vaidade da minha parte, afirmar que, com a minha chegada o ambiente se modifica a olhos vistos. Faltava um animador. Tem sido o meu

1 Carta de João a Otávio Mangabeira, 12 de dezembro de 1931. In: Cartas do Exílio. op. cit. vol. 1. p. 251. Paulo

Pontes, juiz federal aposentado pelos revolucionários, também alertava a Otávio Mangabeira que se ele não viesse às pressas encontraria o terreno ocupado. Carta a Otávio Mangabeira. 15.01.1932. In: Cartas do Exílio. op. cit. vol. 1. p. 272. Simões Filho comprometia-se a “fazer a sua chegada”, prometendo levar às ruas mais de 20 mil pessoas, de Alagoinhas para baixo desceria muita gente e o comércio haveria de fechar. Essa exaltação de Simões Filho muito incomodava a Otávio Mangabeira que evitava afrontar o governo desta forma. Carta de Euvaldo Pinho para Otávio Mangabeira. In: Cartas do Exílio. op. cit. vol. 1. p. 273.

148 papel. O tenente, obsesso, entrou a fazer política alegando que eu preparo uma “formidável ofensiva” contra ele. Depois de bater em muitas portas abriram-se ao seu comando as do Pacheco, Requião e Franklin, pelas quais dividiu o Estado, a organização do seu partido. O Medeiros lhe tem a ele, simpatia, mas não terá ânimo de aparecer ostensivamente ao seu lado. Franklin, segundo carta que recebi de Lago e João, teve a adesão do Chico Rocha [político do sertão de São Francisco e Lavras Diamantinas], que se recusou, sob fútil pretexto, a assinar um pequeno manifesto que propus, a dirigir. Mas, ao estado, advertindo-o do nosso firme propósito de pelejar a sua libertação. Tenho feito o que posso, desenvolvendo toda a atividade de que ainda disponho.2

Simões Filho finalizou a carta informando que mantinha contatos frequentes com correligionários de Otávio Mangabeira em toda a Bahia, e todos mantinham-se “firmes e decididos para tudo”. Comenta ainda a situação de Seabra, que em suas palavras, teve penosa recepção quando da chegada do Rio de Janeiro.

Conforme assinalou Silvia Sarmento, a Bahia republicana tinha uma gama de rituais de caráter político-partidário e as cerimônias de embarque e desembarque era um dos mais importantes. Envolvia tanto as principais autoridades da terra e os representantes “das classes destacadas” quanto a população que se aglomerava no porto enfeitado, acompanhados de banda de música e carros que compunham o cortejo. Assim, essas recepções serviam como uma espécie de termômetro para testar a popularidade e o prestígio de figuras da política. Para a autora, “além de diferenciar quem estava dentro e quem estava fora dos grupos e partidos, os rituais em foco promoviam uma ordenação entre os que estavam por cima e os que estavam em baixo.3 As observações de Simões Filho a respeito de Seabra devem ser lidas sob esta perspectiva.

Conforme observou Cândido Campos, na Bahia, os políticos começaram a “desmandar-se, ao invés de formarem”4, esquecendo-se de que o inimigo maior que precisam

enfrentar não era os revolucionários oligarcas do Partido Democrático, a exemplo de Seabra. Estes, por sua vez também precisavam superar os conflitos que os separavam dos homens depostos em 1930, pois o mais importante naquele momento era a desconstrução da narrativa de que a Revolução precisava de um governo discricionário para completar a sua tarefa de renovação do país, bem como a desconstrução da ideia de que o povo ainda não estava

2 Carta de Simões Filho a Otávio Mangabeira, 6 de janeiro de 1932. In: Cartas do Exílio. op. cit. vol. 1. p. 262. 3 SARMENTO, Sivia Noronha. Op.cit. p.80-81.

