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CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Introdução

2.2.4 O brinquedo, a brincadeira e o jogo na escola

O jogo, a brincadeira, o brinquedo podem ser utilizados pela escola como facilitadores de aprendizagem, tendo no papel de mediador7, alguém que possa qualificá-los e, portanto, contribuir para o

desenvolvimento infantil. Através do brinquedo, a criança tem a possibilidade de transcender o seu comportamento e exercitar suas capacidades cognitivas e alargar o seu conhecimento. Nuernberg (2001) diz que, no faz-de-conta quando a criança se coloca no lugar do outro, ela está vivendo uma nova possibilidade de aprender. E, no faz-de- conta a criança age de acordo com aquilo que ela internalizou ao ver o adulto, o outro agir nas mais variadas situações.

Neste sentido, na brincadeira de faz-de-conta a criança cria situações imaginárias a partir do que ela observa em sua cultura.

Segundo Vigotsky(2007), a criança observa as atividades dos adultos com quem convive, as imita e as transforma em brincadeira. Através do conteúdo das brincadeiras de faz-de-conta é possível observar como as crianças se apropriam da cultura, das normas de convivência, etc. Da mesma forma, as relações sociais estabelecidas ao brincar são fundamentais para seu desenvolvimento social. Ao brincar, a criança tem condições de expressar seus próprios sentimentos, sua visão de mundo e o modo como organiza sua realidade, enfim, de como se apropria desta. O brincar favorece a construção da reflexão, da criatividade e da autonomia, fundamentais para o seu processo de aprendizagem.

Bomtempo (2002, p.67), ao falar sobre o brincar, deixa claro que com o brincar a criança consegue lidar com inúmeras e complexas situações psicológicas. A dor, os medos, as perdas, o discernimento entre bem e mal são exemplos dessas situações.

Neste sentido, Rocha (1997, p.67) acrescenta que as crianças, ao brincarem “desempenham papéis generalizados, que conservam e

7 O elemento mediador numa atividade pode ser uma pessoa, um objeto, a lembrança de uma experiência vivida e seus sentimentos, entre outras possibilidades que permitam àqueles que interagem a compreensão do que estão vivenciando.

apresentam o que há de típico no comportamento das pessoas representadas”. E, nessas representações elas se deparam em várias situações que as fazem conectar-se com várias emoções, seja raiva, medo, tristeza, alegrias entre outros.

Vigotsky (2007) destaca a importância da criança conviver com outras crianças mais experientes para que sirvam de mediadores na aprendizagem e na promoção do seu desenvolvimento. Oliveira (1996, p. 40) complementa afirmando que “os elementos mediadores na relação entre o homem e o mundo, instrumentos, signos e todos os elementos, do ambiente humano, carregados de significado cultural, são fornecidos pelas relações entre os homens”. É a partir desta interação que a criança pode internalizar as formas de funcionamento psicológico, que são estabelecidas culturalmente.

Vigotsky (2007) entende que esse processo de internalização, não é passivo, mas sim dialético e transformador. O autor diz que todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: “primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da criança (intrapsicológica) (p.75). O autor caracterizou esse processo de internalização nos três níveis de desenvolvimento seguintes:

• ZONA DE DESENVOLVIMENTO REAL, que se traduz nas etapas já superadas pela criança ou, em outras palavras, o que a criança pode fazer sozinha;

• ZONA DE DESENVOLVIMENTO POTENCIAL, ou seja, a capacidade da criança desempenhar tarefas com a ajuda do outro; • ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL, que é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VIGOTSKY, 2007).

O desenvolvimento está inter-relacionado com a aprendizagem, não estando, portanto, dissociados um do outro. Isso se dá desde os primeiros dias de vida da criança. Assim, a riqueza do brincar com outras crianças está na possibilidade de aprendizagem gerada a partir das trocas de experiências. Isso pode acontecer quando, numa dada situação a criança encontra o outro – o mediador (podendo ser o professor ou um colega que já tenha domínio daquela situação) - para realizar uma determinada atividade. A partir disso é possível afirmar que o brincar, enquanto uma atividade coletiva que possibilite a troca de experiências e

repertórios entre os interlocutores contribui decisivamente para o desenvolvimento infantil.

A ação de brincar tem conseqüências diretas na aprendizagem dentro da visão sócio-interacionista. Daí a importância da busca por um modelo de escola que crie, cada vez mais, condições de proporcionar momentos em que a brincadeira seja a interlocutora da aprendizagem. Nesses espaços as crianças passam a ser os produtores, diretores e protagonistas do brincar, e o professor e os colegas passam a ser os mediadores dessas brincadeiras que levam ao conhecimento.

2.2.5- A cultura lúdica e o brincar

Associado à abordagem do ‘brincar’ está a cultura lúdica que Brougére (1998, p.23) conceitua como um “conjunto de regras e significações próprias do jogo que o jogador adquire e domina no contexto de seu jogo”. Esse autor afirma que para poder jogar, a criança deve compartilhar da cultura lúdica com os outros participantes da atividade. Segundo ele, “dispor de uma cultura lúdica é dispor de um certo número de referências que permitem interpretar como jogo atividades que poderiam não ser vistas como tais por outras pessoas” (Brougére,1998, p.24)

A criança, ao se apropriar da cultura na qual está inserida, amplia seu repertório de significações e as utiliza como referência em suas brincadeiras, transcendendo de sua realidade para um mundo imaginário. Tais referências não são universais e variam de acordo com o contexto no qual a criança está inserida e o adulto, geralmente, as desconhece. Um exemplo disso está na reação que o adulto tem ao se deparar com uma situação de aparente briga entre crianças. A primeira coisa que tenta fazer é separá-las. As crianças, na maioria das vezes, não estão brigando. Tudo ali acontece respaldado por um conjunto de regras que delimitam até onde cada uma dessas crianças pode ir (KISHIMOTO, 2003).

PORTO (2003)8, discute de forma mais aprofundada as questões referentes cultura lúdica e seu conjunto de regras, sejam elas claras ou subentendidas. Essa autora afirma que a cultura lúdica varia de

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