• Nenhum resultado encontrado

1- LIÇÕES ANTICLERICAIS

3.4 O Anticlericalismo Religioso n’A Lanterna

Após discutirmos o anticlericalismo político, a influência do Iluminismo na formação dos anticlericais e a crítica à moral dos clérigos, passamos a abordar o que chamamos de anticlericalismo religioso.

Nas várias formas que aparece no jornal A Lanterna o anticlericalismo possuía tonalidades distintas. Ao chamarmos de anticlericalismo religioso estamos assumindo a definição dada por Abreu (2004) que denominou o comportamento religioso de alguns anticlericais do jornal e do período histórico estudado de anticlericalismo crente que considero nesta Dissertação como anticlericalismo religioso. Percebemos tal definição no trecho que segue:

[...] é preenchida por críticas ao comportamento dissoluto e materialista dos clérigos, na medida em que se mostram indignos de alta dignidade de que foram investidos, e contradizem as exigências da fé e moral cristãs. É o anticlericalismo crente29 e na sua

expressão mais pura e construtiva, anticlericalismo suscitado pela fé e pelo profundo apego aos mais elevados valores do cristianismo (ABREU, 2004: p. 16).

Com efeito, a definição apresentada por Abreu nos mostra uma das facetas do anticlericalismo. No jornal A Lanterna este anticlericalismo religioso se apresenta em vários artigos escritos muitas vezes por maçons, livre pensadores, espiritas e maçons anarquistas.

Sobre o anticlericalismo protestante e o anticlericalismo maçônico, conforme citado por Abreu (2004), enquadramos também ambos no anticlericalismo religioso

29 Grifo nosso.

78 porque entendemos que os dois são religiões. Além disso, entre os maçons, presentes no jornal A Lanterna, muitos são espíritas.

O objetivo destes anticlericais era claramente substituir a religião católica, que estava deturbada, pelos “verdadeiros” ensinamentos da religião cristã. Isto explica os constantes ataques aos modos de expressão e estruturação da religião católica bem como a crítica feroz aos clérigos.

Estas características apresentadas e respaldadas por Abreu (2004) demostram a pluralidade do jornal A Lanterna e ao mesmo tempo nos apresentam o objetivo principal que era destruir as imposições da Igreja Católica que estavam desviando os fies dos ensinamentos de cristo. Observamos isto em muitos artigos d’A

Lanterna bem como percebemos também que um dos pontos centrais da ofensiva

anticlerical era combater os dogmas da Igreja Católica.

Um dogma para a Igreja Católica e para seus fiéis significa uma verdade de fé revelada por Deus conforme apontam as escrituras “O Senhor é o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hb 13. 8). Isso significa que um dogma30 para a Igreja Católica não pode ser alterado ou revogado, por um motivo simples, Deus não está sujeito a mudança.

Em seguida seguem alguns exemplos de como o jornal A Lanterna abordava os dogmas da Igreja, sempre de uma forma pejorativa.

No artigo sobre Eucaristia na Áustria, intitulado Congresso Eucarístico lê-se:

Que é eucaristia? A descida do verdadeiro Deus á hóstia consagrada, durante a celebração da missa. Portanto um dogma, um mistério que é posto pela Igreja fora de quaisquer discussões. E é por esse dogma que houve manifestação em Viena (A Lanterna, São Paulo, 02 de novembro de 1912, p. 02).

Artigo Título: O que vai pelo mundo:

[...] O ilustre propagandista fantasiara também um diálogo, no tribunal celeste, entre ele e Deus, que o mandava atirar ao inferno, por ele não crer nos dogmas religiosos31, e que logo em seguida mandava

distribuir harpas de bem-aventurados ao Dr. Crippen (...), Jack o

30 O magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão necessária (Catecismo da Igreja Católica, 2000, p. 36).

79 Estripador e outros grandes criminosos cheios de religião e de respeito pelos dogmas (A Lanterna, São Paulo, 28 fevereiro de 1914, p. 03).

Artigo Título: Peregrinação:

E, no entanto, Roma quer e julga possível que ainda hoje, quando a ciência avança numa carreira tão vertiginosa que arrasta consigo a própria Igreja. Todos os cérebros lhe resignem as suas convicções. Obcecada pelo ardente desejo de dominar, não tem a serenidade precisa para poder ver que, em quanto o dogma vai recuando aterrado pelos fulgores do raciocínio humano nem uma só das sementes lançadas a terra pelo trabalho consciente e pelo estudo deixou ainda de frutificar (A Lanterna, São Paulo, 08 de fevereiro de 1913, p 01).

