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3 O MOVIMENTO METODOLOGICO

3.1 O CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO PARA APREENSÃO DO REAL

A necessidade de entender os elementos objetivos e subjetivos presentes nas concepções dos professores dos cursos de graduação em Educação Física sobre pessoas com deficiência e sua inclusão nos cursos de graduação desta área, nos leva a adotar a abordagem qualitativa para esta pesquisa (TRIVINOS, 1987; MINAYO, 1999; DEMO, 2000). Esse exercício de apropriação e interpretação deste fenômeno não pode resumir-se a uma descrição de fenômenos, mas deve, sim, buscar uma interpretação dentro de um contexto histórico, social, político e econômico em que está inserido na realidade.

Desta forma, as pesquisas qualitativas caracterizam-se como:

[...], aquelas capazes de incorporar a questão do SIGNIFICADO e da INTENCIONALIDADE como inerentes aos atos, às relações e as estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas (cf. MINAYO, 1999, p.10).

Nesta linha de raciocínio, a pesquisa é entendida como a atividade básica de indagação dos problemas de relevância pública em nossa sociedade e a metodologia assumida representa:

[...], o caminho e o instrumento próprios de abordagem da realidade [...], a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo do pesquisador (MINAYO, 1999, p. 22). A pesquisa qualitativa se interessa por investigar não apenas a extensão do fenômeno, sua profundidade horizontal, mas também verticalmente, sim, percebendo de forma dialética e não linear a intensidade do fenômeno (TRIVINÕS, 1987; DEMO, 2000). Desta forma, é uma atitude de aproximações sucessivas na realidade que nunca se esgota, fazendo um processo de aproximação e confronto de teorias e dados eminentes do contexto pesquisado.

Os caminhos e processo de construção desta pesquisa levam em conta aspectos como: o contexto complexo, contraditório e em permanente mutação, passível de transformação em que o grupo pesquisado se constitui, logo um contexto histórico; a complexidade da problemática das relações estabelecidas entre o modelo de sociedade vigente e o contexto da exclusão das pessoas com deficiência; as implicações das trajetórias de formação e construção dos saberes dos professores; bem como as reflexões construídas em minha atividade acadêmica, tecidas na atuação pedagógica, nas análises críticas de mundo enquanto sujeito cidadão e educador de pessoas com deficiência.

Para tanto escolhemos o caminho teórico-metodológico da abordagem qualitativa e das Representações Sociais para investigar as problemáticas postas em questão neste estudo. Moscovici (1978), ao comentar sobre a teoria das representações sociais expressa que a teoria deve estudar:

[...] os grupos de sociedade em relação à situação posta, a partir da captação de elementos extraídos da opinião, da atitude e do estereótipo de indivíduos que tem inscrição social em um ou mais grupos sociais, [...] um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana, no curso das comunicações interpessoais [...].

Através das Representações Sociais os sujeitos manifestam sentimentos, palavras, condutas e valores simbolicamente, mediante o uso de palavras e de gestos, construídos sócio-historicamente, expressando uma prática social e histórica da humanidade (FRANCO, 2004). Neste sentido, a escolha da abordagem qualitativa dar-se por sua condição indispensável para a superação do observável e do quantificável, em vias de buscar menos uma

generalização e mais um aprofundamento, uma maior abrangência no real a partir da abordagem das Representações (MINAYO, 1999).

A tentativa de articular uma análise sobre o contexto, a história e as contradições presentes nesta temática de pesquisa para compreender o contexto de produção das representações sociais de professores vem ser uma maneira de aprofundar os estudos acerca dos fenômenos sociais, culturais e políticos, não com o objetivo de tornar sublime o real, ou simplesmente denunciar, descrever e constatar uma realidade, pelo contrário, pretende-se aqui compreender o fluxo do movimento, apreender as contradições postas desta prática social com vias a sua superação, objetivando a transformação da realidade (KOSIK, 1976).

Portanto, buscou-se neste estudo investigar e mapear as concepções de deficiência presente nas representações dos professores de educação física nos cursos de graduação que possuem alunos com deficiência, procurando compreender o contexto objetivo e subjetivo de suas produções e os seus nexos coma as práticas pedagógicas adotadas. Com isso o sistema de relações presentes nessas representações será buscado essencialmente por suas expressões de significado e intencionalidade, saído da superficialidade em que se apresentam os fenômenos e buscando sua essência.

