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(Fluxo solar direto) Estoques energéticos

7 O PLANEJAMENTO ENERGÉTICO NO BRASIL

8 CENÁRIOS E TENDÊNCIAS

8.1 O cenário atual (2005/2006)

Como foi assinalado no capítulo 2, o setor energético é parte integrante do complexo político-econômico-social, portanto sua configuração e os rumos de sua evolução dependem de fatores técnicos diretamente relacionados à energia e também aos setores político, econômico e social. Portanto, para descrever o cenário atual, vamos examinar os aspectos mais relevates da conjuntura do país, como um todo.

Começando pela economia, constata-se que a política monetária é orientada em função de investimentos financeiros não produtivos, em prejuízo de investimentos produtivos (Carvalho et all, 2.006). Para pagar os elevados juros estabelecidos nessa política, o governo aplica uma carga tributária da ordem de 38% do PIB. O prejuízo daí resultante aparece nas contas públicas: em 2.005, foram pagos cerca de R$ 157 bilhões de juros da dívida pública (R$ 430 milhões por dia), o que equivale a cerca de 8,1 % do PIB daquele ano. Enquanto isso as infra-estruturas de transporte e energia se deterioram ou ficam estagnadas e faltam recursos para o desenvolvimento de tecnologias eficientes para a indústria e para as fontes renováveis de energia.

Cerca de 85% da eletricidade brasileira provém de potenciais hidráulicos, cujo aproveitamento é renovável e menos agressivo ao meio ambiente do que as alternativas disponíveis.

A privatização de grande parte do setor revelou-se estrategicamente equivocada, pois, anteriormente, grande parte da receita era reinvestida na modernização e expansão do próprio sistema, que funcionava e produzia normalmente. O sistema não era concentrador de renda e não remetia lucros ao exterior. Com as privatizações, o sistema entrou em crise, porque os novos donos das antigas estatais não investem o suficiente na expansão do sistema, pois isso conflita com o objetivo empresarial de maximizar lucros, o que pode ser feito mais facilmente cortando-se os investimentos e aumentando-se as tarifas.

Tabela 16 - Aumento da tarifa média no Brasil, entre 1.995 e 2.007 Ano 1.995 1.999 2.007 Δ IPCA 95/07 Δ TAR 95/07

Tarifa (R$/MWh) 88 115 242 109% 275%

Fontes: MME e ANEEL

Nota - Os valores indicados representam as médias ponderadas das tarifas

dos setores residencial, comercial e industrial.

A tabela 16 mostra que, nestes últimos anos, as tarifas subiram 275% enquanto, segundo o IBGE, de janeiro de 1.995 a janeiro de 2.007 a inflação referida ao IPCA foi de

109%. Esta é uma das conseqüências da eliminação do conceito de serviço público, baseado no “serviço pelo custo”, foi substituído por um regime de tarifas pelo preço de mercado

Note-se que as tarifas eram baixas porque a idade média do parque hidroelétrico brasileiro aproxima-se dos trinta anos, portanto seu valor contábil (que é o principal componente das tarifas de eletricidade, como se mostra no Apêndice C) já está muito reduzido. Daí resulta uma incidência diminuta do capital sobre os custos de geração, o que permitia que se compusesse um mix de tarifas de suprimento que dava, às distribuidoras, margem para cobrar tarifas de fornecimento acessíveis até para as populações de baixa renda. Agora as tarifas são formadas no mercado, para assegurar lucros, não apenas às geradoras, mas também às empresas comercializadoras e outros intermediários. Por força disso, inúmeros consumidores residenciais têm dificuldades para pagar as novas tarifas, aumentando os índices de inadimplência e de perdas técnicas causadas por ligações clandestinas.

Se persistirem essas tendências, ficará ameaçada a sobrevivência de pequenas e médias indústrias, com os conseqüentes impactos no campo social.

No tocante ao petróleo – diante da perspectiva de esgotamento das reservas mundiais por volta de meados deste século – foi um equívoco leiloar e abrir à exploração estrangeira, vastos campos já prospectados pela Petrobrás.

A falta de planejamento estratégico ficou patente no programa das termelétricas a gás: cedendo a pressões de grupos interessados em explorar o gás natural da Bolívia (que encontraria no Brasil o único mercado consumidor de escala atraente), o governo relegou ao segundo plano o programa hidroelétrico, transferindo a prioridade para as termelétricas.

Com as termelétricas, os grupos que controlavam as reservas de gás da Bolívia ficaram em posição estrategicamente muito forte para estabelecer os preços de venda do gás para as termelétricas brasileiras.

Esta situação agravou-se recentemente, com o governo boliviano nacionalizando a exploração de seus recursos naturais.