4 Carta de Cândido Campos a Otávio Mangabeira, 10 de janeiro de 1932. In: Cartas do Exílio. op. cit. vol. 1. p.

149 preparado para escolher os seus governantes, tal como defendia os membros do Clube 3 de Outubro. Logo, o inimigo maior a ser combatido naquele momento era os militares e aqueles que os apoiavam. 5

Assim, no início de janeiro de 1932 Seabra convocou uma reunião do Partido Democrático. Moniz Sodré, Xavier Marques, Lauro Villas Boas, Gal. J. de Oliveira Freitas, Leopoldo do Amaral, Souza Carneiro, Freitas Guimarães, Álvaro Ramos, Cosme de Farias e o próprio Seabra compuseram a diretoria executiva do Partido. A urgência era justificada pela necessidade de fazer oposição aos ajuntamentos políticos que Juraci Magalhães já havia promovido.

Segundo Seabra, Juraci Magalhães vinha fazendo política facciosa há algum tempo. Contrariando as orientações recebidas de Getúlio Vargas, o interventor federal na Bahia mandava chamar influências locais, por intermédio dos chefes distritais, a fim de incumbir- lhes de “constituírem Partidos nos respectivos municípios, com evidente propósito de organizarem as máquinas eleitorais que lhes assegurassem falsas vitórias no pleito para a Assembleia Constituinte”. Juraci Magalhães foi acusado ainda de viajar com os “seus protegidos” e se hospedar, no interior, na casa de antigos inimigos. Sobre essa situação Seabra questionava: “É crivo natural que uma revolução vitoriosa aproveite os maiores inimigos de ontem e exclua acintosamente os seus companheiros de primeiro momento?”6

5 Dulce Chaves Pandolfi lembra que à medida que as propostas intervencionistas eram implementadas, crescia a

insatisfação dos setores oligarcas, especialmente dos dissidentes da Revolução. Para os militares, isso se constituía em grande problema, razão pela qual buscavam organizar-se enquanto grupo, a exemplo do Clube 3 de Outubro. “Para eles, a ameaça maior não vinha por parte dos “carcomidos”, isto é, dos derrotados em 1930, mas dos “políticos profissionais”, aqueles que, apesar de terem participado do movimento revolucionário, não tinham aderido ao “espírito da revolução”. PANDOLFI. Dulce Chaves. Anos de 1930: as incertezas do Regime. op.cit. p. 21.

6 ONDE A SINCERIDADE DOS REVOLUCIONÁRIOS? Entrevista com Seabra. Diário da Bahia. Salvador,

8.1.1932. BPEB. Às perguntas dessa natureza e ao Manifesto do PRD na Bahia, os partidários de Juraci Magalhães responderam: “(...) uma carta política não pode ser fruto do sectarismo partidário, e os piores inimigos, os mais indesejáveis, os que maiores cuidados devem inspirar aos cidadãos que lealmente, patrioticamente, desejam a reconstitucionalização do país, são, precisamente, aqueles que se aforçuram, que reclamam, que protestam, no momento, pelo aproveitamento exclusivo dos sectários da Aliança Liberal. (...) O sr. interventor é apontado no tal manifesto, pelos democratas da terra, como elemento que se opõe e tudo faz para retardar, na Bahia, o advento da Constituinte. Outra acusação, tão desvalosa quanto aquela, dá. a S. Exa., como estando a congregar em derredor do poder que ora exerce, sem ‘placet’ democrata, elementos decaídos. Um pouco de lógica... Se a Constituinte é obra nacional e não facciosa, que exige a colaboração de todos, sem exceção de nenhum elemento útil, claro que a facilita aquele que faculta o pronunciamento de todos, sem exceção de nenhuma, se define contrário ao regime de facções. Se o Sr. interventor não persegue, não busca esmagar os adversários de ontem, então, é que sua excelência não dificulta, antes enseja o pronunciamento e a cooperação indispensáveis à campanha da Constituinte. Do contrário, estaria a S. Exa. em franca oposição ao espírito liberal do Rio Grande do Sul, se chamasse para junto de si só o PRD; se com ele só governasse, se trancasse o uso da palavra e os movimentos aos políticos doutros matizes. Assim, seria ele um interventor