Após demonstrar as críticas dos anticlericais do jornal A Lanterna aos dogmas da Igreja Católica partimos agora para duas ilustrações do jornal que expõem Jesus como um ser humano de carne e osso ora raivoso com a Igreja por conta das atitudes do clero, ora Jesus como um homem do povo relegado pela própria Igreja.

80 As imagens e artigos que se referem a Jesus são sempre para atacar a Igreja Católica. O cristo apresentado pelo jornal é um cristo explorado pela Igreja.

(A Lanterna, São Paulo, 03 de agosto de 1933 p. 01)

Segundo Rudy (2017), no ocidente especialmente nos países de origem latina, nos quais a Igreja Católica exerceu influencia, observamos a imagem de um Cristo humanizado, muito próximo de um homem cotidiano que em alguns casos foi caracterizado como um revolucionário.

Não obstante, tanto no cenário internacional quanto no Brasil, paulatinamente, viu-se ganhar força simbólica a defesa de um cristianismo primitivo, ou melhor, de um Cristo humanizado32,

revolucionário e libertário, que divergia da imagem do “Cristo de que falam os padres, e a quem por fim divinizaram, para poderem comer e dominar à sombra do seu nome Assim, nas campanhas anticlericais, a figura de Jesus converteu-se em símbolo da exploração clerical (RUDY, 2017: p.157).

Outro exemplo disso encontramos no jornal A Lanterna de 1935 que expôs uma aproximação de Cristo com os ideais da Revolução Francesa que purificaria a Igreja Católica de todos os seus males. Sobre Jesus, disse o jornal:

32 Grifo nosso.

81 [...] Veio Jesus ao mundo, predestinado a modificar-lhe a crença implantando entre os homens a religião da paz, do amor e da bondade, a religião da liberdade, igualdade e da fraternidade (A Lanterna, São Paulo, 02 de novembro de 1935 p. 03).

Além disso, podemos observar que autores contemporâneos como Scruton (2017) apontam os limites da Revolução Francesa e do comportamento ofensivo diante da Igreja Católica por pensadores que querem substituir a religião católica pela sua religião. Isto significa, que o ideário de impor uma religião com aspectos científicos e racionais está presente em nosso meio e se caracteriza como um tipo de anticlericalismo moderno.

O processo de secularização não se contentava mais em apenas sustentar as antigas instituições. Elas deveriam ser destruídas e substituídas por mecanismos funcionais, feitos exclusivamente pelo homem, os quais satisfariam as necessidades de uma sociedade que havia se livrado dos grilhões do dogma religioso (SCRUTON, 2017: p. 167).

Observamos que os anticlericais do jornal A Lanterna pretendiam se livrar do dogma religioso e colocar uma religião que expressasse verdadeiramente os princípios cristãos fundamentada nos pilares do Iluminismo e da Ciência emergente. Portanto, havia um ideário e um programa que passava pela superação da religião católica até alcançar a “verdadeira” religião na qual eles acreditavam.

Retomamos aqui os atores sociais da A Lanterna, para demonstrar que estes atores sociais, antes das suas opções políticas, eram “homo religiosus” e, portanto, ao apontarem os “defeitos” e vicissitudes dos clérigos estariam fazendo isso pelo olhar de sua perspectiva religiosa.

Quando apontamos que os articulistas do jornal eram “homo religiosus” afirmamos que ao subjaz o anticlericalismo d’A Lanterna, pois o jornal era composto por homens e mulheres que participavam ativamente de outras religiões e havia um conflito muitas vezes ideológico e de ocupação de espaço que entrou em choque com a Igreja Católica. No caso dos participantes estamos nos referindo a: Maçons, espíritas, livre pensadores (que também podem ou não englobar as duas opções anteriores) católicos e padres afastados.

Conforme abordado no item sobre a moral queremos retomar o caso Idalina para ressaltar que houve uma batalha religiosa em torno do acontecimento. Destacamos o envolvimento de ateus, maçons, crentes etc. Isto significa que há um

82 anticlericalismo religioso envolvendo este fato, ou seja, existem elementos que embasam o embate entre diferentes confissões, e o que implica em uma discussão de fundo religioso.

