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O emprego do termo camponês será amplamente utilizado na discussão que ora se propõe, por acreditarmos ser este um dos conceitos capazes de contribuir para o entendimento da questão proposta. São várias as concepções teóricas, políticas e ideológicas que o permeiam e lhe dão sentido. Contudo, admitimos que, por mais amplo que um conceito possa ser, este pode e deve ser sempre questionado, re-atualizado para que neste processo possa modificar-se e enriquecer-se, porque o real o contém e é na realidade que o conceito se manifesta e se re-define.

Kautsky (1980), considerando que a sociedade industrial e camponesa são partes de um mesmo conjunto da evolução social, observada em um determinado momento histórico, demonstra que a superioridade técnica da exploração capitalista em relação à agricultura familiar, reduzia o camponês a um trabalhador subordinado ao capital. Este não considerou a sociedade camponesa como uma organização social externa ao mercado, mas, originária da nova organização e pertencente às amplas relações com este mercado, ainda que forma subalterna. Apesar da impossibilidade do camponês incorporar a tecnologia e a organização da produção capitalista da agricultura industrializada, este não estava fora do alcance das relações de mercado impostas pelo capitalismo. Nessa perspectiva, Kautsky reflete quanto à necessidade de realizar a discussão sobre o campesinato.

Este autor demonstrou o quanto o modo de produção capitalista foi eficaz em desmantelar as relações de produção camponesa, destruindo suas práticas de auto- sustentação, incidindo na sua indústria doméstica, afetando sua área de domínio pela pressão no que se referia à propriedade da terra e na organização (coletiva) de sua exploração. Devido aos processos de subordinação desestruturantes das práticas e organizações camponesas, apontou o gradativo arrefecimento das forças de resistência camponesa, chegando a indicar que este não suportaria o processo de industrialização e tenderia ao desaparecimento.

Nessa concepção o camponês poderia ser considerado como um resíduo do processo de industrialização do campo, a ser alcançado e paulatinamente seria levado ao desaparecimento. Portanto, para Kautsky, o camponês estava, fatalmente, fadado a desaparecer. Apesar de não ter se confirmado tais previsões, a existência da organização camponesa na atualidade está limitada à agricultura, praticamente. O

camponês contemporâneo definitivamente, como já afirmava Kautsky, perdeu todas as condições de uma produção por meio de uma indústria doméstica que o tornava autônomo nas suas relações sociais. Este foi subordinado pelo modo capitalista de produção que o envolve conflituosa e subordinadamente, como uma das contradições

dessa sociedade. Mediante tal colocação, os autores a seguir vêm em

contraposição, mostrar outros olhares sobre a subordinação e desaparecimento do camponês.

Alexander Chayanov (1974) preocupou-se em demonstrar que há uma estratégia de sobrevivência do camponês e talvez seja esta, se não a principal, uma das características mais comuns das organizações camponesas: a resistência. Apesar de estarem fortemente pressionados, seria difícil pensar o seu fim definitivo devido à capacidade de adaptação camponesa; especialmente pela característica de sua organização de produção ser resultante do esforço produtivo diretamente relacionado com a satisfação das necessidades de reprodução da família.

As relações externas à família, apesar da riqueza incontestável dessas relações, não são objetivo primeiro de uma unidade familiar camponesa. A família camponesa não produz primeiramente para o mundo exterior ao seu núcleo por ter como princípio a reprodução da sua existência na condição camponesa. As divisões internas de tarefas, a hierarquia e a reprodução das condições de trabalho do camponês não se orientam por uma produção para o mercado, o que não significa dizer que esta relação não se estabeleça. Apesar deste camponês contemporâneo isolado não estar isolado das relações exteriores. Antes, este camponês tem as condições de se favorecer das técnicas modernas de produção para se fortalecer e se relacionar com o mercado de maneira mais autônoma possível, compreendendo a sua condição de parte dessa sociedade.