150 Juraci Magalhães conseguia, aos poucos, importantes aliados no interior do estado e essa era uma das maiores preocupações, tanto de Seabra quanto do grupo político de Otávio Mangabeira. A “Cruzada patriótica” que estava sendo organizada pelo Partido Democrático, em janeiro de 1932, tinha por objetivo combater esse avanço do interventor. Cada membro da Executiva do PD que pudesse chefiar uma caravana em propaganda da constitucionalização do país deveria apresentar os nomes de seus companheiros para essa empreitada ainda naquele mês.7 Mas, enquanto não estivesse organizada, o combate se dava pela imprensa, especialmente pelo Diário da Bahia, com denúncias sobre o governo, críticas ao planejamento orçamentário, notas sobre possíveis demissões, matérias sobre conflitos em diferentes municípios e um constante desgaste da imagem de Juraci Magalhães, através da seção “Vox Populli - Vox Dei”.8

A campanha feita através do Diário da Bahia surtiu efeito entre os jovens acadêmicos. No dia 19 de janeiro de 1932, a “mocidade baiana”, através do matutino dirigido por Sodré, informava que estaria organizando uma série de conferências na Faculdade de Direito. Coordenadas por Nelson Carneiro, então bacharelando em Direito e pelo professor Edgar Sanches, essas conferências marcaram o alinhamento dos acadêmicos da Bahia com os de São Paulo e Rio de Janeiro na marcha pela reconstitucionalização do Brasil.

Assim, ao tempo em que a lei eleitoral vinha sendo feita pelo ministro Maurício Cardoso e sua equipe na capital do país, na Bahia, os seabristas defendiam, reiteradamente, a reconstitucionalização do país, através do Diário da Bahia, de conferências e da distribuição de material impresso pelas ruas de Salvador. Afirmavam que a “mentalidade política militar era muito fraca, não possuímos [no Brasil] militares adaptáveis à experiência de governo”9,

faccioso, desabusado, desvirtuador dos princípios revolucionários (...). THESES E TEMAS: o paradoxo manifesto”. Diário de Notícias. 18.1.1932. PBEB.

7 Observa-se que há uma mudança fundamental nessa forma de organizar os partidos. Embora não fossem

partidos nacionais, as agremiações políticas partidárias que se organizavam no ano de 1932 e 1933 na Bahia buscavam, de forma distinta do período anterior a 1930, se estruturar nos municípios baianos, criar bases entre os coronéis. Conforme afirmou Wilson Lins, quando se convocou a Convenção Estadual para criação do PSD, no final de 1932, em quase todos os municípios já havia um diretório praticamente funcionando. Como veremos adiante, a Coligação Sertaneja que veio a ser formalmente criada em novembro, desde maio já estava em pleno funcionamento. Ao investigar a relação dos coronéis do Baixo Médio São Francisco com a interventoria de Juraci Magalhães, Maria Alba Machado Melo afirma que, embora os coronéis tenham enfraquecido militarmente, por conta do desarmamento promovido pela revolução, a criação de partidos promoveu a institucionalização do poder desses coronéis, incentivando a luta partidária e a disputa parlamentar, antes restrita a nomes da capital. MACHADO MELO. Maria Alba. História Política do Baixo Médio São Francisco: um estudo de caso de coronelismo. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Bahia. Programa de Pós- Graduação em História. Salvador, 1989.

8 Expressão em latim que significa Voz do Povo, Voz de Deus. 9 CONSTITUIÇÃO. Diário da Bahia. Salvador, 12.1.1932. BPEB.

151 era preciso defender o “regime federativo e as garantias de liberdade de pensamento, de associação, de reunião e, principalmente, liberdade de imprensa e da tribuna que devem estar fora da compressão do Exército”.10 Esses princípios expressavam a concepção liberal de uma

nação soberana, soberania esta corporificada nas elites pelo exercício do voto, segundo o discurso que se apreende da matéria do jornal.