Apesar de ter empreendido pela imprensa outras campanhas anarquistas contra o clero, a que mais se evidenciou em Sã Paulo e se prolongou foi o Caso Idalina, caracterizado por alguns como

fomentador de batalha religiosa, causando uma tensão generalizada pela sociedade, que envolvia crentes e ateus33 em

meio a um debate que tinha por alvo a liquidação do outro, tido e reafirmado publicamente como inimigo, ou seja, a única resposta possível a esse caso era a morte do padre envolvido, o que simbolicamente remeteria ao sepultamento moral da Igreja, ou ao dos anarquistas, ou seriam tidos então como caluniadores e indignos de qualquer tipo de confiança social ou individual (SOUZA, 1999: p.172).

Outro exemplo que encontramos em nossa pesquisa no jornal A Lanterna é o caso da comparação entre os rituais católicos e a macumba. Neste sentido a macumba é vista com tom pejorativo assim como a Igreja Católica.

É o que observamos neste artigo intitulado: Chega de Macumba! A obra

mistificadora dos padres em Chora- Menino – Santa Terezinha como instrumento de suas cavações:

O povo padresco está fazendo correr, entre os frequentadores da Igreja da Santa Terezinha, do alto de Sant’Anna, um abaixo assinado a fim de conseguir a substituição do nome de Chora- Menino pelo de Santa Terezinha(...). Para trás, tartufos! Quereis fazer do alegre baixo Chora-Menino o que haveis feito com a Penha? Pretendeis transformar o comércio desta zona em balcão das relíquias e pantominas sacras: cabeças, braços, pés, mãos, pernas, velas e bonecos de cera? Quereis transformar o Chora Menino num deposito de material capaz de deslumbrar qualquer feiticeiro? Não; chega de

Macumba! (A Lanterna, São Paulo, 09 de fevereiro de 1935, p. 01).

Analisando os arquivos do Deosp34 que hoje se encontram no Arquivo do Estado de São Paulo, no prontuário de Edgar Leuenroth35 Número 122, parte 01 foi possível localizar uma lista feita de próprio punho do Edgar Leuenroth com a informação de qual religião pertenciam os assinantes do jornal A Lanterna, ele

33 Grifo nosso.

34 DEOPS – Departamento Estadual de Ordem Política e Social - 1924 até 1954. 35 Editor d’A Lanterna na segunda e terceira fase do jornal.

83 estabelece ligação entre o nome do assinante com a sua religião: Protestante, Espírita, Maçom, Ateus, Livres Pensadores.

Esta lista é muito importante para nós entendermos que havia uma preocupação a qual religião pertenciam os leitores d’A Lanterna. O documento demonstra que há uma pertença religiosa dos assinantes do jornal A Lanterna.

Depois de demonstrar por meio deste documento que havia uma pertença religiosa dos assinantes do jornal A Lanterna passamos a demonstrar agora alguns exemplos, iniciando por um artigo que aborda o Budismo como uma das maiores religiões do mundo. Sob o título A Moral:

Ensina-se a moral nas escolas e no seio das famílias, mas a moral que se ensina, depende das religiões, e sendo o budismo a religião mais espalhada pelo mundo, poderia concluir-se que a melhor moral é a que tem mais adeptos. Não é isto exato (A Lanterna, São Paulo, 22 de fevereiro de 1904, p. 02).

Chama-nos também atenção a preocupação da intolerância religiosa, sugerindo a falta de respeito com outras religiões, no caso da Protestante, deixando claro que a intolerância religiosa só existe por causa da incitação dos padres (no artigo a seguir os padres são referidos como os sataínas36 negras e abutres) sob o título de

A Lanterna em Pinda – A intolerância religiosa:

[...] levam a sua intolerância religiosa ao ponto de não permitirem vidraças inteiras no templo protestantes da cidade! Destroem-nas sistematicamente, para demonstrar, não a religião, mas o atraso em que ainda estão. (...) os sataínas negras, abutres daninhos e insaciáveis, responsáveis por tudo de mau que há no espirito humano. Com o seu exemplo nefasto, com as suas prédicas intolerantes, induzem os bem-aventurados pobres de espírito a praticar atos completamente inversos aos atos do próprio Cristo, sempre regidos pela humildade e doçura (A Lanterna, 23 de novembro 1933, p. 02).

A confissão foi outro tema abordado pelos Lanterneiros, denominação que eles mesmo se referem. O jornal explica que a confissão foi uma coisa inventada pela Igreja mais especificamente pela seita jesuítica que por isso não deveria ser obrigatória.

36Sotaina: espécie de hábito que os eclesiásticos vestiam por baixo da capa, batina de sacerdote católico, extraído: <https://www.dicio.com.br/>.