Para Mendras (1978) a primeira característica que se pode observar de modo geral no camponês é uma identificação com a terra pela emoção. Segundo este autor, o camponês, acima de tudo, ama a terra. Ela, para ele, tem significado de liberdade, possibilita-lhe a altivez e lhe dá as primeiras condições para a cidadania. No entanto, o amor pela terra não o é por qualquer terra, mas sim pela terra onde estão estabelecidas as suas relações e, que, geralmente, tem nela as grafias dos seus antepassados, a produção dos seus entes e pares que lhe que compõem o grupo do qual faz parte. Estando na terra e nela trabalhando, o camponês sente-se como dando continuidade na construção da história familiar. Há, assim, certa conectividade entre as gerações que

cultivam a terra. Neste sentido, pode-se dizer que uma sociedade camponesa tem sua identidade intimamente ligada à linhagem e à unidade familiar na sua condição de grupo. Assim, para Mendras, a família é o mais importante pilar da constituição das relações na sociedade camponesa, o que certamente pode ser observado no Tapera.

Os interesses pelos assuntos coletivos somente são importantes se forem valiosos para o indivíduo ou para o grupo familiar. Os conflitos podem aparecer quando esses interesses não têm uma mediação forte ou quando as famílias se entrelaçam por meio dos casamentos entre grupos familiares de valores e interesses divergentes, o que não chega a se constituir como um problema insuperável para a coletividade local. Pois, como bem lembra Mendras, o conceito dos de “dentro-do-grupo” e os de “fora-do-grupo” esclarece bem a noção de estrangeiro, que não necessariamente, é mal recebido ou desprestigiado. Ao contrário, é a hospitalidade que norteia a relação do camponês com o estranho. Ele sabe que este “o de fora”, traz uma compreensão outra que poderá se somar à sua, ajudando-lhe a decodificar um mundo externo ao seu. Sem dizer das impressões que o forasteiro poderá divulgar adiante: o camponês espera reconhecimento do seu “bom nome”.

Mendras esclarece ainda, a partir de estudos sobre o campesinato europeu, que este não é fechado às novas técnicas. Ao contrário, com as devidas precauções, o camponês tem espírito aberto ao novo e se dispõem à mudança admitindo novas lógicas e organizações, quando percebe os benefícios do emprego das novidades. O fato de ter uma cultura baseada no que é tradicional não se torna, assim, obstáculo às inovações que, como conseqüência, gradativamente, induz às mudanças e incorpora-se ao conjunto de saberes técnico e cultural camponês. Entretanto, essa pronta aceitação é constantemente avaliada pelo camponês, pois seus critérios de admissão de novas técnicas e lógicas baseiam-se no bom senso e não podem colocar em risco seus sistemas técnico e social já consolidados.

Segundo Mendras, para poucos é permitido colocar em questão as suas práticas (o saber coletivo, a herança técnica, sua estrutura social). Essa condição é dada apenas aos que o autor nomeia de “notável”, aos quais são permitidos os questionamentos e intervenções de maneira menos ressabiada. Este sujeito surge nas relações entre o grupo por ser ele, normalmente, aquele que experimenta o novo, podendo ter ou não êxito. Tendo as suas experiências algum sucesso, este constrói sua imagem de bem sucedido e por isso torna-se uma espécie de referência no grupo. Um notável, afinal.

Porém, o notável (que em alguma medida corre riscos) não experimenta sem reservas. Ao contrário, ele busca cercar-se das precauções que julga necessárias para que seu experimento não atinja de maneira negativa a reprodução de sua família. No

Tapera é possível perceber estes cuidados quando determinada família insere novas espécimes de cultivares, por exemplo. Tal como o notável de Mendras, percebe-se que há a separação de uma área para tal atividade e o experimento se dá quase sempre de forma mais discreta. Quando seus resultados são positivos a experiência é levada ao coletivo e seu prestígio junto ao grupo assegura-lhe algum poder e dominação. Um ou dois indivíduos, e por vezes grupos, vão constituir “o notável” ou “os notáveis” dentro de uma coletividade chegando a disputar a hegemonia local.