Quanto às interventorias, o interesse era construir uma narrativa de instabilidade e depreciação do governo militar. Afirmavam que o interventor no estado era “um funcionário público federal, de confiança demissível” como outro qualquer, a exemplo do diretor dos Correios, dos telégrafos ou outra repartição pública, portanto, não havia o que temer. 11 Um discurso recorrente que visava impedir que Juraci Magalhães tivesse sucesso no governo da Bahia. Se os tenentes viam a Revolução como um fim, os seabristas viam-na como meio. Não era admissível, então, “a inexperiência e a ingenuidade de um tenente, que desconhecendo o estado baiano teria lançado sobre os municípios o flagelo da politicalha, entregando posições importantes a conhecidos reacionários.”12

Era preciso superar aquele estado de coisas, e os seabristas passaram então, a apelar não apenas para os estudantes, professores e demais representantes de classes na Bahia, mas, sobretudo, para o brasileiro, de um modo geral corporificado na narrativa liberal como o povo, conforme revela o fragmento textual que segue:

O governo ditatorial, a ditadura em geral, não é regime a que se sujeitem voluntária e gostosamente, homens de cultura jurídica, homens afeitos à liberdade dos movimentos, formados moralmente pelo modelo dos bons e dignos cidadãos de uma república. / Toleram-se, como mal menor, esses governos de força e de arbítrio no dia seguinte à revolução. / Isto se compreende, e fora daí, desses recursos extremos dos povos rebelados, contra os regimes ou os governos apodrecidos seria literalmente a anarquia. A sociedade, porém, qualquer que seja, mesmo o clã selvagem, não pode

10 Idem.

11 INTERVENTORIA E PROCESSO. Diário da Bahia. Salvador, 13.1.1932. BPEB.

12 A DESORGANIZAÇÃO MUNICIPAL. Diário da Bahia. Salvador, 16.1.1932. BPEB. Altamirano Requião

Rebate as sucessivas críticas de Seabra numa matéria publicada pelo Diário de Notícias, no dia 8 de janeiro de 1932. Segundo o texto, era equívoco que Juraci Magalhães tivesse entregado-lhe o 3º Distrito para que ele fizesse o que bem entendesse. Defendia que Juraci Magalhães não tinha nenhum interesse de restituir o Estado, ainda sob a bandeira da ditadura, ao “regime feudal de chefetes, chefinhos e chefotes!” O que havia, de sua parte, era o interesse de “cumprindo com o meu dever de brasileiro, cooperar com os homens do governo toda vez que se eles me afigurem dotados de boas intenções e de são patriotismo (...)”. EPISTOLA OPORTUNA. Altamirano Requião. Diário de Notícias. 8.1.1932. BPEB. No dia seguinte, Regis Pacheco também faz importantes observações sobre as acusações de Seabra e ainda no mês de janeiro o Diário da Bahia publicou duas matérias sobre o coronel Franklin Lins de Albuquerque, uma delas buscava provar que este havia sido revolucionário e que teria recebido dinheiro “da Legalidade” aconselhado pelos próceres da Revolução, apenas para que não se descobrisse a tempo o seu posicionamento. Diário de Notícias. Salvador, 20.1.1932. A relação ambígua entre Franklin de Albuquerque e os revolucionários foi levantada no primeiro capítulo dessa tese.

152 subsistir sem um governo, como não pode haver corpo sem cabeça. O fato, por excessivamente comezinho, dispensa explanações. / O brasileiro, na hora que passa, conhece mais uma vez essa contingência da vida política, a de obedecer voluntariamente a um concidadão, por ele escolhido ou aceito, elevado ao posto que, normalmente, se destina a seu magistrado supremo, ao presidente da República e ao Estado. / Mas o próprio povo que faz a revolução, e afronta as suas consequências imediatas tem o direito de ajuizar da conveniência ou oportunidade de por termo a esse governo de transição. Ele é indiscutivelmente o árbitro da cassação da ditadura e do restabelecimento da ordem legal. Ele fala pelo interesse geral da nação, não advoga os interesses de classes, de regiões, de facções. / Os brasileiros por todos os meios e modos de manifestar a sua vontade e o voto de sua consciência estão a clamar e reclamar pela volta, sem mais rodeios, ao regime constitucional (...).13

