O Arquivo Pessoal do Escritor João Antônio

Em 1998, após um prévio entendimento com Marília, primeira esposa de João Antônio, e com seu filho Daniel Pedro, herdeiro do espólio, o acervo foi cedido e depositado na Unesp - Campus de Assis, cujos responsáveis eram os docentes Tania Celestino de Macêdo e João Luís Cardoso Tápias Ceccantini. A partir de 1999, a coordenação do acervo passou para a docente Ana Maria Domingues de Oliveira, que participou também da organização preliminar desse material, tornando-se responsável pelas pesquisas desenvolvidas a partir dele.

O acervo foi cedido à Unesp de Assis, pois era a universidade em que a professora Tania Celestino de Macêdo lecionava. Tania manteve anos de correspondência com João Antônio e sabia da vasta quantidade de missivas que ele possuía. Com a morte repentina do escritor, tendo receio da perda desse material, ela procurou sua família para uma possível cessão desse acervo,

[...] procurei a família dele, e cheguei até a primeira esposa dele, a Marília, ela me apresentou o filho deles (Daniel), e conversamos muito. Eles concordaram em ceder o acervo. Ela ficou com uma parte na casa dela, fez uma separação, pois não é tudo do João Antônio que está lá, ela fez uma separação muito pessoal dela. (informação verbal).26

A trajetória entre a retirada do acervo do apartamento de João Antônio até a chegada dele a Assis contou com alguns percalços. Devido às circunstâncias de sua morte, seus pertences foram levados às pressas de seu apartamento em Copacabana para um sítio em Jacarepaguá, de propriedade de um primo de Marília. Lá, permaneceram durante meses, em caixas de mudança, sem qualquer ordenação ou cuidados de preservação.

O professor João Luís Cardoso Tápias Ceccantini, responsável pela retirada desse material do sítio da família, relata a situação em que ele se encontrava,

[...] o lugar que era de difícil acesso, nós demoramos um pouco pra chegar, realmente, era uma chácara bem escondidinha e foi trágico ver as condições onde se encontrava o acervo, por que era um lugar, um brejo, para eu ser honesto, em uma casa semiabandonada, esses caixotes estavam jogados todos em um canto empilhados, muitos deles quebrados e o material espalhado. Eu cheguei a ver

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Informação fornecida em entrevista cedida pela Professora Tania Celestino de Macêdo em 16 de julho de 2008.

64 originais no chão, alguma parte estava molhada, tinha mofo, tinha tudo que você imaginar de pior, além do caos, as condições de preservação eram as piores possíveis. Colocamos tudo no caminhão e voltei com as coisas para cá (Assis). (informação verbal).27

Com a chegada desse material à Unesp de Assis, iniciou-se uma organização preliminar com a colaboração de pesquisadores e dos professores responsáveis pelo acervo. Segundo a Professora Tania Celestino de Macêdo (informação verbal)28, essa organização ocorreu da seguinte maneira:

Ele ficou durante muito tempo fechado, e a direção da Unesp de Assis entregou uma sala para que ficassem as caixas, a ordem era aleatória porque ela já tinha sido destruída inicialmente. E aí, nós resolvemos, com a ajuda de alguns pesquisadores que já conheciam a obra de João Antônio ou o conheciam pessoalmente, tirar o material das caixas, conseguimos umas estantes e separamos, mais ou menos, de acordo com o que se conhecia.

Devido à importância desse acervo, é válido demonstrar aqui seu conteúdo que é composto de documentos produzidos desde seu nascimento, em 1937, até sua morte, em 1996. Este é considerado um acervo bastante heterogêneo, pois nele se encontram correspondências pessoais, blocos de anotações, agendas, fotos, contratos de trabalho com editoras, coleções de revistas, recortes de jornais relacionados ao autor e suas obras, discos, originais de suas obras, incluindo inéditos, alguns móveis que pertenceram ao escritor e sua biblioteca particular.

O acervo não possui ainda sua quantificação definitiva, pois a identificação sumária de parte dessa documentação está sendo realizada concomitantemente ao desenvolvimento de pesquisas pelos discentes da mesma universidade, nos níveis de graduação e pós-graduação, com a supervisão de técnicos do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (Cedap).

Estima-se que o acervo é composto por 50 metros lineares de documentação textual; cerca de 4000 livros sobre os mais variados títulos e assuntos, como: política, biografias, romances, poesia, crítica literária, ocultismo, música popular brasileira; cerca de 500 exemplares de periódicos diversos e, aproximadamente, 380 discos29.

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Informação fornecida em entrevista cedida pelo Professor João Luís Cardoso Tápias Ceccantini, em 24 de setembro de 2010.

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Informação fornecida em entrevista cedida pela Professora Tania Celestino de Macêdo, em 16 de julho de 2008.

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Os números relacionados ao material contido no Acervo João Antônio demonstrados aqui, encontram-se no Cedap e foram registrados por algumas pesquisas já realizadas no acervo.

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Como se sabe, ao longo de sua vida, João Antônio foi um leitor dedicado, fazendo questão da preservação de uma vasta biblioteca pessoal. Muitos desses livros estão autografados e guardam as marcas da leitura atenciosa do escritor por meio de uma extensa marginália.

O número de periódicos que o acervo possui também é importante para verificar sua ativa participação na imprensa brasileira, incluindo desde jornais escolares dos mais diversos lugares do Brasil, além de revistas e jornais que demonstram sua colaboração na imprensa alternativa.

Vale lembrar, do mesmo modo, que o volume de correspondências contidas no acervo é bastante relevante. Nelas, encontra-se material referente a diversos intelectuais brasileiros e internacionais, atestando as diversas relações de sociabilidade mantidas pelo autor, além de preciosas informações sobre sua produção literária.

Quanto à sua discoteca, ou melhor, aos discos de vinil e acetato, pode-se perceber que a maioria refere-se à música popular brasileira. E, apesar de pequena, há também a coleção de fotos do autor, realizadas por fotógrafos reconhecidos, que registraram algumas cenas da vida popular brasileira e foram reunidas com afinco por João Antônio.

Considera-se, igualmente, de absoluta importância a presença dos originais de seus textos manuscritos e/ou datilografados, tornando possível acompanhar todo o seu processo de escrita com base na leitura das várias versões de cada um de seus textos e das pesquisas feitas pelo próprio escritor, que antecederam a redação final de suas obras e de suas publicações na imprensa.

O acervo encontra-se depositado no Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (Cedap) da Unesp de Assis e contou com as técnicas de conservação e preservação, bem como com a colaboração dos estagiários do projeto “Preservação, organização e disponibilização do acervo João Antônio”, coordenado pela professora Ana Maria Domingues de Oliveira e financiado pela Pró-Reitoria de Extensão Universitária (Proex).