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2   A NOMINALIDADE DO ANONIMATO 15 

2.2   O anonimato como violência simbólica 48 

Historicamente, por tradição, os membros da nobreza recebem vários nomes por ocasião de seu nascimento. Exemplos disso são os nomes de D. Pedro I37, D. Pedro II38, Eduardo VIII39 do Reino Unido ou Juan Carlos I40 da Espanha. Já dos pobres a tradição é que lhes seja negado o reconhecimento de qualquer tipo de nome que lhe dê identidade: seja de um praça raso das Forças Armadas, seja de um trabalhador braçal negro vivendo sob o Apartheid sul-africano ou do indigente enterrado em uma vala comum de cemitério. Grande parte é distinguida, quando muito, apenas por números.

A violência simbólica, exercida de forma não percebida por meio do poder simbólico, ocorre quando indivíduos se posicionam não forçados por uma imposição econômica, psicológica, física ou social, mas sim simbólica, segundo critérios e padrões do discurso dominante. Pierre Bourdieu (1998, p. 7 e 8) diz que “o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só

36 ANDRADE, Arnon de. Conceitos de Arnon de Andrade. Disponível em

http://www.educ.ufrn.br/arnon/entrevista.pdf Acesso em: 02/12/2007

37 Nome de batismo de D. Pedro I: Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos

Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.

38 Nome de batismo de D. Pedro II: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador

Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga.

39

Nome de batismo de Eduardo VIII: Edward Albert Christian George Andrew Patrick David.

40 Nome de batismo de Juan Carlos I: Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y

pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. Assim, a violência simbólica, sem que se precise de qualquer tipo de agressão física ou coação moral, dissimuladamente forma relações de dominação entre as pessoas (no âmbito social ou pessoalmente). Para Bourdieu:

O efeito da dominação simbólica (seja ela de etnia, de gênero, de cultura, de língua, etc.) se exerce não pela lógica pura das consciências cognoscentes, mas através dos esquemas de percepção, de avaliação e de ação que são construtivos dos habitus e que fundamentam, aquém das decisões da consciência e dos controles da vontade, uma relação de conhecimento profundamente obscura a ela mesma [...]. A força simbólica é uma forma de poder que se exerce sobre os corpos, diretamente, e como que por magia, sem qualquer coação física; mas essa magia só atua com o apoio de predisposições colocadas, como molas propulsoras, na zona mais profunda dos corpos [...]. A violência simbólica não se processa senão através de um ato de conhecimento e de desconhecimento prático, ato este que se efetiva aquém da consciência e da vontade e que confere seu ‘poder hipnótico’ a todas as suas manifestações, injunções, sugestões, seduções, ameaças, censuras, ordens ou chamadas à ordem. (BOURDIEU apud ANDRADE, 2007, p. 27).41

Pode-se citar aqui, como exemplos de violência simbólica, o machismo e o racismo que tentam naturalizar comportamentos que são, na verdade, sociais. Quem é racialmente discriminado, em algum lugar do mundo, é ideologicamente considerado “invisível” ou até mesmo visto como inferior. Não raramente, as próprias vítimas desse preconceito incorporam a ideologia dominante e passam, elas mesmas, a se ver como inferiores de fato. É o caso dos “Dalits” (também chamados de “Intocáveis”) que, no sistema de castas da Índia, são considerados inferiores e, por essa razão, a eles são destinados os trabalhos considerados mais degradantes, como cuidar dos mortos, limpar ruas e lidar com carcaças de animais. Segundo a mitologia hindu, as quatro castas superiores vieram do deus Brahma, já os Dalits nasceram do pó que cobria os pés de Brahma. Eles são, portanto, não só seres anônimos, como também “não pessoas”. Eles são chamados de “Intocáveis” porque, segundo a mitologia hindu, não se pode tocá-los sem correr o risco de uma “contaminação cármica”.