Nas edições seguintes, esse discurso é retomado frequentemente. Combatendo os membros do Clube 3 de Outubro, que defendiam a manutenção do governo discricionário, os seabristas lembram que:

(...) Mas, como o regime republicano quem QUER, quem PODE QUERER, quem DEVE QUERER, é o povo, O POVO, desrespeitando o QUERER do Sr Washington Luís, quis a revolução. / E com o querê-la, fê-la e venceu-o. Ora, não é justo que essa revolução fosse feita em pura perda, para deixar o povo sem vontade e sem-querer como antigamente acontecia nos ominosos tempos do regime que caiu. O povo quer a Constituinte e os que não na querem, é porque sentem a voz da consciência bradar-lhes que a aurora da constituição será o ocaso do seu poderio.14

Como se vê, o que está implícito nesses discursos é a disputa pelo protagonismo entre militares e políticos no processo revolucionário, questão já abordada. Os membros do Partido Democrático na Bahia buscavam destacar os seus papéis para o desfecho da Revolução de 1930 no estado e desconstruir uma ideia que se ia enraizando no país, acerca do tenentismo como principal protagonista do movimento.15 Ao combater a “tenentização do Brasil”, os

13 QUESTÃO DE SENSIBILIDADE. Diário da Bahia. Salvador, 26.1.1932. BPEB. 14 A VOZ DA CONSCIÊNCIA. Diário da Bahia. Salvador, 30.1.1932. BPEB.

15 Diferente de Boris Fausto e Franscisco Weffort que defendem que esse momento foi caracterizado pela

formação de um “Estado de Compromisso”, Anita Leocádia Prestes afirma que nos anos que se seguiram ao “golpe de 1930”, e diante da “crise de hegemonia” do período, o que se viu no Brasil foi o surgimento da ideia de se construir um estado forte. Daí, sairia reforçada a posição de setores “relativamente independentes das flutuações de opinião pública”. Para ela, “o exame dos principais aspectos da reorganização promovida nas Forças Armadas no pós-30 revelou que o Exército e a Marinha estiveram no centro do poder. Ver: PRESTES. Anita Leocádia. Tenentismo pós-30: continuidade ou ruptura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p.36,44. José Murilo de Carvalho afirma que a construção de uma nova ordem em bases puramente civis revelava-se impossível naquele período, mas os próprios militares estavam divididos quanto ao modo de conduzir o processo pós-30, razão pela qual o período abrigou dezenas de conspirações que, em tese, revelavam as diferentes do

153 liberais baianos, partidários de Seabra, queriam destacar o próprio papel como revolucionários e, com isso, reclamar os espaços que estavam sendo ocupados por outros que pouco ou nada haviam contribuído para a organização do movimento.

Para entender essa questão é preciso trazer ao debate algumas interpretações acerca do tema. No que tange à participação do povo, Boris Fausto interpreta que a classe operária não teria assumido um papel preponderante para o sucesso da Revolução de 1930. Conforme já sublinhamos, para ele, o proletariado nos anos 20, ainda que representado pelo Partido Comunista e pelo Bloco Operário Camponês era um ator político irrelevante, pois a conjuntura na qual estava inserido não lhe permitia agir.16

Para Fausto, a classe operária aparecia mais como problema do que como personagem. Ainda que os setores burgueses da década de 1920 tenham levado em conta o proletariado para algumas de suas definições, sobretudo, em função da crise a partir de 1929 era em torno do Partido Comunista e da nova opção revolucionária aberta por ele, que os trabalhadores se enfeixavam:

O proletariado não interveio na revolução como classe, tomada a