Ainda segundo Mendras, a decisão do indivíduo ou de um grupo camponês pauta-se constantemente na opinião, informação e experiências de outros. A tomada de decisão pela aplicação de uma novidade não se dá solitariamente, e, comumente, é influenciada pelos familiares e pelos mais próximos e experientes. O autor acredita que a partir do momento que a sociedade camponesa integra-se a um “sistema”, serão as regras desse “sistema” que comandarão as “escolhas”, uma vez que serão comandadas de fora para dentro – dos camponeses inseridos demarcando o fim dessa sociedade. Posição revista e reconsiderada mais tarde pelo autor, conforme explicitou Maria de Nazareth B. Wanderley:

“Mesmo tendo anunciado ‘o fim dos camponeses’, Mendras sustenta, juntamente com Marcel Jollivet, no tomo 1 de ‘As coletividades rurais francesas’, esta hipótese da permanência de um setor camponês residual na França. ‘Qualquer que seja a diversidade das regiões e das nações, das civilizações e dos regimes políticos, vê-se, sempre a coletividade rural integrar-se à sociedade global, conservando, no entanto, sua autonomia e

sua originalidade’.” (JOLLIVET e MENDRAS.1971:2176)”. (WANDERLEY,

1996:6) .

Quanto à participação política, este autor afirma que mesmo numa posição subordinada o camponês não deixa de representar uma força política. Contudo, as forças políticas hegemônicas e antagônicas ao campesinato criam e recriam as estratégias de dominação e de subordinação mesmo quando aparentemente colocam- se favoráveis às questões do campo. Assim, o que se firma entre a força das estruturas agrárias, sociais e mentais do campesinato e os objetivos políticos pode apontar os rumos de uma política agrícola. E, para Mendras, essa política agrária procura pautar-se por cuidados essenciais como ocupação adequada do território como estratégia de defesa; o desenvolvimento de uma política que mantenha os preços baixos dos alimentos em favor do consumidor (e por conseqüência da indústria que almeja a reprodução da força de trabalho ao menor custo).

76 JOLLIVET, Marcel. MENDRAS, Henri (dir.) Les collectivités rurales françaises; 1. Étude

Quanto às questões como a utilização da terra e outros bens naturais, os meios e os fins dessa exploração, o autor considera que entre a racionalidade econômica/produtivista e preservacionista, há que se considerar o projeto de sociedade que se quer além das potencialidades de cada território.

Lênin (1982) identificou a introdução da divisão social do trabalho e do emprego de máquinas na economia russa, como elementos propulsores da entrada da agricultura no processo de produção industrial, por meio da “separação entre as indústrias

transformativas e extrativas e a separação entre manufatura e agricultura” (LENIN, 1982:14), anteriormente unidas na agricultura. O que levou a agricultura, então

especializada, a participar da economia como uma “peça de uma engrenagem” mais ampla que se expressa na divisão internacional do trabalho.

Este autor registrou também, no desenvolvimento do capitalismo na Rússia e desintegração do campesinato, três tipos de camponês: o camponês rico, o médio e o pobre (incluindo o assalariado neste último). O primeiro subjuga não apenas o último, mas também o camponês médio que não possui condições plenas de autonomia em relação ao rico, por não ter acesso amplo às tecnologias como o rico camponês e, por não contar mais com as antigas relações de produção, anteriores à entrada do capital na economia russa.

Segundo Shanin (1980), uma das importantes contribuições teóricas para se compreender os problemas das populações rurais, tem seu marco histórico em Lênin. Para este, a intensificação do capitalismo no campo resultaria na emergência de classes antagônicas, constituídas basicamente de uma pequena parcela de camponeses capitalizados, integrados, e de outra classe convertida em proletariado na sua grande maioria. Ou seja, a partir da “lógica das relações de mercado e da capacidade de

exploração dos camponeses mais ricos indicava uma polarização necessária dos camponeses em ricos e pobres e, eventualmente, em capitalistas rurais e proletários rurais”. (SHANIN, 1980:55). Essa foi a avaliação inicial de Lênin que, tempos depois,

admitiu exageros nas suas primeiras conclusões e aceitou a “ permanência de traços

camponeses” (ibidem), o que provocou, segundo Shanin, as modificações feitas nos

programas da Social-Democracia russa nos anos de 1917-1921.

