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1.3.1 Canidelo Como Concelho

3.3 O Castelo de Gaia

Não sendo clara a informação de que dispomos acerca do Castelo de Gaia, torna-se, ainda assim, fundamental tentar estudá-lo ainda que não o façamos de forma exaustiva.

Primeiramente é importante referir que sobre este monumento não conseguimos encontrar suficiente bibliografia que satisfizesse toda a nossa curiosidade acerca deste assunto, uma vez que grande parte dos trabalhos existentes se baseiam muito em lendas que se foram criando acerca do Castelo de Gaia, como é o caso de Castello de Gaya de João Vaz216; contudo existem algumas referências documentais que foram diminuindo à medida que os anos iam correndo, e até mesmo após a sua demolição, no ano de 1384, o dito castelo continua a ser mencionado em documentação do século XV e XVI. Prova disto mesmo é o Foral de Vila Nova de Gaia outorgado no ano de 1518 por D. Manuel217.

Segundo Gonçalves Guimarães é obvio que este monumento se ergueu sobre um castro romanizado e sucedeu ao Castro Portucale. Pela leitura do Foral de Gaia, passado à dita vila no ano de 1255, encontramos alusões ao Pretor de Gaia, ou seja o Alcaide – Mor.

Pensa-se que o Castelo de Gaia ficava no Velho Burgo do Porto e não na Vila de Gaia. Seria também aí que o dito Pretor exercia o seu poder. O Velho Burgo do Porto era o que restava da evolução de Cale para Portucale Castrum. Ainda que a localização exacta deste castelo permaneça desconhecida, Gonçalves Guimarães refere que talvez este ficasse no perímetro de Mafamude e Coimbrões218.

216 VAZ, João – O Castello de Gaya. Porto: Empreza da Bibliotheca Histórica, 1877. 217

Foral de Vila Nova de Gaia. Documento transcrito em:

GARCIA, José Manuel – Forais Manuelinos do Porto e seu Termo. Colecção Portucale. Lisboa: Inapa, 2001, p. 219.

218 GUIMARÃES, Gonçalves – Problemática Toponímica na Constituição do Concelho de Gaia. In Gaya. Vol. 1, p. 36.

As sucessivas invasões que eram feitas através da foz do Rio Douro levaram à criação de uma fortaleza na margem esquerda do rio como algo de extrema necessidade219. Este castelo terá, neste sentido, sido alvo de inúmeras ocupações e destruições a que se seguiam reconstruções220. Contudo, no ano de 1384 terá sido a última vez que o Castelo de Gaia terá sido saqueado, tendo estado erguido durante cerca de quinze séculos.

A 4 de Janeiro de 1322 o dito monumento terá sido tomado pelo príncipe D. Afonso, filho de D. Dinis. Alguns anos depois, foi a vez de D. Pedro se assenhorear deste castelo, quando conheceu a decisão de seu pai, D. Afonso IV, de ordenar a morte de Dona Inês de Castro, a fim de promover a revolta contra o seu pai pela deliberação que havia tomado. No ano de 1384, os moradores da cidade da outra margem do rio, pretextando desacordos com o alcaide Aires Gomes de Sá, atacaram também eles o Castelo de Gaia, causando-lhe grandes danos, ao ponto de o mesmo não ter sido mais reedificado.

Gonçalves Guimarães, numa das suas obras, colocou questões fulcrais acerca deste tema. Qual seria o motivo de o Foral de Gaia, de 1255, mencionar o Pretor com jurisdição apenas no Velho Burgo do Porto? Seria aí situado o Castelo? Onde era o Velho Burgo do Porto? Seria em Vila Nova?221

219

GUIMARÃES, Joaquim António Gonçalves – Gaia e Vila Nova na Idade Média – Arqueologia de uma área ribeirinha. P.154.

220 CARVALHO, Teresa Pires – As Ocupações no Castelo de Gaia: Problemas de Arqueologia Urbana. In Revista da Faculdade de Letras: Ciências e Técnicas do Património. I Série, Vol. 2. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2003, p. 832.

221

GUIMARÃES, Joaquim António Gonçalves – Gaia e Vila Nova na Idade Média – Arqueologia de uma área ribeirinha. P. 154.

Conclusão

Terminada esta Dissertação de Mestrado em História Medieval e do Resnascimento sobre a vida económica de Gaia e de Vila Nova na Idade Média, mais concretamente ao longo dos séculos XIII e XIV, apraz-nos agora tirar dela algumas conclusões.

O actual concelho de Vila Nova de Gaia, que outrora estava dividido em duas vilas, a Vila de Gaia e a Vila Nova, atingiu o seu apogeu medieval no século XIII. Estas duas vilas estavam initimamente ligadas à cidade do Porto, crescendo até um pouco na sombra desta outra cidade. Contudo, a vila portuense, uma vila episcopal, foi também o grande rival de Gaia e de Vila Nova nos tempos medievais, uma vez que, tanto as vilas de Gaia e Vila Nova como a vila do Porto queriam deter o monopólio comercial. Aliás, terá sido até devido aos inúmeros conflitos existentes entre as duas margens do Rio Douro, que em 1255, Gaia recebe o seu Foral pelas mãos de D. Afonso III. Com este foral Gaia passa a dividir de forma igualitária as atracagens das embarcações que davam entrada na foz do Douro, o que até aqui não acontecia. Esta medida vai causar um enorme descontentamento às gentes do Porto, dado que até aqui eram detentores do monopólio comercial que chegava por água. É ainda este monarca que concede o privilégio aos habitantes de Gaia de não pagarem portagem em nenhuma parte do reino.

Mais tarde, em 1288, D. Dinis outorga carta foraleira a Vila Nova, apresentado este documento um retrocesso em relação ao foral de Gaia, dado pelo anterior monarca.

Já no ano de 1302 o mesmo monarca cria, em Gaia, a feira. Esta feira seria anual, teria início cerca de quinze dias antes do S. Martinho, e deveria ter a duração de um mês.

Tendo em conta que as duas vilas de que falamos eram banhadas pelo Rio Douro, elas tinham excelentes condições geográficas para se lançarem nas grandes frentes comerciais da época. Vemos assim Gaia e Vila Nova a

comercializarem vinho, pescado, sal, azeite…. Sendo que também por causa de alguns destes produtos existiram conflitos com a cidade portuense.

Os habitantes da vila de Gaia eram essencialmente pescadores, sendo que na documentação consultada podemos ver também referências a agricultores, carpinteiros, ferreiros, entre outros.

Vila Nova, por sugestão da posição geográfica que tinha, vai com o tempo assumir-se como um importante estaleiro de construção naval, uma vez que estaria situada na zona ribeirinha.

Na suas constantes lutas com a cidade do Porto, Gaia e Vila Nova começam a sofrer uma enorme desvantagem e, no ano de 1384, são ambas anexadas ao termo do portuense. Esta medida tomada por D. João I era tremendamente vantajosa para o Julgado do Porto, uma vez que, para além de Gaia e Vila Nova estarem ainda sob o privilegio outorgado por D. Afonso III de não pagarem portagem em nenhuma terra do reino, todas as vilas anexadas ao dito termo ficariam obrigadas a repartir entre si todos os encargos que o Porto tivesse. Apesar disto, as povoações gaienses mantiveram sempre a sua identidade muito bem definida.

No ano de 1437 Gaia e Vila Nova, que até aqui faziam parte da comarca da Estremadura, passam a integrar a Comarca de Entre Douro e Minho, alegando a enorme distância em relação à sede da comarca da Estremadura.

Bibliografia