41 ANDRADE, Lédio Rosa de. Violência: psicanálise, direito e cultura, Campinas:

Até sua sombra pode poluir. Antigamente, era-lhes proibido entrar na cidade de Puna antes das nove horas da manhã e depois das três horas da tarde, pois as sombras de seus corpos, muito longas sob o sol rasante, podiam cair sobre um membro de uma casta superior e sujá-lo. Em Maharashtra, um intocável não podia cuspir na rua porque arriscava poluir aquele que pisasse em seu cuspe, e devia carregar um pote de terra preso ao pescoço para escarrar dentro dele. Se um brâmane cruzasse seu caminho, devia se deitar no chão, para não criar sombra. No Punjab, quando um gari saía à rua, supostamente deveria levar uma vassoura sob o braço para indicar sua casta, e deveria gritar para advertir a população de sua presença poluente. Na costa de Malabar, os que extraíam o sumo das palmeiras eram tão indignos que não podiam usar nem guarda-chuva, nem sapatos, nem joias de outro. (BOULET, 2009, 7 e 8).

O sistema de castas hindu é um dos melhores exemplos sobre como a religião pode ser usada como forma de dominação ideológica, em que uma minoria usa um misticismo mítico como justificativa a fim de reservar, para si mesma, todos os privilégios. Apesar de inúmeras políticas de inclusão das castas inferiores, a verdade é que esse sistema que exclui parcelas inteiras da população indiana se perpetua porque, desde tempos imemoriais, é útil como forma de exploração de mão de obra barata; algo que, de forma menos chocante, é encontrado em qualquer país do Ocidente. Basta observar a situação dos portugueses ou dos árabes na França; dos turcos na Alemanha; dos mexicanos nos Estados Unidos; dos alentejanos em Portugal; dos bolivianos na Argentina; dos argentinos na Espanha; dos cartagineses na Roma Antiga; das mulheres e crianças nas fábricas inglesas durante a Revolução Industrial; dos escravos africanos na America Latina; dos próprios hindus (mesmo os de castas mais elevadas) no Reino Unido; dos residentes nos bairros natalenses de Guarapes e Mãe Luíza nos seus trabalhos em Candelária ou Capim Macio; das empregadas domésticas vindas do interior em Natal – RN e dos nordestinos no Centro-Sul do Brasil, cuja posição de rodapé na divisão social do trabalho está paulatinamente (outra vez: graças a políticas de inclusão social) sendo perdida para os bolivianos; pois, sem mão de obra barata, não há sistema capitalista.

O curioso é que, dentro da própria casta dos Dalit, há inúmeras subcastas e, dentre elas, existe a mais baixa de todas, a dos “Bhangi” que são

os limpadores de fossas. Assim, ideologicamente é imputado, desde o nascimento de um Dalit varredor de rua (“Chura”), que ele é superior a um trabalhador cuja atividade é limpar fossas. Em outras palavras, o racismo é uma construção de uma classe social superior imposta de forma ideológica a uma classe inferior, como forma de controlá-la e explorá-la com a conivência resignada do próprio explorado. O que não é, obviamente, um pensamento exclusivo da religião hindu, visto que como doutrina, a bíblia cristã “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. (Pv.22.6). Já a, não sem razão, chamada “Doutrina Espírita” interpreta a desigualdade social do ponto de vista da meritocracia e da disposição para o trabalho e quem, mesmo assim, não conseguir melhorar de vida, paciência, conforme-se:

Há ricos e pobres porque Deus, sendo justo, cada um deve trabalhar a seu turno; a pobreza é para uns a prova da paciência e da resignação; a riqueza é para outros a prova da caridade e da abnegação. (KARDEC, 1993, p. 211).

Em programas de TV e em publicações impressas, são comuns expressões como “saiba o que os famosos e os anônimos estão vestindo neste verão”, bem como é raro encontrar alguém que não conheça a expressão “João Ninguém”, empregada, pejorativamente, para designar aqueles que não são, por alguma circunstância, famosos. Gestores públicos costumam se referir a seus co-cidadãos das classes mais baixas como “pessoas do povo”. A ideia de “povo” que as classes mais privilegiadas têm é algo muito abstrato e algo a que elas pertencem apenas em teoria ou durante o frisson midiático e apelativo que precede cada Copa do Mundo de Futebol. Assim, é bem fácil perceber o caráter de desprestígio daquilo que, embora não esteja no âmago de seu significado, muitos acabam por tornar, de forma implícita, uma violência simbólica: o anonimato. Isto é, aqueles que são desconhecidos como a maioria das pessoas, são qualificados (muitas vezes por seus próprios pares) como um “ninguém”. O filosofo Leandro Konder conta que:

Quando se defrontam com uma situação desfavorável, os pobres não desistem, mas mobilizam toda a sua experiência milenar, toda a sua reserva de paciência, para fazer o que

pode ser feito, dentro dos dolorosos limites que lhes são impostos. O mesmo poeta Brecht, há pouco citado, tem uma historinha que vale a pena relembrarmos. O protagonista é um certo Sr. Keuner, nome que em alemão soa parecido com Keiner, que significa "Ninguém". Estava o Sr. Ninguém em sua modesta casa quando ela foi invadida por um gigante, que se instalou numa poltrona e o interpelou com uma voz que parecia uma trovoada: - Queres servir-me? Em silêncio, o Sr. Ninguém foi para a cozinha e passou a preparar a comida para o invasor. Cozinhou peixe, fritou carne, batatas, preparou doces variados, providenciou bebidas, durante dias, semanas, meses. Passaram-se mesmo alguns anos. Um dia, o gigante - gordíssimo! - teve uma embolia e morreu. O Sr. Ninguém removeu o corpo do gigante, enrolou num tapete vermelho, arrastou-o para o quintal, jogou-o no lixo. Então, respondeu: - Não! Essa historinha de Brecht pode nos ajudar a compreender mais profundamente a diferença dos tempos. O tempo do gigante é o da opressão, da exigência das vantagens imediatas. Mas também é o do efêmero. O tempo do Sr. Ninguém é o do lento mas persistente processo do amadurecimento da libertação. (KONDER, 2002, p. 8).

Em 1994, um pesquisador na área de Psicologia Social acompanhou por 10 anos o cotidiano de um grupo de garis que trabalham na USP – Universidade de São Paulo e como um deles não só executou as tarefas relativas à profissão (varrer calçadas, ruas, esvaziar lixeiras), como também ouviu relatos de seus colegas e sentiu na pele a humilhação social sofrida por eles. Sua experiência foi transformada em um livro chamado “Homens Invisíveis – Relatos de uma Humilhação Social” (2004). Em seu relato, ele descreve e analisa a brutalidade do dia-a-dia imposta a esses trabalhadores braçais e sobre como ele, tal e qual os outros garis sofreu “invisibilidade pública”:

Dias depois, varrendo com meus companheiros, três professores do Instituto de Psicologia passaram ao meu lado. O lugar era outra vez o Restaurante dos Professores. Ficamos frente a frente. Um deles, naquele ano, lecionava aulas para a nossa turma: chamava-me pelo nome e cumprimentava-me nos corredores do bloco de aulas. O outro, durante uma aula, meses antes, havia valorizado o modo como me ocorreu traduzir uma lição sua: “Posso usar o que você disse, Fernando, numa conferência que estou para realizar”? O último costumava fazer caminhadas pelo bairro de Pinheiros. Dois anos depois de eu ter cursado sua disciplina, em um desses passeios, ele fez questão de me acenar. Estávamos em calçadas opostas. Pois bem, naquele dia no restaurante dos professores ficamos frente a frente, eu e os três. Nenhum

deles fez qualquer saudação. Não me viram. Um deles – aquele que me reconhecera do outro lado de uma larga avenida – precisou desviar-se para não nos esbarrarmos. Sem dar-se conta de que era eu. (COSTA, 2004, p. 118 e 119). Nesses termos, se pode perceber como essa “invisibilidade pública” é, segundo o entendimento adotado neste trabalho uma violência simbólica que de forma não percebida constitui e dissimula relações de dominação entre as pessoas. Além disso, a lógica perversa do sistema capitalista imputa a essas pessoas um discurso ideológico que os responsabiliza por sua situação social, como se a culpa fosse deles por falta de mérito e, sendo assim, nega-lhes o direito humano à interlocução:

Estávamos sentados no meio-fio: era hora do café. Duas mulheres, vestidas com roupas finas, vinham pela outra calçada. (...). Josias, sentado ao meu lado, compenetrado, de repente interrompeu o que fazia. Levantou-se rapidamente e foi retirar um dos carrinhos de lixo que ocupava parte do passeio. Em frente às duas, fez um grande esforço com o corpo e desequilibrou-se. Quase caiu no chão. Depois deteve- se: ficou parado, olhando-as. Com pose de cavalheiro, segurando o boné nas mãos, esperava um cumprimento. Passaram ao seu lado como se ele não estivesse ali. Nem sequer um movimento com a cabeça foi feito. Era como se o gari estivesse invisível. Josias ficou sem jeito, perdeu a graça, Demorou um pouco a esboçar qualquer reação: ficou estático, olhando para baixo. Depois, coçou a cabeça como se refletisse sobre um assunto complicado. (idem, p. 117).

Sendo assim, nesse caso, o anonimato se apresenta na forma de reificação de pessoas, transformando-as em “coisas” e contribuindo para a perda de sua autonomia e autoconsciência social:

Para quem o uso do uniforme é obrigatório existe um lugar social específico. Naqueles trajes, os varredores, todos eles, aparecem como se tivessem uma só identidade: “Nem dá para saber quem é um, quem é outro”. Para “os outros”, não aparecem como pessoas. Aparece o uniforme. Desaparecem os homens”. (idem, p. 123).

O processo de reificação da subjetividade humana chega às ultimas consequências, sobretudo nos países subdesenvolvidos, onde esse processo histórico se coaduna com uma brutal desigualdade social:

Quando vem o pessoal de fora, o pessoal do exterior, os garis têm de fazer o serviço com mais rapidez, terminar logo, limpar o quanto antes os locais de passagem. Depois os encarregados aparecem, mais apressados, afoitos, ansiosos para “limpar” o lugar também de varredores. Em nossas casas, onde ficam os produtos de limpeza? Quando esperamos visita e a faxina precisa ser feita, recolhemos vassouras, o sabão, os panos de chão. Os garis, depois das faxinas públicas, são recolhidos como flanela suja, aquela que não deve ficar na sala de estar quando as visitas chegam. (idem, p. 126).

O escritor Eduardo Galeano (1940 - ) descreve a perversidade com a qual aquilo que ele chama de “Os Nadas”42 (“Los nadies”) são tratados como se não fossem:

As pulgas sonham em comprar um cachorro e sonham "os nada" com escapar da pobreza, que algum mágico dia chova de pronto a boa sorte, que chova a cântaros a boa sorte; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, e nem amanhã, nem nunca, nem um chuvisco cai do céu da boa sorte, por muito que “os nada” chamem-na e ainda que lhes coce a mão esquerda, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano trocando a vassoura.

“Os nadas”: os filhos de nada, os donos de nada.

“Os nada”: os nenhuns, os menosprezados, correndo a lebre, morrendo a vida, fodidos e refodidos:

Que não são ainda que sejam.

Que não falam idiomas, mas sim dialetos.

Que não professam religiões, mas sim superstições. Que não fazem arte, mas sim artesanato.

Que não praticam cultura, mas folklore.

Que não são seres humanos, mas recursos humanos. Que não têm cara, nada além de braços

Que não têm nome, mas número

Que não figuram na historia universal, mas na Crônica vermelha da imprensa local.

“Os nadas”, que custam menos que a bala que os mata!

Em um filme, por razões obviamente técnicas, o roteiro é centrado em um número não muito grande de personagens, representados por atores principais. O resto do elenco que aparece em um filme é mostrado de forma secundária. São os atores coadjuvantes. Mas há alguns atores que são ainda mais secundários. São os chamados “figurantes” ou “extras”, cuja função

42 GALEANO, Eduardo. Os Nadas (tradução: Tereza da Praia). Disponível em:

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/a-companhia-dos-poetas/eduardo- galeano,228,2584.html. Acesso em: 24/02/2010