Ao analisar elementos mais recentes77 Shanin afirma que aparentemente eles

querem dizer que “os camponeses não se dissolvem, nem se diferenciam em

empresários capitalistas e trabalhadores assalariados. Eles persistem, ao mesmo tempo em que se transformam e se vinculam gradualmente à economia capitalista circundante,

77 Exemplificando o líder do Banco Mundial admitiu haver no mundo centenas de milhões de

que pervade suas vidas” (ibid:58). Guardadas as diferenças das unidades agrícolas

tanto em relação à estrutura quanto ao seu tamanho, em comparação com o clássico estabelecimento rural familiar camponês de Kautsky, o camponês e a sua produção cumprem um papel social (não apenas econômico) ainda que, propositalmente, tenda a ser tratado de maneira cada vez mais marginal nos processos de produção do regime capitalista (SHANIN, 2008).

Para situar este conceito e a problemática de inserção dos camponeses na

sociedade e na história mais amplas, Shanin examinou a retomada da discussão marxista na construção das propriedades dos modos de produção como unidade de

análise e afirmou ser a identificação desta, o grande êxito do debate mais recente dentro do pensamento marxista. Para esse autor, o modo de produção é definido como sendo a forma geral e específica da sociedade forjar os insumos materiais os quais demandam suas necessidades de acordo com cada momento histórico. Assim, faz uma análise do que seja o modo de produção para afirmar que o conceito de camponês não se limita a este. Isso não somente faz do modo de produção uma unidade de análise fundamental para se analisar a “natureza geral da existência da sociedade e da caracterização de

sua especificidade” (ibid:61), bem como, porque a exposição deste conceito se pauta

pela “interdependência entre as relações de produção e forças produtivas” (ibid:61) importantes para compor a cultura, o ritmo e o modo de vida de cada grupo social (especialmente os grupos que têm sua identidade intimamente relacionada com o território, com o lugar) que necessitam (re)construir, a cada dia, sua existência seus símbolos entre outros meios de se fazerem reconhecer socialmente.

Shanin demonstra também que o conceito de camponês traz em si não apenas o modo camponês de produção, mas sua economia, suas relações - intercamponesas e

extracamponesas. Afirma que, como categoria de análise, o conceito “modo de produção” não é capaz de apreender a realidade como ela é com as suas contradições

e complexidades. Isso porque, este faz parte de um contexto societário mais amplo e, buscar a compreensão desse sujeito social – o camponês - sem ter em conta, como a

“história camponesa se relaciona com as histórias societárias mais amplas, não como seu simples reflexo, mas com medidas importantes de autonomia” (SHANIN, 1980:69).

Seria, então, equivocado querer apreender o objeto por ele mesmo já que, por si só as “coisas” não se explicam.

É necessário, então, buscar a compreensão da sociedade camponesa na sua condição de integrante da sociedade inteira. E, se de forma mais geral esta sociedade está em constante transformação, é preciso considerar que a sociedade camponesa

(não como fragmento, mas como parte de uma totalidade) também se modifica e se transforma nas relações espaço temporal.

José de Sousa Martins (1983) (que, inicialmente, esclarece que na sua concepção no conceito de camponês não está incluído o trabalhador assalariado do campo) afirma que, no Brasil, o entendimento conceitual de “camponês” e “campesinato” é recente. Aquele trabalhador que se parecia com o camponês europeu, tinha em meados do século XX, as denominações regionais: “caipira, caboclo, tabaréu, caiçara”. Dependendo de cada situação e de cada momento estes ganharam “duplo sentido” quase sempre de modo depreciativo da figura do camponês. Na condição de representantes dos que vivem em “outro lugar”, às margens nessa sociedade; distantes das cidades, relacionados com o atraso, o rústico, o ingênuo, o tonto e, por vezes, o

preguiçoso. Da mesma forma que os proprietários de terra também tiveram suas

designações: estancieiros, fazendeiros, senhores de engenho, seringalistas. Para mais tarde e modernamente serem denominados latifundiários (MARTINS, 1983:22). Segundo este autor, estas são palavras de forte teor político, pois estão

“enraizadas numa concepção da História, das lutas políticas e dos

confrontos entre as classes sociais. Nesse plano, a palavra camponês não designa apenas o seu novo nome, mas também o seu lugar social, não apenas no espaço geográfico, no campo em contraposição à povoação ou à cidade, mas na estrutura da sociedade; por isso não é apenas um novo nome, mas pretende ser também a designação de um destino histórico.”