Ciência e tecnologia – Os empresários industriais brasileiros encaram os gastos em pesquisa

industrial, inovação tecnológica e aperfeiçoamento de recursos humanos como custo, não como investimento, como seria lógico.

Na verdade, não há investimento mais rentável do que em pesquisa científica, inovação tecnológica e aperfeiçoamento de pessoal: calcula-se que, nos países industrializados, cerca de 65% do estoque de capital existente nos ativos das empresas é

capital humano, ou seja, pessoal especializado, treinado e detentor de know how. (Carvalho et all, 2006)

No comércio internacional, os produtos de alto conteúdo tecnológico preenchem, na média mundial, cerca de 30% das pautas de exportações, mas o Brasil tem uma balança negativa de exportações assim classificadas. E sem pessoal qualificado, não se pode substituir, por produção local, as importações tecnologicamente avançados.

O agronegócio, as monoculturas e a agricultura familiar – Na falta de diretrizes estratégicas

que levem em conta possíveis impactos ambientais, sociais e intersetoriais, o governo concede subsídios às monoculturas voltadas para a exportação. Em vez de expandir indiscriminadamente as exportações de soja, madeira, minérios, etc., dever-se-ia estudar a viabilidade das exportações de produtos de alto conteúdo tecnológico.

O agronegócio avança desordenadamente essencialmente porque a política de meio ambiente do governo federal, que engloba as políticas ambientais de diversos setores (petróleo, energia elétrica, águas, florestas, fauna, etc.) carece de objetivos bem definidos.

As plantations de exportação e as florestas industriais, por exmplo, deveriam ficar em áreas delimitadas com base em minuciosos estudos de zoneamento agro-ecológico, porém, exceto em alguns estados – e assim mesmo parcialmente – tais zoneamentos ainda não foram feitos.

Tendências constatadas no atual cenário

As decisões do governo são influenciadas por pressões de setores eletrointensivos de exportação, tendência cujo objetivo prioritário é o de aumentar a oferta de energia segundo hipóteses de crecimento incompatíveis não apenas com objetivos do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, referentes às emissões de CO2, mas com a própria sustentabilidade, em

sentido lato. Esta tendência é visível no Plano Nacional de Energia 2.030.

O economista Rodrigo Ávila abordou essas questões de forma pragmática: “a entrada de dólares através da exportação de produtos básicos, financia a fuga de capitais pela via financeira. O superávit da balança comercial está financiando os capitais especulativos e o fluxo comercial está financiando remessas de divisas. O país está sendo transformado num mar de soja, eucalipto, exploração minérios (com a conseqüente) depredação ambiental, para financiar a saída de divisas" (Ávila, 2009).

As tabelas 17 e 18 apresentam os atuais perfis de consumo de energia, por fonte e por setor e a tabela 19 apresenta informações complementares relevantes.

Tabela 17 − Αtual perfil do consumo de energia, por fonte

Fontes %

Não renováveis 55,6

Petróleo e derivados 42,7

Gás natural 6,8

Carvão mineral + coque 4,9

Urânio 1,2

Renováveis 44,4

Energia hidráulica 14,8

Lenha e carvão vegetal 11,4

Produtos de cana de açúcar 14,5 Outras 3,7

Consumo total (106tep) 195,9

Fonte: EPE - BEN 2.006/2.005

Tabela 18 − Perfil do consumo atual, por setor

Setor 106tep % Industrial 73,5 37,5 Transportes 52,5 26,8 Residencial 21,8 11,1 Comercial e serviços 8,9 2,8 Agropecuário 8,4 4,3 Setor público 3,5 1,8 Setor energético * 17,6 8,9 Não energético, etc. 9,7 4,9 Consumo total 195,9 100,0

* Centros de transformação + atividades de extração

e transporte interno de produtos energéticos.

Fonte: EPE - BEN 2.006/2.005

Consumo de energia, per capita: ~ 1,05 ×103 tep/hab×ano Tabela 19 – Informações complementares sobre o cenário atual

− População: aproximadamente 187 milhões de habitantes.

− Taxa de urbanização: 84%

− População economicamente ativa (PEA): aproximadamente 90 milhões.

− Desempregados: aproximadamente 9 milhões.

− Subempregados: aproximadamente 12 milhões.

− PIB: aproximadamente US$ 1.067 bilhões (Câmbio médio em 2.006: R$/US$ ~2,2)

− Taxa de crescimento do PIB no ano de 2.006: 3,7%

− Taxa de investimento em capital fixo: 16,5%

PIB per capita: cerca de US$ 5.715 (os 40% mais pobres têm US$ 620 e os 10% mais ricos têm US$ 21.880).

____________________ Fontes: IBGE e BACEN