exclusiva é compor a paisagem: dar uma aparência de normalidade às cenas que transcorrem no filme e fazem parte da busca dos produtores por reproduzirem um cenário de um mundo real. Caso contrário, seria muito estranho no filme se encontrar ruas desertas, lojas sem vendedores e compradores ou um trânsito que deveria ser de uma grande cidade praticamente sem movimento. Mas os figurantes não têm identidade própria, não têm nome e não residem em um local determinado; quando eles passam em uma rua ou entram por uma porta, não se sabe se eles residem ali ou se estão apenas de passagem. Eles só são corpos com rostos e, muitas vezes, nem isso: são apenas vultos. Já os atores principais são escolhidos de maneira que tenham todas as qualidades físicas e de caráter que amamos ou odiamos. São os ditos protagonistas ou antagonistas. É ao redor deles e em função deles e do que acontece com eles que o enredo se desenvolve. As pessoas facilmente se identificam com os protagonistas ou antagonistas, mas é raro alguém se identificar com um figurante, já que, em um filme, ele é menos gente, nem se sabe, ao certo, quais são suas características. Provavelmente, como uma ironia, Alfred Hitchcock (1899 - 1980) que, como diretor, é um membro importante em qualquer equipe de produção cinematográfica, costumava aparecer, em seus filmes, como um figurante. Tudo isso exerce um papel profundamente ideológico em nossa sociedade, visto que, em última instância, cada um tende a ver o outro como “figurante”. É fácil se constatar isso, quando se observa o comportamento egocêntrico das pessoas nas redes sociais on-line.

Uma pergunta pertinente seria: até que ponto as necessidades técnicas do cinema reificam o ser humano e contribuem para uma visão ideológica que defende a ideia de que na vida existem os “personagens principais” e os “personagens secundários”? Em última análise: Isso não representa uma contribuição para o conceito fascista de triunfalismo tão predominante na sociedade atual? Não é o propósito deste trabalho aprofundar esse assunto, mas tal análise é importante para a compreensão da violência do anonimato na contemporaneidade.

O campo da publicidade é fértil em estratégias que a todo o momento reificam características que são exclusivamente humanas, bem como se

mostram verdadeiras “máquinas” de distorcer conceitos. O meio onde impera a concorrência desenfreada em que vivem os incita a escrever para jovens estudantes da área textos através dos quais se podem perceber a visão cruel que as classes dominantes têm das classes mais pobres:

Assim como seres humanos, existem marcas que morrem como se fossem anônimos transeuntes, sem deixar traços significantes de sua passagem pela vida. E existem outros que trazem alguma contribuição é, por isso, permanecem em nossa mente ou memória. Não conheci Da Vinci ou Einstein, mas sei o que significaram. Ambos são símbolos, portanto, marcas. (CHAMMA; PASTORELO, 2007, p. 69).

Os programas de televisão43, omissos quanto à sua responsabilidade com a sociedade que concedeu a licença de transmissão de sinal, não cansam de mostrar reportagens minuciosas sobre o dia-a-dia de celebridades de fato que fogem dos paparazzis, e sobre “subcelebridades” (categoria recentemente criada) que, por sua vez, perseguem os fotógrafos de famosos. São pessoas que, por exemplo, se tornam notórias (embora geralmente por um curto período) por baterem recorde de tamanho do implante de silicone, por terem subido em um palco e beijado algum cantor famoso ou por terem passado por alguma situação esdrúxula que foi amplamente divulgada por ambientes como Orkut e YouTube44. O fato é que o expressivo número de inscritos a cada edição de algum Reality Show, como o Big Brother, demonstra a busca insana das pessoas por alcançarem a celebridade, mesmo que não seja por razões edificantes ou, pelo menos, dignas, para aqueles menos ambiciosos. A ânsia da mídia por qualquer notícia (por mais irrelevante que seja) envolvendo os famosos é tal que basta algum deles namorar um, assim dito, “anônimo”, para que esse possa de uma hora para outra alçar voos midiáticos que os permitem sonhar com carreiras como “modelo”, “tele-dramaturgia” e “apresentador de

43 Há um programa humorístico chamado “Pânico na TV”, já famoso por ridicularizar a

importância que as celebridades dão a si próprias, que recentemente criou um novo quadro chamado “O Famosão” no qual tenta confundir um “anônimo” que se transforma em celebridade instantânea. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=HbqsrAjldLk

44 Cf.: Fã que ganhou selinho de Bono vira celebridade na internet. Disponível em:

http://musica.terra.com.br/interna/0,,OI888495-EI6413,00.html. Sanduiche-iche. Disponível em:

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