(MARTINS, 1983:22).

Por esta concepção tão particular e diferente da concepção de camponês formulada na literatura clássica européia, este autor expõe a dificuldade de se fazer um transposição do conceito forjado em realidades diferentes sem os devidos cuidados. Assim, alerta quanto à complexidade existente na organização da produção no campo e que, devido a ela, dificilmente poder-se-á entender as relações que se constituíram no campo pela mediação do pagamento em dinheiro, o que violentaria o “vínculo real que faz da

produção direta dos meios de vida” (ibid:24).

Para se refletir sobre o modo vida camponês, a dimensão do econômico, além de insuficiente, pode ser traiçoeira se não for dada a devida atenção às suas relações, tradições e cultura, bem como o lugar político desse sujeito que tende a se tornar um

excluído dos processos produtivos para, em outro momento ser re-introduzido na

condição proletariado e ou de subempregado.

É na condição de excluído que, segundo J. S. Martins, este sujeito, o camponês, vai ser alcançado pelos sujeitos políticos (militantes, partidos políticos, entre outros). Como um alguém que além de ser conduzido a uma aliança precária precisa ser

conscientizado. A própria precariedade da construção do conceito ou a inexistência de

não só do escamoteamento do conceito, bem como do modo “como o camponês tem

tomado parte no processo histórico brasileiro – como um excluído” (ibidem: 25),

exclusão que é também da história brasileira oficial.

A exclusão do camponês no Brasil ocorre de diferentes formas em diferentes momentos históricos. Se em um primeiro momento, esta se dá pelo critério da distribuição concentrada da terra pelo critério do sangue puro onde para ser submetido ao subjugo dos proprietários da terra, noutro, o camponês é impedido ao acesso à propriedade da terra para constituir-se em força de trabalho para os grandes proprietários de terras e mais tarde para a indústria. Quando estes resistiram e fundaram autonomamente, como posseiros, em relação às regras legais da sociedade foram, ao seu devido tempo, violentamente expulsos das terras nas e das quais viviam.

Assim, historicamente, o camponês foi obrigado a constituir as relações que lhe assegurassem os meios de reprodução, dando uma importante contribuição social, pouco ou nada reconhecida, participando marginalmente dos processos políticos e, portanto, das estruturas de poder. Nesse sentido, pode-se dizer que o camponês brasileiro formou-se nas contradições impostas pelo avanço do capitalismo e na exigência pela força de trabalho. E, segundo Martins, este estava excluído das relações de propriedade, sem estar excluído da propriedade, na qual seu trabalho foi essencial ao equilíbrio social, político e econômico do país, estando, portanto, incluído de forma marginal.

Pode-se afirmar então que a luta norteou a constituição do camponês brasileiro: a luta pela vida, pela terra, por questões que não eram diretamente suas, mas que lhe dava proteção/garantias, a luta pela participação política, contra o esfacelamento das suas relações, cultura e sua mística, a luta pelo seu modo de vida que se fundamenta no trabalho familiar e na terra. Esse sujeito que, desenraizado, tem na sua essência a luta pelo seu enraizamento, pela reterritorialização (HAESBAERT, 1997).

A economia camponesa está integrada à economia mais geral e, portanto, não é fechada. Contudo, sua característica principal é de produzir os víveres que fazem parte da sua cultura material (sem que lhe escape a imaterial) e a organização dessa produção influenciará definitivamente o modo de vida camponês. Em primeiro lugar, o camponês produz para o sustento de sua de família e, por vezes, produz alguns de seus meios de produção. Mesmo quando esse camponês comercializa o seu “excedente”,

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