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CAPÍTULO 2 – O CAMPO DA PESQUISA E SEUS SUJEITOS

2.1. A ESCOLA E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES CONTEXTUAIS

2.1.1. O BAIRRO

Antes de adentrar os muros da escola, falaremos sobre o bairro Cachoeirinha. Quando fomos, pela primeira vez, à escola pesquisada, ainda no período de visita às escolas potenciais para nossa pesquisa, atentamos para esse bairro. De imediato, sua infraestrutura nos pareceu boa, com asfalto, calçamento, rede de esgoto, ruas limpas. Parecia que estávamos em uma região antiga e, observando as ruas mais próximas da escola, não vimos favelas ou mansões. No entanto, as casas pareciam abrigar moradores das camadas populares com condições de vida mais estáveis. Rodeando a vizinhança, percebemos um número considerável de casas antigas, quase todas muradas. Subindo a rua da escola, vimos mais apartamentos e parecia que

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a vizinhança começava a receber novos moradores, pois existiam novas construções verticais em andamento. Descendo a rua da escola, as casas eram mais escassas, devido aos grandes muros de estabelecimentos privados. Uma avenida movimentada e uma fábrica também integravam a vizinhança da escola.

O bairro Cachoeirinha57, cujo nome faz referência a um pequeno córrego localizado numa das ruas da região, integra a Regional Administrativa Nordeste. De acordo com o Censo Demográfico de 2000, esta Região Administrativa possui uma população de 274.060 habitantes, sendo 144.023 mulheres e 130.037 homens; é composta por 68 bairros, estando subdividida em 7 Unidades de Planejameto (UP).

A capital mineira foi fundada em 1897 e, conforme os dados históricos divulgados pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, a Região Nordeste teve participação fundamental na industrialização do município, com as fábricas têxteis nos bairros Cachoeirinha e Renascença nos anos 1930. A origem do próprio bairro Cachoeirinha converge com a instalação da Companhia Mineira de Fiação e Tecelagem, a famosa Fábrica do Cachoeirinha, que ainda encontra-se em funcionamento e figura-se como o ponto de referência do bairro. Vale mencionar, também, que o referido bairro surgiu de uma vila operária implantada em função desta fábrica, de modo que foi aprovado em 16/01/1930 pelo prefeito da época.

Além disso, é importante frisar que o bairro em questão encontra-se na UP (Unidade de Planejamento) Cachoeirinha, que conta com, aproximadamente, 32.885 habitantes, sendo formada pelos bairros: Santa Cruz, São João Batista, Cachoeirinha, Vila da Paz, Nova Cachoeirinha, Vila Humaitá, Vila São Sebastião. Conforme o Censo 2000, sua população jovem somava cerca de 9 mil habitantes com faixa etária entre 15 e 29 anos.

As informações da Prefeitura ressaltam, ainda, que a Regional Nordeste é caracterizada por diferenças de poder aquisitivo. A existência de disparidades sociais nessa Regional é refletida nos distintos padrões de ocupação desta região. Assim, a prefeitura informa que “existem desde áreas bastante antigas e consolidadas até outras que estão se abrindo à ocupação. Por outro lado, bairros que abrigam segmentos de classes médias de alto

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Esclarecemos que todos os dados estatísticos, sociais e históricos referentes à cidade de Belo Horizonte, à Regional Nordeste, à Unidade de Planejamento Cachoeirinha e ao bairro Cachoeirinha foram acessados no Portal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Disponível em http://portalpbh.pbh.gov.br. Acessado em: 28.01.2011.

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poder aquisitivo convivem com vilas e favelas, algumas com padrões de vida bastante precários.”58

A extensa área na qual os bairros da região se distribuem faz com que ela tangencie duas avenidas de grande importância na cidade. Passando por uma delas, é possível perceber distintos padrões de ocupação e de condições de vida entre seus habitantes. Existem vilas e favelas, que não escondem as péssimas condições de vida dos seus moradores. Em contrapartida, também há bairros nos quais predominam os apartamentos e grandes empreendimentos imobiliários, que indicam as desigualdades socioeconômicas existente na Regional Nordeste. Ademais, alguns bairros fazem divisa com outros municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, situação que pode indicar uma menor condição socioeconômica dos seus moradores. Por fim, a regional abriga, ainda, bairros mais antigos que não apresentam grandes indícios de expansão e, ao mesmo tempo, apresentam melhor indicadores de infraestrutura, como o bairro Cachoeirinha.