84 Os anticlericais do jornal ao tacharem os jesuítas como “seita”, tinham intenção de dizer que os jesuítas não eram verdadeiros religiosos e sim um grupo apartado é o que observamos no trecho do artigo A Confissão:

A confissão não foi instituída por Jesus Cristo nem pregada pelos apóstolos. Foi inventada pelo clero com o fim de se engrandecer, dominando por este meio as consciências; e ninguém realizou tanto a preceito este desígnio como a ignóbil seita jesuítica37 (A Lanterna,

São Paulo, 24 de março de 1901, p. 01).

Seguindo um pouco mais, neste mesmo artigo: A Confissão, encontramos um trecho que afirma que religião católica não é a religião de Cristo. Portanto, os anticlericais, que escrevem para o jornal, ora anarquistas ora maçons (ou os dois juntos), entendiam que existem religiões e neste sentido se prestam a fazer um anticlericalismo religioso, isto é, de critica a outra religião.

[...] foi em 1215, que o concilio de Latrão tornou obrigatória a confissão auricular. Durante doze séculos existiu a religião católica, sem que fosse exigida aos seus sectários a abdicação de toda a dignidade humana, a total destruição do delicado sentimento do pudor, para patentear os seus mais íntimos pensamentos a um homem (...) Só mil e duzentos anos depois que Cristo pregou a sua religião38 é que

homens perverso e cínicos pensaram em impor a humanidade mais absoluta tutela, exigindo-lhe que se rojasse servilmente aos pés dos hipócritas que tem a orgulhosa ousadia de se denominarem – representantes de Deus (A Lanterna, São Paulo, 24 de março de 1901, p. 01).

Outro tema que envolve a religião Católica no jornal A Lanterna é o celibato de acordo com este artigo Os Evadidos do Celibato:

[...] Em Rebouças, no Estado do Paraná, efetuou-se o casamento do ex-padre Vicente Guardanieri com a senhorita Isabel Rodriguez de Aguiar. (...)O Sr. Vicente Guardanieri, quando sacerdote católico, for vigário em diversas paróquias, no Estado do Paraná. (...) A redação d’A Lanterna, felicita aos dois cidadãos que o amor redimiu, libertando- os da batina, símbolo de mentira e hipocrisias, e deseja aos dois pares um futuro cheio de venturas. E sobretudo, desejam que o exemplo desses sacerdotes seja seguido por outros bons que a batina esteja corrompendo (A Lanterna, São Paulo, 22 de agosto de 1903, p. 01).

37 Grifo nosso.

85 O fundamento do celibato da Igreja Católica encontra-se no novo testamento que recupera a ideia de pureza que se apoia no Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) para deixar claro que o sacerdote não pode estar dividido entre um desejo humano e um desejo divino.

No Concílio de Trento (1545-1563) a Igreja Católica impôs definitivamente o Celibato incluindo o clero secular. Posteriormente o Celibato também seria discutido no Concílio Vaticano I e no Concílio Vaticano II, mas o celibato permanece na Igreja Católica.

Outro alvo de duras críticas do jornal A Lanterna referem-se a chegada das várias Congregações Religiosas ao Brasil, principalmente provenientes do anticlericalismo Francês.

(A Lanterna, São Paulo, 03 de setembro de 1910 p. 01)

O anticlericalismo religioso no artigo que segue é considerado um exemplo de anticlericalismo religioso interno, pois ao entrevistar um padre que se colocou contra

86 as Congregações que chegavam ao Brasil no começo do século XX. Indicado no artigo sob o título: Clero regular e Clero secular – Opiniões de um secular:

Há dias o acaso nos proporcionou a ocasião de entrevistar um sacerdote brasileiro, membro do clero secular da diocese de São Paulo. (...) nos interessava e sobre o qual desejamos conhecer a opinião do nosso amigo, pois não admirem os leitores, o sacerdote

de que se trata, é um amigo pessoal nosso39. E perguntamos-lhes,

primeiramente qual a sua opinião sobre a emigração das congregações francesas e de outras nacionalidades para o Brasil. Respondeu o sacerdote que, como brasileiro, lastima sinceramente o futuro que nos aguarda, entregue como está o Brasil ao assalto das congregações emigradas e compostas de gente sem moral, sem instrução, sem capacidade intelectual, e capaz de todas as baixezas desde que assim possa arranjar e acumular dinheiro (A Lanterna, São Paulo, 22 de agosto de 1903, p. 01).