Segundo Farias (2005, p. 49), na pesquisa qualitativa, “o significado e a intencionalidade são de fundamental importância, pois eles são resgatados na análise dos autores participantes; estes vistos como sujeitos sociais e da pesquisa”. Neste caso o objeto não é tratado como “coisa” e isolado não temos a pretensão de controlar externamente todas as suas variáveis. A relação sujeito-objeto estabelece neste sentido um contexto rico em relações de troca, de intercâmbio carregado de subjetividades e racionalidades, o que expressa a ciência fora da neutralidade. Essa relação representa uma das características da Ciência Social denominada por Minayo (1999) de identidade entre o sujeito o e o objeto da investigação.

Essa referência coloca a pesquisa num patamar que o diferencia do paradigma adotado muitas vezes pelas ciências naturais para a compreensão da realidade humana, que busca muitas vezes expressar uma neutralidade na ciência, entretanto, nenhuma pesquisa é neutra (MINAYO, 1999). Assim na pesquisa sujeito e objetos se relacionam dialeticamente construindo uma via de

mão dupla. Logo, quando pensamos nesta pesquisa entendemos não só o objeto da pesquisa como produção histórica, mas também os sujeitos nela envolvidos, pesquisador e investigados.

Isso quer dizer que um objeto não existe por si mesmo, mas apenas em relação a um sujeito (indivíduo ou grupo); é a relação sujeito- objeto que determina o próprio objeto. Ao formar sua representação de um objeto, o sujeito, de certa forma, o constitui, o reconstrói em seu sistema cognitivo, de modo a adequá-lo ao seu sistema de valores, o qual, por sua vez, depende de sua história e do contexto social e ideológico no qual está inserido (MOSCOVICI apud FRANCO, 2004, p. 171).

Portanto, ao tomamos com referencia para este estudo à abordagem das representações sociais, tentaremos interpretar os discursos dos sujeitos a partir do contexto de sua produção histórica, social e simbólica, rompendo com a dicotomia sujeito-objeto. Com isso investigaremos o contexto objetivo e subjetivo de produção das representações dos professores acerca das pessoas com deficiência. Desta forma, os professores desta pesquisa serão encarados como sujeitos históricos que se aliena, reproduz, pensa, se liberta, produz, criar e transforma sua práxis pedagógica, suas representações, o conhecimento, a cultura e a sociedade, nestes sentido os professores, assim com a universidade e a educação estão a serviço da sociedade (FACCI, 2004).

Sobre a falsa alegação de que as representações sociais expressam apenas uma fala, gesto e sentimento, mas que efetivamente esta desvinculada do que se faz, construindo entre estes um abismo intransponível, nem a psicologia tradicional e nem a sociologia tem explorado elementos essenciais para a compreensão e transformação destas representações. Franco (2004) e Minayo (1994b) buscam explicitar relações entre Representações Sociais, Ideologia e Consciência e seus respectivos conceitos. Para estas autoras, esses temas podem quando associados levar o pesquisador a melhor entender os estudos das Representações e mais, a perceber núcleos positivos de transformação e resistência na forma de conceber a realidade, ou seja, as representações nos levam a perceber elementos que expressam as tradições, mas também a necessidade de mudanças, de superação.

Essa possibilidade de mudança, da criação de proposições para a transformação da realidade nos leva a discutir a necessidade de afirmar o estudo das representações sociais em busca de recuperar o concreto, de

ultrapassar as idéia de elaborações mentais e simbólicas apenas como trabalho cognitivo e conceber essas representações como produto material e simbólico advindo das relações do homem com a natureza e seus pares, não de forma passiva, mas, significando cada uma destas relações no processo de internalização da cultura.

Para tanto adotamos neste trabalho a dialética com categoria de explicação do contexto de produção e das representações sociais, buscando ultrapassar o caráter ideológico das idéias, dos conceitos e das representações27. Os conceitos de totalidade e contradição serão elementos centrais para a compreensão das representações, sua localização histórica, material e simbólica, com também para a possibilidade de sua reconstrução.

As concepções dos professores, não são neste estudo, tomadas como categorias subjetivas. Subjetividade e objetividade apresentam aqui uma relação dialética que precisam ser entendidas para que possamos compreender as concepções presente nas representações dos professores como forma de perceber e atuar na realidade construída sócio-historicamente.

27 Para o pensamento marxista ideologia reflete os interesses de grupos dominantes, como maneira de