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2. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

2.5 A função social do contrato como projeção da função social da propriedade

3.4.2 A teoria à luz da lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, instituidora da

3.4.2.2.2 O artigo 479 do Código Civil: a reductio ad

A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato, é o que preconiza a norma em comento. Restabelecer-se às condições iniciais de paridade do sinalagma, por meio de oferta equânime do réu e, precipuamente, com vistas à preservação da relação jurídica obrigacional, é, portanto, a proposta deste dispositivo de lei, de igual inspiração italiana.

Em seu estudo a respeito da natureza jurídica da oferta de reductio ad aequitatem, se substancial ou processual, e respectivo alcance, Laura Coradini Frantz, apresenta-nos, em suas conclusões, a tese firmada pela jurisprudência do Supremo Collegio, admitindo que o caráter da oferta é de natureza processual, parte do princípio de que o poder de modificar o

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contrato se exercita dentro do processo e que o efeito do seu exercício é exclusivamente processual.181

No mais, a oferta de modificação eqüitativa do contrato tem por finalidade precípua reconduzir à eqüidade a base econômica da relação, restabelecendo o equilíbrio do negócio jurídico, não sendo necessário que a reductio consista obrigatoriamente em dinheiro, para mais ou para menos, “podendo ser uma variação da prestação ou mesmo de sua modalidade, desde que apta a mudar a relação de valores entre as prestações”.182

De se ter em mente também que a reductio ad aequitatem é uma proposta ofertada pelo réu na ação de resolução por onerosidade excessiva superveniente a ser aceita ou não pelo autor da demanda. Caso ignore a proposta, não a aceitando, sua ponderação será encaminhada ao magistrado, que, sem se valer de valoração subjetiva, sopesará as circunstâncias anormais à álea e a conseqüente alteração da base negocial.

Eventualmente, no caso do autor da demanda negar a oferta do demandado e esta reconduzir à eqüidade contratual, a sentença a se exarar será de eficácia constitutiva.

Outra questão a se considerar na reductio ad aequitatem, diz respeito à sua medida, quer-se dizer, o limite a se conferir à eqüitativa mudança das circunstâncias supervenientes. A jurisprudência italiana mais atual orienta-se no sentido de que “o demandado não é obrigado a fazer uma oferta que restaure exatamente o equilíbrio inicial entre as prestações,

181op. cit., p. 150 182

pois a resolução do contrato somente é permitida se as prestações recíprocas se tornaram onerosas e se essa alteração ultrapassar a denominada álea normal do contrato. A oferta sim, deve propiciar que o contrato volte a ser uma relação sinalagmática tal que não possibilite ao prejudicado propor ação de resolução por onerosidade excessiva”.183

Demais disso, discute-se na reductio ad aequitatem, ainda, não só a respeito do sentido a se emprestar à palavra “eqüidade”, como também o alcance da esfera de atuação do magistrado. No primeiro caso, de ser entendida a eqüidade como um critério técnico tão somente, uma vez que, nessa hipótese, em razão de não se atribuir ao magistrado nenhuma sorte de discricionariedade, pois não se cogita da objetivação de um juízo de eqüidade, ela assume um significado não de justiça do caso concreto, mas de equilíbrio da relação obrigacional.

Neste sentido, a observação de Augusto Pina, verbis:

“Por equidad, en el sentido atribuído en el art. 1467, non se puede entender ni el conjunto de los supremos principios de justicia, ni numa desviación de lo que se habría dispuesto jurídicamente si no hubiera la norma; ahora se añade que del artículo 1467 no resulta que al término equidad se le haya querido atribuir otro significado que ya se le há atribuído alguna vez, y que indicaría en el juez un poder de decidir el caso concreto sin aplicar una norma jurídica formulada precedentemente, y de crear así el

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derecho para cada caso, puesto que no se trata aquí de crear una norma que ya existe”.184

Nesse caminhar também a jurisprudência italiana,

“L'indagine del giudice deve essere condotta attenendosi a criteri estimativi oggetivi di carattere tecnico, e non soltanto con un mero criterio di equità”.185

Daí se depreender que a intervenção do juiz na reductio ad aequitatem deve limitar-se a analisar se as mudanças ofertadas pelo demandado são hábeis a equacionar a relação jurídica contratual, integrando eventuais deficiências, inadmitida sua intervenção na oferta efetuada, em que pese hodiernamente vir admitindo a jurisprudência italiana a possibilidade de o magistrado determinar qual a melhor solução à recondução da eqüidade, se porventura a proposta ofertada pelo demandado seja por ele reputada inidônea.

Por fim, partindo do pressuposto de que a possibilidade de revisão prevista no artigo 479 da lei civil brasileira é alternativa, de se ter em pensamento, que não haverá um “poder-dever revisional do juiz, cujo papel ativo está, prima facie, em decidir se a modificação proposta é eqüitativa, ou não, pesando sobre o réu a ameaça de resolução”.186

Não se olvidar, ademais, que essa possibilidade de se evitar a resolução por onerosidade excessiva, oferecendo-se o réu a modificar

184La excessiva onerosidad de la prestación. Trad. Frederico Mallol. Barcelona: Bosch, 1959, p.109. 185Cass. 9/10/89, n. 4023, GI, 1990, apud MARTINO, Valéria. La risoluzione per eccessiva onerosità. In: CEDON, Paolo (Org.). I contratti in genelare. Torino: UTET, 2000, t. 13, p. 575.

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eqüitativamente as condições iniciais do sinalagma, está de acordo com os princípios de conservação da relação jurídica, observados tanto os princípios da boa-fé e da socialidade quanto o do equilíbrio econômico que entoam a execução do contrato.

3.4.2.2.3 O artigo 480 do código civil: possibilidade de redução da

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