O trecho do artigo acima faz parte de uma entrevista com um Padre Secular que mora na cidade de Santos, litoral Paulista. O nome do padre foi omitido. A

Lanterna denuncia a permissão do então arcebispo Arco Verde nesta investida das

Congregações e as tensões internas entre Jesuítas e Diocesanos. O Padre afirma que o arcebispo nunca seria Cardeal só porque apoiou a vinda das Congregação:

[...] O culpado dessa invasão, disse o sacerdote com quem conversamos, é o arcebispo D. Arcoverde. Foi ele que se entregou aos jesuítas por ambicionar um barrete de cardeal (...)Ele ambiciona tanto um cardinalato como o Passalacqua um bispado, mas nem o Passalacqua será bispo nem o Arcoverde será cardeal40. O Vaticano

não recompensa serviço; ele compra aliados. Se o Arcoverde prometesse fazer o que fez, para conseguir os seus fins o nomeariam cardeal mas agora já estão as congregações e o novo Papa continuará a fazer cardeais Italianos (A Lanterna, São Paulo, 22 de agosto de 1903, p. 01).

Mas em 1905, Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti se tornou o primeiro Cardeal Brasileiro, nomeado pelo Papa Pio X e também o primeiro Cardeal da América Latina. Ficou mais conhecido como Cardeal Arcoverde, hoje há uma rua em São Paulo com o seu nome.

Existem aspectos que envolvem outras religiões e que merecem destaque no que tange a temática do anticlericalismo religioso. Se na referência anterior destacamos a feroz crítica ao arcebispo Arco Verde, posteriormente se tornou Cardeal

39 Grifo nosso.

87

Arco Verde, destacarmos agora outras perspectivas religiosas em que os anticlericais do jornal A Lanterna se preocuparam com as pessoas de outros credos e para isto reforçaram em alguns artigos a existência de diversas religiões afirmando que o Brasil não era em sua unanimidade católica.

Sob o artigo: A nação brasileira é católica:

Vamos deixar de pieguismo e dizer que no Brasil existem, além da religião católica, os seguintes credos: o protestantismo, subdivido em varias igrejas: o espiritismo, repartido por muitos centros, agrupados no espiritismo (racionalistas). Kardecistas (alto e baixo psiquismo), no teosofismo e no ocultismo: o israelismo, secionado.(...)Por diversas sinagogas; o positivismo, fixado numa igreja central afora os que não podem ter classificados ou não creem em coisa alguma. (...) não voltaremos mais a este assunto. E repitamos mais uma vez: O BRASIL NÃO É CATÓLICO (A Lanterna, São Paulo, 23 de novembro 1933, p. 02).

Desde modo, o anticlericalismo religioso exposto e exemplificado nos permite entender a sua origem, o seu caminho e as suas implicações. Quanto a origem mostramos que existiu uma influência forte de pensadores Franceses, Portugueses e Brasileiros herdeiros da tradição Iluminista-Positivista quanto ao caminho percorrido por este anticlericalismo religioso demonstramos que ele nos chegou pela via direta nas fontes francesas ou pela via indireta das fontes portuguesas. No que concerne as implicações destacamos que há inúmeros desdobramentos nas diferentes temáticas suscitadas pelos anticlericais do jornal A Lanterna tais como: críticas aos dogmas da Igreja Católica, ao comportamento dos religiosos, críticas à estrutura da Igreja Católica e denúncias de crimes cometidos por alguns clérigos católicos.

Portanto, o capitulo terceiro desta dissertação abordou o anticlericalismo político e seus diferentes aspectos para demonstrar como era a relação entre anticlericais, a Igreja Católica e o Estado Brasileiro no início do século XX até a década de 30.

O caminho percorrido passou pelo problema da crítica moral ao clero brasileiro perpetrada pelos anticlericais do jornal A Lanterna com intuito de apontar os exageros e os desvios de alguns religiosos católicos. Este caminho nos colocou diante do anticlericalismo religioso que evocamos como hipótese a ser considerada durante a Dissertação.

A Dissertação alcançou a verificação deste anticlericalismo religioso com aspectos e variações que exemplificamos neste capítulo. Procuramos fundamentar a

88 nossa analise na teoria de Abreu (2004) que considerou o anticlericalismo como um caminho radical até se assemelhar ao laicismo.

Esta lógica do anticlericalismo levou-o ao aproximar-se e a quase confundir-se com o laicismo tornando-se cada vez mais radical no combate ao clero e às outras manifestações proeminentes da vida eclesial. Exorciza-se o que, na esfera religiosa, goza de maior visibilidade simbólica. Mas, através da crítica ao clero e às figuras mais

Documentos relacionados