Nesse sentido, os dados oficiais por Regional Administrativa atestam que as características socioeconômicas da Regional Nordeste apresentam certas disparidades. Mesmo porque, os indicadores de Desigualdade de Renda dessa região chegaram a 0,5659 no ano 2000. Isso confirma, então, a existência de desigualdades de renda na Regional, de modo que este quadro aproxima-se daquele observado em outras Regionais Administrativas consideradas mais nobres, como a Centro-Sul (0,57) e Pampulha (0,56).

Com relação à renda familiar per capita observada na Regional Nordeste, há o registro de que grande parte dos seus habitantes integra as camadas populares. A propósito, observou- se, em 2000, um índice de R$557,4460 na renda familiar per capita de Belo Horizonte, enquanto o desta regional mostrou-se inferior, resultando em R$429,02. Nesta perspectiva, a Regional Nordeste se aproxima de outras Regionais marcadas pela existência de bairros

58 Portal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Regional Nordeste. Disponível em: http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=re gionalnordeste&tax=9285&lang=pt_BR&pg=5481&taxp=0&. Acessado em: 28.01.2011.

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Considerou-se, nestes resultados, o Índice de Gini que “mede o grau de desigualdade existente na distribuição

de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualde (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda). Portal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Estatísticas e Indicadores. Disponível em:

http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?app=estatisticaseindic adores. Acessado em: 28.01.2011.

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Renda Familiar Per capita, em R$, de agosto de 2000. Portal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Estatísticas e Indicadores. Disponível em: http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do? app=estati sticaseindicadores. Acessado em: 28.01.2011.

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tradicionais e pela proximidade de vilas e favelas, como a Leste e a Noroeste, para as quais a renda per capita familiar não supera a casa dos de R$ 490,00. Este índice demonstra que, além de apresentar desigualdades socioeconômicas, a Regional Nordeste possui uma população majoritariamente pobre, mas não excluída. Seus habitantes parecem se encontrar em situação socioeconômica mediana tendendo para baixa, se considerarmos que os maiores índices da cidade variaram entre R$600,00 e R$ 1.100,00 e os piores não superaram a casa dos R$260,00.

De todo modo, mesmo que os dados oficiais não disponibilizassem um recorte mais detalhado por bairro, traços da situação da Regional pareciam estar presentes no bairro Cachoeirinha. Até porque, vimos que ele tem uma ocupação antiga, proporcionada pela expansão da industrialização em Belo Horizonte ainda no início no século XX, e, talvez por isso, o bairro tenha uma boa infraestrutura.

Contudo, em nossas conversas com os jovens investigados, percebemos a existência de estudantes provenientes de famílias mais pobres, os quais residiam nas localidades mais empobrecidas da região. Apesar de não termos conseguido visualizar favelas no entorno da escola, ouvimos alguns jovens da turma pesquisada relatarem que moravam próximos a estes locais, sendo que duas jovens disseram morar em uma favela no bairro Cachoeirinha, localizada a certa distância da escola. A respeito disso, certa vez, a vice-diretora nos informou que os alunos provenientes de favelas que existiam no bairro ou na redondeza não conseguiam permanecer na escola devido às cobranças, ao estilo de avaliação e à eminência da reprovação naquele estabelecimento.

Sendo assim, as diferenças de poder aquisitivo na região pareciam chegar à escola e os profissionais notavam isso. Inclusive, na sala dos professores, ouvimos um docente comentar que os alunos saem da favela, mas que a favela não sai deles. Mesmo não tendo certeza sobre quais eram os alunos ou a turma para a qual se dirigiu este comentário, podemos observar que a escola era tida como um estabelecimento de bairro. Embora atendesse jovens de camadas populares ela tinha uma colocação diferenciada naquela vizinhança. A fim de entender melhor esse ambiente de ensino, passemos ao tópico seguinte.

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