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Capítulo 1 – Descrição e contextualização da Revista do Arquivo Municipal

1.2. O Arquivo Municipal

Para falar da RAM, é necessário fazer um breve apanhado histórico do Arquivo Municipal criado pela administração paulistana, durante o mandato de Washington Luís, para contextualizar historicamente a RAM.

Os documentos da administração municipal, em grande parte, foram preservados pelos governantes desde o período colonial, quando São Paulo era apenas uma pequena vila, até o surgimento de um arquivo propriamente dito, no início do século XX. Ao longo dos anos, a administração camerária de Piratininga, muitas vezes encontrou sérias dificuldades para suas reuniões, devido à falta de prédio ou sede própria. Entretanto, os vereadores tomaram a providência de comprarem baús para armazenar a documentação produzida10.

“Os documentos da edilidade acompanhavam, de cá para lá, a transitoriedade das casas do Conselho. Os papéis do arquivo viviam em baús, sofrendo infiltrações de água, calor violento e a fome inexorável de ratos e traças.”11

Apesar da precariedade, muitos documentos foram preservados, fornecendo acervo documental de grande volume, que ainda precisa ser analisado para a construção e reconstrução de diversas perspectivas históricas sobre a região de São Paulo.

No final do século XIX, após a República, a organização de arquivos apresentava-se como parte da organização administrativa, ferramenta vital para sua efetivação. Historicamente, a implantação de arquivos esteve ligada em vários casos aos processos de legitimação de Estado e da criação da História Nacional. Em São Paulo, não foi diferente. Aqui também se sentiu a necessidade de legitimação através da História. O processo de racionalização da administração pública, foi fortemente orientado por modelos científicos vigentes, e o governo municipal assumiu a tarefa de criar um arquivo organizado e reconhecido como tal.

10 NASCIMENTO, Eduardo de Jesus Moraes do. O Arquivo Histórico Municipal “Washington Luis”. Revista do

Arquivo Municipal. São Paulo, ano 41, n. 191, jan. 1978, pp10-29.

“Efetuando-se pesquisas na legislação municipal, encontra-se a primeira preocupação governamental com a publicação de documentos do arquivo municipal. Trata-se da Lei n.º 170, de 6 de maio de 1895, pela qual o Senhor Presidente da Câmara Municipal, Dr. Vicente de Azevedo, confere ao Intendente de Obras poderes especiais para rever e publicar as Atas da Vereança da Vila de São Paulo, podendo ser gastos, nesse serviço, até cinco contos de réis.”12

Com a proclamação da República e a implantação do novo regime político, a administração pública passou por várias adaptações e algumas mudanças, o que deu origem a novos cargos ou mudança de nomes de antigas funções. Foi criado, em 1898, pela Lei nº. 374, no âmbito do executivo municipal, a categoria de prefeito.

“Daí por diante, a Prefeitura começava a organizar e ampliar seus órgãos de serviço e, então, passamos a encontrar melhores referências sobre o destino do arquivo municipal.”13

O Arquivo Municipal foi regulamentado em 1911, pelo Ato 400, sendo subordinado à Terceira Seção da Secretaria Geral. O longo texto apresenta os documentos que deveriam ser guardados e conservados o conjunto de decisões relativas ao funcionamento administrativo, poderes executivo e legislativo e também as condições para arquivamento. Nele se destaca a preocupação em tornar pública a documentação ali existente. Segundo o Artigo nº. 4:

“Ao Archivo Municipal compete publicar, em avulsos ou collecções annuaes, as leis e resoluções da Camara, os relatorios e actos do Prefeito, distribuindo-os immediatamente aos vereadores, aos funccionários municipaes e a quem os mesmos possam interessar.

12 Idem, p.13 13 Idem, p.14

§ único – Os volumes annuaes das leis e actos do Município serão vendidos aos particulares, que deverão recolher ao Thesouro, por meio de guia, o preço delles.”14

Décadas depois, o Arquivo Municipal foi ligado a uma das divisões do DC e a RAM se tornou o espaço de divulgação de suas atividades, projetos e resultados obtidos, somando-se à produção de intelectuais dos Institutos Históricos e Geográficos, de várias regiões, os da ELSP, e dos da USP.

Desde sua criação, o Arquivo Municipal esteve subordinado a várias seções da Prefeitura. Foi parte da Terceira Seção da Secretaria Geral, passou pela Diretoria do Patrimônio, Estatística e Arquivo, esteve sob os cuidados da Diretoria do Protocolo Geral e Arquivo. Em 1934, era da responsabilidade do Departamento do Expediente e do Pessoal. No ano seguinte, o Prefeito Fábio Prado, por meio do Ato nº. 861, de 30 de maio de 1935, criou o DC, e subordinou o Arquivo Municipal, parte do Serviço de Documentos Antigos, à Divisão de Documentação Social daquela nova instituição15.

Entre 1935 e 1945, o DC sofreu várias reorganizações e divisões. Naquele ano de 1945, passou a ser uma das secretarias municipais criada pelo prefeito Abrahão Ribeiro: Secretaria de Cultura e Higiene. Em 1947, a secretaria foi desmembrada, dando origem à Secretaria de Educação e Cultura, a qual o DC era subordinado, com várias divisões, uma delas, a Divisão do Arquivo Histórico, responsável pelo Arquivo Municipal.

Após várias mudanças, em 1975, a prefeitura criou a Secretaria Municipal de Cultura. A ela ficou subordinada o Departamento do Patrimônio Histórico, responsável pela Divisão do Arquivo Histórico Municipal “Washington Luís”, que recebeu tal nome em homenagem ao historiador, que também foi prefeito municipal, e presidente da República, deposto pelo movimento de 193016. Tal organização administrativa é a que ainda está em vigor.

14 Idem, p. 17. 15 Idem, p. 19

16 GUIA – Arquivo Histórico Municipal “Washington Luis”. São Paulo: PMSP/Secretaria Municipal de

Para nossa pesquisa, devemos destacar um fato significativo em relação à RAM. A maioria dos estudos que utilizam a revista como fonte, dá ênfase ao momento em que a revista esteve subordinada ao DC, principalmente quando Mário de Andrade foi o diretor daquela instituição (1935 a 1938). Mesmo sem a presença do seu principal idealizador, o DC continuou com suas atividades e pesquisas, e com a colaboração de intelectuais de várias instituições nos inúmeros projetos que desenvolveu.

Diversamente dos outros pesquisadores, entendemos que a RAM teve considerável importância antes de 1935 e continuou a tê-la após 1947, quando o DC foi submetido à Secretaria de Educação e Cultura, tornando-se um órgão com menor autonomia. O periódico, mesmo com publicação irregular, teve papel de destaque na vida cultural da cidade, acompanhando a trajetória do Arquivo e do DC.